Terça-Feira, 15 de Abril de 2025.
*TRUMP CONFUNDE MERCADO*
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
… Inflação de março e índice ZEW de abril na Alemanha abrem o dia dos mercados, junto com a produção industrial na zona do euro (6h), seguidos pelo índice Empire State de atividade industrial de abril nos EUA (9h30). Ainda na agenda internacional, a expectativa com o PIB/1Tri da China no final da noite pode movimentar as commodities. Pequim também divulga produção industrial e vendas no varejo em março. Aqui, o IGP-10 de abril (8h) é o único indicador, com as atenções voltadas para o Orçamento de 2026, que será enviado hoje ao Congresso, com a meta de superávit primário de 0,25%. Mas como todos os dias, Trump e suas tarifas é que vão dar o rumo dos negócios, confundindo o mercado com tantas informações jogadas ao vento e que, a cada hora, apontam para um lado.
… Já ontem à noite, os futuros de NY voltavam a cair, mesmo as ações das techs e montadoras, após o pregão de ganhos, repercutindo o recuo nas tarifas para produtos de tecnologia e o aceno de isenção temporária para o setor automotivo.
… Os eletrônicos foram excluídos da tarifa de 125% sobre produtos chineses e dos 10% sobre importações de outros parceiros comerciais, em um anúncio sem explicações, feito pela Alfândega dos EUA na véspera do fim de semana, que surpreendeu positivamente.
… Foi claramente um recuo. Mas como Trump não seria Trump se admitisse um recuo, avisou logo que a isenção era temporária e que já estava analisando os semicondutores e toda a cadeia de suprimentos de eletrônicos para um enquadramento nas próximas tarifas.
… O secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, antecipou que um novo pacote de taxas aos semicondutores sairia esta semana.
… Trump também colocou outro tema na roda, afirmando que a investigação avaliará o impacto de produtos e ingredientes farmacêuticos (incluindo medicamentos), numa sinalização de que está abrindo uma nova frente da guerra comercial.
… Na Bloomberg, as medidas ameaçam ampliar a guerra comercial, já que essas taxas atingiriam a indústria de chips, que movimentou mais de US$ 600 bilhões em vendas globais, e seria um golpe aos maiores fabricantes de medicamentos, incluindo Merck e Eli Lilly.
… Ao mesmo tempo, o presidente dos Estados Unidos disse que está considerando isenções temporárias para as tarifas sobre veículos e peças importadas, para dar tempo às montadoras de estabelecer a fabricação em solo americano.
… “Elas estão mudando para peças feitas no Canadá, México, e em outros lugares, e precisam de um tempo, porque passarão a fabricar aqui” disse ele aos repórteres no Salão Oval da Casa Branca, nesta 2ªF.
… Não deu mais detalhes, mas suas declarações impulsionaram as empresas do setor automotivo, como Ford e GM.
… Trump admitiu que, embora as tarifas sejam necessárias para reconstruir a indústria americana, podem acarretar aumento de preços para os consumidores e o colapso da produção. Ele impôs 25% sobre peças e automóveis importados, a partir de 3/5.
… Até o início do pregão desta 2ªF, Ford e GM acumulavam quedas de 12% e 19%, respectivamente, desde a eleição de Trump.
… Desde o anúncio de tarifas, no dia 2 de abril, o preço-alvo médio para a Ford caiu para cerca de US$ 9,40, segundo a FactSet, de quase US$ 10 e quase US$ 14, um ano atrás. O preço-alvo médio para a GM caiu para cerca de US$ 56, ante quase US$ 61.
OS CENÁRIOS DE WALLER – Dizendo que a nova política tarifária da Casa Branca é “um dos maiores choques que já afetaram a economia dos Estados Unidos em muitas décadas”, o Fed boy enfatizou que o ambiente para os negócios ainda é bastante incerto.
… Admitindo que as alíquotas são “dramaticamente maiores do que eu antecipava”, Waller disse que podem afetar significativamente a economia e o esforço que o Fed tem feito para alcançar os objetivos de levar a inflação à meta de 2% e garantir emprego máximo.
… Voz influente no Fomc, ele traçou dois cenários possíveis: 1) um de manutenção dos níveis atuais de tarifa média efetiva, em torno de 25%, que exigiria uma resposta acelerada da política monetária, e 2) outro com uma tarifa média mais branda, de 10%.
… No primeiro cenário, mais agressivo, projeta um pico da inflação próximo de 5% (anualizado), mas acredita em um efeito temporário, prevendo uma desaceleração significativa da economia no fim deste ano e um ritmo que continuaria lento no próximo ano.
… “Os preços mais altos das tarifas reduziriam os gastos e a incerteza desencorajaria os investimentos das empresas.”
… Ao esperar efeitos temporários da inflação e mais duradouros para o emprego e a produção, Waller apontou que, se a houver ameaça de recessão, “então espero defender uma redução da taxa de juros mais cedo e com maior intensidade”.
… Para ele, com uma economia em rápida desaceleração, mesmo com a inflação bem acima de 2%, o risco de recessão supera o risco de uma inflação descontrolada, “especialmente se os efeitos inflacionários das tarifas forem de curta duração”.
… No segundo cenário traçado por Waller, a tarifa de 10% para todos os produtos seria a base da tarifa média ponderada pelo comércio. Nesse caso, o efeito inflacionário seria “significativamente menor” e o pico da inflação poderia ficar em torno de 3% (anualizado).
… “Ao mesmo tempo, o fato de ainda haver aumento tarifário significa que o cenário de tarifas menores teria, sim, um efeito negativo sobre o crescimento da produção e do emprego, mas menor do que no cenário de tarifas mais altas.”
… Ou seja, a pressão para cortar os juros com base na queda da demanda diminuiria e a resposta do Fed permitiria mais paciência.
DEUTSCHE BANK – Waller adota um tom menos conservador do que a maioria dos Fed boys tem adotado, inclusive Jerome Powell, que já não acredita mais no caráter “transitório” da inflação e insiste que não é preciso pressa para mexer nos juros.
… Da mesma forma, o Deutsche Bank projeta que o Fed irá cortar os juros apenas em dezembro, com uma única redução de 25pbs. Isso porque os analistas do banco acreditam que o Fomc se preocupará mais com seu mandato sobre o mercado de trabalho.
… “Esperamos que o Fed inicie cortes de juros em dezembro, seguidos de mais dois cortes de 25pbs no 1Tri de 2026, o que levará a taxa dos Fed Funds para a faixa de 3,5%–3,75%, consistente com nossa visão de taxa neutra”, disseram em relatório.
… É uma visão mais pessimista do que a de Waller e da maioria do mercado, considerando que a ferramenta FedWatch do CME mostra uma chance de 32,7% de três cortes do juro até dezembro, enquanto 29,1% apontam para a probabilidade de quatro cortes.
INFLAÇÃO NOS EUA – As expectativas de inflação nos EUA para daqui a um ano subiram para 3,6% em março, contra 3,1% em fevereiro, segundo pesquisa do Fed/NY, divulgada nesta 2ªF. Para três anos, as expectativas permanecem em 3% e, para cinco anos, em 2,9%.
… O sentimento dos consumidores sobre a situação financeira para os próximos 12 meses piorou em março; a proporção de famílias que esperam estar em uma condição pior daqui a um ano subiu para 30%, o nível mais alto desde outubro de 2023.
… Já a probabilidade média de perder o emprego nos próximos 12 meses subiu 4,6pps, para 44,4%, maior valor desde abril de 2020.
PRECATÓRIOS – O governo Lula terá que desembolsar cerca de R$ 115 bilhões com precatórios no Orçamento/2026, segundo estimativas preliminares da equipe econômica. O número oficial só será conhecido no final do mês.
… O tema dos precatórios voltou ao radar do governo, já que a partir de 2027 todo o gasto com sentenças judiciais passa a ser computado de forma integral como despesa primária. Como as estimativas estão em alta, essa é uma das maiores preocupações fiscais.
… O valor dos R$ 115 bilhões foi antecipado nesta 2ªF pela Folha e confirmado pelo Valor.
… Para este ano, está previsto o pagamento de R$ 102,3 bilhões em sentenças judiciais (precatórios e requisições de pequeno valor), dos quais R$ 52,7 bilhões estão fora dos limites de despesa e da meta fiscal a partir da decisão do STF.
… A equipe econômica já discute alternativas e não descarta voltar ao Supremo Tribunal para pedir mais prazo e manter uma parte desses gastos fora dos limites de despesa e da meta fiscal. O último ano deste “waiver” dado pelo STF é 2026.
ISENÇÃO DO IR –A compensação fiscal referente à atualização da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física realizada nesta 2ªF já está prevista no projeto de lei que isenta quem ganha até R$ 5 mil mensais, informou o Ministério da Fazenda.
… A atualização terá impacto de R$ 3,29 bilhões em 2025, R$ 5,34 bilhões em 2026 e R$ 5,73 bilhões em 2027.
… A Fazenda afirmou que, apesar de a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) “não exigir medida compensatória quando se trata da tabela” do IRPF, a compensação será feita “globalmente” para os três anos por meio do PL 1087/2025.
… A MP, publicada no Diário Oficial da União (DOU), elevou de R$ 2.259,20 para R$ 2.428,80 o limite mensal para a isenção do IRPF, além de mudanças nas outras faixas, o que garante que nenhum rendimento até dois salários mínimos seja tributado a partir de maio.
MAIS AGENDA – Galípolo terá reuniões com os CEOs do Nubank (9h) e do Santander (13h30). Lá fora, o Fed boy Thomas Barkin fala às 12h35. Logo cedinho (5h), a AIE divulga relatório mensal sobre o mercado de petróleo.
CARPE DIEM – Antes que seja tarde e Trump volte a esticar a corda, os mercados globais se apressam a aproveitar os recuos temporários na guerra comercial, enquanto o Fed tenta manter os negócios funcionais.
… O investidor gostou ontem dos comentários de Christopher Waller, que cogitou a chance de um ciclo de corte de juros mais intenso e de antecipar um relaxamento, caso Trump se torne ainda mais agressivo do que já está.
… Para Waller, ao contrário de outros Fed boys, o risco de recessão supera o de inflação crescente. Na sua visão, os cortes seriam justificados, mesmo que os impostos sobre importações causem alta repentina na inflação.
… A segurança de que o Fed está a postos, combinada ao passo atrás de Trump, com a retirada temporária dos smartphones, computadores e autopeças da lista de tarifas recíprocas contra a China, animou o mundo.
… O Ibovespa recobrou os 129 mil pontos junto com o ânimo nas bolsas de NY, o dólar voltou à faixa de R$ 5,85 e os juros futuros acompanharam o alívio no câmbio e o movimento de queda dos rendimentos dos Treasuries.
… Em ganho firme de 1,39%, o índice à vista da bolsa doméstica chegou aos 129.453,91 pontos, com giro de R$ 21,5 bilhões. Vale (ON, +1,30%, a R$ 54,36) subiu bem mais do que o minério de ferro na China (+0,28%).
… Os papéis dos bancos também foram bem. Itaú registrou valorização de 1,63% (R$ 32,33); Bradesco ON, +1,61% (R$ 11,36); Santander, +1,24% (R$ 26,95); BB, +0,97% (R$ 28,07); e Bradesco PN, +0,87% (R$ 12,73).
… A falta de força da Petrobras (ON, +0,21%, a R$ 33,99; e PN, -0,38%, a R$ 31,73) não abalou a bolsa. O Brent fechou de lado (+0,18%, a US$ 64,88), dividido entre alívio de Trump e projeção de menor demanda pela Opep.
… A maior valorização do dia no Ibovespa foi das ações da Azul (+12,33%), depois de a companhia ter anunciado que vai realizar uma oferta de ações que pode movimentar até R$ 4,1 bilhões.
… Sem desperdiçar a janela do menor protecionismo americano, as bolsas em NY emplacaram nova rodada de alta: Dow Jones, +0,78% (40.524,79 pontos); S&P 500, +0,79% (5.405,97 pontos); e Nasdaq, +0,64%, (16.831,48).
… A Apple, que produz entre 80% e 90% dos iPhones na China, escalou 2,21% com a reviravolta de Trump.
… Os rendimentos dos Treasuries acentuaram o ritmo de queda à tarde, quando Waller (Fed) melhorou ainda mais o clima entre os investidores e derrubou a taxa da Note de 10 anos para 4,384%, contra 4,494% na véspera.
… A nova mudança de rota de Trump também foi refletida em queima de prêmio de risco na curva do DI.
… O contrato de juro para Jan/26 caiu a 14,695% (contra 14,725% na sessão anterior); Jan/27, a 14,165% (de 14,310%); Jan/29, a 14,025% (14,225%); Jan/31, a 14,310% (14,500%); e Jan/33, a 14,410% (de 14,590%).
… O boletim Focus não trouxe mudanças nas projeções de inflação ou para Selic. A expectativa de crescimento do PIB melhorou ligeiramente, de 1,97% para 1,98% em 2025, e de 1,60% para 1,61% em 2026.
… Confiantes, economistas da XP acreditam que os novos empréstimos consignados privados devem adicionar 0,6pp ao PIB doméstico e fornecer um “amortecedor significativo” contra a desaceleração econômica.
… Como os demais mercados, o câmbio relaxou com a decisão da Casa Branca de ceder em parte do protecionismo tarifário contra a China. O dólar à vista fechou em baixa de 0,33%, cotado a R$ 5,8512.
… No noticiário doméstico, a balança comercial registrou superávit de US$ 1,60 bilhão na segunda semana de abril. No mês, o saldo está positivo em US$ 3,19 bilhões e, no acumulado do ano, totaliza US$ 13,17 bilhões.
… As turbulências de Trump têm posto em xeque a dominância do dólar. “Já não é exagero afirmar que o status de moeda americana está, ao menos em parte, sob questionamento”, observa profissional da Capital Economics.
… Ele chama a atenção para a “incerteza extrema” em torno da política econômica de Washington, para as “distorções contínuas” no mercado de Treasuries dos EUA e “erosão da confiança” nos mercados americanos.
… No contexto da verdadeira montanha-russa de emoções nos negócios, o dólar vem num jogo de perde-perde. Cai quando tudo vai mal e cai também quando o investidor reduz o apelo defensivo, como aconteceu nesta 2ªF.
… O índice DXY, termômetro do dólar contra outras seis moedas fortes, recuou 0,46%, para 99,640 pontos. O iene (143,00/US$), o euro (US$ 1,1370) e a libra esterlina (+0,73%, a US$ 1,3198) levaram a melhor.
… No primeiro dia de flexibilização das medidas cambiais pelo governo Milei, o peso argentino disparou 6,55% e fechou negociado a 1.285,00/US$. O novo regime cambial eliminou restrições para compra de dólares no país.
EM TEMPO… PETROBRAS informou que acionistas que detêm, em conjunto, mais de 5% do capital da companhia solicitaram que a eleição do Conselho de Administração seja feita por voto múltiplo; pleito será realizado em AGO amanhã.
CARREFOUR BRASIL informou que a acionista Península vendeu toda sua fatia de 4,9%, poucos dias antes da assembleia geral que votará proposta para fechar o capital da subsidiária brasileira.
ASSAÍ. Vice-presidente de Finanças e de RI, Vitor Fagá, apresentou pedido de renúncia ao posto…
… Aymar Giglio Jr., diretor de Tesouraria, assumirá as funções de vice-presidente de Finanças não estatutário até o fim do processo de seleção do novo executivo…
… Conselho de Administração elegeu o atual diretor-presidente da varejista, Belmiro Gomes, para a posição estatutária de diretor de RI interinamente.
ITAÚ lançou pagamento recorrente com Pix, se antecipando ao prazo estabelecido pelo BC (junho); neste primeiro momento, solução estará disponível só para empresas e pessoas físicas que são clientes do banco.
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