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Hiato do produto

 Exclusivo/FGV: Hiato do produto ficou positivo em 4% no 3tri24, maior em quase 30 anos


Por Daniela Amorim


Rio, 08/01/2025 - O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro já cresce acima da sua capacidade produtiva há sete trimestres consecutivos. No terceiro trimestre de 2024, o hiato do produto - diferença entre o PIB corrente e o PIB potencial - ficou positivo em 4%, resultado mais elevado em quase três décadas, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), obtidos com exclusividade pelo Broadcast. "Esse é o maior hiato positivo dos últimos 30 anos", frisou Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Ibre/FGV.


A última vez em que o hiato esteve mais positivo foi no primeiro trimestre de 1995, em 5,5%, diz o estudo do Ibre/FGV, conduzido por Considera e pela pesquisadora Elisa Andrade.


A abertura adicional do hiato foi apontada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central como um dos motivos para a intensificação no ritmo de aperto da política monetária. O crescimento da economia acima da capacidade instalada sugere pressões inflacionárias, com a demanda maior do que a oferta. "Você tem um excesso de demanda realmente. O Banco Central não está errado na interpretação dele de que há um excesso de demanda", confirmou Considera.


Depois de passar mais de oito anos operando com ociosidade, a economia brasileira tem rodado acima da sua capacidade máxima produtiva desde o primeiro trimestre de 2023: o hiato ficou positivo em 0,7% nos primeiros três meses de 2023; 2% no segundo trimestre de 2023; 1,5% no terceiro trimestre de 2023; 1,3% no quarto trimestre de 2023; 2,3% no primeiro trimestre de 2024; 3,5% no segundo trimestre de 2024; subindo a 4% no terceiro trimestre de 2024. A cada trimestre, o PIB brasileiro tem renovado patamares recordes, sustentado por um consumo também em níveis históricos.


"Isso mostra uma economia muito aquecida. Isso é bom? É bom, porque tem mais emprego. Mas tem mais inflação. Então se o governo não segura o gasto dele, a inflação vai acontecer mesmo. A única solução que a gente tem para não ficar enfrentando esse dilema é fazer um ajuste fiscal crível, que o mercado acredite que vai dar certo", sugeriu o coordenador do Ibre/FGV.


Na ata do Copom publicada pelo BC no mês passado - após ter elevado a taxa básica de juros, a Selic, em 1,0 ponto porcentual, para 12,25% ao ano -, os integrantes mencionaram que o desempenho do PIB do terceiro trimestre mostrou um hiato do produto mais positivo do que o estimado.


"Analisando o período corrente de atividade econômica, persiste um cenário de atividade resiliente com dinamismo maior do que esperado, como evidenciado na divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, levando a nova reavaliação de um hiato mais positivo", diz a ata do Copom.


O cenário fez o Copom já contratar mais duas altas de 1 ponto porcentual para as primeiras reuniões deste ano. Segundo Claudio Considera, do Ibre/FGV, o atual quadro fiscal tem obrigado o Banco Central a agir de forma mais contundente contra as pressões inflacionárias, elevando significativamente a taxa básica de juros, de forma que contenha a atividade econômica. "A questão é que o Brasil está precisando crescer", ponderou Considera.


A solução para um crescimento econômico sem uma abertura maior do hiato, disse o pesquisador do Ibre/FGV, passaria por mais investimentos em bens de capital, que elevassem a capacidade produtiva, e em ferramentas que permitissem um aumento da produtividade da mão de obra, já sobreutilizada. Como o atual ciclo de elevação de juros inibe essas duas possibilidades, o ajuste fiscal seria imperativo, defende ele.


"Uma coisa boa é que aumentou o investimento. E o consumo não é ruim, mas você tem que garantir que o ajuste fiscal vai existir. Você tem que tirar o governo da demanda, e deixar o privado ocupar", explicou Considera.


Os últimos dados das Contas Nacionais Trimestrais, apurados e divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o PIB cresceu 0,9% no terceiro trimestre de 2024 ante o imediatamente anterior, já descontados os efeitos sazonais, completando assim 13 trimestres de avanços consecutivos. Sob a ótica da demanda, o consumo das Famílias expandiu 1,5% no terceiro trimestre de 2024, também a 13ª taxa positiva consecutiva. Já a Formação Bruta de Capital Fixo (medida dos investimentos no PIB) aumentou 2,1%, quarto trimestre seguido de elevação.


Contato: daniela.amorim@estadao.com


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