Em meio à ‘fritura’, Haddad é cortejado pelo mercado Faria Lima sinaliza portas abertas para receber o ministro caso ele decida sair do governo
Por Neuza Sanches SEGUIR 10 mar 2025, 08h00
Fernando Haddad: Faria Lima já dá como certa a saída do ministro da Fazenda ainda este ano (Marcelo Camargo/Agência Brasil) Fernando Haddad, ministro da Fazenda do governo Lula, já tem opções de trabalho caso decida deixar o cargo. O mercado financeiro, especialmente a Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, estaria disposto a recebê-lo com propostas concretas – uma de um grande banco de varejo e outra para ser sócio de uma fintech. Essa abertura reflete a relação pragmática que Haddad construiu com o setor ao longo desses dois anos à frente da pasta, mas também evidencia os crescentes rumores de que sua “fritura” por colegas do próprio governo é vista como sem volta. O desgaste do ministro se intensificou nos últimos meses. Ele foi vencido, por exemplo, na discussão que misturou o pacote de corte de gastos com o anúncio de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil – promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A falta de clareza sobre a compensação fiscal acabou gerando críticas entre especialistas, e isso foi parar no colo do ministro. Além disso, mudanças mal comunicadas no sistema Pix levaram o governo a recuar após queda significativa no volume de transações, o que expôs falhas na articulação entre o Ministério da Fazenda e outros setores do governo. Outro ponto de pressão é a inflação dos alimentos, que continua afetando duramente os consumidores. Produtos básicos como carne, café e açúcar registraram aumentos expressivos, e levaram o governo a anunciar na semana passada uma série de medidas. A principal delas é a redução a zero do Imposto de Importação sobre vários alimentos. Coube ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento e Indústria, Geraldo Alckmin, fazer o anúncio. Haddad não estava presente. A insatisfação popular com esses aumentos se soma às críticas de aliados políticos e à promoção recente de Gleisi Hoffmann ao cargo de ministra das Relações Institucionais, movimento interpretado como tentativa de fortalecer a articulação política diante das dificuldades econômicas. Não é segredo para ninguém que Gleisi é inimiga das propostas de controle fiscal defendidas pela equipe econômica. Com o menor patamar de popularidade de seus três governos e de olho na campanha à reeleição de 2026, Lula indicou que suas preocupações passam longe das prioridades da Fazenda. Na Faria Lima, a saída de Haddad é vista como inevitável. Apesar das críticas públicas ao governo, o mercado tem demonstrado apreço por sua abordagem fiscalista e pela interlocução direta com investidores. Essa relação pragmática pode facilitar sua transição para o setor privado caso decida abandonar o cargo. Recentemente, Haddad reconheceu publicamente a preocupação do mercado com os gastos públicos e afirmou que medidas mais duras seriam necessárias para conter o aumento da dívida pública. Uma eventual saída de Fernando Haddad seria um duro golpe para o governo Lula, que insiste na narrativa de que “gasto é investimento”. Sem um ajuste fiscal consistente, a economia brasileira corre o risco de permanecer presa ao ciclo de crescimento instável conhecido como “voo de galinha”. A falta de um plano claro para equilibrar as contas públicas coloca em xeque as perspectivas de desenvolvimento sustentável e reforça as incertezas sobre o futuro econômico do País.
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