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Mercado de Ações

 Ações domésticas ganham força com fim próximo de aperto nos juros / Em meio à guerra tarifária, exposição a papéis ligados a commodities perde relevância e impulsiona rotação de gestoras- Valor 6/5


Por Maria Fernanda Salinet e Bruna Furlani — De São Paulo


Com a queda das commodities e o enfraquecimento do dólar diante do avanço da disputa tarifária global, a expectativa de que o Banco Central (BC) está perto do fim do ciclo de aperto monetário tem impulsionado uma rotação nos portfólios dos gestores brasileiros de ações. Nesse cenário, os papéis voltados ao mercado doméstico ganharam força em abril, enquanto os ligados a matérias-primas sofreram perdas expressivas.


Dados calculados pelo Valor Data apontam que o Ibovespa, que subiu 3,7% no mês passado, teria avançado 9,1% se não fosse o peso expressivo de Vale e Petrobras. Outro termômetro que evidencia o impacto da queda de ações de empresas ligadas a commodities no desempenho da principal referência acionária local é o Ibovespa Equal Weight, índice que atribui o mesmo peso a todas as companhias, que subiu 8,2% em abril.


Um dos motivos para a discrepância nos desempenhos em abril está no fato de que o anúncio das tarifas de Donald Trump elevou rapidamente a volatilidade e trouxe dúvidas sobre os efeitos negativos do “tarifaço” sobre a atividade americana e global, o que afetou diretamente os preços de commodities e levou a realocações nos fluxos de investimento entre ações de diferentes setores e geografias.


Na primeira quinzena do mês passado, por exemplo, os investidores estrangeiros zeraram os aportes no segmento secundário da B3, após uma sequência positiva registrada desde o início do ano. No entanto, a partir do dia 16, a entrada de recursos pela categoria foi retomada e, até 30 de abril, o investidor externo acumulou saldo positivo de R$ 10,5 bilhões no ano.


O principal desdobramento da guerra comercial pode ser traduzido como a descentralização da atividade econômica, que estava focada nos EUA e que agora se espalha globalmente, afirma o superintendente de renda variável da Bradesco Asset, Rodrigo Santoro.


“O cenário acaba revertendo o movimento intenso de concentração no mercado americano”, afirma. “Para o investidor estrangeiro, o câmbio é um fator importante de retorno. Com a perspectiva de um dólar mais fraco e o mercado americano performando pior, você começa a olhar para fora dos EUA.”


Em um cenário com preços de commodities caindo, dólar perdendo força e juro subindo menos, a avaliação das gestoras é que o momento é propício para aumentar o peso do portfólio para um perfil mais cíclico. “Efetivamente, mudamos a carteira para ter uma exposição muito mais doméstica e que se beneficia de um juro menor”, detalha o sócio-fundador e gestor da Norte Asset, Gustavo Salomão.


O gestor da Norte explica que a casa começou a realizar a alteração no portfólio em fevereiro, com objetivo de diminuir posições em ações ligadas a commodities, como de celulose, para elevar a exposição a companhias do setor elétrico e de saneamento, além de companhias com perfil mais de consumo e ligadas ao setor imobiliário.


Com a imposição de uma política tarifária mais dura por Trump, Salomão conta que o movimento de rotação ganhou força no começo de abril. Companhias como Vivara, Sabesp, Lojas Renner, Localiza, Direcional e Cyrela são alguns dos nomes que a casa aumentou posição, além de uma montagem de exposição aos papéis da C&A.


Santoro, da Bradesco Asset, diz que a casa já mantinha uma exposição bastante leve em papéis ligados a matérias-primas, e que aumentou a posição em ações locais com “bons proxies” - ou seja, com alta previsibilidade de resultados. Entre as companhias estão Localiza, C&A, Grupo Mateus, Cury, Sabesp e Energisa. No setor financeiro, Itaú Unibanco e BTG Pactual também se destacam.


O profissional da Bradesco Asset explica que o desempenho pior das commodities no mês passado provocou um movimento importante de fechamento nas curvas de juros, tanto no Brasil como no mercado global. A mudança, diz, deu mais força para a perspectiva do fim do aperto monetário e tornou os papéis ligados à economia brasileira mais atrativos.


Para a Bradesco Asset, o Banco Central deve aumentar a Selic em 0,5 ponto percentual na próxima reunião, com uma pausa em junho, deixando os juros elevados por mais tempo. “Subir 50 bps [pontos-base] seria condizente com o discurso do [Gabriel] Galípolo. Ele deve fazer 50 e parar para observar”, completa Santoro.


Já Salomão avalia que a combinação de um câmbio mais apreciado com uma desaceleração da atividade global, provocada pela política tarifária do presidente Donald Trump, darão respaldo para o Banco Central realizar apenas mais uma alta da Selic, de 0,50 ponto percentual, no encontro desta quarta-feira.


Salomão não nega que uma eventual recessão global seria negativa para as ações domésticas, mas avalia que não haverá uma desaceleração muito forte. Para ele, a perda de tração da atividade econômica americana poderá levar o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a incrementar o ritmo de corte de juros, além do que há chance de que os países consigam chegar a um acordo com os EUA.


Outra casa que realizou mudanças marginais na carteira foi a AZ Quest. O gestor de renda variável da casa, Welliam Wang, diz que adicionou e aumentou posições em ações domésticas, ao mesmo tempo em que preferiu manter a alocação em empresas de concessões públicas e reduzir a exposição a papéis mais ligados a commodities, dado o risco de desaceleração da atividade global.


Na lista de alterações estão o incremento da alocação em papéis como Localiza e Vivara, além de uma montagem de posição em C&A. No caso da locadora, Wang explica que o ambiente de juro mais baixo é positivo para a venda de seminovos.


O gestor da AZ Quest destaca ainda que a Localiza tem conseguido manter a taxa de seminovos em níveis saudáveis, ao privilegiar o repasse de preços, mesmo que isso implique em um recuo do volume.


Embora as ações domésticas tenham liderado as maiores altas do Ibovespa em abril, caso de GPA e de LWSA, que terminaram com ganhos de 37% e de 35%, nessa ordem, a equipe de estratégia de ações para a América Latina do J.P. Morgan, liderada por Emy Shayo Cherman, prevê um potencial de valorização ainda maior para nomes domésticos cíclicos, no geral.


Em relatório, os profissionais do J.P. Morgan afirmam que análises feitas pelo banco mostraram que a maior parte dos papéis mais cíclicos costumam começar a performar acima dos demais cerca de três meses depois que o Banco Central inicia o corte de juros. O estudo, que levou em conta seis ciclos de afrouxamento monetário, trouxe ainda que o desempenho superior de ações domésticas tende a ficar ainda mais claro passados seis meses do começo do período de flexibilização da Selic.


Apesar da valorização em abril, os ativos domésticos ainda estão baratos, avalia Daniel Delabio, sócio e gestor da Exploritas. Ele conta que reduziu a exposição em ações do setor de consumo após a recente alta, mas que segue posicionado em papéis como CVC, Vamos, Blau e Vivara. O gestor explica que a diminuição em ações apenas coincidiu com um leve aumento em NTN-Bs, títulos públicos atrelados à inflação, devido aos altos retornos.

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