Quem é quem na negociação do Banco Master: de Vorcaro a Esteves
Nomes à frente de dois bancos privados e um controlado por um governo estadual estão entre os personagens que concentram as atenções em um movimento observado pelo mercado financeiro
Anunciada ao anoitecer da última sexta-feira de março, a compra de uma fatia relevante do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB) é, desde então, um dos assuntos mais comentados do mercado financeiro. A aquisição, que ainda depende de aprovação do Banco Central (BC), tem detalhes que despertam discussões, entre eles o fato de o comprador ser um banco estatal.
Outro ponto é o modelo de negócio do banco cuja fatia está à venda, que teve crescimento acelerado com a oferta de CDBs com rentabilidade de 140% sobre o CDI com proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Esse debate concentra alguns personagens principais. Conheça quem é quem:
O mineiro de 41 anos assumiu em janeiro de 2018 o comando da Máxima, fundada em 1974 como corretora de valores e títulos mobiliários. Além de mudar o nome da companhia para Banco Master, Daniel Vorcaro expandiu os negócios com a compra do Banco Vipal, o crescimento da carteira de crédito e consignado, o lançamento da Kovr Seguradora e a aquisição do controle da fintech will bank, entre outros movimentos.
Em três anos, entre junho de 2021 e de 2024, o patrimônio líquido saltou 7,5 vezes: de R$ 556 milhões para R$ 4,2 bilhões. Esse crescimento teve com motores a oferta de CDBs com retorno de 140% sobre o CDI — bem acima do mercado, que em geral oferece 100% —, com a facilidade de ser assegurado até o valor de R$ 250 mil, em caso de quebra do banco, pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), mantido por todo o sistema financeiro.
Banqueiro com perfil que chama a atenção em colunas sociais, é investidor da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do Clube Atlético Mineiro, já afirmou ter comprado o Fasano Itaim, na capital paulista.
Ao anoitecer da sexta-feira, 28, formalizou um acordo de venda de 49% das ações ordinárias (com direito a voto) e de 100% das preferenciais (sem direito a voto) para o Banco de Brasília (BRB), banco estatal do Distrito Federal. Pelo acordo, continuaria como controlador do Master, que se tornaria BRB Banco de Investimentos, com 51% de participação com direito a voto, embora o BRB tendo poder de veto em determinados temas.
Antes de tomar posse no Banco de Brasília (BRB), em 31 de janeiro de 2019, Paulo Henrique Costa fez uma carreira de quase duas décadas na Caixa Econômica Federal, entre 2001 e 2018. Deixou o cargo de vice-presidente de Clientes, Negócios e Transformação Digital da Caixa para assumir a presidência do banco controlado pelo governo do Distrito Federal.
Costa anunciou na noite de sexta-feira, 28, a compra, pelo BRB, de 49% das ações ordinárias (com direito a voto) e de 100% das ações preferenciais (sem direito a voto) do Banco Master, por cerca de R$ 2 bilhões.
Diante dos questionamentos que se seguiram ao anúncio da aquisição — ainda dependente de aprovação pelo Banco Central e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) —, Costa afirmou que a análise foi técnica, com o início de compras de carteiras do Master em meados de 2024 e dentro da lógica de expansão do BRB para outras localidades do País.
Ele também afirmou que R$ 23 bilhões em ativos do Master ficariam excluídos do negócio, como a carteira de precatórios, de direitos creditórios, de ações judiciais, de fundos de investimento em ações de empresas. “Para que a gente possa entrar, vai sair o Voiter, vai sair a Cover, vai sair o Banco Master BI”, exemplificou, em entrevista ao Estadão. Na venda, entrariam apenas o banco múltiplo, a fintech will bank e a securitizadora Maximainvest.
Ele afirmou que “todos os CDBs que já estão emitidos serão honrados pelas condições e pelas taxas de juros em que eles foram adquiridos”.
O BRB, autor da oferta de compra de parte do Banco Master, é controlado pelo governo do Distrito Federal. Logo depois do anúncio do negócio, o governador, Ibaneis Rocha (MDB), estimou em entrevista ao Valor Econômico que a aquisição da fatia do Master pelo elevaria os dividendos pagos ao governo do Distrito Federal, em cinco vezes, de R$ 200 milhões para R$ 1 bilhão em 2025.
O governador, no cargo desde janeiro de 2019, disse também que, embora não tivesse participado diretamente das negociações técnicas, a aquisição estava sendo analisada havia seis meses.
Uma das primeiras reações com que o governo do Distrito Federal eventualmente terá de lidar vem do Sindicato dos Bancários de Brasília (Bancários-DF). A entidade afirmou que pedirá ao Banco Central e ao Cade que rejeitem a compra do Banco Master pelo BRB. A informação foi adiantada ao Estadão/Broadcast pelo presidente da entidade, Eduardo Araújo.
O sindicato também não descarta acionar o BRB por vias judiciais. No último sábado, 30, o Bancários-DF afirmou em nota que a compra do Banco Master poderia caracterizar uma possível gestão temerária da diretoria do BRB. A ideia é apresentar uma representação ao BC já nesta quarta-feira, 2, se possível, para demarcar a posição.
Presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, 42 anos, tem um papel-chave para o destino do negócio entre o Banco Master e o BRB. A instituição tem até 360 dias para analisar o processo. O prazo foi criado pela resolução número 108, de 2021, e é válido para a transferência de controle societário ou qualquer alteração no grupo de controle da sociedade, de forma direta ou indireta.
Para a tarefa, conforme apurou o Estadão, o comando do BC mobilizou, internamente, alguns dos chamados “cabeças brancas” — servidores com experiência e que já acompanharam outros casos de fusão, intervenção e saneamento no setor — para participar dos testes de estresse que serão rodados sobre o BRB.
Esses servidores acompanharam casos como liquidações do Econômico, Bamerindus, Nacional e Cruzeiro do Sul, que enfrentaram crise no passado. O objetivo agora é tentar antecipar problemas que possam impactar o sistema financeiro.
Diretores e servidores que passaram pelo mercado financeiro também vão participar do processo de análise, para compor um olhar mais amplo, que incorpore também a expertise da Faria Lima.
Na segunda-feira, 31, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, teve uma reunião com o presidente do conselho de administração e sócio-sênior do banco BTG Pactual, André Esteves. Na pauta, a busca de uma saída alternativa para a compra do Banco Master pelo BRB, e uma das possibilidades que entraram na mesa de avaliações seria por meio de incluir na operação o BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina.
Antes do acerto anunciado pelo BRB, Esteves chegou a analisar os ativos do Master, mas não levou a oferta adiante. O Estadão apurou que o BTG já teria iniciado conversas com o Master, desde o fim do ano passado, mas há dúvidas ainda sobre a cobertura da operação — que poderia prever o uso do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para lastrear algum problema com a instituição.
https://www.estadao.com.br/amp/economia/quem-e-quem-na-negociacao-do-banco-master-de-vorcaro-a-esteves/
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