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 NEWS - 16.03. / 2


O crescimento econômico não pode ser demonizado, diz Trabuco do Bradesco / Presidente do Conselho de Administração prevê disputa entre os bancos pelos clientes do novo consignado privado e diz que Bradesco estará nela ocupando o espaço- Folha SP 16/3


Adriana Fernandes


O presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, disse à Folha que o novo crédito consignado privado vai propiciar alívio para o trabalhador que estiver endividado e dar alento à atividade econômica.


Trabuco prevê disputa entre os bancos por novos clientes. "Haverá disputa, e nós, do Bradesco, estaremos ativos para ocupar os espaços possíveis", afirma.


O banqueiro, que esteve em Brasília para o lançamento do programa, diz que haverá uma melhora do perfil de crédito neste momento de política de juros mais apertada.


"Pode ajudar no consumo, mas não haverá uma explosão nas vendas do comércio e dos serviços", avalia ele ao comentar o risco de uma oferta maior de crédito atrapalhar o trabalho do Banco Central de esfriar o crescimento para controlar a inflação.


"Não dá para crescer por crescer sem respeitar os limites de sustentação da meta de inflação, do balanço de pagamentos e da dívida interna. Não dá também para ficar no discurso do ajuste fiscal pelo ajuste fiscal. O crescimento não pode ser demonizado", afirma.


Para ele, a política fiscal merece preocupação, mas não é um problema de "vida ou de morte".


O governo lançou consignado privado com expectativa de ser uma das principais medidas econômicas do ano. Qual o potencial?


É uma medida importante. Terá impacto no consumo, mas seu principal efeito não será esse. Por ser implantada de forma gradual, até para dar segurança ao processo, seus efeitos serão sentidos ao longo do tempo. O principal deles será melhorar o perfil da dívida de milhões de pessoas quando entrar em operação a funcionalidade de migração das dívidas antigas, que têm juros mais altos.


Esse movimento de mudança de uma linha mais cara para uma mais barata vai acontecer a partir de abril, quando a economia deverá estar sentindo os resultados de uma taxa Selic mais alta. Vejo com bons olhos essa melhora geral do rating de crédito do país, num momento de política monetária mais apertada. Também será um contraponto saudável para os balanços do sistema financeiro na linha da inadimplência.


Qual a principal vantagem do novo modelo?


A construção do consignado público [para servidores] e do INSS [aposentados e pensionistas] é de quase 20 anos. Estávamos devendo, governo e sistema financeiro, essa trilha. Haverá uma melhoria do crédito, saindo do crédito pessoal sem garantias. Agora, tem uma âncora, que é o emprego. Quando tem emprego e salário, melhora a precificação, conseguimos montar grupo de clientes, em cima de rendas, de regiões. O programa é ambicioso e é bom que seja assim.


O governo prevê uma disputa acirrada entre os bancos. É isso que vai acontecer?


O setor financeiro brasileiro é um dos mais competitivos do mundo, pois aqui convivem instituições sólidas e fortes disputando os mesmos mercados. Temos dois grandes bancos federais, um banco de fomento federal e mais um grupo de privados com poder concorrencial. Haverá disputa, e nós, do Bradesco, estaremos ativos para ocupar os espaços possíveis.


O crédito maior com o novo consignado não vai na contramão da ação do BC para esfriar a economia?Pode ajudar no consumo, mas não haverá uma explosão nas vendas do comércio e dos serviços. Minha visão é o seu benefício para o perfil da dívida das pessoas, pela troca de uma linha mais cara por outra mais barata.


De qualquer modo, a salvaguarda é que a taxa de juros está alta. É um juro bastante restritivo, como já deu para perceber pelos dados do PIB [Produto Interno Bruto] do quarto trimestre. Como é de interesse de todos, é um juro real que vai fazer a inflação ceder ao longo do ano. Portanto, essa linha do consignado, vai propiciar alívio para quem está endividado, além de dar um alento na atividade. O juro alto é necessário no contexto da inflação. Mas todo remédio tem dosagem e tempo de aplicação. É uma ciência que o Banco Central vai saber resolver.


Sem nova medida fiscal, como já adiantou o presidente Lula, qual o caminho?


O caminho é seguir os preceitos do tripé macroeconômico que mostrou que dá certo, dólar flutuante, meta de inflação e responsabilidade fiscal. A questão é que existe hoje um quarto componente que são as expectativas do mercado. Para você conseguir resolver essa questão das expectativas, será preciso perseverança, paciência e ficar um tempo à frente da curva de preços.


Em relação à condução da política fiscal, qual é sua a avaliação?


Ela merece preocupação, mas não é um problema de vida ou de morte. Temos de colocar a questão fiscal no seu lugar adequado, o ministro Fernando Haddad [da Fazenda], e temos de dar crédito a ele, demonstrou preocupação com todo o racional do arcabouço fiscal. O arcabouço fiscal está vigente. É um compromisso do governo, e eu acho que todos nós esperamos que ele seja atendido e cumprido nas bases que foram estabelecidas.


A desaceleração econômica com os juros altos é inevitável, mas dá para remediar seus efeitos?


Inevitável, mas não dramático, muito menos recessão. Se crescermos 2% neste ano, teremos feito um PIB acumulado de 12% nos últimos quatro anos. Isso é bem razoável. Mas ainda é pouco para as demandas sociais do Brasil.


Devemos sempre reconhecer que precisamos crescer mais para reduzir desigualdades. Mas é necessário trilhar dentro dos limites da sustentabilidade. Não dá para crescer por crescer sem respeitar os limites de sustentação da meta de inflação, do balanço de pagamentos e da dívida interna. Não dá também para ficar no discurso do ajuste fiscal pelo ajuste fiscal. O crescimento não pode ser demonizado.


Depois da alta do dólar por causa do risco fiscal, o efeito Donald Trump tem trazido volatilidade…


Essa questão do câmbio foi dominada pelo viés do mercado. Tenho dúvidas se a sensação de incerteza fiscal foi exclusivamente responsável pelo aumento da volatilidade cambial.


Eu vi estatísticas de que houve muita saída sazonal de dólares do Brasil no final do ano por variados fatores, entre eles a remessa de lucros e dividendos, sempre mais alta nesse período. Teve também saída de criptomoedas e investimentos internacionais. O fluxo cambial ainda é determinante para a taxa de câmbio. E temos reservas robustas. Em relação a Trump, é uma história que está sendo construída.


Como o Brasil pode se preparar melhor para a guerra comercial?


O Brasil está adotando a cautela como estratégia central neste momento de incerteza do comércio global. Está correto. Nem correr, nem jogar parado, mas buscar diálogo e negociação.


O presidente fez um afago público no evento do consignado ao ministro Haddad, que está sofrendo alguns atropelos na política. Como o sr. viu o aceno de Lula?


Foi muito positivo. O discurso do presidente foi sereno. Bastante adequado, inclusive com uma leitura correta dos desafios do mundo, do Brasil. Ele fez um depoimento público aumentando a harmonia entre os ministérios.


O ministro da Fazenda é uma pessoa de bastante serenidade, de capacidade de diálogo. Ele tem uma tarefa muito especial para desempenhar. O fortalecimento e a crença nessa capacidade que ele tem de criar as pautas necessárias, principalmente em 2025.


Qual a sua avaliação do governo Lula?


É uma avaliação positiva. Tem desafios? Tem desafios. Tem lacunas a serem desenvolvidas? Tem. Mas, por exemplo, uma disposição para o diálogo, eu acho que tem sido um ponto forte do governo. A reforma tributária vai ficar como uma propriedade extremamente marcante neste mandato. A discussão do arcabouço fiscal também é algo positivo. E a relação, talvez, menos acalorada com o Banco Central vai ser um ponto de destaque nesse período. Já está acontecendo.


O que esperar de Gabriel Galípolo no Banco Central?


Ele tem predicados e se comportado de forma exemplar. Não há reparos. Sobre a sua visão bancária, acho que ele cumpre a pauta de fazer do setor financeiro uma instituição sólida que proteja o Brasil dos momentos de volatilidade do mercado global.


Há uma preocupação na sociedade com a segurança pública e o avanço do crime organizado no Brasil. Qual o seu diagnóstico sobre o problema?


A segurança pública é um item que define a imagem do país. Não dá para continuar a ter recordes de indicadores de violência. Não podemos normalizar, se acostumar com o número de homicídios, de assaltos nas ruas, nas cidades, os roubos de automóveis, de carga.


 


Eu diria que merece uma atenção muito grande. E este não é um trabalho exclusivo [do governo federal]. Tem que ter o consórcio entre municípios, estados e a esfera federal. Essa amarração seria boa para o país, porque estamos vivendo a era, sim, do crime organizado. Ele tem evoluído na velocidade da digitalização da sociedade.


ESTADÃO: 'OS EUA NÃO TÊM GÁS PARA BRIGAR COM TODO MUNDO’- 16/3


Por Carlos Eduardo Valim


São Paulo, 15/03/2025 - O economista José Roberto Mendonça de Barros tem uma visão pessimista das consequências dos primeiros movimentos de Donald Trump em seu novo mandato nos EUA. Com as medidas e as retaliações a elas por outros países, a própria economia americana deve colher inflação alta, juros maiores e baixa do mercado de ações, diz.


Ao instituir sobretaxa de 25% sobre a importação de aço e alumínio, desde quarta-feira passada, o presidente dos EUA escalou uma guerra comercial. O economista tenta antecipar os efeitos desse conflito.


A seguir, trechos da entrevista ao Estadão.


O governo americano começou a aplicar as tarifas que prometeu. Parece que Trump gosta delas para tudo, para reindustrializar o país, conter a entrada de drogas, pressionar parceiros comerciais e resolver o déficit americano. Assim, estamos vendo o início de uma guerra comercial que vai trazer efeitos negativos?


Olivier Blanchard, que foi economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), disse exatamente isso. Para Trump, as tarifas servem para tudo. Os mercados estavam otimistas. Mas eu queria distinguir os mercados financeiros e mais o Vale do Silício, porque eles participaram da evolução da campanha, em uma clara aliança com Trump. O pessoal do lado real da economia estava otimista, mas não fazia parte da primeira linha de apoio. Nunca tiveram o mesmo grau de otimismo. Esses dois grupos tinham a economia como expectativa, mas era uma questão mais de ideologia, e não puramente técnica. Eles esperavam a desregulamentação generalizada e que isso de alguma forma geraria uma era de ouro, porque muitos investimentos iriam para os EUA. A ideia era que o governo desregulamentaria os negócios, e aconteceriam muitas fusões e aquisições, o que movimentaria as Bolsas. E isso geraria um impacto econômico.


E como os economistas estavam vendo as propostas do governo?


Os economistas, em geral, nunca viram com otimismo o que o governo Trump prometia. Essa mistura de tarifas e tumulto no mercado de trabalho parece uma receita para levar o banco central (americano, o Fed) a aumentar os juros no fim do ano, e que geraria estagflação. Esse seria o meu cenário e da imensa maioria dos economistas. E algo adicional a isso, e bizarro, é o que ele queria fazer com as criptomoedas. Ele mesmo emitiu criptomoeda. As cotações foram até o céu e agora voltaram tudo para trás. O que existia para o governo, e sem uma base de teoria econômica, era o otimismo, mas os economistas nunca tiveram dúvidas de que as tarifas são prejudiciais.


Os mais otimistas do mercado diziam que Trump usaria as tarifas apenas como instrumento de negociação. Não é isso o que vai acontecer?


Criou-se uma lenda, que não é a realidade, de que Trump usa as tarifas como tática de negociação. Mas, mesmo que as tarifas no final do processo acabassem baixas, todo esse processo só paralisa as decisões de investimentos e vai prejudicar muito a economia por um longo tempo. A segunda coisa, e que não está na cabeça de Trump, é que existem as retaliações. Além disso, ele fala que vai aumentar as taxas e depois volta atrás. Mas, à medida que as coisas avançam, ocorrem aumentos de tarifas de verdade, como as do aço e alumínio. O secretário do Comércio (Howard Lutnick) falou que o cobre também vai entrar na lista. E são tarifas altas. As taxas de 20% para a China são coisa alta.


As chances de Trump ter sucesso no final, então, não são tão boas?


Tem outro equívoco nessa visão de Trump. Ele acha que pode levar fábricas de volta para os EUA. Mas não são fábricas, mas cadeias produtivas.


Que, inclusive, os próprios americanos levaram as últimas décadas para desenvolver, não?


Sim. Eles acharam que era melhor para o consumidor americano ter essas cadeias de produção globais. Os preços ficaram menores. Desmontá-las traz impactos. Trump ainda não começou a sentir os efeitos de quando tudo começar a subir de preço. O número de inflação que saiu ontem (quinta-feira) ainda é confortável. Mas está tudo no começo ainda. O programa econômico de Trump é muito ruim. Ele não vai levar a indústria de volta para os EUA e os custos econômicos serão enormes.


Quais custos?


O primeiro custo é a queda do mercado financeiro e que fica sem perspectivas de volta. Existe ainda um monte de improvisos no que ele está fazendo. Não é um caminho que se possa sustentar. Os EUA são poderosíssimos, mas não têm gás para brigar com todo mundo. E está quieta ali no canto alguém que só vai acompanhando tudo, a China. Quem tem mais chances de se sair melhor de tudo isso são eles. Os chineses estão controlados. Eles não estão aflitos, e estão vendo tudo. A confusão toda está acontecendo com aliados americanos de décadas, e dando um prêmio para Putin, que é um negócio incompreensível. Já aconteceu uma mudança estrutural, que foi forçar a Europa a se armar. Nos últimos dias, a Europa já mudou. Para a Alemanha, são mudanças de uma direção que já durava 80 anos. Os alemães são consistentes. Eles vão se rearmar. Duvido que isso seja favorável para os EUA em médio e longo prazos. Em muito pouco tempo, Trump promoveu uma queima de soft power, como nunca vi na vida um negócio desses.

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