ANÁLISE: Relatório do BC mostra aumento do custo para baixar a inflação
Alex Ribeiro De Brasília
O Relatório de Política Monetária, divulgado nesta manhã pelo Banco Central, mostra o aumento do custo para baixar a inflação para a meta, em um ambiente de deterioração contínua das expectativas de inflação, surpresas recentes nos reajustes de preços e falta de confiança dos mercados na política fiscal do governo Lula.
De um lado, o documento - que antes se chamava Relatório de Inflação - rebaixa a perspectiva de crescimento da economia para 2025 de 2,1% para 1,9%. De outro, passa a contar com uma inflarão mais alta, estimada em 5,1% em 2025 (era 4,5%) e 3,7% em 2026 (era 3,6%).
Outra forma de medir a taxa de sacrifício é pela evolução do chamado hiato do produto, que é uma medida técnica que mostra quanto a economia está operando acima da capacidade agora (pressionando a inflação) e quanto ficará abaixo da capacidade no futuro (ajudando a reduzi-la).
Pelos cálculos do BC, a economia estava 0,8% acima da sua capacidade no fim de 2024. Já começa a esfriar um pouco no primeiro trimestre deste ano, com um superaquecimento de 0,6% - o que significa que pressiona a inflação, mas um pouco menos.
No terceiro trimestre de 2026, a economia estará operando 0,8% abaixo da sua capacidade, o que significa que máquinas e trabalhadores estarão ociosos, o que reduziria a pressão para reajustes de preços e salários.
Essa ociosidade na economia deveria, em tese, ajudar a levar mais rapidamente a inflação, que nos 12 meses até fevereiro ficou em 4,72%, para a meta, definida em 3%. O prazo que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve cumprir para isso é setembro de 2026, mas, para esse horizonte, as projeções do BC indicam um percentual de 3,9%, superando o objetivo.
A piora no cenário desde a última edição do Relatório de Inflação, de dezembro, chama a atenção porque, desde então, o Copom promoveu um choque de juros, elevando a Selic para os atuais 14,25% ao ano, com indicações de que seguirá com um aperto adicional.
O relatório destaca que, na contramão, pesaram principalmente três fatores. Um deles é a piora nas expectativas de inflação, que passaram de 4% para 4,48% para 2026. Além disso, a inflação ficou 0,32 ponto percentual mais alta do que o esperado no trimestre encerrado em fevereiro, o que aumenta a inércia para os meses seguintes.
Completa o quadro uma inflação de curto prazo pressionada, refletindo ainda a economia que opera acima da capacidade no primeiro trimestre, o repasse da alta do dólar para os preços e a contaminação da alta dos alimentos para outros preços na economia. Como a inflação fica mais alta em 2025, há mais inércia para 2026.
Com todas essas forças jogando contra, a redução da inflação para a meta depende de uma sobrecarga maior na atividade econômica. A revisão da previsão de crescimento do PIB em 2025, de 2,1% para 1,9%, significa que, na visão do BC, seu cenário básico está caminhando na direção esperada. A economia vai esfriar um pouco, depois de crescer 3,4% em 2024.
No relatório de hoje, o Copom também mostra que essa desaceleração da atividade é mais favorável a uma queda da inflação, quando são considerados os componentes do PIB. Aqueles setores mais cíclicos, mais ligados à dinâmica da inflação, estão recuando mais do que o esperado.
A previsão do Banco Central para o crescimento da indústria baixou de 2,4% para 2,2%, com uma revisão mais forte para a indústria de transformação, de 3% para 1,5%. A previsão para os serviços caiu de 1,9% para 1,5%. O consumo baixou de 2,4% para 1,5% e os investimentos, de 2,9% para 2%.
O cenário central do Copom, portanto, parece caminhar para a desaceleração necessária da economia para baixar a inflação, mas os riscos em torno desse cenário estão um pouco mais exacerbados. Na sua ata desta semana, o Copom reconheceu que a desaceleração está ocorrendo, mas colocou em dúvida os números do passado (que podem sofrer revisões estatísticas), do presente (que dão sinais mistos) e do futuro (com um maior dinamismo do setor agrícola neste começo de ano).
Curiosamente, no relatório de hoje, o Banco Central publica um box que deveria dar mais confiança na desaceleração. Os técnicos do BC recalcularam o PIB usando um método alternativo de dessazonalização.
Os especialistas do mercado esperam um forte crescimento do PIB no primeiro trimestre, de 1,9%. Essa estimativa considera o método de dessazonalização do IBGE, que ajusta os dados com base no PIB como um todo. Esse método tende a amplificar o impacto da agricultura, que deve ter uma safra recorde neste início de ano.
No entanto, se for utilizada a dessazonalização pelo método indireto, aplicada a cada componente do PIB separadamente, a alta no primeiro trimestre cai para 1%. Se o PIB for calculado excluindo a agricultura, o avanço é de apenas 0,3% (caso se utilize o método de dessazonalização do IBGE sem a agricultura, o crescimento fica em 1%).
São indicadores que deveriam oferecer mais segurança ao Copom. No entanto, o comitê parece cauteloso em reconhecer de forma prematura que a economia está desacelerando. Uma das preocupações que estão contaminando os mercados é a expansão do crédito consignado ao setor privado, que, pelas primeiras consultas, parece que vai se acelerar de forma mais rápida do que o previsto. O Banco Central, no relatório de hoje, baixou sua estimativa para a ampliarão do crédito, de 9,6% para 7,7%. Ou seja, no cenário central, parece mais confiante de que o aperto monetário vai se transmitir pelo crédito. Mas, na ata do Copom, os membros do comitê discutiram a importância de o aperto monetário se transmitir pelo crédito de forma desobstruída.
27/03/2025 10:06:38
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