BANCO MASTER – O MALABARISMO FINANCEIRO, OU COMO FAZER UM AGIOTA CORAR
Se Ivan Sant’Anna encontrasse Fernando Blanco no balcão de um boteco de mercado financeiro, saía esse texto. Sarcástico. Incisivo. E, claro, com aquele tom de “eu avisei” que só quem sobreviveu a crises sabe usar.
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O malabarismo verbal continua. E eu me desmancho de rir.
Não é piada. É o Brasil. O país onde banqueiro malandro é promovido a herói e banco podre vira ativo estratégico.
Vamos aos fatos: o Banco Master, um nome que até outro dia era sinônimo de CDB com juro de agiota, virou sócio de um banco estatal. E não qualquer banco: o BRB, o querido do governo do Distrito Federal, aquele que tem funding tão barato que faz chover depósito com um telefonema — ou talvez por telepatia. Pois bem, o BRB resolveu comprar um banco que ninguém queria nem de graça.
E por quê?
Porque o Master estava encalhado. Podre. Saturado de ativos que fariam o Credit Suisse parecer conservador. Alguém precisava salvá-lo. E ninguém no mercado privado — repito, ninguém — quis encostar no defunto.
Você, que tem um pouco de memória, deve lembrar: o Master cresceu mais do que criança de novela da Globo. Em três anos, multiplicou por dez o patrimônio. Como? Com uma receita digna de Las Vegas: captar bilhões via CDBs a 140% do CDI (sim, você leu certo) e despejar o dinheiro em precatórios, empresas em recuperação judicial e outras aventuras que fariam um hedge fund offshore tremer na base.
A carteira do Master era tão tóxica que virou piada nos bastidores. 34% da carteira composta de precatórios. Isso mesmo: promessas de pagamento do Estado, aquelas que demoram anos pra sair e que viram fumaça com um decreto. E o resto? Empresas quebradas, financiadas via fundos ligados a Nelson Tanure, o Midas invertido do capitalismo brasileiro. Acredite: o Master emprestou para nomes como Restoque, BeFly, Ambipar, Veste, Metalfrio e Biomm — e virou até sócio de alguns. Sim, sócio. Porque emprestar não era arriscado o suficiente.
Mas calma, tem mais.
O banco tentou captar no exterior: US$ 500 milhões em bonds. Ninguém quis. Foi atrás de fundos de pensão dos municípios e estados — os RPPS, essa beleza de governança duvidosa — e arrancou R$ 800 milhões dos cofres que pagam aposentadoria de servidor público. Quando isso começou a secar, os próprios sócios colocaram R$ 1,6 bilhão no caixa. Desespero tem nome e sobrenome.
E agora… o BRB aparece como salvador.
A transação? R$ 3,5 bilhões por uma participação que exclui os ativos podres. Precatórios? Fora. Fundos problemáticos? Fora. Empresas quebradas? Também não entram no pacote. O BRB está comprando o que sobrou, o que ainda respira — e dando ao dono do Master, Daniel Vorcaro, a cadeira de chairman do conselho. Isso mesmo: o banco estatal comprou e entregou a chave do carro para o antigo motorista do veículo que bateu.
A justificativa oficial? Ah, essa é de chorar de rir.
Segundo o CEO do BRB, o negócio vai “melhorar o retorno sobre o patrimônio” e “resolver o problema de funding do Master”. Ah, vá! Como diria o Robin do seriado dos anos 60: “Macacos me mordam, Batman!”
Você já viu banco comprar outro porque o outro tem muito título público? Porque o outro está entupido de ativos exóticos que nenhum gestor de risco em sã consciência aceitaria colocar no portfólio?
Não, meu amigo. Banco compra banco pra acessar clientes, sinergia, distribuição, crédito limpo. Aqui, o BRB está comprando a parte que sobrou de um Frankenstein financeiro. E deixando o contribuinte com a conta, o risco e o circo armado.
Ah, mas o BC está atento. Mandou os “cabeças brancas” — os veteranos de guerras bancárias, que viram o fim de Bamerindus, Nacional, Cruzeiro do Sul — para analisar o que pode dar errado. Spoiler: muita coisa. Estão aplicando teste de estresse nos precatórios (que não fazem mais parte da compra, veja o nível da confiança), nos fundos de empresas zumbi e nas mágicas contábeis que tornaram o Master rentável. Rentável como? Pagando 140% do CDI com papel de liquidez zero?
E o mercado? O mercado gargalha.
Porque se o BTG Pactual não quis. Se o Itaú e o Bradesco nem olharam. Se o Safra passou longe. E se ninguém na Faria Lima topou esse casamento… o que o BRB viu ali? Retorno para o acionista? Não. Viu um resgate político-financeiro patrocinado pelo contribuinte.
A real motivação — jamais dita em público — é simples: salvar o banqueiro. E, talvez, salvar também quem estava exposto demais ao Master para deixá-lo afundar.
Por fim, eu deixo a pergunta que não quer calar: se o Master, com todos os seus problemas, foi avaliado em R$ 3,5 bilhões, quanto valem os ativos de verdade dos bancos sérios? Porque, se o mercado embarcar nesse valuation, é hora de rever tudo. Ou rir. Ou chorar.
*O Master é exótico, mas o Brasil é surreal.*
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“A diferença entre Wall Street e Brasília é que, lá, os banqueiros têm medo da lei. Aqui, a lei tem medo dos banqueiros.” (Anonimo)
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