BCB x pacote fiscal
Leitura de Sábado: BC joga futuro de juros no pacote do governo e deixa próximo passo em aberto
Por Eduardo Laguna, Renata Pedini, Daniel Tozzi Mendes e Denise Abarca
São Paulo, 6/11/2024 - Diante do ambiente de incertezas tanto domésticas quanto externas, o Comitê de Política Monetária (Copom) entregou nesta quarta-feira algo que poderia ser entendido, basicamente, como uma cópia do comunicado anterior, não fosse um recado claro sobre o pacote em gestação no governo para fortalecer o arcabouço fiscal, na avaliação de economistas ouvidos pelo Broadcast.
No anúncio de elevação da Selic para 11,25%, o BC cumpriu as expectativas de que não só elevaria o ritmo de alta dos juros de referência para 0,50 ponto porcentual como manteria a posição de aguardar a evolução do cenário para decidir sobre seus próximos passos. Ou seja, segue sem dar guidance.
A novidade veio no recado firme dado ao governo sobre a política fiscal. "O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária".
Em outras palavras, o BC avisa que o trabalho de levar a inflação para a meta de 3% ficará mais fácil, a um menor custo, se o governo apresentar um pacote com medidas estruturais, que demonstrem a sustentabilidade do arcabouço, e não com ações pontuais de ajuste nas contas públicas.
O primeiro efeito do comunicado foi em geral neutro, sem mudar a situação anterior de divisão entre economistas que aguardam o fim do ciclo já em janeiro e os que apostam num período de aperto mais longo ou em ritmo mais agressivo, com a Selic indo para acima de 13%. Só que mesmo os mais otimistas reconhecem o viés de alta, dado que, mesmo com os juros subindo, as projeções do BC continuam piorando. Frente à reunião de setembro, a expectativa de inflação do Copom subiu mais um pouco: de 3,5% para 3,6% no horizonte relevante da política monetária, atualmente o segundo trimestre de 2026.
Sem trazer surpresas nesta quarta-feira, não será o BC que vai fazer preços no pregão de amanhã, mas sim a reação dos investidores à eleição, rodeada de riscos, de Donald Trump nos Estados Unidos e as notícias sobre o pacote de contenção de despesas.
Segundo o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otavio Leal, cenários em que mais instituições do mercado financeiro passem a projetar uma Selic acima de 13% podem ganhar força. Tudo vai depender de quão crível será o pacote de corte de gastos.
Para o gestor de portfólio da Azimut Brasil Wealth Management, Marcelo Bacelar, o tom mais "incisivo" do Copom na abordagem sobre a política fiscal aumentou a responsabilidade do governo nas medidas que promete lançar.
Na interpretação da diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour, o BC, a exemplo do mercado, espera que o pacote de contenção de gastos seja mais amplo do que desvincular e colocar o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) dentro do piso da educação.
Se houver frustração com o pacote e ambiente internacional adverso, levando o câmbio a uma depreciação adicional, além de maior desancoragem das expectativas, o BC, prevê Solange, vai ter de acelerar o ritmo de altas da Selic.
Economista do BTG Pactual, Alvaro Frasson não descartou uma aceleração no ritmo de alta dos juros, para 0,75 ponto porcentual, na próxima reunião do Copom, marcada para 10 e 11 de dezembro. "Se chegar às vésperas do Copom de dezembro, e o mercado entender que o BC vai piorar a projeção do segundo trimestre de 2026 de novo, o remédio pode ser mais amargo", diz.
Contatos: eduardo.laguna@estadao.com; renata.pedini@estadao.com; denise.abarca@estadao.com; daniel.mendes@estadao.com
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