Pular para o conteúdo principal

MACRO MERCADOS DIÁRIO 09/04/2021 - BALANÇO SEMANAL

Foi mais uma semana em que os investidores operaram com os “nervos à flor da pele”. Tivemos desencontros na “base de apoio” do governo no Congresso, com a equipe econômica, sobre a execução do Orçamento; polêmicas desnecessárias sobre a necessidade (ou não) de eventos religiosos presenciais, em pleno caos pandêmico; o ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, autorizou a abertura de uma CPI da Covid (ruim para o presidente); a aproximação do governo com os empresários, etc. Nos EUA, o governo Biden avançou na sua ambiciosa agenda de estímulos, com mais um mega pacote, de US$ 2,9 trilhões, e no Brasil, o sucesso da mega temporada de leilões de ativos. Foram concedidos 22 aeroportos, uma estrada de ferro e prevista uma rodovia e vários lotes dos portos de Pelotas e Itaqui.

Em decorrência disso, algum desafogo se fez presente, com o futuro de juro recuando, o dólar cedendo ainda mais e a bolsa de valores em alta.

Na quinta-feira (dia 8), alguns eventos foram decisivos para isso. Tivemos alguns avanços nas negociações em torno do Orçamento, o STF decidiu por suspender os cultos e missas, em função da necessidade de isolamento nesta fase mais aguda da pandemia (mortes passando de 4 mil), e o Butantan anunciou a liberação de insumos para a continuação da produção de vacinas. Neste dia o Brasil bateu mais um recorde diário de mortes pela Covid19 em 24 horas, 4.290, com os novos casos, elevados a 86.652. Isso prognostica um mês de abril ainda mais dramático do que o anterior.

Sucesso nos leilões. Tivemos também mais um leilão, da ferrovia Oeste Leste (Fiol) na região cacaueira da Bahia (sudeste baiano), depois dos bens sucedidos leilões de 22 aeroportos, acontecidos quarta-feira. Isso, aliás, deve ser dito. Os leilões do ministro Tarcísio Freitas são (ou foram) um sucesso, com um volume de investimentos previsto para os próximos anos acima de R$ 20 bilhões. Isso reforça, na central de boatos, que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, ex-capitão do Exército e engenheiro do IME, pode se apresentar como nome interessante a fazer chapa com o já candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Se acontecerá, ou não, é outra história. Como dizem, “política é como as nuvens no céu, a cada momento numa posição”.

Nos EUA,
Jerome Powell, presidente do Fed, em ata do Fomc, reforçou sua política acomodatícia. Por enquanto, ele não vê preocupação com a inflação, considerada ainda temporária, o que é demonstrável pelos dados. Os pedidos de seguro desemprego, por exemplo, subiram 16 mil na semana (a 744 mil), a segunda seguida, se deslocando dos mais otimistas dados do “payroll” (+916 mil). Isso acabou derrubando, nesta quinta-feira, as taxas dos vários treasuries, negociados no mercado.

Em paralelo, o mega pacote de US$ 2,9 trilhões continuava repercutindo, embora alguma reação dos republicanos o colocava em suspense. A carga adicional de impostos, sobre as empresas, é o “nó da questão”. Algo deve ser alterado, não mais prevalecendo os 28% definidos.

No Brasil, a discussão também recai sobre o tema fiscal, mas por outras razões. O Orçamento segue em negociação no Congresso. O Tesouro defende os ajustes necessários, já que, como apresentado, dificulta na execução. Há sim riscos, na visão do TCU, na incorrência de “crime de responsabilidade fiscal”. A movimentação dos presidentes das casas (Rodrigo Pacheco no Senado e Arthur Lira na Câmara) indicam serem contrários aos vetos do presidente Bolsonaro em relação às emendas dos deputados.

Como todos sabemos, na proposta orçamentária, apresentada para este ano, foi definido um corte de R$ 26,4 bilhões nas despesas obrigatórias, concentradas na Previdência, abono salarial, seguros desempregos, e forte expansão, de R$ 29 bilhões, nas emendas impositivas.

O problema é que com estas a conta não fecha, o que coloca em dúvida o cumprimento do teto dos gastos. Há, claramente, nesta proposta, um viés “populista fiscal” no uso de mais recursos, visando as eleições de 2022. Se o debate perdurar neste impasse, o risco será a demissão de toda a equipe econômica, incluindo Paulo Guedes, além do governo Bolsonaro incorrer em ilegalidade e risco de paralisia da máquina pública (“shutdown”). Segundo sondagens, as negociações caminham para preservar parte das emendas adicionadas no Orçamento, entre R$ 16 e R$ 18 bilhões. Outra parte seria vetada pelo relator. O problema é que os presidentes das casas não aceitam isso.

Temos o prazo até o dia 22 para este imbróglio se resolver. Apenas um detalhe. Ao Centrão, e seus representates, os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, o que interessa é a obtenção de “nacos de poder”. Se comenta sobre o Ministério da Economia ser partilhado, Planejamento ser criado, ou Indústria e Comércio, com novos cargos disponibilizados. Comenta-se também sobre os ministérios da Educação, do Turismo e do Meio Ambiente. A fome não para. É a velha governança de coalizão, ou de cooptação, à plena carga.

Nesta sexta-feira
é divulgado o IPCA de março e, com certeza, algum “stress” deve se formar na curva de juro futuro, já que o índice do IBGE deve vir mais elevado.

Estimativas variam entre 0,9% e 1,0%, o que o deve jogar a mais de 6,2% em 12 meses. A corroborar o fato dos núcleos, considerando o curto prazo, já estarem “rodando acima da meta”. Isso deve reforçar a necessidade da “normalização da taxa Selic”, havendo consenso uma elevação de 0,75 ponto percentual, na reunião do Copom de maio (dia 5). Dentre os fatores, continua a depreciação cambial, em repasse aos preços finais, as “commodities” elevadas, pela retomada da China, pressionando os alimentos, mesmo que arrefecendo, mas ainda elevados, e o combustível. Lembremos que o gás natural sofrerá um forte reajuste ao fim deste mês (39%).

Bom fim de semana a todos !

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Prensa 0201

 📰  *Manchetes de 5ªF, 02/01/2025*    ▪️ *VALOR*: Capitais mostram descompasso entre receitas e despesas, e cresce risco de desajuste fiscal       ▪️ *GLOBO*: Paes vai criar nova força municipal armada e mudar Guarda   ▪️ *FOLHA*: Homem atropela multidão e mata pelo menos 15 em Nova Orleans  ▪️ *ESTADÃO*: Moraes é relator da maioria dos inquéritos criminais do STF

BDM 181024

 China e Netflix contratam otimismo Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato* [18/10/24] … Após a frustração com os estímulos chineses para o setor imobiliário, Pequim anunciou hoje uma expansão de 4,6% do PIB/3Tri, abaixo do trimestre anterior (4,7%), mas acima da estimativa de 4,5%. Vendas no varejo e produção industrial, divulgados também nesta 6ªF, bombaram, sinalizando para uma melhora do humor. Já nos EUA, os dados confirmam o soft landing, ampliando as incertezas sobre os juros, em meio à eleição presidencial indefinida. Na temporada de balanços, Netflix brilhou no after hours, enquanto a ação de Western Alliance levou um tombo. Antes da abertura, saem Amex e Procter & Gamble. Aqui, o cenário externo mais adverso influencia os ativos domésticos, tendo como pano de fundo os riscos fiscais que não saem do radar. … “O fiscal continua sentado no banco do motorista”, ilustrou o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, à jornalista Denise Abarca (Broadcast) para explicar o pa...

NEWS 0201

 NEWS - 02.01 Agora é com ele: Galípolo assume o BC com desafios amplificados / Novo presidente do Banco Central (BC) agrada em ‘test drive’, mas terá que lidar com orçamento apertado e avanço da agenda de inovação financeira, em meio a disparada no câmbio e questionamentos sobre independência do governo- O Globo 2/1 Thaís Barcellos Ajudar a reverter o pessimismo com a economia, administrar a política de juros, domar o dólar e a inflação — que segundo as estimativas atuais do mercado deverá estourar a meta também este ano —, além de se provar independente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, são os maiores desafios de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central (BC). Mas não são os únicos. Com o orçamento do BC cada vez mais apertado, o novo presidente do órgão tem a missão de dar continuidade à grande marca de seu antecessor, Roberto Campos Neto: a agenda de inovação financeira. Também estão pendentes o regramento para as criptomoedas e um aperto na fiscalização de instituições...