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Risco de liquidez

 FSB: Seguradora, investidor em imóvel e alguns bancos são mais vulneráveis a risco de liquidez


Por Ricardo Leopoldo


São Paulo, 23/10/2024 - Seguradoras, investidores não bancários no setor imobiliário e um pequeno segmento de bancos são as empresas internacionais mais vulneráveis em um ambiente de riscos de liquidez e de solvência como os ocorridos durante o estresse financeiro de 2023, o pior em uma década, apontou o Financial Stability Board (FSB) em relatório. Isto ocorre sobretudo porque tais companhias têm uma grande proporção de ativos e passivos sensíveis à variação das taxas de juros determinadas por bancos centrais.


Embora apenas um segmento menor de bancos é mais exposto a oscilação das taxas de juros em seus balanços, as interconexões nas operações diárias destas instituições de menor tamanho com outros bancos de maior porte podem gerar riscos à estabilidade financeira.


Normalmente a solvência de seguradoras de vida melhora com o aumento dos juros, devido à duration dos seus passivos em relação aos ativos. “No entanto, os títulos de longo prazo em seus portfólios os expõem a perdas não realizadas no lado dos ativos, dependendo do arcabouço contábil adotado”, aponta o relatório. Tais perdas podem precisar ser realizadas com a venda de ativos se ocorrerem pressões de liquidez sobre tais companhias. “Além disso, algumas seguradoras de vida utilizam derivativos de taxas de juros para proteger a lacuna da duration, o que as expõem a chamadas de margem.” E estas vendas de ativos podem pressionar para baixo os preços dos títulos, com impactos negativos para outros investidores. Também é relevante que portfólios de investimento de seguradoras provêm funding significativo para a economia real e instituições financeiras, que podem ser afetadas de maneira adversa.


Investidores não bancários no setor imobiliários podem enfrentar perdas com taxas de juros maiores dado que a valuation de seus ativos tende a ocorrer com menor frequência, o que pode gerar uma discrepância entre o valor de face e o preço justo de mercado. Uma parte destes investidores atua com elevada alavancagem para elevar a lucratividade, o que os torna expostos à alta dos juros quando precisam de funding para rolar suas posições. Um outro fator importante é que vários destes investidores recebem recursos de entidades de outros países, o que pode propagar choques em tais instituições em nível internacional.


A análise do FSB do estresse financeiro ocorrido no ano passado apontou que a velocidade das corridas de depósitos foi muito elevada na média. “As três maiores corridas de depósitos em março de 2023 tiveram saídas de 20%-30% por dia. Isto foi 2-3 vezes mais rápido do que o pico de saídas de um dia em um membro do FSB em corridas de depósitos no passado.” Contudo, não foram todas as fugas de recursos que ocorreram em tal velocidade. O estudo destaca que, considerado em dólar constante, “as saídas do Credit Suisse e do First Republic foram superiores em tamanho do que as maiores corridas de depósitos em termos históricos.”


De acordo com o estudo, instituições financeiras que registraram fuga de capitais por seus clientes tendem a ter uma elevada dependência de depósitos sem seguros, o que ocorreu  especialmente nos EUA. “As corridas tenderam a envolver bancos que tiveram alta concentração de depósitos, seja por tipo de cliente (indivíduos com elevada renda líquida ou clientes de gestoras de riquezas) ou por indústria (start-ups, companhias de tecnologia ou clientes com interesses em ativos cripto).”


O FSB destaca que há algumas evidências de que mídias sociais influenciaram as recentes corridas bancárias. “Pesquisa acadêmica encontrou que o fracasso de um dos bancos nos EUA (SVB) foi precedido por um elevado pico de comunicação sobre o banco no Twitter/X. As corridas de depósitos no Credit Suisse foram também associadas com posts negativos em mídias sociais.”

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