domingo, 11 de junho de 2017

ISTO É DINHEIRO

Opiniões: melhor tê-las....

Acho engraçado agora as pessoas estarem tão preocupadas em pegar o Temer. Praticamente morto politicamente, pelos eventos recentes, será ruim se ele continuar até 2018. No entanto me intriga a sanha por acabar com o seu governo. 

Sou economista e sim, sei q a sua gestão foi a melhor em 14 anos, depois da enganação da gestão do lulo-petismo e da "gerentona" Dilma. Nestes, seus objetivos no poder foram praticar muito populismo e montar os maiores dutos de corrupção da história republicana. Com Temer, reformas estruturais, essenciais, foram colocadas na agenda, assim como mudanças de regimes tentados. O BNDES, o BB, a Petrobras passaram por revoluções gerenciais. A inflação esta em 3,6% e o juro Selic rumo a 8,5%. Claro q nada disso tem a menor importância. Importante é saber q Temer foi pego em gravações pouco republicanas com um patife q prosperou, no seu Império de carne, no ciclo petista. Por que ele não tentou pegar o Lula??? 


Favores, muitos favores devidos. Simples assim. Claro q a escandalosa decisão do TSE chocou, mas sofismas por sofismas, todos continuam mentindo descaradamente sobre tudo. Por que o Lula, considerado capo, chefe de toda esta quadrilha q se espalhou por este Brasil, continua solto? Até acho saudável uma eleição direta antecipada, mas antes prendam o Lula e joguem todos os quadrilheiros do PT e correlatos na cadeia....Uma Refundação da República se faz urgente....

Despedidas (9)


Nos tivemos de mudar muitas coisas de nossos hábitos para a transição de Lisboa para cá. Em Portugal, o lazer principal era comer e viajar (na verdade, era cuidar e brincar com, as crianças, e isso continua sendo a principal atividade, cá como lá). Aqui, como ja falei antes, as prioridades são outras. Há muito o que fazer que não havia em Portugal (para ser justo, não ha’ em lugar algum, pelo menos não no volume que se tem aqui), mas comer e viajar não são comparáveis. Também já comentei em algum lugar que Manhattan e’ peculiar por que nao tem um centro em nenhum sentido. A vida urbana e’ construída em  sub áreas do espaço, não propriamente bairros, mas que sao separados por alguma linha que, apesar de invisível, todo mundo conhece. Dentro de cada uma dessas areas ha’ praticamente tudo, com poucas exceções (por exemplo, os grandes museus, o distrito teatral, etc). Mas nao e’ apenas o pequeno comercio que se espalha por essas áreas, como em qualquer outra cidade, mas sao também muitas formas de lazer, restaurantes, etc. Ha’ restaurantes famosos e ha, mais que em qualquer outro lugar, as grandes cadeias, do MacDonald’s ao Red Lobster, muitas, fazendo todo tipo de comida. Mas voce tem a sua volta bons lugares, a precos normais (nao turísticos), que sao conhecidos pelos moradores da area, mas que praticamente nao sao frequentados por mais ninguém. Nos nos adaptamos sem grande dificuldade a essa geografia. Ha’ um numero enorme de pizzarias aqui em volta, como em toda a ilha. Como a comunidade de emigrantes italianos e descendentes e’ muito grande, as pizzas tendem a ser boas (em Portugal tinhamos muita saudade de pizzas melhorzinhas: ha’ poucos italianos, o pessoal que faz pizza parece ter aprendido pelo google). Mas alguns lugares sao muito bons. Aqui perto de casa, na Primeira com 74, ha’ uma chamada Numero 28, que faz uma pizza branca (sem molho de tomate) trufada que e’ um delirio, pelo gusto e pelo perfume do azeite trufado. As outras sao boas tambem, mas a de trufas e’ o nosso pedido de sempre. Mais perto ainda, na Segunda com 65, ha’ um restaurante italiano muito bom tambem, chamado Mediterraneo, que serve entre as entradas uma polenta com pesto que nos reconciliaria com a vida, tivessemos nos alguma queixa mais seria. O resto do cardapio e’ muito bom, mas depois da polenta com pesto, a gente aceitaria qualquer coisa. Nos ainda nao nos conformamos com a perda do lugar a que iamos muito, a duas quadras de casa, chamado Bistrot 61, na Primeira com (pois e’) 61, onde se comia mexilhoes com fritas deliciosos, alem de um hamburger Rossini (com um pedaco de escalope de foie gras por cima) magnifico. Em todos esses lugares se e’ (ou era, no caso do 61) atendido por jovens estudantes muito simpaticos. Nosso consume mais frequente acaba sendo comida vietnamita, no Spicy Saigon, na Primeira com 67, um bistrot operado por uma familia vietnamita, com comida deliciosa e precos muito baixos. A poucas quadras de casa ha’ ainda um classico local que frequent ha’, literalmente, decadas, o Burger Heaven, onde se come um cheeseburger ao modo tradicional, acompanhado de batatas fritas, cole slaw e pickles de pepino. Rarissimas vezes, nesses dois anos, comemos fora desse perimetro. Uma ou outra vez para visitar algum lugar muito tradicional, como Oyster Bar, na Grand Central, mais pelo folklore do que realmente pela comida. Ha’ muitos outros lugares em volta, servindo sushis, comida Indiana, e outras mais incomuns, como persa, afghan, cambodjana, e por ai vai. Mas eu confesso que meu gusto pelo exotico e’ limitado, ao contrario do resto da familia. Esses lugares “de bairro” tem sempre precos melhores (mas e’ sempre preciso tomar cuidado com o vinho, que muitas vezes dobra a conta, e se lembrar que ha’ tambem o imposto, cerca de 8% e a gorjeta, mais 17%, que nao estao incluidos no precos do cardapio). Mas ha’ outra alternativa, muitas vezes mais interessante, para quem passa temporadas mais longas, os lugares onde se pode comprar coisas para comer em casa (da’ para comer em hoteis tambem, com certeza), mas a esses eu volto depois.

Despedidas (8)

Nós nos limitamos principalmente a restaurantes da vizinhança, com uma ou outra incursão em algum lugar alem das fronteiras do upper east side. Mas uma alternativa que usamos muito nesses dois anos é a visita a “mercearias” (no final e’ o que são) onde se pode comprar coisas diferentes e levar para casa. Para nos, essa é uma tradição antiga, vinda do nosso primeiro periodo aqui, quando os meios eram limitados (a bolsa do CNPq e a remessa do salário da UFF que a inflação dos anos 80 levou uma vez a US$ 25!). Naquela época, as quintas feiras (quando assistíamos The Cosby Show e depois Cheers), nos comprávamos um espumante espanhol (champanhe francesa estava obviamente fora do mapa das possibilidades de consumo), uns vidrinhos de fake caviar (as ovas de lump fish que o pessoal tinge de negro para parecer os filhinhos do esturjão) e fazíamos festas. Aos sábados, alugávamos um video player (depois acabamos comprando um), e dois filmes, que vamos com os amigos (e vizinhos de campus housing) na noite de sábado para domingo. Agora, felizmente, apesar do champagne de verdade continuar esperando ocasiões especiais, o fake caviar pelo menos dá lugar a outras coisas, que, em NY, são fáceis de encontrar, em variedade inimimaginá
vel. Há muitos provedores dessas frescurinhas espalhados pela ilha. Aqui mesmo, ao lado de casa, temos um supermercado dedicado a frescurinhas, o Gourmet Garage, onde compramos queijos de todo lugar e outras coisas. A algumas quadras de casa há um mercado dedicado a comidas e ingredientes japoneses (a dificuldade e’ que 90% do que esta’ exposto esta’ identificado apenas em japonês). As coisas não são propriamente baratas, mas comprar para levar para casa (e’ mais confortável que picnics) e’ possível se fazer uma peregrinação por comidas incomuns sem grandes percalços. E’ claro que isso é possível fazer em muitos outros lugares, mas em Paris, acaba-se comprando coisas francesas, em Portugal as portuguesas, e assim por diante. Aqui se compra as francesas, as portuguesas, as italianas, tudo junto ou separado, como se queira. 

Atraves dos anos, para nos, o melhor lugar para fazer isso se chama Zabar’s, na Broadway com 82 ou 83. Pode soar esnobe, mas e’ preguiça mesmo, como desta vez estamos do lado leste, ao invés do oeste onde fica o Zabar’s, nao fomos nem uma vez ali, mas quem passar por aqui e estiver por ali (e’ na altura do Museu de Historia Natural), tem de dar uma passada la’. Pode-se comprar qualquer coisa para combinar depois. Pra quem for mais preguiçoso, eles abriram ha’ alguns anos uma lanchonete também onde se pode comer algumas coisas simples mas sensacionais.
Mas o Zabar’s ficou fora da nossa área geográfica, por isso e’ memória mais do que experiência, não temos do que nos despedir desta vez. Mas estamos nos despedindo de dois outros lugares que talvez nao sejam tao bons quando o Zabar’s (ou, quem sabe, sao), e que frequentamos mais. Um se chama Le District, fica no Brookfield Place, ao lado do World Trade Center. E’ uma mistura de restaurante informal, onde se come em balcões, nao em mesas, de tudo, de ostras, uma especialidade novayorkina historica, a steaks em que se escolhe a carne no acougue que eles mantém e eles churrasqueiam ali ao seu lado. Mas alem disso, tem varios balcoes com paes, queijos, patisserie e, o nosso preferido, o de patês e terrinas. Ha’ dois dias comemos uma terrina de galinha de angola que compramos la’ que e’ uma delicia. Outro lugar ótimo para se comprar coisas assim, e’ o Dean and Deluca. Ha’ varios espalhados pela ilha. Nos vamos com mais frequencia a uma na esquina da Maddison com 85, porque e’ bem na saída do Metropolitan, muito conveniente, mas a melhor e’ na Prince Street, no Soho. Com o tempo vai-se conhecendo coisinhas que são melhores aqui do que ali, como o roastbeef que se compra no Food Emporium da Terceira com 69, que e’ preparado ali mesmo, delicioso para quem gosta dessas coisas (como eu, Fernanda nao e’ muito chegada). Do Le District ainda vamos nos despedir mais uma ou duas vezes no mes que nos resta, com certeza. Do Dean and Deluca também, afinal e’ logo ali.

Despedidas (7)

Hoje, domingo, a temperatura chegou a 33 graus Celsius (eu ja estou desmobilizando meus cálculos em Farenheit, pounds, gallons, yards e inches, e voltando para o meu lar métrico decimal). A previsão para amanha é máxima de 34 e depois de amanha 35 (não olhei a previsão para o resto da semana, preferi não saber). 

Com isso estamos nos despedindo também da sequencia de estações bem definidas que parece caracterizar o mundo inteiro, menos o Rio e, em menor grau, Sao Paulo. Em Lisboa, as estações são também bem marcadas, como aqui, mas amplitude de variação entre inverno e verão é menor, mais confortável para administrar. 

O calor de Nova York no verão (e nos ainda não chegamos nele) é forte e piora com o aumento vertical da umidade do ar. Vir para cá’ em julho ou, pior, em agosto é um erro serio que so se justifica se a viagem é a trabalho, para alguma coisa urgente e inadiável. Como na Europa, a cidade fica também muito menos atrativa. As coisas de arte, musica, teatro, entram em recesso (os musicais de sucesso ficam, a espera da multidão de turistas que aproveitam as ferias para vir a cidade de qualquer modo). Os museus ficam abertos, os bares e restaurantes põem mesas nas calcadas, mas não é fácil ficar numa com o efeito-forno (o nome é esse mesmo, oven effect), que é o que acontece quando o ar esquenta e você é envolto pelo calor. 

A umidade faz suar em bicas, encharcando as roupas e dando aquela permanente sensação desagradável de que você precisa de um banho com urgência (não é a sensação de que um banho seria agradável, é a outra, aquela de que você precisa mesmo tomar um banho antes que o proíbam de andar pela cidade). Eu não gostava de temperaturas assim no Rio (todo ano eu pensava em me mudar para alguma outra cidade, provavelmente no nordeste onde a brisa do mar sobre o tempo todo) e odeio essas temperaturas aqui também. 

Por outro lado, se dá para chegar a 40 C em agosto (o normal é ficar nos trinta e muitos, mas chega a 40, 41 de vez em quando), chega-se a -20 C no inverno com facilidade, apesar do normal também ser ficar um pouco acima disso, mas dias e dias abaixo de zero. Eu não sei o que me incomoda mais. O frio intenso, menos pela temperatura em si, e mais pelo incomodo de ter que colocar todos os agasalhos necessários para ir a rua mesmo para uma bobagem rápida, ou sair da rua gelada e entrar em um ônibus ou vagas do metro superaquecido, cheio de passageiros suando por que não da’ para tirar o excesso de roupa e depois colocar de novo na hora de descer é o fim da picada. 

Ou o verão em que tudo é quente demais, e da’ vontade de se ficar no metro indo e voltando o tempo todo para não sair do ar condicionado. O inverno e’ provavelmente pior, por causa da neve. Quando chegamos aqui, em 1982, como a maioria dos compatriotas, nos nunca tínhamos visto neve. A imaginação sobre como era isso corria solta, alimentada pela melancolia de ver aqueles papais noeis de shopping no Rio, suando como um bode, apesar da roupa vermelha ser de cetim, e colocar Despedidas (9) em arvore de natal para simular neve quando fazia 40 graus la fora. 

Quando ouvimos no radio que nevaria numa noite pouco depois de chegarmos, ficamos acordados quase toda a noite e quando ela começou a cair, pelas 3 da manha, fomos os três, Fernanda, Thiago e eu para o meio da rua ver como era. Caiu so um pouquinho, mas para nos foi grandioso (dias depois caiu uma nevasca de verdade, com mais de trinta centímetros de neve acumulada na calcada). Foi um grande barato, mas na segunda vez que caiu neve, voce se lembra que vai ter que sair com uma pá para limpar sua calcada, porque se alguém cair vai processar você pelos danos (aqui no nosso prédio são os porteiros quem tem de fazer isso). 

No dia seguinte, a neve se transformou em um barro sujo, pela combinação de poluição e o sal que e’ jogado nas ruas para ajudar a derreter. Muitos dias depois essa neve se transformou em poças disfarçadas em que voce pisa e seu pe’ afunda e fica todo molhado ou se solidifica e se transforma em gelo, onde se escorrega e se vai ao chão, sem consequências piores so porque o volume de roupas que esta’ usando amortece a queda. Enfim, para mim (Fernanda e’ mais romântica) a despedida do inverno, que aconteceu no começo de abril, quando caiu a ultima neve deste ano foi a mais Benvinda. Se eu nunca mais vir neve na vida, ainda assim vou ter visto neve demais.

Mas a despedida das estações (meias estações?) e’ mais triste. Primavera e outono sao um barato, inacessível a quem vive no Rio. Na primavera o barato e’ ver a volta do verde, principalmente, todas aquelas arvores secas se cobrindo de folhas de um dia para o outro. No outono e’ ver a mudança das cores das folhas quando as arvores se preparam para hibernar. Em Lisboa as estações sao tambem bem marcadas, com amplitude de variação de temperatura menor, mais confortável. O calor e’ forte, mas o frio e’ muito mais ameno do que aqui. La’, como aqui, a delicia e’ mesmo ir numa meia estação.

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quinta-feira, 8 de junho de 2017

Despedidas (6)

Uma das coisas em que a duracao da estada aqui faz toda a diferença é a frequência a museus. Nos sempre gostamos muito de museus, mas quando vínhamos a NY de passagem, embora ir ao Metropolitan fosse quase um ritual, algo obrigatório, em paralelo a alguma exposição especial em algum outro, a relacao com os museus muda completamente quando se tem tempo em uma escala diferente. Uma das primeiras coisas que fizemos quando chegamos, em 2015, foi nos tornarmos membros do Metropolitan. O Met sempre foi meu museu preferido. Ele e’ definido como um museu enciclopédico, porque apesar de seu forte serem obras de arte, o museu tem tambem um acervo histórico e cultural muito grande. Desde os anos 80 que visitamos o Museu, na Quinta Avenida, na altura da rua 82, mas ir a museus e’ uma coisa relativamente cara (exceto em Washington, onde os melhores museus sao da cadeia museus nacionais, conhecidos coletivamente como Smithsonian). O Met e’ uma instituição publica não-estatal (como aquelas que o Bresser tentou criar no Brasil quando foi ministro da reforma do estado). Ele nao tem a ver com governo, mas nao e’ uma instituição privada e, em troca de certos benefícios, nao pode implementar varios tipos de políticas (por exemplo, nao pode discriminar nao apenas contra etnias ou genero, mas tambem nao pode discriminar criancas). Ele nao pode cobrar entradas e apenas sugere valores de contribuição, que o visitante pode ou nao aceitar. Antigamente, a natureza voluntaria da contribuicao era meio oculta e todo mundo pensava nele como pago. Recentemente o museu foi intimado a tornar clara essa natureza e hoje as pessoas pagam o que quiserem. E’ um museu enorme (vimos muitas de suas ampliacoes nesses trinta e tantos anos) e eu costumava ir sempre aos mesmos lugares, onde estavam as telas que eu gostava de rever. Pissaro, entre os franceses do final do sec XIX, Sargent na American Wing, e mais algumas coisas. Mais de hora e meia, duas horas no maximo, visitando um museu fica muito cansativo, nao so para a atencao, mas tambem para as pernas e por isso, em visita curta, eu ia visitar meus velhos conhecidos. Como associados, nos pagamos uma contribuicao annual, que nos da’ direito a um numero ilimitado de visitas, e certos outros privilegios, mas o mais importante e’ o estimulo que cria para conhecer o museu em mais detalhe. Nesses dois anos, visitar o Met foi uma atividade praticamente seminal. Olha-se as exposicoes novas, visita-se os velhos amigos, passa-se um tempo tomando um capuccino e comendo um cupcake de chocolate na cafeteria da American Wing. Despedir-me do Met e’ talvez, individualmente, a coisa mais dolorosa do retorno a Portugal. Ainda temos a chance de visita-lo algumas vezes antes de ir (na verdade, pretendo faze-lo amanha de manha), mas e’ mesmo a despedida de um velho amigo. Ha’ varios outros museus muito interessantes em NY, mas, para mim pelo menos, os outros eu vou ver, mas o Met e’ ir para casa.
Quem vem para ca’, a proposito, para estada mais longa, deve providenciar tao cedo quanto possivel apos a chegada, uma carteira de identidade de NYC. Nao apenas serve como identidade para varias coisas que demandam isso aqui, mas tambem, como estimulo, dao um ano de membership em uma lista enorme de museus, inclusive o Met, por um ano. Eu nao gusto de arte moderna, mas Fernanda gosta e usou sua carteira para virar membro do MOMA e outros museus por aqui.
Outro museu muito simpatico, tambem na Quinta, mas na altura da rua 103, e’ o da cidade de NY. Conta a historia da cidade, muito interessante, e tem exposicoes especiais, como uma de fotografia, agora, de Todd Webb, que e’ magnifica. Fernanda gosta particularmente de um museu de fotografia chamado ICP, mas eu nunca fui. Mas alem dos grandes, tipo Met e Moma ou Guggenheim, que eu tambem nao gusto, ha’ muitos relativamente pequenos, como os que eram colecoes privadas (os mais conhecidos sao a Morgan Library e a Frick Collection) e os tematicos. Duas ou tres semanas atras fomos ao Tenement Museum, que retrata a vida dos emigrantes europeus do fim do seculo XIX, inicio do XX, que e’ muito interessante, emocionante mesmo, retratando um estilo de vida que era muito proximo ao de nossos proprios antepassados (especialmente para quem e’ de SP). Alem disso, ha’ muitas visitas guiadas (neste sabado vamos a uma do Harlem nos anos 60) que, para quem tempo e curiosidade, podem ser muito interessantes. Mas, disso tudo, a despedida mesmo e’ do Met. O cartao de membership vai provavelmente para uma moldurinha em algum lugar.

Despedidas (5)

Nesses dois anos, exceto, naturalmente, pelas idas ao Brasil, que contam cada vez menos como lazer, nos praticamente nao viajamos. Muitas razoes para isso. A primeira e’ que, estando em NY, a vontade de ir a outros lugares e’ normalmente menor. Nao se fica entediado aqui, procurando outros lugares para ver. Ha’ um efeito atracao, e’ claro, ha’ outros lugares que da’ vontade de ver ou rever, mas nao ha’ o efeito expulsão, a compulsão de ir para outro lugar para fugir de onde se esta’. Fernanda queria (re)ver outros lugares, certamente nao por tedio de ficar aqui, antes pelo contrario, ela gosta de NY ainda mais do que eu. Quando vivíamos em New Jersey nos anos 80, com uma bolsa do CNPq, as possibilidades de vir a NY eram limitadas. Mesmo assim, nao se passavam muitas semanas antes que Fernanda pusesse uma maca (eu nao tenho acentos, e’ apple aqui) na bolsa, pegasse o trem e viesse passar o dia na cidade (eu tinha menos liberdade por causa das exigências do doutorado). Mas, enfim, ha’ sempre uma boa razao para ficar na cidade. Por outro lado, viajar com crianças e’ sempre muito mais complicado (agora nem tanto, ja que ambos os pirralhinhos passaram para uma fase em que a estrutura necessária para fazer uma viagem e’ menor). A carga a transportar, qualquer que seja o destino ou a duracao da viagem, nao era facil (ficar longe deles, ainda mais dificil). Terceiro, o custo de viajar por aqui e’ muito alto. Trens são caros, nem sempre confiaveis (a Amtrak esta’ sempre com um pe’ na cova, e frequentemente com todos os quarto), hoteis tambem, e precos sao sempre mais altos nas ocasiões mais propicias a viagens. Esse custo, e’ claro, e’ alto tambem porque as distancias aqui sao muito maiores (em comparacao com Portugal, onde zanzamos muito mais pelo pais). Por ultimo, ha’ o habito familiar, que Madalena tambem ja absorveu, de que toda viagem envolve um complexo e prolongado processo de planejamento que geralmente se conclui quando ja’ e’ tarde demais e tem de ser reiniciado do zero quando outra meta e’ definida. 
A excecao, para nos, acabou sendo, e assim mesmo em pequeno numero, o vale do Hudson, onde temos amigos extremamente proximos. Agora mesmo acabamos de voltar de um fim de semana mais longo por la’ (ha’ um monte de fotos de passaros, comida, especialmente a feijoada que Fernanda preparou no sabado, e pessoas sendo postadas aqui no fb postadas pela Fernanda e pela Madalena desse fim de semana). A regiao, onde fica o Bard College, onde lecionei nesses dois anos, e’ muito bonita, especialmente na primavera, como agora, e no outono, quando as folhas amarelam e envermelham e as arvores se preparam para hibernar no inverno. Numa dessas idas, visitamos em Hyde Park, a casa onde nasceu Franklin Roosevelt, que se tornou um parque nacional e onde estao enterrados ele e Eleanor Roosevelt. Foi uma visita muito emocionante para nos, a casa onde vivia a familia e para onde FDR sempre ia, quando nao estava em Washington ou em Warm Springs, a estacao de aguas onde ele tratava sua polio. FDR e seu tempo na presidencia americana, onde enfrentou uma depressao e a Guerra, ha’ anos sao meu interesse intelectual mais forte, mas a conexao vai alem disso, focalizando o cidadao que enfrentou os piores momentos do seculo vinte, mantendo o sistema politico aberto, enquanto o mundo se consumia no nazi-fascismo ou era engolfado pelo stalinismo.
No final, minha memoria de viagens desta vez vai ser preenchida pela imagem das margens do Rio Hudson por onde ia, todas as quartas-feiras, meu trem para Rhinecliff, onde me esperavam para me levar ao Levy Institute. Eu ainda tenho uma viagem a fazer para la’, em duas semanas que vem, mas a rigor essa despedida ja foi feita, quando o semestre acabou.

Andando por NY


Ainda andando por Manhattan, nosso roteiro mais frequente foi, geralmente aos sábados pela manha, de casa ao Metropolitan nos dias de tempo bom (sem chuva ou nevasca). Sao 7 quadras para oeste e depois cerca de 20 para o norte. Fizemos muitas variantes (subir ou voltar por qualquer uma das avenidas, ainda que Fernanda normalmente preferisse a Madison por causa das vitrines, e eu preferisse a Terceira por causa da padaria do Eric Kayser), mas o mais comum tem sido ir ate’ a Quinta Avenida e subir pela Avenida mesmo, margeando o Central Park ou, quando o dia e’ mais convidativo, entrar por ele mesmo (entrar pelo Central Park encomprida o caminho porque nenhuma das passagens de pedestres avança em linha reta). Dependendo do que víssemos no museu, e do estado das pernas ao final, voltavamos a pe de novo ou de ônibus. Essa caminhada ainda será feita ate’ provavelmente nossos últimos dias aqui. O roteiro das avenidas e’, em si, muito interessante. Da Primeira a Terceira anda-se por areas residenciais, com seu comercio, dentro da ideia de que Manhattan e’ uma reunião de áreas mais ou menos auto-suficientes, nao apenas seus mercados e mercearias, barbeiros e leitores de mao (aos borbotões) mas tambem seus restaurantes, cinemas (que estão desaparecendo aqui tambem), parques infantis, escolas, etc. A Lexington e’ mais comercial e de escritórios, como tambem a Madison, so que para renda mais alta do que a Lexington (lojas de grife, essas coisas). A Madison, no passado, era a avenida das grandes agencias de publicidade (quem assistia a Feiticeira, o seriado, vai reconhecer porque era onde ficava a McMan and Tate). A Park, única avenida com duas maos e um passeio com jardim no meio, e’ a dos ricos (ricos mesmo). A Quinta é dos ricos tambem. Ja foi mais, mas ricos aqui sao ricos mesmo, nao os dos Jardins (em SP).
Outro roteiro que tambem fizemos muito, embora mais porque iamos a lugares por ali do que por si mesmos, era o Village. O Village é o Quartier Latin daqui. O West Village e’ melhor tratado, com aquelas ruas de predios antigos e baixos que se ve em filmes. O East Village era mais um lugar para imigrantes, a Primeira Avenida era mais ou menos a fronteira entre o que era razoavelmente seguro e os lugares onde nao se ia, nos anos 80, por exemplo, quando moramos aqui pela primeira vez. Depois da Primeira vem a Alphabet City, as avenidas A a C, que eram barra pesada na epoca, inclusive pelo trafico de drogas. Agora a gentrificacao liquidou tudo isso. Passeamos por la duas ou tres semanas atras e nao se faz ideia do que a area ja foi. Tambem as comunidades de imigrantes, como os ucranianos na Primeira Avenida, ja estao se diluindo. A St Mark’s Place, entre a Segunda e a Terceira, onde conviviam grupos enormes de punks e livrarias radicais, so se reconhece pela localização, nao tem mais nada da epoca. Sobra ali de muito bom o Cloister Café, na rua 9, também entre 2a. e 3a. Uma delicia de lugar, muito bonito, otima comida e precos muitos bons. No West Village fica o Vanguard e outras casa de jazz, e o melhor da area em torno da Washington Square. E’ como caminhar no calcadao de Copacabana, meio obrigatório para quem passa pela cidade, mas um obrigatorio agradavel, sem sacrifício. 
 Um pouco mais para o sul da ilha, fica o Soho, que tambem ja foi, e ainda e’, mas nao tanto, um bairro de artistas. A gentrificacao tornou tudo meio caro para que esses pessoal continuasse por ali, mas ainda tem muitas galerias e e’ um lugar gostoso de se andar. Nao e’ uma area muito grande, vai da W Houston ate’ a Canal St, anda-se uma manha e se ve quase tudo. Ao sul da Canal fica o que se chama aqui de Tribeca (Triangle Below Canal). Era uma area meio malvista, mas quando os precos subiram no Soho, o pessoal atravessou a rua do Canal e foi para Tribeca, e agora e’ uma área de artistas ate’ mais que o Soho propriamente. Em dias mais friozinhos, um passeio pelo Soho/Tribeca pode acabar no Dean and Delucca da Prince Street, onde se pode comprar pães sensacionais, mortadella trufada e ainda levar (ouo tomar la mesmo) um gumbo, a sopa de frutos do mar, muito condimentada, da Louisiana, para casa.
Claro que ha’ muitos outros roteiros de caminhada por aqui e Fernanda fez muitos mais do que eu, muitas vezes em visitas guiadas para conhecer a historia do lugar e coisas assim, para o que eu nao tenho muita paciencia. Mas um roteiro final e’ a area das antigas Twin Towers, o World Trade Center, onde esta’ o memorial as vitimas do ataque terrorista de setembro de 2001. A area foi toda remodelada e ficou muito interessante para se visitar. Dali pode se atravessar a West St em direção ao Brookfields Place, para se ver o Hudson, o cais para veleiros e iates, e depois comer alguma coisa no Le District, uma mistura de mercearia e restaurante francês onde se come muito bem ou se compra para comer em casa depois.

Despedidas (3). Cardim falando de NY

A rigor, nos não estamos nos despedindo de Nova York, nos estamos nos despedindo de Manhattan. Fernanda ate’ que menos, ja’ andou mais para fora da ilha, um pouco para Astoria, Queens, onde ficam os supermercados que vendem coisas brasileiras, inclusive algumas que ja não encontrávamos no Brasil ha’ anos (como os dadinhos Quarto Centenário: quem for paulista e pelo menos da minha geração sabe do que estou falando), e um pouco, bem menos, pelo Brooklyn. Eu saio da ilha meio arrastado e me lembro de ter feito isto duas vezes nestes dois anos. Uma noite para ir ao BAM (Brooklyn Academy of Music) ver Isabella Rossellini e Jeremy Irons apresentarem uma biografia de Ingrid Bergman), outra para ir a casa de um velho amigo (na verdade, filho de velhos amigos). NY se divide em 5 boroughs: Manhattan, Bronx, Queens, Brooklyn e Staten Island. Staten Island, do outro lado da foz do Hudson, e’ o que menos tem a ver com a cidade, quase nunca se ouve falar e quando se ouve, não é boa coisa. Queens e Brooklyn, como boa parte de Manhattan, foram áreas de imigração forte, Queens continua sendo. E’ um bairro meio folclórico, especialmente por causa da comunidade judia, que Neil Simon costumava retratar em suas pecas, e depois pelos russos, que trouxeram consigo sua mafia. Brooklyn se gentrificou e virou área boemia. O Bronx continua sendo a area mais barra pesada, renda baixa, onde se concentra a comunidade negra, nos projetos habitacionais que se faz aqui pelo menos desde os anos FDR. Pois e’, nisso tudo, estamos e ficamos a esmagadora maior parte do tempo em Manhattan, que e’ afinal a ideia que todo mundo faz realmente de NY. Quando se visita, se percebe que e’ uma cidade cara. Quando se vive aqui, se percebe que e’ uma cidade cara pra cacete. Alugueis são sempre, uniformemente muito altos (quando aparece uma exceção, em geral não vale a pena olhar, porque e’ um buraco). E nao se pode pensar muito. Se voce disser ao corrector que vai pensar, o cidadão que esta’ parado atras de você ja grita “I’ll take it”. Eu nao estou exagerando, nos perdemos um ou outro imóvel quando chegamos porque resolvemos conversar a respeito! E’ obvio que morar em Manhattan teria de ser caro, mas e’ caro mesmo assim. Vale a pena, mas e’ caro.
Manhattan e’ um lugar para se andar. A cidade e’ basicamente plana, ou com ondulações tao leves que na maior parte das vezes nem se percebe que se esta’ subindo e descendo. As exceções sao poucas. Uma característica curiosa daqui e’ que nao tem um “centro”. Ha’ cidades onde o centro e’ pequeno, ha’ lugares com mais de um centro (como SP, que tem o novo e o velho). Manhattan simplesmente nao tem centro em nenhum sentido. Ha’ naturalmente os lugares onde ha’ mais gente, por causa do numero sempre muito grande de turistas que inundam areas especificas, como a Times Square, para alegria dos batedores de carteira e outros que vivem de tomar dinheiro dos visitantes. Mas nao ha’ centro, a cidade e’ uma coleção de bairros com suas características que servem todos de centro para alguma coisa. O Village e’ um centro, o Soho e’ um centro, o Upper East Side, onde vivemos, e’ outro centro, e ha’ muitos outros. A propria palavra que se usa para designar centro em qualquer outra cidade, downtown, aqui quer dizer downtown mesmo, a parte sul da cidade. Depois vem midtown e o uptown (onde tem o Upper West Side, do outro lado do Central Park) e o Upper East Side, onde estamos nos. Nos costumamos andar muito, mas quase sempre pelo lado leste. Manhattan nao e’ uma cidade europeia, onde se vai tendo surpresas quando se caminha, porque tudo e’ curvo e meio Escondido. Aqui e’ uma grade. Das avenidas é possível ver uma ponta e as vezes as duas. E’ a escala enorme de tudo que e’ fascinante, misterio mesmo nao tem. E, naturalmente, quando se quer simplesmente relaxar, vai-se ao Central Park, que cobre da rua 60 a rua 120, por ai vai. Tem florestas, lagos, ate’ cachoeiras (eu nao vi, Fernanda, quem anda muito mais por aqui, quem viu num passeio guiado). Nos estamos a uma quadra e meia do East River, ao lado da estação do bondinho para a Roosevelt Island, onde vamos com alguma frequência levar as crianças para brincar e andar de skate. De vez em quando escolhemos algum outro ponto da ilha para andar pelas ruas e Fernanda tirar as milhares de fotos que acumulou aqui. Para quem nasceu e cresceu em cidades grandes (a menor cidade em que vivi foi Campinas, nos anos 70, e assim mesmo por ano e meio) aqui é uma delicia.

Despedidas (2) Mais Cardim


O que mais fizemos nesses dois anos, junto com ir a museus, o que fica para depois, foi ir ver jazz. Eu tenho um primo, pianista profissional, que me ensinou o que havia para ser sabido de jazz quando eu era garoto. O problema, naturalmente, era que a maioria, quase todos, dos musicos que eu gosto mais ja morreram faz tempo. Mas ainda sobraram muitos, como Ron Carter, Herbie Hancock, Chick Corea e outros. Por mais de um ano, nos fomos praticamente todas as semanas a algum clube de jazz. Sao muitos aqui, e, pelo que me dizem muitos amigos, em alguns deles se apresentam músicos promissores. Eu confesso que preferi ver o pessoal que ja cumpriu sua promessa. De longe, nosso lugar mais frequentado foi o Village Vanguard, na Sétima Avenida com 14. E’ o lugar mais importante do jazz aqui em NY. Muito simples, ele se mantém como sempre foi. Nos estivemos aqui, ha’ uns 25 anos atras, e tudo continua igual. Não tem cozinha, apenas um bar, e’ um lugar onde nao se vai para conversar (a não ser enquanto se espera o show começar), vai-se para ouvir. Pequeno, onde se chega descendo escadas que saem da rua e levam ao subsolo, sente-se a vibração (mas nao o barulho) do metro passando embaixo. Vimos grandes músicos la, todos sempre falando na emoção que e’ tocar no Vanguard (em outros lugares, eles agradecem ao publico por ter vindo, essas coisas, no Vanguard parecem agradecer ao clube por aceita-los). Nunca vimos nada la que nao valesse a pena, alguns vezes vimos apresentações inesquecíveis (uma delas vimos Ravi Coltrane tocando seu saxophone ao lado do retrato de seu pai, uma cena em si emocionante). Outros clubes ja ficaram mais comerciais. Tem restaurantes, servem jantar, etc e tal. O Birdland, na W44 e’ dos melhores também. Bons músicos, casa simpática, sem amontoar as pessoas como faz, por exemplo, o Blue Note, onde so fomos quando era mesmo inevitável. McTyner, Herbie Hancock com Chick Corea, e Ron Carter tivemos de ir ver la, porque, afinal, era onde estava tocando. Mas no Blue Note, se bobear vendem entradas ate pro pessoal sentar no seu colo, nos seus ombros, na sua cabeça se voce for careca. Outro gostosinho, como o Birdland, e’ o Jazz Standard. Também espaçoso, com cozinha, mas, como o nome sugere, na maior parte do tempo e’ para standards mesmo, não para jazz. Nos falta ainda conhecer o Jazz at the Lincoln Center. O lugar parece ser muito bonito, mas predominam por la as apresentações de orquestras, o que em jazz não me agrada muito. Mas pelo menos uma vez, se der tempo, e aparecer algum programa realmente atraente, e’ preciso.

Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...