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Como jogo war

 "Como jogo War": 


Livro conta conflitos, reviravoltas e inovações do BTG Pactual


Obra ganha fôlego com narrativa sobre diferenças de personalidade entre fundadores André Esteves e Luiz Cezar Fernandes


15.mai.2025 às 12h00

A história do BTG Pactual é, no fim, a de uma briga de foice pelo poder.


Ao menos é isso o que conta a jornalista Ariane Abdallah em seu novo livro, "De Volta ao Jogo - A História de Sucesso, Dramas e Viradas do BTG Pactual", que será lançado nesta quinta-feira (15) após cinco anos de pesquisas.


"O Pactual era como o jogo 'War': crescia no banco quem demonstrava apetite e habilidade para conquistar territórios, ampliando sua atuação e sua influência sobre os demais", descreve ela a certa altura. Relatos de alianças, rupturas, traições e controvérsias permeiam a obra.


O jogo pelo poder não é um acaso. Para Abdallah, há uma raiz institucional: a ideia de recompensa ao desempenho implementada pelo Pactual, fundado em 1983. Ali foram criadas avaliações rigorosas para oferecer aos funcionários a chance de virar sócios da empreitada, ali buscaram-se as melhores mentes, sem se importar de qual área viessem.


O ambiente de disputa reflete a visão de mundo de suas figuras centrais: Luiz Cezar Fernandes, fundador do Pactual ao lado de Paulo Guedes e André Jakurski, e André Esteves, fundador do BTG. Ambos foram entrevistados para a obra.


A dinâmica da relação entre duas personalidades tão diferentes é a trama mais forte do livro, exemplificada em grandes e pequenos momentos, como a festa de 40 anos do banco, em dezembro de 2023.


O evento, realizado na Hípica de Santo Amaro, em São Paulo, reuniu todos os sócios da história do banco. Cezar, referência de vários dos presentes, subiu ao palco para discursar. Em sua fala, enalteceu a geração no comando à época e rememorou o passado.


"Muito bom, mas melhor a gente ir lá. Senão, daqui a pouco, ele vai achar que é ele que está tocando tudo isso aqui", teria dito Esteves após alguns minutos de discurso, segundo o livro.


Na descrição de Abdallah, Cezar era entusiasmado, caótico e muitas vezes confiante demais: um rolo compressor. Sem formação convencional, insistia naquilo que acreditava até vencer os adversários pelo cansaço e se irritava com opiniões contrárias.


Mas mesmo seus críticos reconheciam que ele era um visionário. Nos anos 1980, já dizia que todos teriam uma tela de computador na mesa de trabalho. Quando quase só se usava telefone ou fax, insistia que os funcionários do banco deveriam checar a caixa de emails sempre.


"[Cezar tinha] uma capacidade fabulosa de entender o mundo sem falar inglês. Um homem que passava a sensação de um quase caipira (…) Ao mesmo tempo, tinha uma sensibilidade para o mundo muito à frente de seu tempo", diz Paulo Bilyk, um ex-sócio do Pactual, a Abdallah no livro.


O banqueiro queria selecionar o que via como os mais fortes.


"E aí, meu irmão, você é um mosca-morta ou um fodão?", questionava Cezar nas entrevistas de emprego, segundo Abdallah. "Você teve uma vida boa até agora, vai querer se matar de trabalhar?" Também não faltavam comentários homofóbicos e machistas, de acordo com o livro: "Você é gay? Você tem cara de gay".


A intenção era testar a reação dos candidatos. De acordo com a autora, Cezar costumava dizer: "Você joga na parede. Se colar, fica. Se cair, vai embora". Quem ficava era treinado para aprender a ser agressivo e a ganhar dinheiro, mas sem se arriscar demais.


Esteves foi seu pupilo mais importante —ao mesmo tempo, não poderia ser alguém mais diferente. Era o "nerd", o menino cerebral e interessado que aprendia mais rápido do que os outros, descreve a autora. Teve uma ascensão fulminante no banco.


Ele teve participação essencial na aquisição do Pactual pelo UBS, em 2006. No meio da crise do subprime, em 2008, o banco suíço o chamou a Londres para liderar a divisão global de renda fixa.


A fusão, no entanto, gerou atritos: conflitos por causa da diferença na maneira de trabalhar, do choque entre a formalidade e informalidade entre suíços e brasileiros. Esteves resolveu sair e fundou o BTG com outros sócios, em 2008.


Um plano era usar a crise do subprime como uma oportunidade para comprar o Pactual. Deu certo no ano seguinte: assim nasceu o BTG Pactual, que se tornaria o maior banco de investimentos da América Latina.


"No dia do anúncio, Esteves telefonou para Luiz Cezar Fernandes, de quem havia se distanciado na última década, e fez questão de reconhecer os méritos do fundador, sobretudo o sistema de meritocracia implantado por ele", relata a autora. Cezar, que havia deixado o banco em 1999, ficou emocionado com o reconhecimento.


Na narrativa da autora, o que ambos têm em comum é estarem sempre em busca do próximo passo, de onde está o que ninguém vê agora.


Mas também os une a experiência de que chegar ao topo pode ser algo traiçoeiro.


Cezar foi obrigado a vender sua parte no Pactual em 1999 para pagar dívidas e anos mais tarde teve de recorrer a Esteves para não perder sua amada Fazenda Marambaia, uma propriedade de 2,5 milhões de metros quadrados em Petrópolis (RJ) que iria a leilão. Era o símbolo do poder de sua vida. O ex-estagiário aceitou ajudá-lo.


Esteves, por sua vez, se viu envolvido no maior escândalo político dos últimos 20 anos no Brasil: a Operação Lava Jato.


Delatado pelo então senador Delcídio do Amaral, ele foi preso em 2015, acusado de supostamente atrapalhar as investigações. Com a cabeça raspada e sem contato com o dia a dia do banco, Esteves temia pela própria integridade física na penitenciária. Arrumou um jeito de não se desesperar e manter a sanidade mental, diz Abdallah.


Sempre adaptando-se, teria pedido para a advogada do banco lhe comprar uma chuteira para que pudesse jogar bola com os outros presos (ele depois seria chamado para apitar as partidas). Daria conselhos financeiros aos guardas. Usaria o tempo para ler o Código Penal brasileiro e livros sobre Direito. Rascunharia pedidos de habeas corpus para outros presos.


Esteves foi solto após 28 dias. A denúncia contra ele foi arquivada e considerada "confusa" por ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Tornou-se chairman do BTG Pactual.


"A cultura do banco evoluiu ao longo dos anos", afirma a autora. "A meritocracia, a competição e o trabalho intenso permaneceram, mas foram adaptados a um olhar de médio e longo prazos condizente com uma companhia de seu porte [com mais de 8.000 funcionários], em que os objetivos individuais precisam estar alinhados aos do coletivo para a perenidade do grupo."


Segundo a obra, essa mudança "refletia uma visão mais ampla sobre o papel da instituição na sociedade brasileira". "Depois do que passara em Bangu, [Esteves] afirmava ter bons motivos para se mudar para os Estados Unidos ou a Europa com a família em busca de paz. Mas, em vez disso, enfatizava que ficara no Brasil, investindo por meio de seu banco."


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