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Bankinter Portugal Matinal 1303

 Análise Bankinter Portugal


SESSÃO: Estupenda a inflação americana de ONTEM: +2,8% vs. +2,9% esperado vs. +3,0% anterior. Mas não tão estupenda e sensata a sua interpretação por um mercado ansioso para receber alguma notícia positiva que o anime a subir. Porque não tão estupenda a interpretação? Simplesmente, porque animou à subida das bolsas… com uma inflação de fevereiro! Mês sem nenhum impacto de impostos alfandegários, porque ainda não estavam aplicados nenhuns em nenhum lado. A primeira ronda sobre o Canadá, México e China entrou em vigor a 4 de março, portanto não se pode tirar conclusões precipitadas de indicadores que não recebem ainda impacto de nada.


Esse é o problema de fundo: que ninguém sabe quase nada sobre esta provável mudança de contexto, mas quase ninguém se atreve a admiti-lo. Nós sim: a verdade é que não se pode tirar conclusões fiáveis com base em informações incompletas e mutáveis, portanto podemos afirmar duas coisas sensatas:


(i)  Quanto mais não seja por uma questão de bom senso, quando os riscos e a incerteza estão a aumentar, é melhor reduzir o risco assumido (primeiro por classe de ativo e depois, se necessário, por exposição ao risco). 


(ii)  Nunca na histórica económica aconteceu que as restrições ao comércio (impostos alfandegários, contingentes, etc.) tenham resultado em mais crescimento e inflação baixa. Pelo contrário: menos PIB, que termina em menos emprego e mais inflação como efeito da 2.ª ronda, porque as empresas transferem os custos dos impostos alfandegários (parcialmente) para os preços finais. E a primeira reação de uma economia ameaçada por este tipo de medidas, antes de serem aplicadas, é perda de confiança, que debilita o Consumo Privado e atrasa as decisões de Investimento (Empresarial e Financeiro; isto é, mercados).


A frase mais perigosa do mercado é: “Mas desta vez é diferente”. Isso é errado. Já conhecemos o padrão. E não é melhor, é pior. Podem reduzir-se os danos se as medidas restritivas ao comércio se diluem, como aconteceu durante a primeira legislatura de Trump desde 2017, quando o mercado começou a avisar, mas persistem em maior ou menor medida. E tinha-se a sensação de que Trump respeitava a mensagem do mercado (leia-se: bolsas) na sua primeira legislatura, mas não parece que assim seja na segunda.


E na frente geoestratégica: a mudança americana obviamente encorajou Putin, que ontem foi com um uniforme militar a Kursk para falar com as suas tropas onde elas parecem estar a recuperar, embora a um custo imenso, uma parte do território ganho pela Ucrânia. Trump afirma agora que Rússia deve unir-se ao cessar-fogo que ele forçou a Ucrânia a aceitar e que até viajará ele mesmo, ou alguém próximo a ele, para a Rússia para tentar convencer que tal aconteça. Mas vai ter uma grande surpresa, porque a Rússia irá brincar com a ambiguidade até ao infinito enquanto ganha tempo para endurecer a suas ações militares perante uma Ucrânia esgotada em meios e apoios. A fragata espanhola da classe F-100 Álvaro de Bazán supervisionou e guardou um submarino russo acompanhado por um rebocador na sua rota pelo Mediterrâneo, presumivelmente para o Egito. E a Polónia decide formar 100.000 voluntários/ano até construir um exército permanente de 0,5M. É evidente que qualquer país fronteiriço com a Rússia deverá tomar medidas unilaterais para se proteger perante o distanciamento americano. Tudo isto não parece indicar uma redução do prémio de risco por geoestratégia, antes pelo contrário, se olharmos para ela com objetividade e frieza.


CONCLUSÃO TELEGRÁFICA: Cuidado com as ilusões. Provavelmente, realização de lucros (-0,5%?) após as subidas de ontem, que parecem inconsistentes. Estamos em processo de arrefecimento, à espera de algum indicador adiantado que nos permita basear em algo mais do que intuição. Por isso, passa a ser muito importante a Confiança da Universidade de Michigan de amanhã (14 h), que se espera que retroceda até 63,1 desde 64,7 e se sair pior assustará. HOJE temos alguma macro, mas não importante neste contexto: às 10 h, Produção Industrial UE (-0,9% vs. -2%) e 12:30 h EUA Desemprego Semanal (225k vs. 221k). E Bundestag: debate sobre a proposta de maior investimento em defesa e infraestruturas e relaxamento da limitação constitucional para o aumento da dívida pública. Debate, não decisão. Com uma perda incipiente de confiança sobre o Consumo e Investimento que ainda não se pode medir, mas que estará a acontecer, a ameaça de menos PIB e mais inflação pelas restrições ao comércio, a progressiva elevação das yields das obrigações europeias (ITA aproxima-se já de 4%) e um prémio de risco por geoestratégia que permanece intacta, as bolsas não podem reagir a subir, mas de forma errática e/ou mais provavelmente a corrigir os avanços de 2025 no caso europeu.


S&P500 +0,5% Nq-100 +1,1% SOX +2,5% ES-50 +0,9% IBEX -0,6% VIX 24,2 Bund 2,88% T-Note 4,31% Spread 2A-10A USA=+32pb B10A: ESP 3,50% PT 3,37% FRA 3,56% ITA 3,94% Euribor 12m 2,431% (fut.2,413%) USD 1,088 JPY 160,8 Ouro 2.936$ Brent 71,0$ WTI 67,7$ Bitcoin +2,3% (83.455$) Ether +0,7% (1.878$).


FIM

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