segunda-feira, 19 de junho de 2017

Despedida (10) - Mais sobre o professor Cardim

Nesta próxima quinta, eu me despeço de um dos lugares que mais frequentei nesses dois anos, a Penn Station (também frequentávamos muito nos anos 80, era por ali que chegávamos a Nova York vindos de New Brunswick). Eu nunca cheguei a ver, é claro, a Penn Station original. Pelas fotos e pelo pessoal da época, era muito bonita. Agora é um horror, além de completamente disfuncional, pequena demais para o movimento de passageiros que suporta. Meu trem para Rhinecliff (a estação mais próxima do Bard) sai dali. Ninguém passeia pela Penn Station, a não ser que seja completamente desavisado ou masoquista.
É o contrário da Grand Central, na Rua 42. Os passageiros são muitos, mas dá a impressão de que, mesmo assim, a maioria das pessoas que está lá é turista. O saguão principal é mesmo lindíssimo. Já era antes da restauração que fizeram, agora está ainda melhor. No térreo há grandes áreas vazias, em que, às vezes, se faz alguma exposição, naquele prédio de tetos altíssimos. Desce-se um nível para o saguão principal, onde se compra passagens e se tenta andar no meio daquela multidão de gente olhando para cima, para a abóboda da estação, ou tirando fotos de família inteira com essas varetas metálicas em que põem o smartphone na ponta. No andar inferior ficam os restaurantes, inclusive o semi-histórico Oyster Bar, que, como comentei em outro lugar, vale a visita, e enquanto se visita se pode pedir, nos balcões, uma porção de ostras que é muito boa (há a opção com uma lagosta, mas não foi tão boa, a lagosta parecia ter sido cozida de manhã e ficado ali, à espera de consumidores todo o dia).
A Grand Central é bem mais perto de casa, 42 com Lexington, mas ali não corre a Amtrak. Para mim, só serviria o Metro North, que é, na verdade, uma extensão do metrô que vai até Pooghkeepsie, a estação anterior a Rhinecliff, mas bem mais longe do Bard. Além disso, em ambos, a viagem dura cerca de duas horas (descontados os atrasos que a Amtrak costuma respeitar religiosamente), apesar de o percurso para Pooghkeepsie ser significativamente menor, por causa do número maior de paradas. Para chegar à Penn, eu tenho de pegar duas linhas de metrô, mas ainda assim acaba valendo a pena.
O metrô é um capítulo em si mesmo. A cobertura de Manhattan é muito boa, especialmente do lado oeste (o lado leste tem muito menos linhas). Em princípio, pode-se chegar a praticamente qualquer ponto da ilha de metrô, ou em combinação com ônibus (antigamente, era preciso pegar um “transfer” para fazer isso, agora fica registrado na fita magnética do Metrocard). Há muitas obras em andamento, porque o metrô é, quase todo, muito velho. As estações mais antigas tendem a ser muito, mas muito mesmo, sujas. Um dos passatempos enquanto se espera pelo trem é ficar olhando o passeio das ratazanas entre os trilhos. Por causa da velhice e das obras, o metrô ficou menos confiável. As linhas estão lá, mas todos os dias há alguma interrupção e, às vezes, é preciso esperar muito tempo pelo trem, mesmo quando, aparentemente, não há nenhum problema. Se se tem hora marcada, é sempre bom dar algum desconto quando se planeja a saída de casa.
Mas, com todos os problemas, o metrô é infinitamente melhor que a alternativa, o ônibus. Como muitas estações do metrô não têm elevador ou escadas rolantes, as pessoas de mais idade (e há muitas pessoas de mais idade em Manhattan) usam o ônibus. Os motoristas são sempre atenciosos e pacientes, muito mais do que os passageiros, que têm de esperar muito tempo a cada parada para que o ônibus comece a se mover. De novo, no lado leste não há muitas escolhas, são poucas as linhas do metrô. Mas eu costumo preferir pegar o metrô, mesmo assim, e depois andar para o lugar a que me destino. Assim, toda quarta-feira, eu costumava pegar a linha Q do metrô (que é nova, inaugurada no primeiro dia deste ano), para a rua 42, e lá pegar a C ou a E para a Penn (a estação é praticamente dentro da estação ferroviária). Na rua 42, para passar de uma linha a outra, anda-se bastante, mas isso é quase um programa turístico (em dois anos, a atração diminui rapidamente).
Eu tenho dúvidas se em algum lugar do mundo há uma estação de metrô maior que a da rua 42, que vai da Port Authority, na Oitava Avenida, à Grand Central, na Lexington. É uma estação tão grande que tem sua própria linha de metrô, para ligar os dois extremos, a linha S. Muitas lojas, bares, músicos, artistas, pregadores e malucos de toda natureza parecem morar na estação. A qualquer hora em que se passa, há muitos deles em todo lugar. E muita, muita gente, andando apressada em todas as direções (os passageiros estão sempre apressados). Vale uma visita, lembra um pouco aqueles filmes pós-apocalípticos em que os humanos sobreviventes passam a habitar os subterrâneos, embora, em algum momento, seja possível sentir alguma claustrofobia.

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