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Amilton Aquino

 "E, como previsto, o pacote de “cortes” de gastos anunciado por Haddad ficou muito aquém do necessário para, ao menos, desacelerar o crescimento explosivo da nossa dívida. É realmente admirável a capacidade da ala mais “progressista” do governo de ignorar a matemática. Pela primeira vez na nossa história, tivemos nesta semana um leilão de títulos pré-fixados sem um único comprador. O que isso significa na prática? Que há tantas opções de investimento mais atrativas hoje para os poucos brasileiros que têm o “mau hábito” de poupar, que nem mesmo títulos pré-fixados a 14% estão conseguindo atraí-los.


Falo por experiência própria. Minha Black Friday foi dedicada à compra de ações baratas. Sim, existe o risco de desvalorizarem ainda mais. Mas minha aposta está apenas em empresas sólidas, que já sobreviveram a crises de todos os tipos e continuam pagando bons dividendos. Se os preços caírem mais, comprarei mais. Recentemente, vendi parte de títulos que rendiam pouco mais que a poupança para investir em outros com juros mais altos e, claro, em ações e fundos imobiliários descontados.


"Mas você não acredita que o Brasil vai virar uma Venezuela?" 


Não. O Brasil já enfrentou situações mais complicadas e sobreviveu. Em algum momento, o país terá que tomar medidas verdadeiramente enérgicas para evitar o colapso. Caso essas medidas não venham do governo, haverá pressão para que o Congresso as implemente. Aliás, os deputados Kim Kataguiri, Pedro Paulo e Júlio Lopes já apresentaram uma PEC alternativa de controle de gastos, que propõe uma economia real capaz de conter o avanço da dívida, que cresceu impressionantes 7% do PIB desde que Lula assumiu, revertendo a trajetória de queda iniciada no governo Temer.


O fato de Haddad admitir, logo após encontro com a Febraban, a possibilidade de medidas adicionais para atender às expectativas do mercado já é um indicativo de que o Congresso possa, como ocorreu com o Arcabouço Fiscal, melhorar ou, pelo menos, suavizar os impactos do atual pacote.


No cenário mais otimista, o governo adotaria, de fato, as medidas necessárias, atraindo investidores estrangeiros de volta com força. Contudo, o mais provável é que continuemos caminhando de forma hesitante, fazendo apenas o suficiente para evitar o colapso total e adiando ajustes estruturais para depois das eleições. Se esse for o caso, resta-me seguir rebalanceando bem minha carteira, aguardando o momento em que as expectativas se revertam após a inevitável adoção de reformas. Quando esse ajuste acontecer, minha rentabilidade será multiplicada, pois é isso que ocorre com quem opta por poupar no presente para colher no futuro — um hábito pouco valorizado em nosso país, cuja cultura está mais voltada a tirar algum tipo de vantagem do “papai Estado”, traço este reforçado pela esquerda paternalista.


Por fim, gostaria de deixar bem claro a conta que o governo atual está jogando para o futuro. Quando eu, um cidadão comum, compro um título IPCA + 7 com resgate para 2045, na prática estou entrando no bolo daqueles odiados “rentistas” que hoje recebem mais de R$ 700 bi de juros por ano. 


“Ain, mas esses juros estão muito altos. O novo diretor do BC indicado por Lula vai baixar os juros e esse custo vai diminuir”.


Ele pode até tentar (para os novos títulos), como fez o indicado por Dilma, que baixou os juros na marra e, logo depois, teve que aumentar ainda mais rápido para atrair compradores para poder rolar a dívida. 


Pois é. O populismo sempre engana por algum tempo, mas a conta sempre chega. Parte dos R$ 700 bi de juros que o governo tem que pagar hoje vieram de títulos vendidos a IPCA + 8 no auge da crise Dilma. Os juros das próximas décadas já estão garantidos, assim como as aposentadorias dos poucos brasileiros que se dispõe a poupar. Mas no futuro, claro, esquerdistas vão continuar cumpando o "rentismo" pelos déficits do governo."


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