Análise Bankinter Portugal
SESSÃO: Chegou o “Liberation Day”. Ontem, a recuperação tardia das bolsas europeias, que, mesmo assim, não conseguiram fechar em terreno positivo, e a subida de Wall St. com a esperança de que as medidas finais não fossem tão punitivas foram ingénuas. Trump, às 21 h, com as bolsas fechadas, anunciou impostos alfandegários de 10% praticamente gerais para todos os bens importados para os EUA a partir de 5 de abril, além de ouros superiores a alguns países, como 34% adicional à China (sobre 60% já existente), 24% ao Japão e 20% à Europa a partir de 9 de abril. Canadá e México não receberão impostos alfandegários adicionais aos 25% já anunciados. Ficam isentos, de momento, bens como cobre, farmácia, semis, madeira, ouro, energia e alguns minerais não disponíveis nos EUA. Estes ficam pendentes dos possíveis impostos alfandegários específicos mais adiante. Os impostos alfandegários de 25% já anunciados sobre automóveis e componentes entrarão hoje em vigor. Por último, os envios para os EUA de valor <800 $ deixarão de estar isentos de impostos alfandegários a partir de 2 de maio.
Em suma, confirma um dos piores cenários e receberá resposta de muitos países que já estão a estudar medidas recíprocas e que fazem dizer ao Secretário de Estado, Scott Bessent, que, então, aí começaria a “guerra comercial”… isto é, a intensidade pode escalar.
As bolsas asiáticas caem no geral e os futuros, tanto europeus como americanos, em quedas fortes (-2%/-3%). As consequências serão significativas em termos de menor crescimento global e maior inflação, especialmente nos EUA. Ontem, a National Retail Federation, que prevê um irrealista aumento das vendas a retalho em 2025 de +2,7%/+3,7% (vs. +3,6% em 2024 e média dos 10 anos pré-pandemia), declarava que mais de 50% das empresas inquiridas antecipa que transferirá pelo menos 2/3 do impacto em custos devido aos impostos alfandegários para os preços. Preços que já são muito elevados após a crise da pandemia e que continuam a aumentar a ritmos de +2,8% (IPC de fevereiro). Os indicadores adiantados de confiança e as previsões das empresas de consumo, tanto discricional como básico, que mostraram uma deterioração significativa recente refletir-se-ão numa moderação do consumo.
Hoje a sessão foca-se em digerir e esperar as respostas dos diferentes países. É publicada a Balança Comercial de fevereiro (13:30 h), que ganha interesse neste contexto. O Défice Comercial manter-se-á próximo de máximos históricos (-131.400M $) e levará a uma contribuição negativa do Setor Exterior no PIB do 1T 2025. A incerteza sobre o impacto definitivo dos impostos alfandegários provocou um forte aumento das Importações (+23% em janeiro), que não se viu igualado pelas Exportações (+4%). Esta evolução poderá entender-se como um ajuste pontual que daria lugar a uma normalização posterior. Contudo, múltiplos indicadores adiantados e intermedios (Confiança do Consumidor, Indicador Adiantado, Empire Manufacturing, Philly, ISM Industrial…) mostram uma mudança para pior nas suas últimas leituras e levam a antecipar um debilitamento do Consumo e do Investimento nos próximos meses. Por isso, será também importante o ISM de Serviços de março (15 h). Estima-se que se moderará (até 52,9 desde 53,5) enquanto a componente de preços acelera (63,0 desde 62,6). Com isso, as nossas estimativas apontam que o PIB americano do 1T 2025 irá contrair-se -1,8% enquanto a inflação se manterá perto de +3,0%.
Salvo retificação, a guerra comercial está servida e o mercado ficará abalado durante um tempo. Hoje as bolsas cairão enquanto as obrigações ganham atrativos como ativo-refúgio, e o dólar deprecia-se.
S&P500 +0,7% Nq-100 +0,75% SOX +0,9% ES-50 -0,3% IBEX +0,4% VIX 21,5 Bund 2,72% T-Note 4,04% Spread 2A-10A USA=+26pb B10A: ESP 3,34% PT 3,22% FRA 3,42% ITA 3,81% Euribor 12m 2,33% (fut. 2,15%) USD 1,095 JPY 161,05 Ouro 3.129$ Brent 73,1$ WTI 69,9$ Bitcoin -2,6% (83.424$) Ether -2,98% (1.825$).
FIM
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