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NEWS - 17.03

FONTES: RELATÓRIO DO ORÇAMENTO DEVE SER DIVULGADO A PARTIR DE 3ª FEIRA- Broadcast 16/3

Por Gabriel Hirabahasi

Brasília, 16/03/2025 - O senador Angelo Coronel (PSD-BA) calcula que será possível apresentar o relatório da Lei Orçamentária Anual (LOA) deste ano somente a partir de terça-feira, 18, apurou o Broadcast Político. A previsão inicial era de que Coronel divulgasse seu relatório neste domingo, 16. O próprio senador confirmou esse cronograma na semana passada. O plano era votar o Orçamento na Comissão Mista de Orçamento (CMO) na terça-feira, 18, e na quarta-feira, 19, e, em seguida, no plenário do Congresso.

Como o Broadcast Político informou na sexta-feira, 14, porém, entraves políticos têm impedido a votação da proposta. Com isso, há a possibilidade de que o Orçamento seja votado somente em abril. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, não são só questões técnicas que atrapalham a votação - o que poderia ser um empecilho, já que o governo fez uma série de sugestões de mudanças nesta semana. Há entraves políticos que têm feito com que a cúpula do Congresso admita o adiamento por mais algumas semanas.

Algumas mudanças sugeridas pelo governo no ofício encaminhado pelo Ministério do Planejamento à Comissão Mista de Orçamento (CMO), antecipado pelo Broadcast na quarta-feira, 12, têm sido usadas como razões para um possível adiamento. Parlamentares ouvidos pela reportagem dizem que há duas rubricas, por exemplo, que podem causar atrito com a bancada ruralista.

Há um outro ponto de debate entre técnicos e congressistas que pesa no sentido de adiar a votação do Orçamento. O Broadcast apurou que a indefinição sobre os restos a pagar extintos que podem ser resgatados por meio de um projeto de lei complementar (PLP) aprovado no Senado e pendente de votação na Câmara também dificulta o processo. Os Ministérios da Fazenda e do Planejamento são contrários à proposta.

Há, entre congressistas envolvidos na discussão do Orçamento, quem defenda que esses recursos precisam constar da peça orçamentária. Isso faria com que o governo tivesse de remanejar novamente os gastos e abrir espaço na LOA para esses investimentos. Técnicos do governo e do Congresso ainda discutem se será necessário fazer esse novo ajuste.

No sábado, 15, um comunicado atribuído à presidência da Câmara, e divulgado pela Comissão Mista de Orçamento, indicava o adiamento da votação do Orçamento para abril. A presidência da Câmara negou a autoria do comunicado. A CMO, então, divulgou uma nova nota em que dizia que a análise da proposta orçamentária continuava prevista para esta semana.

 

Governo acena com aumento no auxílio-gás e na verba para reforma agrária / Executivo busca recuperar imagem de Lula em meio à queda de sua popularidade- Valor 17/3

Caetano Tonet / Guilherme Pimenta

Apesar do anúncio do corte de R$ 7,7 bilhões no Bolsa Família, o governo federal fez acenos à base eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ofício enviado pelo Ministério do Planejamento com ajustes para o Orçamento de 2025. Com um aumento no Auxílio-Gás e outro na verba para ações da reforma agrária, argumentam aliados do Planalto no Congresso, o Executivo busca recuperar a imagem de Lula em meio à queda de sua popularidade.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), comandado pelo petista Paulo Teixeira, teve um aumento orçamentário de R$ 1,05 bilhão. O aumento da previsão orçamentária vem em meio a críticas à gestão de Teixeira na pasta e a especulações de que o petista deixe o ministério.

Paulo Teixeira enfrenta críticas dentro do Movimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Segundo o Valor apurou, lideranças pedem a saída do petista e defendem a ex-presidente da Caixa Econômica Maria Fernanda Coelho no comando da pasta. Procurada, ela não se manifestou.

Diante do cenário, é justamente o MST o destino de R$ 400 milhões para a compra de alimentos da agricultura familiar. O detalhamento está em um documento da Casa Civil obtido pelo Valor.

O documento cita nominalmente o MST como destino dos recursos remanejados para a pasta. “R$ 400 milhões - aquisição e distribuição de alimentos (MDA/MST)”, detalha a Casa Civil.

Além disso, segundo fontes do PT, a medida também busca mostrar que o governo trabalha para dar uma resposta à população de baixa renda em meio a inflação dos alimentos.

O aumento no orçamento para compra e distribuição de produtos da agricultura familiar tem um impacto incerto na inflação dos alimentos, mas o governo vê o movimento como uma forma de mostrar que está tentando atacar o problema.

Ao Valor, Paulo Teixeira afirmou que o foco do ofício é aumentar a produção de alimentos. O ministro disse, no entanto, que apesar da menção ao MST, o programa é para aquisição da agricultura familiar em geral, não exclusivo para o movimento. “Esse ofício tem duas rubricas, que são rubricas de formação do estoque e rubricas de programa de aquisição de alimentos. O objetivo é fortalecer a produção de alimentos e o acesso a eles”, disse.

Sobre as críticas e a pressão do MST por mais ações da pasta, o ministro vê o cenário com naturalidade: “O movimento, numa sociedade civil vibrante, tem que se mobilizar. Isso é sinônimo de vitalidade.”

Ainda com foco na questão dos alimentos, o ofício prevê um acréscimo de R$ 300 milhões para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o investimento em “formação de estoques públicos de alimentos”.

Outra realocação na pasta, no valor de R$ 350 milhões tem como destino ações de reforma agrária, como a desapropriação de terras.

Na última semana, em uma solenidade em um assentamento do MST em Campo do Meio, Minas Gerais, Lula anunciou desapropriações no Estado, no Rio Grande do Sul, Paraná, Pará e Goiás, totalizando um investimento de R$ 189 milhões.

Mesmo com o corte do Bolsa Família, parlamentares ouvidos pelo Valor enxergam um remanejamento com foco na eleição de 2026 no ofício enviado pelo Planejamento.

O governo garante que os cortes no programa de transferência de renda são parte de um pente fino e não vão diminuir o alcance do programa e o número de beneficiários.

Por outro lado, o governo vê nas ações da agricultura familiar e no acréscimo de R$ 3 bilhões no Auxílio-Gás, antes previsto em R$ 600 milhões, como forma de dar uma resposta efetiva à população de baixa renda, onde Lula teve queda na avaliação nas últimas pesquisas.

Em agosto do ano passado, Lula anunciou a ampliação do vale-gás de 5,6 milhões de famílias para mais de 22 milhões até o fim de 2025.

O ofício enviado ao Congresso ainda adiciona R$ 240 milhões para a Polícia Federal. Recentemente, o Valor mostrou que o órgão pediu mais recursos e manifestou insatisfação com a primeira proposta orçamentária em petição ao Supremo Tribunal Federal, principalmente para ações relacionadas ao crime ambiental. O ministro Flávio Dino, em despacho, cobrou os recursos.

A suplementação orçamentária também foi realizada na previdência, com R$ 8,3 bilhões, e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), com R$ 700 milhões. Mas conforme mostrou o Valor, especialistas afirmam que esses gastos continuam subestimados.

Procurados, o Ministério do Planejamento e a Casa Civil não se manifestaram.

 

 

Motta reúne líderes para distribuir comissões / Presidente da Câmara tenta destravar os últimos impasses para fechar o mapa dos colegiados- Valor 17/3

Marcelo Ribeiro / Murillo Camarotto

Após semanas de negociações, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), realiza na terça-feira (18) uma reunião derradeira com líderes partidários e tenta destravar os últimos impasses para fechar o mapa que definirá a distribuição das comissões temáticas da Casa. O parlamentar tentou, sem sucesso, chegar a um consenso na quinta-feira (13), mas teve seu planos adiados em função da disputa entre legendas.

Motta sinalizou a lideranças que pretende bater o martelo sobre as comissões no próximo encontro para viabilizar as instalações dos grupos na quarta-feira (19). Até mesmo a ordem do dia do plenário da Casa não ocorrerá neste dia para que parlamentares possam se dedicar à abertura dos trabalhos dos colegiados.

A pressa para que a disputa seja superada é maior, em função das preocupações de que as divergências retardem ainda mais a votação do Orçamento de 2025, que já está atrasada e foi marcada para esta semana.

Apesar de estar focado no cumprimento desse calendário desenhado por ele junto às lideranças, Motta ainda precisa resolver alguns embates entre partidos aliados - que sustentaram sua candidatura ao comando da Mesa Diretora -, sendo o principal deles a disputa pela relatoria do Orçamento de 2026 entre MDB e União Brasil.

O ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL) construiu em 2023, durante as negociações de sua recondução ao posto mais alto da Câmara, um acordo que previa que União e PSD indicariam os deputados com os principais cargos que coubessem aos parlamentares da Casa na Comissão Mista do Orçamento (CMO) em 2025 e 2026.

Só que, no ano passado, o MDB recebeu de Motta a promessa de indicar a relatoria do Orçamento de 2025, em troca do apoio à postulação do deputado do Republicano à presidência da Casa.

Naquele momento, o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), ainda tinha sua candidatura colocada. O emedebista abriu mão de suas pretensões e passou a ser um dos principais coordenadores da campanha do deputado do Republicanos.

A partir daí, Motta deslanchou e se tornou ainda mais favorito para a corrida interna.

Esse tem sido o principal argumento apresentado pelo MDB para pleitear um dos postos mais cobiçados deste ano, já que a peça orçamentária prevê os recursos disponíveis para o governo federal em ano eleitoral.

Integrantes do partido alegam ainda terem aderido à postulação de Motta bem antes do União, que arrastou a candidatura de Elmar Nascimento (União-BA) até novembro. Após a desistência do baiano, a legenda também passou a integrar o grupo de 18 partidos que sustentou as pretensões de Motta.

O União, por sua vez, recorre ao acordo fechado com Lira e argumenta que sua bancada federal é maior do que a do MDB.

Segundo apurou o Valor, Motta encaminha-se para contemplar o MDB, já que o senador Efraim Filho (União-PB) deve presidir a CMO, o que inviabilizaria que o mesmo partido ocupasse os dois principais cargos da comissão. Além disso, ele deve garantir que o União esteja à frente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, seguindo à risca um acordo que foi fechado pelo alagoano no início da legislatura.

Outro impasse complexo é relacionado à Comissão de Minas e Energia, a qual está na mira do PL, que tem direito a quatro das sete primeiras pedidas em função da sua numerosa bancada. O PSD, porém, que tem a 11ª pedida, também almeja o posto. Nos bastidores, parlamentares do PL têm reforçado que não abrirão mão do colegiado e pontuam que se trata de um direito regimental.

O mesmo argumento é utilizado pelos bolsonaristas para rebater a resistência do PT a que o PL indique Eduardo Bolsonaro (SP) para a Comissão de Relações Exteriores. O colegiado será um dos dois primeiros pedidos a que a legenda tem direito. (Colaborou Caetano Tonet)

 

 

GLEISI REITERA QUE TRABALHARÁ PARA AJUDAR HADDAD, MESMO COM DISCORDÂNCIAS- Broadcast 16/3

Por Daniel Tozzi Mendes

São Paulo, 16/03/2025 - A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, elogiou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e reiterou que trabalhará pela aprovação da agenda econômico do governo, mesmo que tenha discordâncias com o colega.

“Posso ter minhas posições divergentes [com Haddad], isso é normal no processo democrático. Mas nesse lugar, a Secretaria de Relações Institucionais, estou para facilitar a vida do governo, do presidente e dos ministros. Eu vim para ajudar”, afirmou Gleisi, em entrevista ao programa PodK Liberados, exibida na noite do domingo, 17, pela RedeTV!. O apresentador da atração é o senador Jorge Kajuru (PSB-GO).

Gleisi disse que se reuniu com Haddad na semana passada para entender quais eram as prioridades da Fazenda e como poderia ajudar na aprovação das matérias no Congresso.

Entre os pontos de divergência com Haddad, a ministra lembrou que considera o limite de 2,5% de crescimento de despesas, previsto pelo arcabouço fiscal, como muito baixo. "Mas passou, foi aprovado, e vida que segue. Vamos cumprir o que foi aprovado”, disse Gleisi, que lembrou que o governo terá de fazer bloqueios no Orçamento já em abril por causa do teto de expansão dos gastos.

Gleisi afirmou que Haddad entregou o ajuste fiscal prometido e reduziu o déficit fiscal de mais de R$ 200 bilhões, em 2023, para menos de R$ 30 bilhões no ano passado. O feito, porém, não é reconhecido pelos analistas do mercado financeiro, segundo a ministra. “Não é certo o mercado ficar cobrando que corte os pulsos. Vai deixar de fazer as coisas?”, questionou.

PT

Na entrevista a Kajuru, Gleisi negou que estaria trabalhando para vetar o nome do ex-prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, para a presidência do PT - posto que deixou para entrar no governo, na semana passada. A ministra disse que Edinho tem “todas as qualidades” para ser o próximo comandante da sigla, assim como outros filiados. “Temos que definir qual linha o PT vai atuar. A prioridade é a reeleição de Lula”, afirmou.

 

GLEISI DIZ QUE PEC DA SEGURANÇA, ISENÇÃO DE IR E CONSIGNADO PRIVADO SÃO PRIORIDADES- Broadcast 16/3

Por Daniel Tozzi Mendes

São Paulo, 16/03/2025 - A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse que a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, da isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$ 5 mil por mês e do novo programa de crédito consignado para funcionários de empresas privadas estão entre as prioridades do governo junto ao Congresso nos próximos meses.

Em entrevista exibida na noite do domingo, 16, pela RedeTV!, a ministra afirmou que a PEC da Segurança Pública é uma “prioridade para o País” e que vai conversar com os líderes dos partidos no Congresso para acelerar a tramitação da pauta, ainda antes de o governo apresentar o texto final. “Não pode ser uma matéria que vire uma disputa supérflua, de lacração”, disse a ministra na entrevista ao programa PodK Liberados, apresentado pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO).

Em relação à articulação política, Gleisi afirmou que é preciso saber quando fazer a “política da disputa” e a “política da mediação” e reconheceu que não será possível "aprovar tudo", diante da posição minoritária do governo no Congresso. “Em muitas coisas vamos ter que ceder, e daí vamos graduando, o que é dentro do essencial”, disse. “Às vezes uma boa conversa resolve muito.”

A ministra afirmou também que pretende conversar com políticos da oposição, mas que vai evitar os que considera "radicais", para não “gastar vela com santo ruim”. “Com quem é da conversa, mesmo sendo oposição, eu vou procurar dialogar. Agora, com aqueles que gritam, que agridem, não adianta gastar tempo.”

Gleisi disse ainda que tem “boa relação” com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e que trabalhou para que o PT o apoiasse na disputa pelo comando da Casa, no mês passado, quando ainda atuava como deputada. “Acho que foi correto isso. Ele [Motta] é uma pessoa que tem uma tranquilidade na condução. Então, eu acho que a gente tem tudo para se acertar.”

 

Sinalização do Copom sobre passos futuros gera divisão no mercado / Projeções dos economistas para a Selic no fim do atual ciclo de aperto vão de 14,25% a 16,25%; mediana aponta para a taxa em 15% no 1º trimestre- Valor 17/3

Gabriel Caldeira / Victor Rezende

Com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) praticamente definida, diante da ampla expectativa em um aumento de 1 ponto percentual da Selic, o mercado deve se atentar a eventuais pistas fornecidas pelo colegiado sobre os próximos passos na condução da política monetária. A avaliação majoritária é que o ciclo de aperto monetário deverá ter continuidade no segundo trimestre. No entanto, o uso de uma prescrição futura (“forward guidance”), em que o Copom esclareceria suas próximas ações, traz divergências entre participantes do mercado, visto que alguns esperam uma comunicação mais aberta sobre o rumo da taxa de juros a partir de maio.

A avaliação de que o colegiado não deve se amarrar vem da análise da conjuntura econômica. Desde janeiro, o mercado tem sido surpreendido com dados de atividade econômica mais fracos que o esperado, ao mesmo tempo em que a inflação continua persistentemente acima da meta e com uma composição negativa, diante das pressões nos preços de serviços e nos núcleos. Além disso, o ambiente internacional tem se mostrado muito mais instável, o que tem elevado a volatilidade dos preços dos ativos financeiros e aumentado o nível de incerteza entre os agentes econômicos.

“Não vale a pena dar sinalizações”, diz o economista Marco Antonio Caruso, do Santander. “Acreditamos que o Copom não deve dizer nada expressivo sobre o que fazer. As próximas decisões devem ser pautadas pela convergência da inflação, com o Copom sem dar dicas sobre para onde ir.”

 Em dezembro, quando anunciou um “choque de juros” para tentar ancorar o mercado e conter a rodada de depreciação dos preços dos ativos domésticos, o Copom indicou os dois passos seguintes: altas de 1 ponto percentual na taxa básica em janeiro e em março. Há, assim, uma ansiedade entre os participantes do mercado, na medida em que as projeções econômicas mostram amplitude relevante quanto aos passos futuros.

Entre 125 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor, todas acreditam em uma alta de 1 ponto na Selic na quarta-feira, para 14,25%. No entanto, questionadas sobre o nível do juro básico no fim do ciclo, as casas mostram uma variedade relevante de expectativas, com projeções que vão de 14,25% a 16,25%. A disparidade, inclusive, já era esperada pelo próprio BC. Em evento no Rio em fevereiro, o presidente da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, disse que a proximidade do fim do “guidance” levaria o barco a “balançar um pouco mais”.

“Estamos em um momento de dependência de dados pelo BC. Há uma expectativa pelo cenário de atividade para saber se há uma desaceleração pontual ou se entramos, de fato, em uma tendência de desaceleração. E isso já era esperado dada a magnitude dos juros que temos no momento. Estamos vendo uma desaceleração acontecer, mas é um fator pequeno diante das incertezas e dos riscos à frente”, avalia a economista-chefe do PicPay, Ariane Benedito, cujo cenário aponta para o juro básico a 15% em maio.

 Valor Econômico — Foto: Imagem Valor Econômico

Diante desse ambiente mais instável de pano de fundo que Benedito avalia que pode ser positivo para o BC fornecer um “guidance” para a reunião seguinte. “Seria o ideal na nossa cabeça. Porém, acreditamos que é muito improvável que o BC faça dessa forma devido às condições do cenário. A incerteza externa é muito alta e deve pesar no balanço de riscos e, por isso, acreditamos que ele deve deixar os passos futuros dependentes de dados e as condições como mandatórias.”

Se na decisão de janeiro o Copom manteve o balanço de riscos para a inflação com assimetria altista, agora há dúvidas no mercado sobre esse ponto específico do comunicado. O aumento da incerteza externa, diante da guerra comercial promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os dados de atividade econômica mais fracos que o esperado desde a reunião de janeiro estão entre os principais pontos de dúvida dos participantes do mercado.

O economista-chefe da Apex Capital, Alexandre Bassoli, é da ala que espera uma comunicação mais branda do Copom. “Considerando as manifestações públicas dos dirigentes, minha impressão é que eles percebem um balanço [de riscos] mais simétrico nesse momento”, avalia Bassoli. Para ele, os sinais recentes de desaquecimento da economia devem ser mais enfatizados pelo colegiado. O economista, porém, observa que a desaceleração deve ser “gradual” e ressalta que “não há sinais de colapso da atividade”, ao mesmo tempo em que o quadro inflacionário doméstico ainda é desafiador.

“A dinâmica das expectativas tem sido um desafio importante”, diz Bassoli. No levantamento do Valor, o ponto-médio das projeções para o IPCA deste ano subiu de 5,4% em janeiro para 5,6%, enquanto a mediana das estimativas para a inflação de 2026 passou de 4,2% para 4,4%, quase no teto da meta. “O que me parece mais provável é que, ao longo do tempo, haja frustração com a trajetória da inflação”, completa o economista.

Já a economista-chefe da Principal Asset Management no Brasil, Marcela Rocha, vai por outro caminho ao esperar uma comunicação ainda bastante dura do Copom diante de um ambiente de inflação ainda pressionada e dos sinais de desaceleração que, por ora, apontam para uma perda de ímpeto gradual da economia, a um ritmo esperado dado o grau de aperto monetário implementado até o momento. “O Copom não vai mudar o seu balanço de riscos e manterá a assimetria de alta para a inflação. Por mais que tenham tido dados de atividade mais fracos e uma valorização da taxa de câmbio, as projeções do BC e a desenvoltura do cenário ainda sugerem riscos de alta.”

Ao considerar as novas variáveis de câmbio, preços do petróleo e expectativas de inflação do Boletim Focus, Rocha calcula que a projeção de inflação do Copom no horizonte relevante (terceiro trimestre de 2026) deve mostrar uma queda de 4% para 3,7%. Assim, para a economista, o Copom “não pode se contentar” diante do nível de desancoragem da inflação sugerida tanto pelo comportamento das expectativas quanto por sua própria projeção, o que pode levar o BC a sinalizar a continuidade do ciclo de aperto monetário nas reuniões seguintes.

“Se a comunicação for totalmente aberta, com muitos graus de liberdade, pode gerar um efeito contraproducente para o Copom”, alerta. Para a economista da Principal, o BC poderia passar uma mensagem de que não está preocupado com a desancoragem atual das expectativas inflacionárias e de que não se compromete em buscar maior credibilidade caso não sinalize por mais altas de juros adiante. “O momento exige que o BC indique que esse próximo aumento [da Selic] não é o último”, diz Rocha.

Ao também projetar uma queda da inflação projetada pelo Copom no horizonte relevante para algo entre 3,7% e 3,8%, Caruso, do Santander, nota que o movimento deve se dar essencialmente pela apreciação do câmbio, mas ressalta que a distância em relação à meta de 3% “ainda será longa”. “Abre discussão para uma redução do ritmo, o que é razoável se imaginarmos que o câmbio ficará onde está hoje”, afirma. “A dificuldade está nas expectativas de inflação.”

Embora também enfatize as pressões inflacionárias e a desancoragem das expectativas, o economista-chefe da Citrino Gestão de Recursos, Raí Chicoli, avalia que as incertezas, que têm ficado mais fortes, devem ter um peso maior. “Fica muito difícil o Copom dar um ‘guidance’ daqui em diante. O mais provável é que tentem manter a comunicação sem ter qualquer tipo de compromisso com o próximo passo. E isso não significa que o Copom irá parar de elevar o juro.”

Na medida em que a projeção do Copom continuará a indicar a necessidade de ajustes adicionais na taxa de juros, Chicoli avalia que o BC não deve encerrar o ciclo já agora. Em seu cenário, ele projeta a Selic em 15,25%, “mas, por conta dessa incerteza elevada, não há ganho em colocar em pedra o que irá fazer a seguir, até porque, nesse meio tempo, não se sabe o que irá acontecer com a economia americana ou com a economia brasileira”.

Quanto ao comunicado, Chicoli acredita que o Copom pode colocar que o crescimento ficou abaixo do esperado no último trimestre do ano passado e que as expectativas deles talvez fossem um pouco mais fortes. “A comunicação deve ser mais lacônica ao falar sobre a atividade um pouco mais fraca e isso deve ser mais trabalhado na ata. Mas não acredito que o tom irá mudar muito em relação a janeiro. Os sinais de desaceleração são bastante incipientes. Não é possível cravar que há uma mudança de tendência ainda”, defende.

 

Selic deve voltar esta semana ao nível da crise de Dilma, e próximos passos do BC devem ficar em abert oBanco Central deve elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual nesta quarta pela terceira vez consecutiva- O Globo 17/3

Thaís Barcellos

O Banco Central deve elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual nesta quarta pela terceira vez consecutiva, cumprindo o plano de voo traçado em dezembro para tentar controlar o aumento de preços que vem minando o poder de compra dos brasileiros - e a popularidade do governo Lula. Com a decisão, amplamente esperada pelo mercado financeiro, os juros básicos devem subir de 13,25% para 14,25% ao ano, alcançando o mesmo nível da crise do governo de Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016. É o maior patamar desde outubro de 2016.

A dúvida que resta para o Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana fica por conta das próximas decisões de juros, mas os economistas ouvidos avaliam que o BC deve deixar os passos seguintes em aberto, à espera de uma visão mais clara da economia à medida que o ciclo de alta de juros vai se aproximando do fim.

No Copom de janeiro, o BC sinalizou um novo aumento de 1 ponto percentual para o encontro deste mês “diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação”. O choque de juros, com três altas seguidas de 1 ponto, já havia sido acertado no último encontro do colegiado de 2024.

Atualmente, o IPCA - índice oficial de inflação - está em 5,06% em 12 meses, muito acima da meta de 3,0%, e as projeções do BC não apontam ainda para uma convergência. São de 5,2% para o fim deste ano e 4,0% no terceiro trimestre de 2026, horizonte que atualmente a autoridade monetária foca seus esforços para colocar a inflação na meta.

Em relação aos ajustes posteriores a março, o colegiado se limitou a dizer, em janeiro, que a “magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

— A perspectiva para o Copom em si está dada. Na curva de juros futuros, a precificação praticamente aponta para 100% de chance de uma nova alta de 1 ponto percentual. Não existe discussão a respeito do que o BC vai fazer esta semana. A grande questão é o guidance (sinalização para as próximas reuniões) — diz o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Souza Leal.

Em sua avaliação, o BC não deve se comprometer com nada para o encontro seguinte, em maio, especialmente considerando o cenário volátil no mundo devido ao choque tarifário provocado pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos.

— Eu acho que vai deixar totalmente em aberto. Obviamente, é bom ter graus de liberdade (para a atuação). Mas, desta vez, é porque não tem a menor ideia de como vai estar a conjuntura daqui a 40 dias com as ações de Trump. Trump está no governo há pouco mais de 40 dias. Imagina o que pode acontecer nos próximos 40 dias (intervalo do Copom).

Para Souza Leal, os analistas vão ficar de olho em eventuais pistas que o BC pode dar no comunicado para tentar traçar uma expectativa para o restante do ciclo de juros. Na ata em que detalhou a decisão de janeiro, o comitê disse que iria acompanhar o ritmo da atividade econômica, o repasse do câmbio para a inflação depois do salto do dólar no fim de 2024 e as expectativas de inflação

Desde então, os dados de atividade apontaram para um enfraquecimento do crescimento econômico, como no caso do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2024, que teve alta de 0,2%, abaixo do esperado. O comportamento do dólar também trouxe alívio, com a cotação agora rodando em torno de R$ 5,80, contra R$ 6,00 no início do ano e R$ 6,20 em dezembro.

A apreciação cambial, inclusive, deve ser responsável por uma pequena redução na projeção do Copom para o IPCA do terceiro trimestre de 2026. Nas contas do economista-chefe da G5 Partners, essa previsão deve cair de 4,0% para 3,90% em função do fortalecimento do real ante o dólar. Essa mudança deve mais que compensar a nova deterioração das expectativas de inflação, enquanto a mediana para a taxa Selic do Boletim Focus ficou estável.

As expectativas de inflação para 2025 subiram de 5,50% para 5,68% e de 2026, de 4,22% para 4,40%. Já a mediana para Selic se manteve em 15% no fim deste ano e 12,50% no término do ano que vem.

Souza Leal destaca que a queda na projeção é condição fundamental para o Copom começar a pensar em interromper o ciclo de alta de juros. Ele pondera, no entanto, que ainda é uma “luz no fim do túnel” fraca, já que ainda está muito distante da meta de 3,0%.

Para o economista, o BC deve elevar a Selic até 15%, com um aumento de 0,75pp em maio, e parar nesse nível, usando a estratégia de manter a taxa em nível contracionista por mais tempo.

A equipe de análise econômica do C6 Bank, liderada pelo economista Felipe Salles, destaca que, em manifestações recentes, os diretores do BC não fizeram qualquer menção sobre a necessidade de elevar os juros para além do já sinalizado.

“Isso nos leva a crer que estamos chegando perto do fim do ciclo de juros. Acreditamos, por ora, que o BC deve fazer mais duas elevações nos juros, além da já sinalizada para a reunião de março, até o meio do ano e, com isso, a Selic deve terminar o ano em 15%. Projetamos que a Selic se mantenha nesse patamar até o fim de 2026”, diz, em relatório.

Já o economista-chefe da Truxt Investimentos, Arthur Carvalho, avalia que o Copom deveria ir além do patamar de 15% para a Selic esperado pela Focus para sinalizar comprometimento com a meta de inflação.

Carvalho avalia que o enfraquecimento do dólar globalmente é uma boa notícia para o BC, mas que contrasta com notícias ainda preocupantes internamente.

— O dólar é um alívio para o BC quando olha para a inflação prospectiva. Mas não é alívio suficiente para resolver a vida. Afasta um cenário mais preocupante de inflação a 7%, mas ainda deixa a inflação um pouco acima de 6%, no nosso cenário.

Do outro lado, além da deterioração das expectativas de inflação, ele cita que a composição dos dados do IPCA mostra que os preços de serviços ainda estão muito altos e a atividade econômica não dá sinais de uma desaceleração abrupta que poderia controlar mais rapidamente o custo desses itens.

— Vai demorar muito tempo para ter um ajuste do mercado de trabalho que faça efeito para a inflação ceder.

Após a divulgação do PIB do quarto trimestre, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, foi cauteloso sobre a desaceleração da atividade. Ele reconheceu que o desempenho foi mais fraco do que o esperado, mas disse que era difícil concluir se realmente há uma tendência de enfraquecimento econômico.

— Mais importante do que qualquer coisa é o fato de que [a moderação] é necessária para levar a inflação para a meta e parte do nosso cenário base. Olhando para o que aconteceu no começo deste ano, você vê dados mistos, alguns dados mais fortes... é difícil dizer se é uma tendência — disse, em evento promovido pelo Banco de Portugal, em Lisboa, no início deste mês.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destaca ainda que a liberação do saldo do FGTS que estava retido pela adesão de parte dos trabalhadores ao saque aniversário pode estimular a atividade à frente, assim como incentivos ao crédito. Além do aumento de 1pp esta semana, a Suno espera elevação de 0,75pp em maio e uma alta final de 0,25pp em junho, para 15,25%.

“Para a reunião de maio, a decisão mais prudente seria manter o cenário em aberto, permitindo uma avaliação mais precisa da evolução da economia brasileira, especialmente o ritmo de desaceleração da atividade e os efeitos da recente valorização do câmbio. Além disso, o risco fiscal permanece, exigindo cautela na condução da política monetária”, diz, em relatório.

Medida macroprudencial pode mitigar piora fiscal, defende Bráulio Borges/ Mecanismo de regulação do crédito já regulamentado mas nunca usado no país ajudaria a evitar bolhas financeiras, afirma pesquisador- Valor 17/3

Marcelo Osakabe

O Banco Central tem em mãos uma ferramenta que poderia utilizar lado a lado com a Selic para esfriar a economia ao mesmo tempo em que mitiga parcialmente os efeitos sobre o endividamento público da alta da taxa básica de juros. É o Adicional Contracíclico de Capital Principal (ACCPBrasil), um mecanismo regulamentado no país desde 2015, mas que nunca foi acionado.

Na visão do economista da LCA 4Intellicence e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), Bráulio Borges, o ACCP deveria estar em vigor desde 2022. “Isso se o BC estivesse operando ‘by the book’, seguindo as regras. Porque o ACCP não é um instrumento discricionário, existe uma regra que governa quando ele deve ser acionado”, nota.

O ACCP é uma política macroprudencial implementada no Brasil seguindo as recomendações do acordo de Basileia 3, e seu objetivo é ajudar a resguardar a estabilidade financeira. Em linhas gerais, ele é um adicional exigido pelo Banco Central para cada real que os bancos oferecem nas operações de crédito. É uma forma de regular a alavancagem e, com isso, evitar bolhas em momentos de expansão muito rápida do crédito.

Segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS), 35 países regulamentaram o instrumento e 16 atualmente adotam uma taxa acima do zero, a grande maioria, países desenvolvidos. Noruega e Dinamarca são as nações que impõem o maior adicional, com 2,50%. Entre as nações em desenvolvimento, o Chile adota desde maio de 2025 um ACCP de 0,50%. Já a Armênia a mantém em 1,50% desde 2023.

Diferentemente da Selic, que é a ferramenta utilizada pelo sistema de metas, o ACCP não tem como objetivo controlar inflação. No entanto, alguns estudos sugerem que, ao dificultar a oferta de crédito pelo sistema financeiro, ele tem um “efeito colateral” ao contribuir, ainda que indiretamente, para esfriar a expansão da economia.

Um trabalho publicado em 2019 do BIS com dados de países desenvolvidos e emergentes aponta que políticas macroprudenciais (não apenas o ACCP) afetam o PIB, o nível de preços e a expansão real do crédito. No entanto, diferentemente da política monetária, que têm efeitos mais amplos sobre a economia, elas atuam principalmente sobre o investimento imobiliário e o crédito às famílias.

 Em outro estudo, este de 2021, economistas do Banco Central Europeu (BCE) estimaram que a elevação do ACCP em 1 ponto porcentual (p.p.) tem um impacto negativo sobre o PIB entre 0,15 ponto a 0,35 ponto no curto prazo. Os autores sustentam também que a medida “prolonga períodos em que a taxa neutra de juros permanece baixa”.

Tomando como base o trabalho do BCE, Borges propõe um "chute educado" e estima que cada 1 ponto porcentual do instrumento equivaleria, no Brasil, a um aumento entre 0,3 p.p. e 0,7 p.p. da Selic. Como o próprio BC calcula que 1 ponto de aumento permanente da Selic reduz o crescimento do PIB em cerca de 0,6 p.p. e aumenta o déficit nominal em R$ 55 bilhões por ano, a economia estimada com a ficaria entre R$ 16,5 bilhões e R$ 38,5 bilhões após um ano.

Para efeito de comparação, a despesa com juros do Brasil alcançou R$ 950,4 bilhões em 2024. Cada ponto de ACCP, portanto, poderia reduzir até 4% desse montante.

O pesquisador salienta que o instrumento não é um substituto da Selic, já que age apenas em parte dos canais de transmissão. Enquanto a segunda atua sobre o canal das expectativas, do custo de crédito e o do preço dos ativos, o primeiro age apenas sobre o crédito. É algo mais limitado, mas pode afetar a economia de forma mais imediata, diz Borges, ao lembrar que a Selic age com defasagem sobre a economia - mudanças do patamar de juros levam até seis trimestres para atingir o pico de seu efeito.

No Brasil, o órgão que decide qual será o nível do ACCP é o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), composto pelos diretores e pelo presidente do Banco Central. E, a princípio, a principal referência para o acionamento do instrumento é o chamado hiato do crédito, um indicador que mostra o quão longe ele está do que se considera como sua trajetória tendencial. O próprio BC, na última edição do Relatório de Estabilidade Financeira, em novembro, mostra que o indicador tem trajetória crescente e positiva desde 2022.

A questão é que a autoridade monetária tem suas reservas em relação a tal métrica. No mesmo relatório, o BC reconhece que projeção de crescimento do hiato de crédito amplo/PIB demanda atenção, mas alerta: “Ainda que o hiato de crédito seja o indicador de referência proposto pelo Comitê de Supervisão Bancária de Basileia para apoiar as decisões do ACCP, o próprio não advoga o uso mecânico desse indicador, pois a métrica apresenta limitações, que são particularmente importantes em economias emergentes”.

“O Banco Central argumenta que boa parte desse hiato positivo vem do desenvolvimento do mercado de capitais, que é algo mais estrutural, e que portanto não dá para levar ao pé da letra o indicador”, diz Borges. “Eu discordo. Primeiro, porque o mercado de capitais também é suscetível a bolhas. Sabemos, por exemplo, que muita empresa lança títulos com isenção tributária [como as LCAs e LCIs] mesmo sem ser originária do mercado originalmente favorecido. Segundo, porque o hiato do crédito para pessoa física está positivo desde meados de 2022, então, mesmo olhando somente para este grupo, o mecanismo deveria estar acionado há dois anos.”

Em sua avaliação, o motivo para o BC não usar o ACCP tem outra raiz: o receio em lançar mão de medidas macroprudenciais, que ganharam fama de “heterodoxas” no Brasil na primeira metade começo da década de 2010. Ficou marcada na cabeça dos participantes de mercado a gestão do presidente Alexandre Tombini no BC, em que essas ferramentas foram utilizadas, ao mesmo tempo em que foi promovida uma queda artificial da Selic.

“Acredito que o receio em relação à ferramenta seja reputacional. É algo que não foi bem visto lá atrás e que ainda pode gerar perda de credibilidade da política monetária”, diz. “Mas acho que é um temor exagerado. Primeiro porque o instrumento está regulamentado com regras claras há dez anos. Segundo, porque aquele episódio faz muito tempo, e hoje o BC tem autonomia de fato, o arcabouço institucional evoluiu muito.”

O crescimento do crédito ofertado no Brasil foi um dos destaques de 2024, superando consistentemente as expectativas de analistas ao longo do ano mesmo diante de aperto monetário e de ampliação das incertezas econômicas a partir de meados do ano.

Segundo dados do BC, o ritmo de crescimento do crédito acelerou em 2024 para 10,9%, ante 8,1% em 2023, e alcançou R$ 6,4 trilhões. Na comparação anual, houve aceleração tanto do crédito pessoal (de 10,5% para 12,1%) como para pessoas jurídicas (4,7% para 9,1%).

Um das estrelas desse momento foi o crédito automotivo, que registrou expansão de 31% no ano passado, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave). Ele foi o principal motor do salto de 14,1% na venda de veículos novos no período.

O próprio BC tem comentado sobre o que vê como certo descompasso entre o crescimento do crédito, a atividade no mercado de capitais e o que a Selic deveria estar promovendo, lembra o ex-diretor de Relações Internacionais do Banco Central Tony Volpon.

Em sua avaliação, o crédito tem crescido mais fortemente por uma combinação de realocação de recursos vindos dos fundos multimercados e da bolsa em direção especialmente ao crédito privado, juntamente com inovações do mercado financeiro - o avanço das fintechs, por exemplo.

“É algo que tem tornado o crédito menos sensível a política de juros. Em função dessa grande demanda e oferta, o aperto monetário não tem chegado na ponta e está forçando BC a elevar juros acima do necessário, o que acaba piorando o endividamento do Estado”, diz.

A questão, por outro lado, é que todo o arcabouço de medidas macroprudenciais sustenta que elas devem ser utilizadas mirando exclusivamente a estabilidade financeira, não controlar inflação ou mirar a situação fiscal. Os bancos centrais, inclusive, mantêm comitês separados para administrar essas questões - no Brasil, o Comef e o Copom.

“Eu, particularmente, acredito que existe um certo risco no mercado de crédito, no crescimento da exposição do segmento à pessoa física, que pode se materializar quando a desaceleração econômica chegar. Mas quem precisa estar de olho nisso é o BC, e ele não parece preocupado com o assunto no momento.”

Volpon chama ainda atenção para o fato de que essa regulação foi criada pensando no sistema bancário, ao passo que o que tem mais crescido mais no Brasil e no mundo nos últimos anos é o crédito privado. “Pode ser que esse instrumento não funcione tão bem justamente por causa disso. Mas pode ser que sim, uma vez que o mercado de crédito no Brasil ainda segue bastante concentrado, diferente do que ocorre nos Estados Unidos, por exemplo.”

Economista-chefe do Fator e professor aposentado da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA USP), Francisco de Lima Gonçalves prega cautela na utilização do instrumento.

“Se a preocupação é com o efeito da taxa básica de juros sobre a dívida, por outro lado, qualquer outra medida que reduz liquidez, por definição eleva os juros de mercado. Eleva toda a curva a termo, inclusive a ponta curta, em que está a Selic”, pondera. “Não estou dizendo que isso zera o efeito desejado, mas é preciso ter o cuidado de levar esse efeito em consideração.”

Em sua avaliação, ao mexer nas condições de liquidez, o a ferramenta também adiciona um novo elemento de incerteza sobre o sistema. “Quando se tem duas variáveis mudando, você acrescenta dificuldades ao sistema, uma dose adicional de incerteza. A questão é: se você não gostar desse efeito, achar que não foi suficiente, pode fazer de novo? Pode fazer com que se gere uma expectativa de que vai subir mais, gerando mais incerteza.”

Em comunicado no último dia 19, quando anunciou que manteve o ACCPBrasil em 0%, o Comef afirmou considerar que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) está preparado para enfrentar a materialização de risco de crédito.

“No quarto trimestre de 2024, o crédito bancário manteve seu ritmo de crescimento, porém a Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito aponta prospectivamente para uma deterioração das condições de oferta de crédito e menor tolerância ao risco por parte das instituições financeiras”, ponderou o Comef.

O comunicado informa ainda que o valor do ACCPBrasil é decidido “considerando um conjunto de indicadores econômicos de forma não mecânica e a utilização de outros instrumentos de estabilidade financeira”.

Estudo recentemente publicado pelo Santander mostra que o impulso do crédito - medido como a diferença entre novas concessões e pagamentos em proporção do PIB - veio em trajetória crescente desde o fim de 2023 e chegou a superar 4% do PIB em algum momento do último trimestre do ano passado, mas passou a cair desde então. Em algumas modalidades, como o crédito corporativo não direcionado, o impulso foi superior a 5% do PIB.

Olhando adiante, no entanto, o Santander avalia que o impulso do crédito deve voltar à neutralidade, na esteira de uma política monetária mais restritiva, impulso fiscal negativo e alta da inadimplência.

 

Produtividade do trabalho fica estagnada no Brasil em 2024 e é alerta para inflação / Medida por horas efetivas caiu 0,5% no 4º trimestre e variou apenas 0,1% no ano passado- Valor 17/3

Anaïs Fernandes

Embora a economia brasileira, no seu agregado, tenha crescido de forma similar em 2023 e 2024, o comportamento da produtividade do trabalho mudou entre os dois anos. Em 2024, a produtividade por hora efetivamente trabalhada variou apenas 0,1%, ante alta de 2,3% em 2023, quando subiu acima da média histórica do país. Os dados, antecipados ao Valor, são do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre).

Para 2025, a perspectiva não é de avanço significativo na produtividade, que pode até cair, segundo pesquisadores do observatório. Eles alertam que uma economia que cresce acima do seu potencial sem ganhos de produtividade alimenta o processo inflacionário.

A produtividade é calculada pela comparação do valor adicionado - variável próxima ao Produto Interno Bruto (PIB), mas que exclui impostos e subsídios - com os indicadores do fator trabalho. Em 2025, o valor adicionado agregado da economia subiu 3,1%, enquanto as horas efetivamente trabalhadas cresceram 3%. Dessa comparação, resultou a variação de 0,1% da produtividade em 2024. “Praticamente todo o aumento do PIB veio do emprego e das horas”, diz Fernando Veloso, coordenador do observatório junto com Silvia Matos.

As horas efetivamente trabalhadas podem incluir reduções por motivo de doença, feriado ou cortes de jornada, como os realizados em meio à crise da covid-19, bem como aumentos por causa de picos de produção e compensação de horas não trabalhadas.

Considerando os demais fatores trabalho, as horas habitualmente trabalhadas cresceram 3% em 2024, e a população ocupada, 2,8%, de modo que as medidas de produtividade registraram variação de 0,1% e 0,3%, pela ordem.

Em 2020, a pandemia mexeu com o mercado de trabalho, mantendo empregados os mais qualificados e, potencialmente, mais produtivos. Com isso, a produtividade por hora efetiva saltou 12,7% no ano inicial da crise sanitária. Em 2021 e 2022, esse “efeito composição” foi se dissipando, e a produtividade anual, em devolução, recuou 8,1% e 4,4%, respectivamente. O ano de 2023 foi o primeiro “normal”, e a produtividade iniciou o período subindo, o que surpreendeu, lembra Veloso. “No Brasil, qualquer aumento, mesmo pequeno, é sempre uma surpresa. Ele apareceu no primeiro trimestre de 2023, o que foi uma quebra em relação ao padrão de 2022, e depois de novo no segundo trimestre, mas foi desacelerando até desaparecer, dependendo da métrica, no quarto trimestre de 2024. Foi, realmente, algo temporário.”

Apenas no quarto trimestre de 2024, a produtividade por hora efetiva recuou 0,5% na comparação com período equivalente de 2023 e 0,9% em relação aos três meses imediatamente anteriores. Com isso, está apenas 0,9% acima do nível pré-pandemia. Em relação à tendência esperada antes do choque da covid, a produtividade corre paralelamente em um patamar um pouco superior (veja gráfico acima), mas a tendência continua muito parecida, diz Veloso.

“Todo esse aumento veio, basicamente, de um ou dois trimestres no início de 2023 e parou. Não tem, absolutamente, nenhuma dinâmica de crescimento da produtividade desde o segundo trimestre de 2023”, afirma.

O pesquisador ressalta que o tema é importante porque aumento da produtividade ajuda a combater a inflação e permite a redução dos juros. “Crescimento do PIB com produtividade crescendo não é inflacionário. Mas, se é um crescimento temporário, por mais que tenha um efeito benigno para a inflação, não é algo em que o Banco Central possa confiar para fazer política monetária”, diz Veloso.

Assim como em 2023, quem salvou a produtividade do Brasil no ano passado foi a agropecuária. Embora o valor adicionado do setor tenha caído 3,2%, as horas efetivas recuaram mais: 4,8%. Com isso, a agropecuária ainda registrou alta de 1,6% na produtividade em 2024, após saltar 22,3% em 2023, diante da safra recorde.

“O desempenho do agro foi muito pior que em 2023, o que fez toda a diferença para 2024. Mas, até quando a produção cai, o agro continua um exemplo de sucesso, de que, com menos gente, a produtividade aumenta”, diz Veloso.

Enquanto isso, a produtividade por hora efetiva da indústria caiu 0,5% em 2024 e a dos serviços ficou estagnada, após registrarem altas de 2,1% e 0,5% em 2023, pela ordem. “Serviços é o principal setor da economia brasileira, tanto em percentual no PIB, quanto em trabalho. Teve um aumento minúsculo em 2023 e zero em 2024. Quando o setor de serviços não tem dinamismo, qualquer aumento de produtividade depende inteiramente do agro”, diz Veloso.

Na série construída pelo observatório desde 1995 até 2024, a produtividade da agropecuária por hora efetiva cresce, em média, 5,8% ao ano, bem acima da produtividade agregada, que avança 0,8% ao ano, observa Paulo Peruchetti, economista do FGV Ibre. A produtividade dos serviços cresce, em média, apenas 0,2%, e a da indústria recua 0,3%. “O crescimento da produtividade do agro é contínuo e, sem ele, não tem crescimento agregado”, afirma Veloso.

Medida de eficiência com que os fatores capital e trabalho se transformam em produção, a produtividade total dos fatores (PTF) por hora efetiva, por sua vez, caiu 0,8% em 2024, após registrar alta de 1% em 2023. No fim de 2024, a PTF ainda estava 5,8% abaixo do nível pré-covid. “É um quadro desolador”, diz Veloso.

Desde 2021, a geração de emprego no Brasil tem sido, predominantemente, formal, observam os pesquisadores do FGV Ibre, o que traz um viés mais positivo para a produtividade, mas que ainda não apareceu. “E, na ponta, já parece haver uma desaceleração do emprego em 2025”, diz Peruchetti.

Com a atividade econômica ainda forte e sem ganhos de produtividade, a “correção” dos efeitos à inflação terá de vir da desaceleração do emprego, diz Veloso. Isso começa a aparecer nos registros do governo para o emprego com carteira assinada, o Caged. “O mercado de trabalho no início do ano passado parecia que seria algo muito parecido com, principalmente, 2022, mas, no segundo semestre de 2024, a geração de emprego formal começou a perder dinamismo”, diz Veloso.

Olhando à frente, em uma conta simplificada, se o FGV Ibre projeta crescimento da economia brasileira de 1,7% em 2025 e alta de 2% da população ocupada, a produtividade registraria uma queda em torno de 0,3% neste ano, observa Peruchetti. “Ainda tem muita informação para sair”, pondera. “Mas a produtividade foi mais forte em 2023, desacelerou em 2024 e, provavelmente, haverá estabilidade ou pequena queda em 2025. Esse é o padrão pré-pandemia.”

Peruchetti nota que, em 2017, a produtividade por hora efetiva subiu 2,1%, também por causa da safra agrícola excepcional. Em 2018, desacelerou para 0,5% e, em 2019, caiu 1,5%. “Naquela época, no entanto, a gente tinha um teto de gastos que funcionava. Agora, temos um arcabouço fiscal que se revelou muito frágil. Então, em certa dimensão, estamos em uma situação até pior”, afirma Veloso.

O economista Vitor Vidal, da consultoria VVC, também chama a atenção para a semelhança do nível da produtividade agora e logo antes da pandemia. Mas destaca outras variáveis importantes que são distintas. “Hoje, temos um nível de desemprego muito mais baixo do que naquele período, em que a economia estava crescendo 1,5% e a taxa de desemprego estava na casa de dois dígitos”, afirma.

Pelos seus cálculos, a produtividade caiu 0,3% em 2024, com retração de 0,5% no quarto trimestre. No primeiro trimestre deste ano, ela pode esboçar alguma recuperação, diz Vidal, diante da perspectiva de nova safra recorde.

Olhando um horizonte temporal mais longo, um estudo do Santander aponta que as métricas de produtividade do Brasil seguem um padrão cíclico nos últimos 12 anos sem apresentar crescimento sustentável. Isso limita a expansão do PIB potencial do país, especialmente diante do declínio do crescimento populacional e das restrições de investimento, dizem economistas do banco.

Ainda que a PTF retorne a níveis positivos, eles afirmam ser difícil alcançar um PIB potencial acima de 2% ao ano. “Mesmo com a suposição relativamente forte de que a produtividade não recuará nos próximos trimestres, haverá uma tendência estável de menor crescimento potencial do PIB estabilizando em torno de 1,5%”, dizem Henrique Danyi, Gabriel Couto e Felipe Kotinda no relatório.

 

ESTADÃO: EM VEZ DE BAIXAR CONTA, ITAIPU BANCA OBRA EM UNIVERSIDADE- 17/3

A usina hidrelétrica binacional de Itaipu se prepara para financiar uma obra orçada em R$ 752 milhões no câmpus da Universidade Federal Latino-americana (Unila), em Foz do Iguaçu, no Paraná. O projeto, idealizado pelo governo Lula no segundo mandato, teve as obras paralisadas em 2014 e deve ser retomado em abril, com a construção de um restaurante universitário, um edifício administrativo e um bloco de salas de aula.

Esses gastos de Itaipu, chamados de “outras despesas de exploração”, incluem despesas “socioambientais” que não têm relação com a geração de energia, mas acabam deixando a conta de luz mais cara.

Entidades do setor elétrico defendem o fim desses desembolsos para que haja redução da conta cobrada dos consumidores brasileiros. Conforme essas organizações, hoje a tarifa de Itaipu não está caindo, mas apenas deixando de subir, após acordo feito entre Brasil e Paraguai.

“Os custos de Itaipu foram crescendo, mas não para a compra de equipamentos, linhas de transmissão ou unidades geradoras de energia - e sim para gastos socioambientais. Somos contra o consumidor brasileiro ser suporte financeiro de obras”, afirma Luiz Eduardo Barata, presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia.

Especialistas em contas públicas também criticam essas despesas por correrem por fora do Orçamento federal, com menos transparência. “Trata-se de um gasto tipicamente orçamentário, mas que não está no Orçamento”, diz o economista e pesquisador do Insper Marcos Mendes.

Nos últimos anos, esse tipo de gasto socioambiental foi turbinado por Itaipu, à medida que a usina foi terminando de pagar os financiamentos externos. Em 2018, foram R$ 124,8 milhões. Em 2023, o volume chegou a R$ 893,7 milhões.

Depois de 50 anos, os empréstimos contratados pelo Brasil para a construção da usina foram quitados, em
fevereiro de 2023. Para o setor elétrico, a redução dessa despesa deveria ser repassada para a conta de luz, o que faria a tarifa da usina para o consumidor cair cerca de 30%, de US$ 16,71 o MWh para a casa de US$ 12.

Procurado, o Ministério de Minas e Energia (MME) disse que a redução da tarifa tem sido prioridade da usina, após determinação do ministro Alexandre Silveira, e que são previstos aportes de R$ 2 bilhões para reduzir a conta em 2025.

Já o Ministério da Educação e a Itaipu responderam que o valor da obra na universidade inclui “custos de revisão dos mais de 3 mil projetos executivos da obra de Oscar Niemeyer”. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops), que conduz o projeto, afirmou que o valor é uma estimativa e que a obra está em fase de licitação. (Alvaro Gribel)

 

A ordem de Rubens Ometto para 'liquidação total' na Cosan- O Globo 16/3

Por Lauro Jardim

A ordem de Rubens Ometto é vender, vender e vender o que puder para desalavancar o grupo Cosan.

Fora o que já está sendo oferecido, vai se desfazer da refinaria e postos da Raízen na Argentina (o BTG vai tocar o negócio); e das usinas de açúcar e álcool no Mato Grosso do Sul e do porto São Luís (MA), cujo mandato está com o Itaú.

 

 

ESTADÃO: BOLSONARO E TARCÍSIO DEFENDEM ANISTIA EM ATO ESVAZIADO E COM ATAQUES AO STF- 17/3

Em um ato esvaziado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados defenderam neste domingo, 16, na manifestação na praia de Copacabana, no Rio, a aprovação da anistia para os responsáveis pelo ataque à sede dos três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. O ato registrou críticas, xingamentos e até uma ameaça ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, feita pelo pastor Silas Malafaia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi poupado de críticas em razão da carestia.

Na primeira manifestação convocada por Bolsonaro após a denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que o atingiu, o ex-presidente afirmou: “Não derrotaram e nem derrotarão o bolsonarismo”. Ele criticou Moraes e Lula, e defendeu a anistia aos acusados da tentativa de golpe, que qualificou como “historinha”. E voltou a sugerir que não perdeu a eleição de 2022 no voto.

Pouco antes, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez uma defesa enfática da anistia e do perdão ao ex-presidente. “Qual razão para afastar Jair Messias Bolsonaro das urnas? É medo de perder eleição, porque sabem que vão perder?” O governador também defendeu a anistia dos condenados e afirmou para a plateia de verde e amarelo que lotava só três quarteirões da orla de Copacabana: “Quero ver quem vai ter coragem de se opor ao projeto da anistia?”

Além de Bolsonaro, Tarcísio e Malafaia, deputados, senadores, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), e lideranças evangélicas discursaram no ato. A pauta principal de todos foi a defesa da anistia para os condenados pelo ataque às sedes dos três Poderes, em 8 de janeiro de 2023. A manifestação reuniu um público menor do que o apregoado por Bolsonaro. Ele dizia esperar um milhão de pessoas.

Levantamento do Monitor do Debate Público do Meio Digital, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) da Universidade de São Paulo (USP), apontou que a manifestação reuniu 18,3 mil pessoas. Até Bolsonaro comentou a baixa adesão, comparando o evento com a manifestação de 7 de setembro de 2022, em Copacabana, quando o monitor do Cebrap registrou a presença de 64,6 mil manifestantes.

DISCURSOS. Apesar do esvaziamento, aliados endossaram Bolsonaro como o “único candidato da direita” para 2026 e entoaram um coro pela aprovação da anistia. Castro foi um dos que incensaram o ex-presidente. “O Rio te deu (para Bolsonaro) quase 60% dos votos válidos na última eleição. E por isso eu gostaria que você falasse assim comigo, para que todo Brasil veja: ‘Eu não errei’.” E puxou o coro. “Esse povo do Rio não errou.”

Tarcísio questionou os motivos que levaram Bolsonaro a ficar inelegível até 2030. Segundo ele, os opositores do capitão reformado têm “medo de perder eleição”. Em seguida, veio o discurso mais duro da manifestação: o do pastor evangélico Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e coordenador do evento.

Malafaia declarou que Moraes é um “criminoso” e “ditador” e afirmou em tom de ameaça que algo poderia acontecer se houver a prisão de Bolsonaro. O pastor listou ainda supostas “provas” de delitos cometidos pelo magistrado. “Há quase seis anos ele passou a presidir um inquérito de fake news. Esse inquérito é imoral e ilegal porque não tem a participação do Ministério Público, artigo 129 da Constituição. Alexandre de Moraes estabelece o crime de opinião. Ele rasga o artigo 5, inciso 4, da Constituição, a liberdade de expressão, e estabelece a censura”, afirmou Malafaia.

PRESO OU MORTO. Fechando o evento, Bolsonaro pediu votos para conseguir ter a maioria do Congresso em 2026. E disse que será um “problema” para o STF, mesmo “preso ou morto”. “Eu estava nos Estados Unidos (no dia dos ataques em Brasília). Se eu estivesse aqui, estaria preso até hoje ou quem sabe morto por eles. Eu vou ser um problema para eles, preso ou morto. Mas eu deixo acesa a chama da esperança, da libertação do nosso povo.”

Após receber as defesas prévias dos acusados, Moraes liberou a denúncia de Gonet para ser analisada pela 1.ª Turma do STF. O julgamento está marcado para o dia 25 de março, quando Bolsonaro pode se tornar réu por liderar a tentativa de golpe para se manter no poder após a derrota nas eleições de 2022.

O ex-presidente dedicou parte do seu discurso para pedidos de anistia e disse que o tamanho da pena imposta aos réus que foram detidos na Praça dos Três Poderes foi calculada para justificar uma condenação de 28 anos de prisão contra ele. Por fim, Bolsonaro apregoou que já ter deputados para aprovar a anistia e mencionou uma conversa com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que, segundo o ex-presidente, firmou apoio das bancadas do partido à anistia - a reportagem não conseguiu ouvir Kassab, que é secretário de governo de Tarcísio. Já o PSD integra a base do governo Lula e comanda três ministérios.

PARLAMENTARES. O primeiro político a discursar no ato foi o relator do projeto de anistia, o deputado federal Rodrigo Valadares (União-SE). Ele disse que já há deputados suficientes para aprovar o projeto. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), disse aos apoiadores que pedirá urgência na tramitação da proposta. “Nesta semana, na reunião de colégio de líderes, vamos dar entrada com 92 deputados do PL e de outros partidos, para podermos pedir urgência do projeto da anistia para entrar na pauta.”

Já o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que “tem fé” que Bolsonaro vai ser candidato à Presidência em 2026. “Com esse governo, o combustível ficou caro. Então, volta, Bolsonaro. A carne ficou cara, então, volta, Bolsonaro. A energia ficou cara, então, volta, Bolsonaro.” O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) criticou Moraes, afirmando que pretende derrotar o que chamou de “alexandrismo”. (Gabriel de Sousa, Hugo Henud, Rayanderson Guerra, Heitor Mazzoco e Bianca Gomes)

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