quarta-feira, 31 de março de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO 31/03/2021 - PRECISAMOS DE ESTABILIDADE

Foi uma terça-feira (dia 30) em que os investidores ainda “lambiam as feridas” do “caos político” do dia anterior. O esforço aqui era absorver a reforma ministerial, atento aos embates entre os militares e o governo, e ainda transitando pela pandemia, que ontem atingiu recorde de mortes (3.668) e o Orçamento, totalmente disfuncional, em negociação no Congresso.

Mesmo assim, alguns ainda conseguiram enxergar algumas positividades sobre o que aconteceu. A reforma ministerial, por exemplo, mostrou “alguma aproximação entre Executivo e Legislativo”, e, mais do que isso, de que o Centrão, no seu pragmatismo pela governabilidade, deve assumir o leme do návio nestes mares revoltos. Com um dos seus quadros, Vera Arruda (PP-DF), num posto estratégico do Planalto (Casa Civil), a impressão é que o ritmo das negociações deve se tornar outro. Ela, inclusive, já presidente da CMO, deve conseguir “destrinchar” melhor o Orçamento de 2021 (OGU), o “bode na sala” a ser retirado.

O maior problema no OGU é que ele foi aprovado na Câmara com “subestimação das despesas de custeio” para tornar possível a acomodação do festival de emendas. Algo totalmente irreal. Agora, é lutar para que o Congresso retire boa parte destas emendas para que “caibam no Orçamento”, como disse Paulo Guedes.

Foi um dia, também, de indicadores divulgados, mais “amenos” do que o esperado. O IGP-M de março veio com 2,94%, maior taxa para o mês desde o Plano Real, mas abaixo das projeções; a Caged com expansão de 401 mil vagas formais, bem melhor do que o esperado, o que pode ser lido que a retomada da economia acontece, apesar dos pesares. Para isso, é o que disse Paulo Guedes, muita campanhade vacinação precisa ser agilizada. Talvez nosso quadro não seja tão ruim, por já termos produção nacional, pelo Butantan e em breve, pelo governo, o que pode tornar possível a vacinação de todos adultos acima de 50 anos até maio. Por outro lado, não podemos deixar de observar o caos até aqui, com recorde de mortes neste dia 30, 3.668.

Nos EUA, o ritmo é intenso, com uma média de 3 milhões de pessoas por dia, podendo resultar em 90% dos adultos vacinados agora em abril. Isso se reforça também à ampla campanha de vacinação no Reino Unido, já com metade dos adultos já tendo tomado a “primeira dose”.

Isso nos leva a crer que a prioridade é organizar as campanhas de vacinação e cessar de uma vez por todas os bate bocas inúteis. Enquanto a vacina não vem, as pessoas têm que ficar em casa sim, tem que haver lockdown, mesmo que nas suas várias modalidades. Isolamento social é a única saída, além de máscara e álcool gel, além de todo cuidado nas movimentações. Não tem jeito. Vários países superaram este virus no mundo, com destaque para Portugal (2 pessoas morreram ontem !), Nova Zelândia, Austrália, Israel, Chile, Uruguai, e vamos achando países.

Falando da reforma ministerial, já citada acima, pode representar um fortalecimento do Centrão, em prol da governabilidade do País, meio que enquadrando o presidente, num sinal amarelo de que se ele não colaborar e não “calar a boca, remédios amargos e fatais acabarão necessários”. Para bom entendedor...

Já o afastamento dos comandantes militares (maior crise desde a redemocratização de 1985), também se guiou pela mesma mensagem...”voce está isolado e é bom se enquadrar”.

Voltando ao mercado, outro dado nesta situação caótica foi o desempenho fiscal, do governo central, com déficit de R$ 21,2 bilhões, um pouco abaixo do esperado.

Neste contexto, no dia 30, a bolsa paulistana, pela manhã, muito volátil, à tarde deu uma reagida, fechando no azul, avançando 1,24%, a 116.849 pontos, beneficiada pela recuperação dos papéis de consumo domésticos, diante da perspectiva de aceleração das vacinações. No mês de março, até o dia 30, a valorização chegou a 6,19%, meio que compensando a perda de 1,82% no ano.

No mercado de juros, todas as pontas da curva deram uma recuada, depois do IGP-M menor do que o esperado e a reforma ministerial enquadradora, além do Caged mais robusto. Agora crescem as apostas de que o ajuste de juro, dividido entre 0,75 e 1,0 ponto percentual, deve tender mais para a segundo “range”. O presidente do BACEN, Roberto Campos Neto, aliás, disse que o ajuste do juro pode ser célere, caso as negociações do Orçamento não se encaminhem bem.

Por fim, em dia de PTAX, o câmbio segue pressionado, o que se reflete numa readequação dos investidores estrangeiros, neste ambiente de confrontos e ameaças de ruptura. Neste contexto, dia 30, o dólar, que chegou a R$ 5,80 em alguns momentos do dia, deu uma cedida ao fim, fechando a R$ 5,7619 (-0,08%). Já os CDSs avançaram um pouco, de 228,4 pontos a 231,4, refletindo este ambiente de desconfiança dos investidores estrangeiros.

CENTRÃO E GOVERNABILIDADE, 30/03/2021

Na metade do mandato, em frágil composição política no Congresso, sempre às turras com o então presidente da casa Rodrigo Maia, Jair Bolsonaro acabou como um dos articuladores para a eleição da dupla Rodrigo Pacheco, para o Senado, e Artur Lira, para a Câmara, no início de fevereiro. 

Era previsível, portanto, algum "troca troca político", uma nova composições de forças teve que ser construída. Ou seja, isso não foi gratuito. Algo teve que se dado em troca, pela "sustentação de aluguel" do Centrão ao governo Bolsonaro. 

Sendo assim, novas "influências" ao governo se tornaram fato, o que se confirmou nos "ajustes" realizados nesta segunda-feira (dia 29).

Em movimentação que surpreendeu a todos, Jair Bolsonaro acabou realizando uma reforma ministerial de peso, com mudanças em seis cargos. 

Especulações indicam que os proximos a caírem deverão ser Ricardo Salles do Meio Ambiente, Rogerio Marinho, do Desenvolvimento Regional, e o ministro da Educação, mais um fundamentalista que eu não recordo agora o nome. 

Podemos "calcular" que o governo está sendo levado a estas decisões, em função da necessidade de limpar a sua agenda ideológica por pressão do Centrão, outros, mais pragmáticos, consideram que em parte sim, pois muitos destes quadros no governo vinham atrapalhando no seu bom transcurso. 

No caso de Rogério Marinho, a razão seria também os constantes embates com o ministro Paulo Guedes, cioso da necessidade de respeito ao "teto dos gastos", e também pela austeridade, a não ingressar em nenhuma aventura populista, que não possa ser sustentável depois. 

Nas mudanças empreendidas nesta segunda-feira (dia 29), seis cargos foram trocados. 

Na Defesa, saiu o general Fernando Azevedo para abrir espaço ao general Braga Netto, antes na Casa Civil, agora ocupada pelo general Luis Eduardo Ramos, deslocado da Secretaria de Governo para a entrada da deputada Flavia Arruda, esposa do ex-deputado José Roberto Arruda. Pode estar aqui sendo construído o tal "rearranjo" do Centrão na relação com o governo. Isso porque será ela a negociar com o Congresso cargos e a analisar várias emendas dos deputados 

Na Justiça, assume o delegado da Polícia Federal, Anderson Torres, conhecido do filho 01 Flavio Bolsonaro. André Mendonça volta para a AGU, com a saída de José Levi, por discordar do presidente Bolsonaro; 

E finalmente, no Ministério das Relações Exteriores saiu Ernesto Araújo e entra o Embaixador Carlos Alberto Franco França. Este, então chefe do cerimonial do Planalto, tende a ser mais discreto e menos histriônico nas relações do Brasil com o resto do mundo. Com certeza, não deve gerar fricções, por exemplo, com a China, maior parceiro comercial do Brasil na atualidade. Este país é simplesmente 70% da nossa pauta comercial, maior demandante de soja, minério de ferro e um dos maiores de carne dos nossos frigoríficos. 

Sobre as mudanças na Advocacia-Geral da União, saiu José Levi Mello, entra André Mendonça, possível candidato para o STF na próxima aposentadoria dos 11, de Marco Aurélio de Mello. 

Sobre a troca na Defesa, um fato a chamar atenção é que os três comandantes, Aeronáutica, Marinha e Exercito, também saíram. Isso representa um claro indicativo de que as FFAA não aderiram ao populismo do presidente Bolsonaro. Outro fato a chamar atenção é que o general Fernando Azevedo demonstrou, de forma cabal, que o Exercito é uma instituição de Estado e não de governo. Ou seja, não irá embarcar em nenhuma aventura populista. 






terça-feira, 30 de março de 2021

ORÇAMENTO 2021: UM FESTIVAL DE EMENDAS

"O Legislativo se refastela frente ao governo que se esfarela. Aprovou-se um Orçamento que revela um governo que adora furar fila". Marcos Lisboa.

O Congresso aprovou na última quinta-feira (25) o Orçamento da União para 2021, por 346 votos a favor e 110 votos contra. Foi uma votação, na qual, de determinante tivemos uma "festa de emendas", por demandas, em sua maioria, "paroquiais" dos congressistas. E isso em plena pandemia! Isso me pareceu excessivo. 

O relatório será enviado nesta semana ao presidente Jair Bolsonaro, que terá 15 dias úteis para sancionar após a data de recebimento. Previsões indicam isso ocorrer na segunda quinzena de abril. 

❑ O relator Márcio Bittar, com o objetivo de abrir espaço para emendas parlamentares no valor aproximado de R$ 49 bilhões, reajustou despesas em R$ 26,5 bilhões, retirando, por exemplo, gastos com benefícios previdenciários (R$ 13,5 bilhões), abono salarial (R$ 7,4 bilhões) e do seguro-desemprego (R$ 2,6 bilhões). 

❑ Houve também uma mudança na forma do pagamento do auxílio-doença. A ideia é que as empresas arquem com esses recursos recuperando o valor posteriormente, abatendo sobre os tributos devidos. A medida abriria um espaço em torno de R$ 4 bilhões no teto. 

❑ A meta fiscal ficou definida em um déficit de R$ 247,1 bilhões para o governo federal. 


❑ Adicionalmente, a verba de mais R$ 169 milhões destinada ao IBGE para realização do censo demográfico acabou retirada e transferida para a administração do Ministério da Economia.

❑ O Ministério da Economia já analisa um contingenciamento da ordem de R$ 30 bilhões. 

❑ A dimensão das emendas parlamentares levaram o TCU a alertar Bolsonaro sobre risco de crime fiscal se Orçamento de 2021 for sancionado. 

❑ Para solucionar esta questão, o relator Marcio Bittar tem três opções: votação de um novo projeto, ajuste do parecer ou veto do presidente Bolsonaro.

❑ A expectativa é de que Bittar cancele as emendas. 

❑ Adicionalmente, o governo federal tem até o dia 15 para enviar ao Congresso Nacional o projeto de lei que trata da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021. 

❑ A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que trará os parâmetros para o Orçamento de 2022, precisa ser aprovada pelo Congresso até 17 de julho, último dia de atividade legislativa antes do recesso do meio do ano.





Análise da Conjuntura, 31/03 (IPEA)

Dados recentes de janeiro de 2021 e estimativas da Dimac do Ipea para fevereiro mostram que a trajetória de recuperação continuou no primeiro bimestre deste ano na indústria e, principalmente, nos serviços. No entanto, o agravamento recente da pandemia, que culminanou no quadro atual de forte pressão sobre o sistema de saúde, vem motivando os governos estaduais e municipais a reintroduzir medidas impositivas de isolamento social. Se, por um lado, se espera que a nova rodada de restrições possa ajudar a conter o número de novos casos da doença e aliviar o sistema de saúde, por outro lado, aumentam as incertezas em relação ao desempenho da economia no curto prazo. O impacto negativo sobre a atividade econômica tende a ser significativo, mas menor do que no segundo trimestre do ano passado.

O desequilíbrio fiscal é analisado nesta nota na perspectiva do orçamento de 2021 recém-aprovado pelo Congresso, especialmente em relação ao cumprimento do teto de gastos, e do impacto da aprovação da Emenda Constitucional (EC) no 109, derivada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial, sobre a sustentabilidade das contas públicas em prazo mais longo. Argumenta-se que a necessidade de duras medidas de contenção de despesas visando ao cumprimento do teto de gastos em 2021, que já era significativa, foi magnificada pelo Autógrafo do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) aprovado. Contudo, dado o já relativamente baixo nível das despesas discricionárias, o espaço para o ajuste requerido é estreito, havendo risco de interrupção parcial ou total de algumas atividades ou programas públicos. Faz-se necessária, portanto, a busca por uma solução que envolva a revisão de parte da programação orçamentária aprovada no Autógrafo do PLOA. No que se refere à sustentabilidade da política fiscal no longo prazo, entende-se que a EC no 109 seja um passo importante na direção correta, ao proporcionar instrumentos e reforçar princípios relevantes para o equilíbrio fiscal intertemporal. Um dos determinantes de seus impactos, porém, será a aprovação de leis complementares que regulamentem algumas das alterações constitucionais. Ao longo do tempo, o impacto final da EC no 109 sobre as contas públicas ficará mais claro.



Neste contexto de incertezas de política fiscal e relacionadas à pandemia, a previsão da Dimac/Ipea para o PIB de 2021 é de um crescimento de 3%, com recuo de 0,5% do PIB no primeiro trimestre, na comparação com ajuste sazonal. Ainda que uma nova rodada de medidas fiscais de combate aos efeitos da pandemia esteja programada para começar em abril, o impacto negativo sobre a atividade econômica tende a prevalecer no primeiro semestre, embora em magnitude significativamente menor do que a verificada no ano passado. No segundo semestre, o cenário considerado na projeção é que a cobertura vacinal contra a Covid-19 esteja avançada e permita a retomada do crescimento devido ao aumento da confiança dos consumidores e empresários e à redução de medidas de isolamento social. Para 2022, a Dimac/Ipea projeta um aumento de 2,8% para o PIB. Embora esse resultado do ano seja inferior ao previsto para 2021, o cenário caracteriza-se pela manutenção, ao longo de 2022, da retomada da atividade esperada para o segundo semestre deste ano.

No que diz respeito à inflação de 2021, projeta-se uma variação de 4,6% do IPCA e de 4,3% do INPC. Essa projeção considera as surpresas inflacionárias adversas do início do ano, especialmente em relação aos preços administrados, bem como o recente período de seca verificado nas principais regiões produtoras de carne e leite, a trajetória observada e esperada para a taxa de câmbio e a continuada aceleração dos preços das matérias-primas no mercado internacional. Contudo, espera-se que, no contexto de uma política monetária mais apertada e sob a hipótese de que as atuais incertezas fiscais sejam controladas, a inflação volte a cair ao longo do ano e permaneça controlada em 2022, atingindo, nesse ano, 3,4% tanto para o IPCA quanto para o INPC.

MACRO MERCADOS DIÁRIO Terça-feira, 30/03/2021 “DANÇA DAS CADEIRAS”

Uma segunda-feira (29) caótica nos mercados. Tanto no Brasil, como no exterior, os ativos oscilaram sem rumo definido. Por aqui, a justificar, o Orçamento aprovado na semana passada, cheio de “armadilhas”, e a confusa “dança das cadeiras”, empreendida pelo presidente Bolsonaro. No exterior, os Treasuries operaram ainda mais pressionados, a atingir 1,77%, maior taxa desde janeiro, somando-se ao dólar em valorização. Receio aqui veio do turbinamento no crescimento dos EUA, em bom ciclo de vacinações, se deslocando cada vez mais do resto do mundo.

Na manhã desta segunda-feira o chanceler Ernesto Araújo (EA) pediu demissão, depois de intensa pressão do Congresso; à tarde, foi a vez do general Fernando Azevedo, da Defesa ser demitido, e uma reacomodação de cargos acabou inevitável, com mudanças na Justiça e em posições chaves da “articulação política”, próximas ao gabinete do presidente no Planalto.

A saída de EA, do Ministério de Relações Exteriores, até que veio sem maiores turbulências. Como previsto, ingressou um diplomata de carreira, do cerimonial do Planalto, Carlos Alberto França, mudança esta bem acolhida pelos meios políticos e diplomáticos. O clima para EA era insuportável. Embora sem experiência em postos no exterior, França deve se destacar pela discrição e por não criar tensões com parceiros comerciais, como a China ou a Argentina.

Maior tensão no dia, no entanto, veio da mudança da Defesa, com variadas interpretações e análises. Ninguém esperava!

Parece-nos perceptível de que Fernando Azevedo não saiu satisfeito (deve ser seguido pelos comandantes da Aeronáutica, Exército e Marinha). Aliás, a relação de Bolsonaro com o general Edson Pujol, do Exercito, não era das melhores. Especulações seriam de que o presidente já havia pedido a cabeça do comandante do Exercito, não aceita por Azevedo, por este não apoiar os desmandos do capitão. Surgem então duas indagações: para quê ele queria este apoio? será que os militares abandonaram o presidente nas suas tentações autoritárias?
Ao sair, Azevedo deixou um comunicado na qual sua gestão na Defesa se pautou pelos interesses do Estado brasileiro, não do governo Bolsonaro, “nesse período preservei as Forças Armadas como instituição de Estado”. Ou seja, havia, de fato, um clima de insubordinação no ar. Pelo jeito ele não aderiu às tentações populistas ou autoritárias do presidente.

O deslocamento do general Braga Neto para a Defesa, pode também ensejar a leitura de que o foi para tirá-lo do centro das decisões econômicas estratégicas do governo. Soma-se a isso, as mudanças ocorridas (e potenciais, que devem ocorrer), representam um enfraquecimento da ala mais ideológica do governo, e o fortalecimento dos mais pragmáticos, destacando Paulo Guedes, importante na travessia econômica até 2022. Deve perder espaço a ala mais desenvolvimentista do governo, favorável ao aumento de gastos. Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, pode ser o próximo a sair, assim como Ricardo Salles do Meio Ambiente.

A somar a isso, a aprovação do Orçamento de 2021 na semana passada, cheio de emendas, ainda repercute. Se este passar na sanção presidencial, forçosamente, as despesas devem estourar o teto dos gastos o que obrigará o governo ao shutdown. Havendo isso, boatos são de que toda a equipe econômica pedirá demissão.

Neste contexto, como resultado, tivemos nos mercado a bolsa de valores volátil, a curva de juro em boa inclinação, claro sinal de desconfiança, e o dólar batendo os R$ 5,80. Ao fim o dia (dia 29), o Ibovespa subiu 0,56%, a 115.418 pontos, e o dólar valorizou 0,44%, a R$ 5,7663.

Agenda do dia

Nesta terça-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, participa de evento do Banco Daycoval, às 14h. Antes, o mercado repercute o IGP-M de março (8h), que pode acelerar para a maior taxa em 20 anos (3,0%). Este impacto virá da alta dos combustíveis e das commodities e do câmbio depreciado. Ainda teremos as contas do Governo Central (14h30), déficit entre R$ 32,7 bilhões e R$ 16,3 bilhões. Já o Caged de fevereiro (10h30) deve vir positivo pelo segundo mês consecutivo, apontando a maior geração de vagas de emprego para fevereiro, de 260 mil na mediana (piso de 150 mil e teto de 283.936 vagas).

BALANÇOS – Depois do fechamento do mercado, saem os resultados trimestrais da Qualicorp, Banco BMG, Centauro, Enjoei e Priner. Promovem teleconferências: Neogrid (10h), Sabesp (10h30) e Espaçolaser (11h).

LÁ FORA – Nos EUA, o índice de confiança do consumidor (11h), medido pelo Conference Board, deve melhorar para 96,8 em março, de 91,3 em fevereiro. No final da tarde (18h), o BC do Chile divulga decisão de política monetária.


Vamos conversando.

segunda-feira, 29 de março de 2021

MACRO MERCADOS SEMANAL Segunda-feira,29/03/2021 Semana tensionada

Iniciamos uma semana mais curta pelo feriado de Páscoa - meio fim de março, meio início de abril -, mas muito tensionada na relação entre Bolsonaro, Congresso e sociedade.

De um lado, a evolução descontrolada da pandemia, a resposta, mesmo que tardia, deste governo, e a necessidade de intensificação das campanhas de vacinação. Do outro lado, a reação da sociedade, com vários atores já desembarcando do apoio a este governo, pela gestão temerária durante a pandemia. As críticas são generalizadas. Luis Stuhlberg, por exemplo, gestor do fundo Verde, já anunciou sua decepção, afirmando que quem votou no presidente, não deve mais votar, “acreditei e votei no Bolsonaro, mas ele nunca terá o meu voto.”

Stuhlberger parece ser uma das vozes mais revoltadas com este “estado de coisas”, esta gestão calamitosa do presidente. Disse ele, gestor de R$ 52 bilhões, sob o manto do fundo Verde, que o País deve perder entre 1,5% e 2,0% do PIB neste ano, entre R$ 130 bilhões a R$ 140 bilhões. Somando os auxílios emergenciais , chega-se à R$ 200 bilhões. As eleições de 2022 prenunciam Lula e Bolsonaro em segundo turno e isso assusta a todos. Buscamos, desesperadamente, um candidato de centro.

Nesta tensa relação, durante a semana passada ocorreu um esforço de coordenação das lideranças do Congresso e do Judiciário, mas ao fim voltou a crescer a pressão pela saída do ministro Ernesto Araújo, um dos próceres do chamado “olavismo”. Segundo ele, esta pressão derivava do esforço de alguns parlamentares, como a deputada Kátia Abreu, de colocarem o projeto da 5G nas mãos dos chineses. Não é isso. Todo o Itamaraty, por exemplo, já se posicionou pela saída do chanceler. Não tem o apoio de ninguém!

Mesmo acuado, numa sociedade cada vez mais cansada, Bolsonaro não se farta de “resistir” com palavras de ordem variadas, em sua maioria, de fundo religioso, como “ao lado de Deus venceremos”.

Venceremos quem cara-pálida? Já são 312 mil mortes acumuladas, diariamente mais de 1 mil, chegando a 3 mil. A rede de hospitais está totalmente colapsada. Uma reversão de mortes até ocorreu neste fim de semana, pela compulsória necessidade de lockdown absoluto em várias cidades. E este parece ser um dos focos de resistência do presidente, ainda totalmente contrário ao isolamento social. Poderíamos citar vários países que o fizeram e venceram a pandemia, como Austrália e Reino Unido, ambos acelerando nas vacinações, porque se organizaram. Em Portugal, de 290 mortes ao dia, pelo descontrole em dezembro, baixaram as mortes a média de 10.

No Congresso, dada esta saturação e este “messianismo” do presidente, só apoiado por fanáticos religiosos e bajuladores oportunistas, o presidente da casa, Artur Lira, já deixou claro que “remédios amargos e fatais” acabarão necessários se nada for feito para frear esta total desorganização e crescimento da pandemia e mortes. Ou seja, pode-se estar gestando um processo de impeachment contra o presidente. Na opinião de um deputado, “Bolsonaro está no fio da navalha, se ele teimar nesta postura, acabará atropelado”.

No front fiscal a situação não é menos calamitosa. Em aprovação do Orçamento no Congresso na semana passada, Guedes já deixou claro que este é “inexequível” e levaria o País ao shutdown. Num festival de emendas, R$ 49,5 bilhões foram o que restou à máquina federal, para administrar suas despesas de custeio até o final deste ano. Isso é o que sobra depois do corte de 51,3% das despesas obrigatórias, a cumprir o teto de gastos. Agora o Orçamento vai a sanção presidencial, e pouco espaço de manobra resta ao presidente.

Falando do cenário internacional,
atenção para a evolução no fechamento do Canal de Suez, e os efeitos nas cotações dos preços do barril de petróleo. Nesta semana teremos na quinta-feira a reunião da Opep e novos elementos devem ser adicionados. Atenção também para alguma oscilação de um hedge funds na Ásia, que fechou a semana passada se desfazendo da sua carteira de ações. Nos EUA, em contraponto, temos o ápice no ritmo de vacinações, já tendo chegado a 143 milhões pessoas imunizadas. Por outro lado, na Europa, o ritmo segue errático, pela falta de insumos.

Agenda Semanal. Na 2ª feira, Pesquisa Focus, dados do Caged de jan e de crédito doméstico de fev; na 3ª feira, os dados do governo central de fevereiro, o IGP-M de março, pressionado pelo câmbio depreciado (acima de 9% no ano). Depois de 2,53% em fev, deve registrar 2,89% em março, e o IPP de fev; na 4ª feira, dados de desemprego de janeiro pela PNAD, dados fiscais de fevereiro, com a dívida pública, prevista em 62% do PIB e nos EUA , a geração de empregos privados (ADP), mais 117 mil vagas; na 5ª feira, reunião da OPEP, produção industrial, pelo IBGE, de fevereiro, em lenta retomada e do Markit, dados da Fenabrave e da balança comercial de março. Por fim, na 6ª feira no Brasil, e em alguns países da Europa, é feriado de Semana Santa. Nos EUA, payroll e taxa de desemprego de março (fevereiro foi a 6,2% da PEA).



Boa semana e bons negócios a todos !

domingo, 28 de março de 2021

INEVITÁVEL COMPARAR, INEVITÁVEL...

São inúmeros os países que fizeram o seu "dever de casa" e agora estão "quase livres" do VIRUS. 

Poderíamos lembrar a Nova Zelândia, na América do Sul o Uruguai, o Chile, pela sua bem coordenada campanha de vacinação, a Austrália, conforme relatado por um amigo Marcelo de Oliveira, da UFPEL, aqui em Portugal e o Reino Unido.  

Na Austrália, segundo o Marcelo, no início da pandemia, "foram fechadas as fronteira, foi feita uma quarentena absoluta, RIGOROSA, COM FECHAMENTO DO COMERCIO NAO ESSENCIAL, testagens em massa da população, proibição à circulação das pessoas entre cidades de diferentes regiões, identificação dos infectados, promoção de isolamento obrigatório dos infectados e de TODAS PESSOAS em contato com o infectado.

Qual o resultado?

"Houve impacto econômico, como em todos países do mundo, mas hoje a vida normalizou, comércio aberto, ainda com proibição de circulação das pessoas em diferentes estados, ausência de uso de máscaras; prejuízo de capital humano com 940 mortes em um ano, em Perth (2 milhões de habitantes), total de 10 mortos, ou seja, prejuízo quase nulo em perda de vidas. Incrível ! Os gastos hospitalares foram quase nulo!"

Em Portugal, ingressamos também, no mais absoluto "lockdown" em meados de março do ano passado, quando do início da Pandemia. Nos fins de semana, entre 13hs e 5 hs do dia seguinte, o lockdowns foi rigoroso, com todos em casa. Foi proibido a locomoção entre concelhos, a não ser com justificativa, e foram rigorsos no uso de máscaras e distanciamento social. Houve um interregno entre dezembro e janeiro, quando houve algum afrouxamento. As mortes dispararam, as internações também. A rede hospitalar ameaçou "colapsar". Em seguida, veio de novo o lockdown absoluto. Agora, são 8 a 11 mortes ao dia, cerca de 300 novos casos.



Não podemos esquecer o Reino Unido, tendo virado o jogo, com uma ampla campanha de vacinação, já cobrindo metade da população e muito lockdown.

No Brasil, tudo errado, tudo ao contrário. Uma "quarentena meia boca", pessoas não seguindo o protocólo, o próprio presidente desmerecendo a necessidade do uso de máscaras e do isolamento social, sabotando o distanciamento social, e investimento pesado em “tratamento precoce”, sem testagens na população.

Como resultado, recessão, 300 mil mortos acelerando, hospitais colapsando, sociedade se revoltando !

Como conclusão. Tem que haver lockdown sim! Tem que haver junto muita coordenação de governo, entre os poderes, no parlamento, entre os governadores. Para Marcelo, "apenas com obediência rigorosa das regras sanitárias, senso de coletividade e respeito as autoridades de saúde, seguindo o mundo real e não o paralelo"

Se guiar pelo negacionismo e pelas teorias conspiratórias doidas será o fim !



sábado, 27 de março de 2021

Um breve retrospecto.

Bolsonaro "viveu" 28 anos no Congresso, preocupado apenas com um objetivo, se reeleger e defender as corporações militares. Foi um deputado "corporativista", defendendo interesses bem focalizados e específicos. Sua produção legislativa foi medíocre. Digamos que ele sentava nos fundos do "baixo clero". Nada de relevante produziu nestes anos, nenhuma lei, nada.

 

 Apenas brigava pelos militares e pregava uma agenda conservadora de costumes.

Em 2015, quando o país ingressou no segundo ano de recessão, provocada por uma sucessão de erros de política econômica do governo Dilma, Bolsonaro, e seus seguidores, montaram uma estratégia de redes sociais para se tornar “o candidato anti-PT”, “o candidato anti-sistema”.

 

Com a Operação Lava-Jato fazendo estragos nas hostes, tanto do PT, como dos partidos “satélites”, e com Lula preso, o atual presidente tornou-se rapidamente um "fenômeno das redes". Bem aproveitou este “vácuo”. Lembremos inclusive, que antes do pedido de prisão, Lula liderava nas pesquisas eleitorais, com Bolsonaro “meio” que embolado com Ciro Gomes, Marina e outros.

Depois, houve o estranho atentado (a mando de quem?), a facada, e ele acabou "beneficiado", pois em torno dele, estimulado pelas pregações evangélicas, surgiu a "idéia" de que tinha sido o "escolhido".

 

Ingressamos no segundo turno das eleições com a polarização dos extremos, pela esquerda e a direita, Bolsonaro foi “poupado” de participar dos debates contra o PT, de Fernando Haddad e, ao fim, num sentimento anti-PT generalizado, acabou eleito.

Houve uma breve transição, foram chamando alguns expoentes da sociedade, muitos recusaram, outros, meio de lado, constrangidos, ficaram de pensar.

 

Acabou conseguindo formar um ministério razoável. Um super ministro para a Economia foi escalado Paulo Guedes. Com ele, vieram vários bons quadros, como Castello Branco na Petrobras, Sallim Mattar nas Privatizações, André Beltrão no BB, Mansueto Almeida na gestão pública, etc.

 

     Sergio Moro foi convidado e, pronto, talvez, seu grande erro de cálculo, aceitou a missão de Ministro       da Segurança e da Justiça. Depois veio sua demissão, diante das crescentes interferências do                         presidente na  sua pasta. O pacote contra a justiça, por exemplo, foi muito "desidratado". 


CHANCE DESPERDIÇADA

Não parece difícil um balanço do governo Jair Bolsonaro nestes dois anos e mais alguns meses no poder.

Podemos visualizar uma sucessão de decisões equivocadas, algumas bem intencionadas, outras nem tanto, e poucas, realmente, meritórias. 


Sua agenda econômica é (ou era) até acertada. Basicamente, tratava das reformas estruturais, da Previdência, tão urgente diante da trajetória desta dívida; da Tributária, num cipoal de impostos que mais repelem do que atraem investidores, e da Administrativa, sabendo que boa parte da nossa dívida estrutural é originada das distorções da rubrica “Encargos e Pessoal”.

 

O diagnóstico é um só. O déficit público “estrutural” tem origem e daí, diagnóstico. Aqui, uma contradição, pois Bolsonaro ascendeu pelo corporativismo junto aos militares e todos sabemos que boa parte destes déficits, público e previdenciário, são originados dos excessos de "penduricalhos" dos servidores públicos e dos militares. Ou seja, a tal "fábrica de desigualdades", denunciada por Paulo Guedes, tem que ser equacionada, pelo lado da retirada dos privilégios dos servidores públicos, principalmente, dos militares. Ao poucos, Bolsonaro foi sendo “dobrado” sobre, mas parcialmente. A reforma da Previdência, por exemplo, ficou pela metade, com os militares à parte; a reforma tributária acabará bem desidratada e a administrativa, dificilmente deve sair neste ciclo de poder.

 

Na verdade, são tantos os "estresses" gerados, que esta boa agenda, mais do ministro Guedes, não do presidente, vai ficando pelo caminho.


Quando recém eleito, assumindo Bolsonaro, até cheguei a torcer para que desse certo, dada a equipe no ministério, as idéias aventadas, o ingresso do juiz Sergio Moro, Paulo Guedes na Economia, Tarcísio Freitas na Infra, Marcos Pontes na C&T, Tereza Cristina, boa gestora na Agricultura, etc. No entanto, vendo como o presidente se movimentava, fui observando que não sairíamos do lugar neste ambiente de bate-bocas e confrontos inúteis.


Um exemplo, esta parada no tal "cercadinho" do Alvorada. Para que isso? Para se expôr ainda mais ou para passar uma impressão de humildade e autenticidade? Fica reclamando com os  eleitores, ou então fica batendo boca com os jornalistas que aparecem. 

O problema é que Bolsonaro, como "chefe de Estado", de uma das maiores economias do mundo, não se comporta como tal. Não é o caso de comparar com o PT. Todos sabemos o quanto foi nocivo o PT à governabilidade do País, meio que banalizando a propinagem e os esquemas de corrupção. Mas sua conduta também é altamente reprovável. 

 

Ao longo do seu primeiro ano de mandato, foram saindo vários quadros, em "efeito dominó", muitas vezes, por intrigas e fofocas geradas pelo tal "gabinete do ódio". Isso também muito me espanta. 


Parece que qualquer um que tenha "luz própria", ou que queira, depois, pensar em outros projetos políticos, como a “cadeira do Planalto”, logo é "sabotado" pelo presidente. Só ele pode se destacar neste governo, o resto são os bajudaladores de sempre. 


Gustavo Bebbiano, um "braço direito" do capitão, jurista, o orientava, o protegia. Dizem que caiu por ciúme do filho Carlos Bolsonaro. A averiguar. Todas suas declarações, depois, indicavam uma grande decepção. Foi uma aposta, colocou todas as suas fichas. Acabou caindo por fofocas. Morreu, num enfarte logo depois, na verdade, de desgosto.

 

Tivemos ainda o general Santos Cruz, saindo pelos mesmos problemas, intrigas do tal "gabinete do ódio". 


E outros foram saindo. Três ministros da Saúde não aguentaram. Luiz Henrique Mandetta fez acusações graves, sobre o negacionismo do presidente em reconhecer a gravidade do quadro pandêmico; Nelson Teich, médico renomado, não aguentou, só um mês; depois, o general Pazuello, "cumprindo ordem", conseguiu montar um cronograma de vacinas, mas não teve a aceitação da sociedade. Dizem que serviu apenas para legitmar a estratégia “tosca” do “tratamento precoce”, mas sem comprovação científica.

 

Saiu meio que ”escondido”, pensando como fugir dos processos judiciais. Agora, chegamos ao atual ministro, cardiologista, Dr. Queiroga, meio desorientado, no “olho do furacão”. Num cenário de mais de 300 mil mortos, 3 mil ao dia!

Em paralelo, na “seara” de sustentação econômica dos "baixa renda", dos informais, Bolsonaro conseguiu instituir o "maior programa de redução de pobreza da história do País". Na primeira fase, foi usado um subsídio de R$ 600 por pessoa, virou o ano e veio mais um "segundo"' programa, mais austero, de R$ 300 em média, até a chegada do ciclo das vacinas. São mais de R$ 100 bilhões já gastos neste ano de pandemia, o que seria, em parte, evitável, se o planejamento de vacinação tivesse chegado a um bom desfecho e no "devido tempo".  

 

Uns acham que o seu negacionismo possui “cálculo político”, outros acham que é ignorância mesmo, é obscurantismo. Segundo um observador da cena, "ele esticou a corda na negação da gravidade do vírus e os governadores foram obrigados a adotar medidas rígidas de isolamento, cujo efeito tem sido afastá-los da popularidade. Bolsonaro será no momento agudo, aos olhos da população, o "pai da vacina". Será? Não creio. 


Medidas impopulares, como o lockdown, às vezes, são necessárias. 


O problema do presidente Jair Bolsonaro é que ele age sempre "açodado", não tem auto-controle, não "conta até dez"....É tudo truculência, confronto...

Boa parte do que estamos vivendo na pandemia tem a assinatura dele!

 

Ao ignorar a pandemia, alimentar uma dualidade economia x pandemia, não reconhecer a gravidade do quadro, não usar máscara, defender que as pessoas continuem vivendo normalmente, provocar aglomerações, Bolsonaro acabou emitindo sinais erráticos à população. Em verdade, foi na contramão do mundo.

 

Só agora pensa em Comitê de Crise? Tarde! Muito tarde! Em Portugal, por exemplo, a tal coordenação já está acontecendo há mais de ano, desde o início da pandemia. Resultado: mesmo com erros pontuais, 8 a 11 mortos por dia.

Vamos conversando.

sexta-feira, 26 de março de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO Sexta-feira, 26/03/2021 "Peça de ficção"

Iniciamos esta sexta-feira (dia 26) repercutindo a aprovação do Orçamento de 2021 ao fim da noite anterior, cheio de emendas (R$ 48,8 bilhões). Isso deve obrigar o ministro Guedes a buscar alternativas “draconianas”, com cortes previstos de R$ 26,5 bilhões nas despesas obrigatórias, mais concentrados na Previdência (R$ 13,5 bilhões). Como estas despesas são obrigatórias, não podem ser mexidas, remanejamentos acabarão inevitáveis nas próprias emendas dos deputados. Isso nos leva a concluir que foi aprovada mais uma “peça de ficção” no Congresso ontem, e não um Orçamento a ser executável na sua plenitude. Nenhuma novidade. Sempre foi assim.

Nesta “festa de emendas”, inevitável será o corte de muitas delas e o contingenciamento na “boca do caixa” ao longo do ano. E o pior é que ainda existem mais R$ 28,6 bilhões em emendas não pagas nos anos passados. Se nada for feito, estouraremos o “teto dos gastos” e o TCU irá para cima do governo.

Neste ambiente de ameaça de “piora fiscal”, os mercados domésticos operaram “deslocados” de NY nesta quinta-feira (25/03). No mercado novaiorquino, o ótimo astral predominava depois que o presidente Biden anunciou 200 milhões de doses adicionais, nestes 100 dias de esforço concentrado, o que deve tornar possível o cumprimento da vacinação em massa, de todos os adutos, até o dia 1º de maio.

Realmente, os EUA se destacam do resto do mundo. Usam todo o seu poder de influência e devem retomar ao crescimento o mais breve possível. Isso fortalece o dólar no mercado global, e impacta as moedas dos emergentes, como o Brasil, atrasado nas sua campanhas de vacinação.

Por aqui, a bolsa de valores, se arrastando durante o dia, esboçou alguma reação ao fim. Além do efeito vacinas americanas, contribuiu também o “freio de arrumação tardio” no tratamento da pandemia e o processo de mobilização das autoridades públicas. Além disso, há de ressaltar a postura mais realista do Tesouro e do BACEN no gerenciamento das expectativas, depois do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), bem “hawkish”. Ao fim do dia, a Bovespa fechou em alta de 1,5%, a 113.749 pontos, com o dólar elevado em 0,55%, a R$ 5,6705, acumulando no ano +9%.

No front inflacionário, nesta quinta-feira saiu o IPCA-15, em alta de 0,93% em março, depois de 0,48% em fevereiro. No ano o índice acumula 2,21%, e em 12 meses 5,52%, acima do teto da meta de inflação, 5,25%. Mais “gasolina” na fogueira inflacionária, que corre por fora, ameaçando se espalhar.

Uma notícia boa, neste mar revolto, foi o anúncio do governador de SP, João Dória, de que o Instituto Butantã criou uma vacina contra o Covir 19 e já ingressou com autorização de testes na Anvisa. A diretoria acredita iniciar todos os testes já e conseguir mais de 40 milhões de doses antes do final do ano. Nesta quinta, o instituto recebeu o primeiro de quatro lotes da vacina Oxford, mais seis milhões de doses. Mais dois lotes devem chegar neste fim de semana. No computo da pandemia, já são mais de 300 mil mortes, 2.777 no dia de ontem.

Agenda Diária

Na agenda do dia, destaque para a Nota do Setor externo, com dados do saldo em conta corrente (9h30), no terceiro déficit seguido em fevereiro, US$ 2,4 bilhões, e os Investimentos Diretos no País (IDP), US$ 4,180 bilhões a US$ 7,0 bilhões.

Nos EUA, o PCE de fevereiro (9h30) é divulgado num momento em que o presiente do Fed, Jerome Powell, insiste de que as pressões inflacionárias de curto prazo são “transitórias” e que a postura acomodatícia ainda deve durar muito tempo. Na Alemanha, sai o índice Ifo de sentimento das empresas em março (6h).

BALANÇOS – Resultados da Cemig e da PDG Realty, depois do fechamento do mercado. Teleconferências: CPFL Energia, Banco BMG, Cogna e Triunfo (11h), Ser Educacional (11h30) e Locaweb (15h).

Bons negócios e bom feriado a todos!

quinta-feira, 25 de março de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO Quinta-feira, 25/03/2021 Austeridade seletiva

Não parece difícil fazer um balanço do governo Jair Bolsonaro nestes dois anos e mais alguns     meses no poder.

Podemos visualizar ma sucessão de decisões equivocadas, algumas bem intencionadas e poucas, realmente, meritórias. Sua agenda econômica é (ou era) até acertada, mas me parece que ele próprio não está muito convencido disto. São tantos os "estresses" gerados, que esta boa agenda, mais do ministro Guedes, e também do ministro da Infra foram se perdendo pelo caminho.


Quando recém eleito, assumindo, até cheguei a torcer para que desse certo, dada a equipe no ministério, as idéias aventadas, o ingresso do juiz Sergio Moro, Paulo Guedes, Tarcísio Freitas, Marcos Pontes, etc. No entanto, vendo como o presidente eleito se movimentava fui observando que não sairíamos do lugar neste ambiente de bate-bocas e confrontos inúteis. Um presidente eleito, cheio de rancor e ressentimentos, sem a mínima capacidade de governar, sem noção da sua responsabilidade, a não ser bravatas e ameaças.


É constrangedor ele passar pelo tal "cercadinho" do Alvorada e ficar batendo boca com jornalistas, além dos "fiéis". Sim, porque são simplesmente isso, fiéis. Numa simbiose com igrejas neopentecostais de duvidosa reputação (estou sendo elegante!), pastores muito ciosos dos seus ganhos pecuniários potenciais, Bolsonaro foi construindo seu frágil arco de alianças.

 

Continua nesta situação, agora com a participação do Centrão, e estes políticos não pegam leve, jogam pesado.


Fazendo um breve retrospecto.


Este presidente "viveu" 28 anos no Congresso, preocupado apenas com um objetivo: se reeleger e defender as corporações militares.

 

Sendo, assim foi um deputado "corporativista", defendendo interesses bem específicos. Sua produção legislativa sempre foi medíocre. Digamos que ele sentava nos fundos do "baixo clero". Nada de relevante produziu nestes anos todos, nenhuma lei, nada. Apenas brigava pelos militares e pregava uma agenda conservadora de costumes.


Em 2015, quando o país ingressou no segundo ano de recessão, provocada por uma sucessão de erros de política econômica do governo Dilma, Bolsonaro, e seus seguidores, montaram uma estratégia nas redes sociais para fazer do então deputado o candidato anti-PT, “anti-sistema”.

 

Com a Operação Lava-Jato fazendo estragos nas hostes, tanto do PT, quanto do PSDB, Lula encarcerado, o atual presidente tornou-se rapidamente um "fenômeno nas redes sociais". Ele bem aproveitou este váculo. Lembremos inclusive, que antes do pedido de prisão de Lula, ele liderava nas pesquisas eleitorais, com Bolsonaro meio que embolado com Ciro Gomes, Marina e outros.


Houve o estranho atentado, a facada, e ele acabou "beneficiado", pois em torno dele, estimulado pelas pregações evangélicas, surgiu a "idéia" de que ele tinha sido o "escolhido". Ingressamos no segundo turno das eleições com a polarização de extremos, pela esquerda e a direita. Bolsonaro foi “poupado” de participar dos debates contra o PT, de Fernando Haddad. Ao fim, num sentimento anti-PT acabou eleito.


Nesta breve transição foram chamando alguns expoentes da sociedade, muitos recusaram, outros, meio de lado, constrangidos, ficaram de pensar.

 

Acabou conseguindo um super ministro para a Economia - Paulo Guedes. Com ele, vieram vários bons quadros da área econômica, como Castello Branco na Petro, Sallim Mattar nas Privatizações, Mansueto Almeida na gestão pública, etc. Sergio Moro foi convidado e, pronto, talvez, seu grande erro de cálculo, aceitou a missão de Ministro da Segurança e da Justiça.

Entre contradições e paranóias

O problema é que Bolsonaro, como chefe de Estado, de uma das maiores economias do mundo, não se comporta como tal. Não é o caso de comparar com o PT. Todos sabemos o quanto foi nocivo o PT à governabilidade do País, meio que banalizando a propinagem e os esquemas de corrupção.

 

Por outro lado, não devemos cair nesta armadilha de comparações banais. E foram caindo, como "efeito dominó", vários quadros competentes, muitas vezes, por intrigas e fofocas, geradas no tal "gabinete do ódio".


Foram saindo. Gustavo Bebbiano, meio um "braço direito" do capitão, jurista, o orientava, o protegia. Dizem que caiu por ciúme do filho Carlos Bolsonaro. A averiguar. Todas suas declarações, depois, indicavam uma grande decepção. Foi uma aposta que fez, colocou todas suas fichas. Acabou caindo por fofocas. Morreu num enfarte logo depois, na verdade, de desgosto. Tivemos o general Santos Cruz, saindo pelos mesmos problemas, intrigas do tal "gabinete do ódio". E foram saindo. Três ministros da Saúde não aguentaram. Luiz Henrique Mandetta fez acusações graves, sobre o negacionismo do presidente em reconhecer a gravidade do quadro, Nelson Teich, um médico renomado, não aguentou, só um mês; depois, o general Pazuello, que conseguiu montar um cronograma de vacinas, mas não teve a aceitação devida. Dizem que serviu apenas para legitmar a estratégia torta do tratamento precoce, sem comprovação científica. Saiu escondido, pensando como sair dos processos. Agora, chegamos aos atual ministro, meio desorientado, no olho do furacão. Num cenário de mais de 300 mil mortos, mais de 3 mil ao dia!

Em paralelo, na seara da sustentação econômica dos "baixas rendas", dos informais, Bolsoanro conseguiu instituir o "maior programa de redução de pobreza da história do País". Foi usado um bem farto, com R$ 600 por pessoa, virou o ano e veio com mais um programa, mais austero, de R$ 300 em média. Até as vacinas. Uns acham que o seu negacionismo possui cálculo político. Segundo um analista, "ele esticou a corda na negação da gravidade do vírus e os governadores foram obrigados a adotar medidas rígidas de isolamento, cujo efeito tem sido afastá-los da popularidade. Bolsonaro será no momento agudo, aos olhos da população, o "pai da vacina". Será? Não creio. Medidas impopulares, às vezes, são necessárias. Não há como fazer "omelete sem quebrar os ovos".


O problema de Jair Bolsonaro é que ele age sempre "açodado", não tem auto-controle, não "conta até dez"....


É tudo na truculência, no confronto...


E sim! Boa parte do q estamos vivendo na pandemia tem a assinatura dele sim! É culpa dele sim! Ao ignorar a pandemia, não usar máscara, defender que as pessoas continuem vivendo normalmente, provocando aglomerações, Bolsonaro vai na contramão do mundo. Só agora pensa em Comitê de Crise. Em Portugal, a tal coordenação já está acontecendo há um ano, desde o início. Resultado. Mesmo com erros pontuais, são 8 a 11 mortos por dia.


Enquanto isso, Bolsoanro mergulha nas suas contradições e paranóias.


Vamos conversando.


quarta-feira, 24 de março de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO Quarta-feira, 24/03/2021 Tempestade perfeita

Os mercados globais reagiram mal nesta terça-feira ao receio de mais uma onda da pandemia pela Europa. O mesmo aconteceu com os EUA, com todos os mercados sofrendo. No dia, o índice Vix de volatilidade se elevou em 10,2%. No Brasil, soma-se a isso, a totalmente desastrada gestão do governo Bolsonaro, num cenário que não mais escolhe idade e já ceifou quase 300 mil vidas. Somos o epicentro da crise sanitária global.
 
Isso acontecendo num cenário em que uma batalha de narrativas é diária, o que vem desgastando a sociedade e não indicando rumo ou solução.
 
Em discurso ontem, em rede nacional, Jair Bolsonaro tentou se eximir de qualquer responsabilidade, “afirmando sermos o quinto país do mundo em vacinação”, mas se esquecendo de sermos um país continental, com 210 milhões de habitantes. Portanto, não caberia aqui esta argumentação. Mais realista teria sido indicar alguma proporcionalidade e neste front iríamos para o nonagésimo lugar.

Na opinião de analistas e deste escriba, Bolsonaro tentou traçar um “divisor de águas” na condução da pandemia, marcando uma “guinada defintiva da sua imagem”. Poucos parecem ter se convencido. Foram panelaços pelo Brasil a fora! Ontem, terça-feira (23/3), foram mais 3.251 mortes em 24 horas, elevando-se a 298.676, 82.493 novos casos, 12.130.019 total de infectados. O Brasil lidera o balaio das tragédias humanitárias nesta pandemia.

Quando não faltava mais nada nesta “terça-feira cataclítica”, o STF tratou de dar a sua colaboração, com a virada de mesa da ministra Carmém Lúcia, no placar a 3 a 2, contribuindo para colocar o ex-juiz Sergio Moro sob “suspeição”, embora ela se restringido ao caso do triplex no Guarujá.

Foi, literamente, uma “pá de cao” na Lava Jato. Todas as abundantes provas colhidas nas várias esferas do judiciário, no MP da Curitiba, reforçado por vários procuradores, foram praticamente, ignoradas, por escaramuças e interpretações de uma instância máxima do Judiciário. E quem pode contra isso? E quem controla os interesses colocados em jogo nesta contenda? E o que dizer do interesse dos investidores externos neste ambiente de insegurança jurídica? São várias indagações, mas valem estas neste momento.

Neste clima, a ata do Copom, divulgada pela manhã, acaboui quase que “apagada” nas considerações do mercado. Mesmo assim, vamos a ela. Primeiramente, reforçou uma visão mais “hawkish” do BACEN nesta ancoragem ou balizamento de expectativas na política de juro, indicando que o ciclo de aperto monetário deve seguir nas próximas reuniões, não sendo surpresa mais um ajuste de 0,75 ponto percentual, chegando a 1,0 p.p.. E podem não parar por aí. Nas estimativas já se fala em 5,0% a 6,0% de Selic ao fim deste ano. Tudo dependerá do comportamento da inflação, do câmbio e da execução fiscal, em momento caótico por causa da pandemia. Sendo assim, o que pensar do cenário fiscal no longo prazo? Nas curvas de futuro, as curtas e longas seguiram pressionadas nesta terça-feira.

Nos mercados globais, nos EUA, os discursos de Janet Yellen, presidente do Tesouro, e Jerome Powell, do Fed, foram demarcados nas sua áreas de atuação. A primeira não cogita da elevação de impostos diante do mega pacote Biden “colocado na praça”, enquanto que Jerome Powell falou em “recuperação incompleta”, não acreditando em “repique inflacionário duradouro”.

Decorrente disto, e da campanha de vacinação em massa, para grande parte da população adulta, o dólar operou em alta no mercado global, subindo 0,6% contra uma cesta de moedas. Já os Treasuries bonds cederam diante da aversão ao risco e maior demanda por ativos de risco, além do discurso apaziguador de Powell.

Os T2 years cederam a 0,14%, os 10 y a 1,62% e os 20 y 2,32%. Por outro lado, refletindo este clima global amedrontado, as bolsas em NY recuaram. DJ caiu 0,9%, a 32.422 pontos, S&P -0,8, a 3.910 pontos e Nasdacq -1,1%, a 13.277.

Nesta madrugada, início de manhã de quarta-feira (24/03), os mercados de commodities até ensaiavam alguma reação, mas as bolsas na Europa seguiam em queda. Na cotação dos barris, o de WTI avançava 2,4%, depois de recuar 6,2% no dia anterior, o mesmo do Brent, depois de recuar 5,9%.

Continuamos na espiral de mais uma onda da pandemia, com vários países já anunciando lockdowns temporários, como Holanda, Alemanha e França. Segundo a OMS, o aumento no volume de infecções semanal foi de 8% no mundo, contra a anterior. Na Europa, este aumento chegou a 12%.

Tudo isso se justificando pelo atraso no envio das vacinas, nada muito diferente do que acontece no Brasil. O problema é que aqui o presidente só promete (falou em 500 milhões de vacinas neste ano), mas não aceita lockdown, é cético sobre as máscaras, o isolamento social e se aferra neste falso dilema entre economia e pandemia. Enfim, um caos. Anunciou um encontro com todos os poderes da República e alguns governadores, mas deixou de fora vários, como os do Nordeste, Eduardo Leite do RGS e, claro, Joáo Dória, de SP.

Agenda Diária


Dia de dados do Bacen sobre o Setor Externo. Nas estimativas, o saldo em conta corrente deve seguir no negativo, próximo a US$ 7 bilhões e os investimentos externos diretos, em torno de US$ 1,5 bilhão. Teremos também a votação do Orçamento (finalmente!), depois de quatro meses, entre esta quarta e a quinta-feira no CMO e no plenário.

Bons negócios e boa quarta-feira a todos!

Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...