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Amilton Aquino

 E a semana que começou com o dólar batendo recordes, impulsionado pela entrevista irresponsável de Lula ao Fantástico, terminou com uma live, à la Bolsonaro, em que o presidente jurava autonomia ao novo presidente do Banco Central!


Como sempre, em sua mania superlativa, Lula apresentou Galipolo como “o mais independente presidente do BC da história do nosso país”. Ué? E onde foi parar aquele discurso barato de que é um absurdo ter um Banco Central independente?


Mais uma vez, contrariado, Lula segue o script da turma do "deixa disso" para tentar acalmar o mercado — esse ente supostamente “conspirador” que a esquerda adora usar como bode expiatório. No entanto, mais importante para tranquilizar o mercado foi a entrevista de Galipolo e Campos Neto, na qual o novo presidente não apenas rebateu as críticas rasas ao "ente mercado", como ridicularizou a narrativa governista — especialmente promovida pela Globo — de que estaríamos sendo vítimas de um ataque especulativo decorrente de um meme. Vale lembrar que esse meme está sendo investigado pela Polícia Federal, em mais uma escalada autoritária protagonizada pelo governo.


Trapalhadas à parte, o que realmente fez o dólar recuar um pouco foi a maior intervenção do BC na história, maior até do que na pandemia, com a queima de U$ 23,5 bilhões em reservas.


Mudou algum fundamento? Há algum indício de mudança de rumo?


A ver. O que está em jogo é grande demais para que o governo brinque: nossa economia. O fato é que o mercado finalmente percebeu que o governo atual não tem qualquer compromisso fiscal e pretende seguir no “me engana que eu gosto” até a eleição de 2026. É a repetição do Dilma I, quando o governo tentou esconder debaixo do tapete a piora macroeconômica que começou a aparecer desde o início do mandato, com a redução gradativa do superávit primário até ele se tornar negativo em 2014. Para quem não se lembra, isso aconteceu ao mesmo tempo em que o governo comemorava 4% de desemprego e promovia toda aquela lenga-lenga ufanista dos megaprojetos do PAC. Qualquer semelhança não é mera coincidência.


Na época, não faltaram alertas de economistas sobre a tragédia que se avizinhava. Ironicamente, Miriam Leitão — agora a queridinha do governo na área econômica — era uma dessas vozes críticas, o que lhe rendeu o apelido de “urubóloga” pelo PT. Simplesmente surreal.


Se tiver um pouco de juízo, Lula pode reverter rapidamente o cenário de piora apenas incorporando ao furado arcabouço de Haddad os gastos com saúde e educação. Não seria a reversão total das expectativas, mas nos daria um fôlego para evitar o precipício, pelo menos até 2026, principalmente agora que o governo tem o exemplo oposto do bem-sucedido governo Milei como parâmetro.


Sim, estamos numa enrascada. Mas não venham os bolsonaristas fingir que não têm nada a ver com o que está acontecendo, jogando a culpa nos "isentões" que fizeram o L. Foram as trapalhadas do governo anterior que ressuscitaram Lula politicamente, levando milhões de brasileiros com histórico de combate ao petismo a serem forçados a fazer o L para evitar um mal maior. Sim, a imprensa teve seu papel na virada de opinião dessa turma, mas a inabilidade de Bolsonaro em lidar inclusive com a imprensa está na gênese do fracasso de sua reeleição.


Tenho orgulho em ter anulado meu voto no segundo turno.

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