sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

O EXEMPLO DE BOTSWANNA, de Alexandre Pieritz

 Como o segundo país mais pobre do mundo ficou mais rico que o Brasil?

Quando conseguiu sua independência, em 1966, Botsuana era o segundo país mais pobre do mundo. Apesar de ter a extensão territorial da Espanha, o país possuía apenas 12km de estradas pavimentadas, não havia hospitais e universidades e a maior parte da população era analfabeta. No país inteiro, havia apenas 20 pessoas com ensino superior e 100 com ensino médio.

De lá pra cá, muita coisa mudou: Botsuana foi o segundo país que mais cresceu no mundo. Entre 1966 e 2019, a renda per capita do país cresceu 5,3% ao ano, em média. Um desenvolvimento nessa velocidade permite que um povo dobre seu padrão de vida a cada 13 anos, fazendo com que Botsuana ultrapassasse o Brasil em nível de renda na última década.

Botsuana é um dos exemplos mais impressionantes de transformações econômicas da era moderna. O primeiro presidente do país, Seretse Khama, teve grande importância nessa história. Negro e casado com uma mulher branca, enfrentou forte resistência externa de países vizinhos à época abertamente racistas, como África do Sul e Rodésia.

Apesar disso, a liderança foi bem sucedida em fundar as bases de um país próspero. A constituição de Botsuana, escrita com grande influência do partido fundado Seretse Khama, criou mecanismos de freios e contrapesos para impedir a ascensão de regimes autoritários. O país segue sendo a mais longínqua democracia multipartidária da África.

A administração pública privilegiou a meritocracia e a eficiência. Ao contrário de muitos países vizinhos, Botsuana não deu privilégios e vantagens para a população local nos serviços públicos, e inicialmente teve que contar com o auxílio de técnicos estrangeiros em funções chaves da administração pública até que a população local fosse suficientemente educada e capacitada para competir pelos mesmos empregos.

Esses elementos institucionais que fundaram o país foram fundamentais para que a benção dos recursos naturais não se transformasse em maldição. Pouco depois de independente, Botsuana descobriu vastas reservas de diamante. Mas ao contrário da grande maioria dos países africanos, essa fonte riqueza não levou guerras civis ao surgimento de regimes ditatoriais e corruptos. Segundo a Transparência Internacional, Botsuana é o país menos corrupto da África.

A boa governança aliada às receitas da exploração de recursos naturais permitiram que o país expandisse o acesso a serviços essenciais, como a educação básica. Ainda na década de 80, apesar de ser muito mais pobre que o Brasil, Botsuana já nos ultrapassava em escolaridade média. O país também facilitou a vida de quem queria trabalhar e empreender, subindo posições nos rankings de facilidade para fazer negócio e liberdade econômica.

Botsuana ainda é um país de renda média, mas já supera o Brasil em vários indicadores importantes.

Botsuana vs Brasil

▶PIB por habitante: R$ 18,5 mil | R$ 15,3 mil

▶Escolaridade média: 9,6 anos | 8 anos

▶Facilidade para fazer negócios: 87º | 124º

▶Liberdade econômica: 40º | 144º

Botsuana, apesar de ter inúmeros problemas típicos de países em desenvolvimento, é um dos casos mais impressionantes de redução da pobreza no mundo, especialmente considerando seu ponto de partida. O Brasil deve sem tentar se inspirar nos países e experiências que dão certo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

NOTAS LUSITANAS: O QUE NOS ESPERA

Passada a eleição dos presidentes do Congresso, vamos sobrevivendo nesta montanha russa descontrolada de emoções, que se tornou o Brasil. Ora é o presidente a provocar "marolas", ora a mídia, sedenta de sangue, na tese do "quanto pior, melhor". Não tem jeito. Será nesta "disputa" que o País  transitará até 2022. Se é que sobrará algo. A eleição, aliás, parece que já começou. Bolsonaro segue no seu ritmo, gerando fatos, "fale mal, mas fale de mim", mas correndo o risco de inviabilizar seu governo no restante do mandato que lhe resta ou sua reeleição. 

* Sobre a tomada de poder dos políticos do Centrão, tanto por Rodrigo Pacheco (MDB) no Senado, como Artur Lira (PP) na Câmara, se serve de consolo, logo em seguida o governo Bolsonaro enviou uma pauta de reformas, ao ver, bem razoável, colocando as reformas como prioridades, como a Administrativa e a Tributária, sem esquecer de tantas outras, como os marcos regulatórios do gás e da cabotagem, e também as pautas mais polêmicas, de costume, como porte de armas e escola sem partido. 

* Uma boa notícia foi a aprovação da autonomia do Banco Central, Algumas decisões polêmicas, como a vinculação ainda com o CMN, mas como pontos marcantes a definição dos mandatos fixos para os diretores, não coincidindo com o mandato presidencial. Objetivo aqui foi retirar a sintonia entre os mandatos do Executivo e dos diretores do banco. Estes ingressam no segundo ano do governo e saem no segundo ano do mandato seguinte, sob outro governo (ou o mesmo); 

* Lembremos que nos primeiros dois anos iniciais, Jair Bolsonaro pouco se empenhou em levar adiante sua agenda de reformas, diante dos constantes embates com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Pelo menos esta é a impressão que se tem. Neste contexto, cabem algumas considerações. Na batalha da Previdência foi muito mais esforço dos ministros envolvidos, como o da Economia, Paulo Guedes, e o da Justiça, Sergio Moro. Recordemos o "massacre" de ambos os ministros nas comissões temáticas, bombardeados pela oposição, sem apoio dos deputados ou senadores da base envolvidos. 

* A reforma da Previdência, acabou aprovada numa "meia bomba", sem envolver diretamente os maiores causadores para o desequilíbrio, militares e servidores públicos em geral. Foi a possível diante das circunstâncias, não por culpa do ministro envolvido, mas sim pelo baixo empenho da base parlamentar do governo. Claro que Rodrigo Maia também deu sua contribuição, muitas vezes, trancando as pautas. Por outro lado, chamava atenção sempre o fraco empenho do presidente em aprovar as pautas colocadas pelos ministros. 

* E como o governo deve se movimentar ? Qual sua composição de forças para atravessar estes dois anos restantes? Já são recorrentes os comentários que o Bolsonaro deve começar a desmembrar o ministério, criando o Planejamento, recriando a Cultura, o Esporte e a Pesca, abrindo espaço para a turma do Centrão. Estes parecem não querer "sobras", mas ministérios com grandes fatias de recursos, como a Integração Regional, Educação, Saúde. Nestes ministérios as fatias de recursos são maiores. O Centrão está de olho nos mais "apetitosos", claro. O da Agricultura é cogitado, com a ministra Tereza Cristina deslocada para o Itamaraty e o Chanceler Ernesto Araújo indo para a embaixada de Portugal. Pelo menos é isso que circula. O Centrão também não quer saber de Cultura, Esportes ou Pesca, como chegou a cogitar Jair Bolsonaro, atualmente com status de secretarias. 

* Na economia, o auxílio emergencial deve ser anunciado nos próximos dias, fora do teto de gastos. A equipe econômica cogita um crédito extra, com o pagamento de três parcelas de R$ 200, com despesas sob o mesmo mecanismo adotado em 2020 para fazer frente ao combate à pandemia. 




sábado, 13 de fevereiro de 2021

DEBATE ECONÔMICO INTERROMPIDO

Muito se debate na comunidade de economistas. Com razão, boa parte da crise política que vivemos teve origem também nos impasses gerados pelas políticas públicas erradas no final do primeiro ciclo dilmista, entre 2013 e 2014. 

Foi o momento em que a heterodoxia (o que quer que isso signifique) teve mais ascendência sobre a "presidenta", sendo obra a explosão na oferta de crédito concedido, o que jogou a dívida bruta nas alturas naquela ocasião. O desafio então era tirar a economia brasileira daquela armadilha de país de renda média com baixo crescimento, movido apenas pelo perene estímulo ao consumo. Se este não se transformasse em investimentos, cairíamos no buraco do sobre-endividamento e da recessão, o que acabou ocorrendo naquele período. Foi o começo do fim do governo Dilma. Se havia alguma governabilidade antes, esta se perdeu a partir dos anos seguidos de recessão ((2014 a 2016). 

Nosso intuito neste artigo é tentar delimitar o debate em torno das correntes econômicas hoje existentes, defendendo que o que deve prevalecer, assim como a boa formação acadêmica, também a excelência técnica e o conhecimento nos meandros das Finanças Públicas brasileiras. Quadros qualificados existem, ou oriundos do Tesouro, ou de outras áreas. Estes sim deveriam ter o lugar de destaque nos ministérios das áreas, quadros qualificados do serviço público. 

Na verdade, no Brasil o debate econômico parece meio interrompido. Estas duas correntes, dos heterodoxos e dos ortodoxos, pouco se comunicam, pouco dialogam. É uma constante batalha de egos e espaços, travada entre economistas heterodoxos, ou keynesiano, em sua maioria, das universidades públicas, e ortodoxos, "liberais" ou neo-clássicos, grupos de universidades privadas como INSPER, PUC e FGV do Rio de Janeiro. Estes últimos, mais à favor do livre mercado, da "mão invisível" de Adam Smith, são predominantes no mundo, no que chamamos de "mainstream". Os heterodoxos, defensores de um papel mais ativo do Estado, são predominantes no Brasil, meio que na contramão do mundo.

Citando nomes, entre os heterodoxos, poderiamos destacar o ex-ministro Nelson Barbosa, Bresser Pereira da FGVESP, Beluzzo da UNICAMP, José Luis Oreiro, da UNB, outros economistas da UNICAMP e da UFRJ, Paulo Gala, um economista misto de profisisonal de mercado e da academia, dentre tantos. No outro espectro, Samuel Pessoa da FGV, o ex-presidente do Bacen Ilan Goldfajn, um dos formuladores do Plano Real, Gustavo Franco, grande parte dos economistas da PUC e da EPGE da FGV do Rio de Janeiro, Marcos Lisboa, um dos expoentes deste grupo, presidente do INSPER, etc. O ministro Paulo Guedes também, até por ser formado na Universidade de Chicago, deve ser incluído neste segundo grupo.  

Para os economistas da PUC, Pedro Ferreira e Frageli, entre os heterodoxos o nível de preços é determinado pela oferta, enquanto que o nível de atividade pela demanda; para os economistas ortodoxos, ou do "mainstream", o oposto acontece. Isso nos leva a acreditar que a produtividade dos fatores de produção tem um papel essencial na melhor alocação de recursos e na eficiência dos processos produtivos, para estes ortodoxos. Segundo eles, "se o nível de preço - e consequentemente a inflação - fosse um problema exclusivamente de oferta, a simples redução da taxa de juros estimularia investimentos que gerariam expansão desta produção, que por sua vez, provocaria a queda dos preços." 

O problema maior desta leitura é que o aumento de investimento somente gera elevação da oferta no futuro, mas no curto prazo constitue aumento de demanda. Soma-se a isso, a mesma queda de juros, destinada a estimular o investimento, também impulsiona o consumo. Quando a economia opera perto do pleno emprego, juros mais baixos eleva a demanda, pois não há capacidade produtiva ociosa para a oferta crescer, o que resulta em mais inflação. 

Historicamente, os ortodoxos ou (neo) clássicos são expoentes  do pensamento econômico mais liberal. Têm como expoentes David Ricardo, Alfred Marshall, Alfred Walras, Adam Smilh e sua "mão invisível". Para este, se todos se empenharem ao máximo para obter resultados, a coletividade acabará se beneficiando. A economia tende a operar no longo prazo sempre no equilíbrio e pleno emprego de recursos. O problema é que, muitas vezes, no curto prazo choques exógenos adversos não previstos acontecem e inibem a iniciativa dos agentes privados. Estes, em movimento defensivo, tendem a se retrair, na expectativa de uma reversão a longo do tempo. É aí que entra o "keynesianismo".

Surgido entre os anos 30 para 40, como resposta a esta prostração dos agentes econômicos, diante da retração da demanda, do emprego e da renda, Keynes apregoava o aumento das despesas fiscais para impulsionar, via "multiplicador fiscal", os investimentos, muitas vezes em grandes projetos, o que voltava a gerar renda e emprego e girar a “roda da economia”. John Maynard Keynes, através da obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), começa a pensar num papel mais ativo para o Estado e, a partir daí, em políticas anti-cíclicas, evitar momentos de "flutuação da demanda efetiva". 

Muitos argumentam, inclusive, que já havia alguns traços de "keynesianismo" nas politicas do nacional socialismo alemão, o que deu origem ao nazismo de Adolf Hitler, a partir dos anos 30. Várias obras públicas, abrindo espaço para novos investimentos privados, nas chamadas "externalidades positivas", aconteceram na Alemanha pós-República do Weimar nos anos 30. 

A partir dos anos 70, no entanto, com os choques de petróleo, estas políticas acabam meio de lado, pois tivemos o que os economistas negavam então, desemprego com inflação, no conhecida "estagflação". Os keynesianos não conseguem responder a este fenômeno. Sim, porque para eles, o fenômeno do estímulo econômico acontece pelo lado da demanda.  

Na visão dos ortodoxos, "o baixo crescimento brasileiro é um fenômeno do lado da oferta, ligado à baixa eficiência econômica. Mesmo controlando por diferenças de intensidade de capital físico e de qualidade da mão de obra, o produto por trabalhador brasileiro permanece muito menor que o dos países líderes, algo entre 50 a 60% abaixo". O desafio passa a ser, então, tornar o País mais eficiente, menos trabalhadores, mais produção e produtividade. 

Para eles, "se o grosso de nosso atraso não está no capital, aumentar a taxa de investimento ajuda, mas não resolverá o problema. Um economista com inclinações heterodoxas discordaria. Para os mais radicais, o lado da oferta é irrelevante, pois o crescimento de longo prazo se daria por uma sequência de estímulos à demanda de curto prazo. O importante seria aguçar continuamente o "espírito animal" dos empresários e investidores".

Há pouca ou nenhuma evidência de que o mundo funcione assim. Isso não impede que se insista em políticas de expansão da demanda - via maiores gastos públicos ou redução, em qualquer cenário, da taxa de juros - como estratégia de crescimento.

Concluem então "que quando se vai pelo lado da oferta, as teorias heterodoxas logo aparecem para propor afetar preços relativos para incentivar a produção local e a inovação, seja via proteção tarifária e substituição de importações, créditos subsidiados, ou incentivos fiscais. No entanto, não há estudos consistentes que mostrem que essas políticas funcionem no longo prazo". 

Nos dias atuais, com a pandemia, os keynesianos voltaram à moda. Isso também aconteceu na crise de 2008 o que nos leva a concluir que, sim, parece consenso hoje que o Estado deve intervir em crises, mas o desafio é saber em que intensidade. Além disso, esta intervenção pode ou deve acontecer no limite. Deve ser temporária. 

Diante da alternativa ao aumento necessário de despesas públicas, para atender ao grande número de infecções e suprir recursos às infraestruturas de saúde adicionais, começa a surgir, aqui e acolá, a necessidade de taxar grandes fortunas, sempre uma solução aventada por um certo vício pelos que "acham pecado enriquecimento excessivo em país cheio de contrastes e pobreza". Se esquecem estes, no entanto, de reconhecer que muitas das desigualdades no País acontecem também pela baixa qualidade dos serviços públicos prestados, por "agentes públicos" que realizam desvios recorrentes, muitos em empresas públicas. Sobre isso, o silêncio. 

Portanto, o PAPEL CRUCIAL do Estado deve ser gerar condições favoráveis, externalidades positivas, para que o setor privado deslanche. Como diria o assessor do Clinton, "é a economia estúpido". É ela sim a gerar oportunidades de renda e emprego à sociedade, lutando-se por um serviço de saúde de primeiro mundo. Não faz sentido o ESTADO atuar como atua no Brasil, a sustentar castas de privilegiados no serviço público, muitos, "amigos do rei", com subsídios fiscais. Como resultado, temos a baixa produtividade agregada e o lento crescimento no Brasil nas últimas décadas. 

Achamos, portanto, que não há apenas uma teoria "certa". Passando o teste da lógica interna, há teorias capazes de explicar um número grande de fenômenos econômicos e que não foram - até o momento - derrubadas por evidência empírica robusta. A ampla dominância das teorias ortodoxas na academia econômica global talvez se explique por seus resultados, não por fatores ideológicos, como querem alguns. A insistência de parte da heterodoxia em teorias e políticas com baixa aderência aos dados, mas fortes cores ideológicas, explicam em parte sua perda de popularidade mundo a fora. São tantas distorções, que se torna difícil defender. 

Vamos conversando.  


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

E AGORA ?

Fim de papo. Definidas as eleições no Congresso, muitos acham que agora começa de fato o governo de Jair Messias Bolsonaro. A pauta de prioridades, a serem votadas nos parece bem extensa (ver ao fim), mas muitos consideram pendências, pois este governo teve dois anos para fazer passar estas decisões e não passou. Muitos vão argumentar que foi o Congresso de Rodrigo Maia a engavetar muitas destas medidas. Será mesmo? Claro que havia uma "guerra suja" no Congresso pela aprovação de muitas das medidas a serem discutidas e aprovadas, mas observando a agenda pesada no Congresso, tanto na Câmara como no Senado, não dá para achar que apenas um personagem foi responsável pelo atraso ou não avanço destas medidas. Mais parece que o governo não construiu uma articulação responsável e competente para fazer com que estas medidas avançassem no legislativo. Surge então a proposição de que muitas destas ficaram pelo caminho, pelo pouco empenho do presidente em fazê-las avançar. As reformas tributária e administrativa não saíram do lugar, o mesmo acontecendo com a decisão por tornar o banco central independente, o marco do gás, da cabotagem, as privatizações, etc, etc. É opinião crescente etnre os formadores de que a renovação das mesas diretoras no Congresso não foi um passo no sentido de avançar na pauta de reformas. Tratou-se, na verdade. de um movimento defensivo para se evitar o risco do "impeachment". Ou seja, a maior dificuldade na aprovação das reformas se encontra no Executivo. Nestas eleições do Congresso, Arthur Lira, do PP, foi eleito para a Câmara, com 302 votos, contra 149 de Baleia Rossi do MDB; no Senado, Rodrigo Pacheco, do DEM, conseguiu fácil a vitória, com 57, de 78, votos, contra 21 de Simone Tebet, do MDB, candidata que mais fez frente. E agora? Como configura o cenário de governabilidade do presidente Bolsonaro. Quais blocos ele deve colocar na rua? Esta é a pergunta que todos se fazem, mas toda cautela é pouca.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

DEBATES INTERMINÁVEIS

Continuamos açodados. Somos um país dividido ao meio e brigando entre extremos. É complicado o uso de uma régua para medirmos estas divergências, totalmente descalibradas.

 Será que não acharemos nunca a "medida certa dos fatos"? É por aí que vivemos um pandemonio de versões e opiniões contrárias. 

Um dos debates mais infindáveis é o entre economistas heterodoxos, ou keynesiano, e mais "liberais", ou neo-clássicos no Brasil. Estes últimos, mais à favor do livre mercado, os primeiros, defensores do papel mais ativo do Estado numa economia de mercado.

Historicamente, o "keynesianismo" surge nos anos 30 para 40, pela necessidade do aumento das despesas fiscais, a impulsionar, via multiplicador fiscal, os investimentos públicos, muitas vezes em grandes obras, gerar emprego e renda, para as pessoas consumirem a fazerem a “roda da economia” girar outra vez. Em poucas palavras, atuaria nas duas pontas, mexer com a carga de impostos, elevando-a ou reduizindo-a, e com as despesas, mas elevando-as, para gerar aumento de consumo agregado, ou demanda (efetiva). Foi John Maynard Keynes, na publicação da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), que começou a pensar o sistema capitalista, como sendo este o mais eficiente e justo possível. O Estado, a partir daí, passava a desempenhar um papel mais ativo, com políticas anti-cíclicas em momentos de flutuação de demanda. 

Não cabia ao Estado se sobrepor ao setor privado, mas estimulá-lo nas decisões cruciais de investimento. Políticas macro-estratégicas teriam que ser pensadas, mas sem os excessos do setor público. Pelo sucesso das políticas públicas anti-cíclicas dos anos 30, pós depressão, a ingerência do setor público passou a ser um norteador, a ponto de uma lei anacrônica ser criada na época, em 1946, a Lei do Emprego, na qual o setor público tudo faria para preservá-lo, como se fosse este seu papel. Não há como negar, no entanto, que os anos 50 e 60 na Europa e no mundo livre, foram permeados de prosperidade, no que muitos denominaram de "anos dourados". 

Muitos argumentam, inclusive, que já havia alguns traços de "keynesianismo" nas politicas do nacional socialismo alemão, o que deu origem ao nazismo de Adolf Hitler, a partir dos anos 30. Várias obras públicas, abrindo espaço para novos investimentos privados, nas chamadas "externalidades positivas", ocorreram na Alemanha dos anos 30. 

Nos anos 70, no entanto, com os choques de petróleo, estas políticas acabam meio de lado, pois tivemos o que os economistas negavam então, desemprego com inflação, no conhecida "estagflação". Os keynesianos não conseguem responder a este fenômeno. 

Em paralelo, haviam os que defendiam o mercado como soberano na alocação eficiente de recursos. Parece-me claro, sim, que o setor privado, pelo viés do lucro, da iniciativa privada, do interesse próprio, do individualismo, tende a ser mais eficiente na busca de resultados favoráveis. 

No entanto, desregulamentar totalmente determinados mercados tende a ser desastroso para os que pensam desta forma. Lembremos da crise do subprime quando esta desregulamentação do mercado financeiro tomou curso o que resultou numa brital securização das operações de financiamento imobiliário. Por isso, o debate sobre o meio do caminho, uma alternativa intermediária. 

Deixando q o mercado decida, perde-se quando um fenômeno como o desta pandemia acontece. O que fazer? 

A ação do governo passa a ser a primeira decisão, o que precisa ser feito é atuação ativa do Estado suprindo carências de quem é acometido de um vírus mortal como este. 

O grande passivo social existente, deriva de décadas de passividade e permissividade no trato dos problemas econômicos que acabam por se espalhar pelo social. A carga fiscal absurda do País, em torno de 36% do PIB com zero retorno, foi criada para sustentar um sistema de gastos públicos ineficiente e perdulário, fruto da Constituição Federal de 1988. Fruto também de um sistema de castas no serviço público, na qual não se pode mexer nos privilégios dos servidores públicos, numa máquina inchada e "alienada", em q todos se acham no direito, mas ninguém parece disposto a abrir mão de algo. 

Nos dias atuais, com a pandemia os keynesianos voltou a moda, sendo apregoado por todos. Isso também aconteceu na crise de 2008 o que nos leva a concluir que, sim, existe um toldo debate sobre se o Estado deve intervir em crises e como. Claro que deve intervir sempre! Como alternativa ao aumento necessário de despesas públicas para atender ao grande número de infecções e pela necessidade de infraestruturas de saúde adicionais, já se começa a pensar na alternativa de taxar grandes fortunas, sempre uma solução aventada por um certo vício pelos que enriqueceram em país tão cheio de contrastes e pobres. 

Se esquecem estes, no entanto, de reconhecer que muitas das desigualdades no País acontecem também pela baixa qualidade dos serviços públicos prestados, por "aspones" que ganham mais de 40 mil reais por mês, pelos inúmeros desvios recorrentes, muitos em empresas públicas. Sobre isso, o silêncio. 

Muitas das categorias de servidores públicos, os militares, por exemplo, são também uma tremenda fábrica de desigualdades. Sobre os militares, é tabu falar algo, até porque o capitão foi meio que um lobista no Congresso em torno deste estamento público. 

O problema é que a economia precisa estar azeitada e o setor público atuar, onde o setor privado não tiver interesse, em políticas inclusivas aos pobres, mas temporárias, gerando oportunidades, via treinamento, para que eles saiam da sua condição de fragilidade econômica e social. 

O ESTADO precisa criar mecanismos de controle ao setor privado e a atuação das  esferas de governo, mas não deve obstruir quem queira empreender, quem queira se lançar ao risco. 

Portanto, o PAPEL CRUCIAL do Estado é gerar condições favoráveis para q o  privado deslanche. Como diria o assessor do Clinton, "é a economia estúpido". É ela sim a gerar oportunidades de renda e emprego à sociedade, lutando por um serviço de saúde de primeiro mundo. Não faz sentido o ESTADO atuar como atua no Brasil, a sustentar castas de privilegiados, muitos, amigos do rei, com subsídios fiscais. Estes precisam passar por conselhos fiscais para aprovados. 

Enfim, eu acho mto temerário falar de liberalismo ou de keynesianismo num país tóxico como o  Brasil. São tantas distorções que se torna uma piada qualquer consideração em favor ou contra algo. 

Já foram feitos levantamentos, e chegou-se à conclusão que são bilhões, trilhões recebidos de governantes, para um carro com carga fiscal de quase metade do seu preço final. 

O sistema fiscal brasileiro é tão distópico que a carga de impostos acaba por ser uma indecência. Nada compensa nada nesta terra. 

E ficamos acompanhando estreitamente um governo inépto, não que outros não o tenham sido. Mas Jair Bolsonaro usou e abusou de bons ministros nomeados. Mas depois os descartou. Mesmo assim, chegou até aqui. Será que conseguirá terminar o mandato?? 

São tantas decisões desastradas, tantas bobagens ditas, que não dá para dizer....aaahhh é a imprensa a culpada ! NÃO! Para nosso desassossego, não é APENAS a imprensa, e o presidente também!

 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

2021 na pressão

A "biruta" dos mercados deu uma endoidada por estes dias. Tanto os ativos globais, como os domésticos volatilizaram fortes, por variadas razões. 

No Brasil, o mercado de ações ingressou numa espiral de realizações (seis pregões seguidos de queda do B3) e o dólar deu uma "esticada" a R$ 5,41. Por outro lado, no mercado de juro a curva curta deu uma estabilizada e a longa declinou um pouco. A justificar isso uma leitura mais "dovish" do Banco Central, devendo antecipar o processo de aperto monetário, depois de comunicado da ata do Copom e da retirada do termo "foward guindance" na reunião. Isso reforça a tese de que o juro Selic nominal a 2% ao ano não representa o momento econômico que vivemos. Está claramente fora do equilíbrio. Há, inclusive, no mercado os que consideram a taxa mais apropriada para o momento, com pressões inflacionárias derivadas do câmbio esticada, em algo próximo a 4,5% ao ano.  

Neste contexto de ajuste, provocado por essa mudança de leitura, ainda existe alguma expectativa em saber como o governo deve financiar a extensão do auxilio emergencial, pensando na neutralidade sobre o teto de gastos. Será possível? Paulo Guedes já levanta esta possibilidade da volta do auxílio pelo período de dois a três meses, até completar o ciclo de vacinação em massa da população. Mas será que o ciclo completo de vacinação em massa só deve durar três meses. E qual a sustentabilidade da dívida pública e do déficit, em trajetória explosiva?

O fato é que esta segunda onda (ou vaga, como dizem em Portugal) da pandemia vem se mostrando mais rigorosa do que a primeira, entre março e abril do ano passado. O mundo passa por uma prova de resistência ainda mais pesada, com o vírus se espalhando mais rapidamente e sofrendo estranhas mutações, da Amazônia, do Reino Unido, da África do Sul, entre outros lugares.

Soma-se a isso, por aqui no Brasil ruídos causados pela total falta de governabilidade do presidente Bolsonaro. A todo momento são declarações intempestivas dadas, tensionando ainda mais as relações em sociedade. O que é fato é que ele não consegue pacificar os vários extratos sociais, sua relação com a imprensa, sempre em confrontação e bate-bocas. Em plena pandemia, quando as várias esferas de governo, os representantes da sociedade, deveriam estar unidos e fortes, o que se observa é o contrário, dissipação e acusações mútuas.

Para piorar, na ausência deste apoio emergencial, a popularidade de Bolsonaro só cai. Pesquisas de opinião indicavam que a avaliação "regular a bom" recuou ainda mais, de 32% para 26% e a "ruim a péssimo" aumentou, assim como o indicador de rejeição. Várias carreatas aconteceram nas capitais por estes dias, além de panelaços.

No mundo político, às vésperas das eleições no Congresso dos seus presidentes, muito se comenta sobre a possibilidade de colocar em plenário os pedidos de "impeachment" (os pedidos já passam de 61!). A "fratura exposta ideológica" na sociedade, por variadas razões, se mantem ou só piora. Não parece haver sinal de consolidação. Em leitura figurativa, cresce, isso sim, o receio da perda do membro!

Pela leitura de muitos, para que o processo de “impeachment” avance, o presidente precisa estar na lona em termos de popularidade, sem apoio parlamentar, com mobilização popular contrária, ou então envolvido em algum caso de corrupção. Na verdade, é o conjunto destes fatores, da obra, a definir seu destino. Não nos parece que tenha chegando a tanto, mas pelo “andar da carruagem”, mantidas as condições de temperatura e pressão atuais...Não será surpresa se ele não completar seu mandato.  

No plano global, alguns fatores devem ser lembrados. Temos o avanço da Covid e o processo de vacinação muito lento em diversos países, movimentos especulativos de “hedge funds” ocorreram por estes dias, o que fizeram o índice de volatilidade VIX disparar e há incertezas sobre a dimensão do pacote fiscal norte-americano anunciado. Por lá, as declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, não agradaram o mercado. Apesar do banco central americano ter feito o que se esperava nesta semana, mantendo o juro e os programas de suporte, o chairman do Fed disse que ainda há "um longo caminho a ser percorrido" para alcançar as metas de inflação e emprego.

Enfim, neste momento não existem motivos para estarmos otimistas ou confiantes. Ainda vivemos um período crítico, de transição e incertezas sobre o futuro. Pairam dúvidas sobre o ritmo de vacinação, disponibilidade de insumos, e normalização da economia global e daí, dos mercados. Difícil saber para que direção se guiar.

O momento é de espera. 

Vamos conversando.

Julio Hegedus Netto, Economista, Doutorando UÉvora

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

TENTANDO ENXERGAR O FUTURO


O que pensar do futuro num país conflagrado em que todos têm opinião sobre tudo, mas certeza sobre nada? 

Não dá para levar a sério negacionistas, se sustentando por "placebos", "mata-piolhos" e quetais, no combate a um vírus devastador, que já levou a vida de mais de 205 mil pessoas no Brasil. Se fosse isso, não teríamos mais o problema do virus, bastava o tal "tratamento precoce" e tudo estaria resolvido. A OMS teria chancelado este "tratamento", este coquetel e a crise estaria superada. "Aaahhh, isso não avança pois existe um complô comunista!"...

Por favor, menos delírios. E o pior é que quando se pensa nestas "articulações" malucas, os delírios partem de ambos os lados ou espectros ideológicos, da extrema direita, governando este País, até a extrema esquerda. 

Bom, mas o tema deste artigo não versa sobre esta "salada ideológica", esta polarização inútil, que se espalha pelo País. 

Nosso objetivo aqui é achar um "norte" para tentar navegar por este "ano da vacina" (que bom!), do recém eleito Joe Biden no governo norte-americano (tirando Donald Trump e colocando em cheque o populismo de direita no mundo), e no Brasil, essencial, da discussão das reformas, para mim, algo inadiável para pavimentar o caminho dos próximos tempos. 

A vacina saindo, mesmo com tantos ruídos e imbecilidades pelo caminho, já será um bom avanço, algo "libertador", por abrir caminhos para a "normalização" na vida em sociedade. Claro que não será tomar a primeira dose da vacina e pronto, tudo resolvido. Vamos voltar a viver sem máscaras, sem alcool gel, abraçando a beijando a todos. Não! Nada disso! Ainda virá a segunda dose, várias etapas de grupo de pessoas a serem vacinadas, e toda cautela será necessária. 

Calcula-se que pelo este ano de 2021 será percorrido neste processo. A imunização total, talvez apenas lá para o início de 2022. Assim esperamos.   

Outro ponto a destacar é o retorno do pragmatismo e do bom senso político na maior potência do mundo, os Estados Unidos. Donald Trump pode ser afastado em defintivo do mundo político ("impeachment" agora no Senado norte-americano) e a trilha liberada para as políticas mais responsáveis, muitas vezes, mais social democratas. Claro que, neste contexto, a trajetória da dívida pública norte-americana se tornará uma preocupação a mais, a o risco de lockout presente a cada final de ano fiscal.

Retornando ao Brasil, a agenda econômica, de reformas estruturais, nos parece o maior desafio para este ano. Sim, porque continuamos ladeira abaixo nos indicadores Doing Business no Banco Mundial. Nosso ambiente de negócios é altmente tóxico e a desindustrilização segue como mantra. Por isso, a urgência desta agenda de reformas. 

A começar pela reforma da Previdência, muito mais ambiciosa quando formulada pela equipe econômica, com regime de capitalização, dando a cada um a responsabilidade pela sua poupança acumulada, passando por "ajustes pesados" nos servidores públicos e nos militares, estes sempre poupados pelos diligentes lobbies, fechando em reformas pesadas nos estados e municípios, focos centrais dos desequilíbrios estruturais hoje existentes no setor público. Ou seja, a reforma do regime de Previdência do Paulo Guedes não acabou. Foi deixada pelo caminho, era aquilo nas condições políticas dadas, e me parece óbvio o pouco empenho do presidente Jair Bolsonaro. 

A reforma Tributária, outro arremedo, com a unificação de uns poucos e uma tímida rearrumação da carga fiscal sobre o sistema econômico. Acabar com o ICMS, "promotor" de tantas "guerras fiscais" no passado? Criar um imposto único, o IVA? Debater, de fato, a adoção de um "pacto federativo"? Não. Claro que o desgaste político em torno das reformas é inevitável, e o presidente não parece muito disposto a passar por isso. 

Por fim, a reforma do Estado, uma reforma essencial e urgente quando se observa que boa parte das despesas obrigatórias, que só crescem e comprometem o orçamento e a gestão do governo, estão "escondidas" na rubrica Pessoal e Encargos, incluindo aqui inativos que recebem salário integral. Então vamos combinar o seguinte. Ou cortamos este benefício e limitamos a 5,4 mil reais o salário dos aposentados, como todos que recebem INSS, ou nos locupletamos todos e acabamos com o regime previdenciário. Não dá para sustentar esta "fábrica de privilégios" (segundo Paulo Guedes). 

Não dá é para um cidadão ser privilegiado, por ter um sindicato específico de servidores públicos, sempre fazendo lobby no Congresso, contra a situação "pulverizada" de milhares de brasileiros, sem esta representatividade aguerrida e focalizada. 

Isso não me parece razoável! 

E eu me estendo a algumas áreas das empresas públicas, verdadeiros "cabides de empregos" e de privilégios, desde a Petrobras, passando pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica e BNDES. Este último, aliás, vive do repasse do FAT e "turbina" seus lucros em operações de mercado. Assim se torna fácil ser uma empresa lucrativa. Funcionários do BNDES, acumulando vários penduricalhos, se aposentando com mais de 40 mil reais, acima do teto, se refletindo na inviabilidade do fundo de pensão Fapes. É mole?? 

Quando citadas as empresas, me esqueci de comentar outro desafio do ministro Guedes, o pacote das privatizações. Por onde andam? Por que não avançam? Correios, Eletrobras, parte do BB, subsidiárias da Petrobras, estradas diversas, aeroportos, tudo já deveria ter ido para fora. 

Será que este governo, será que o Bolsonaro teria coragem para tanto? Será que ele dará o necessário apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para tocar esta agenda em 2022? 

Eu não acredito...

Vamos conversando...

 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

UM PUXADINHO

O Brasil precisa sim ser revirado de trás para frente, de cabeça para baixo, ao avesso. Uma revolução nos costumes, na forma de pensar, na seriedade no trato dos diversos temas, na gestão, nos modelos de gerenciamento, precisam sim passar pela mente dos brasileiros. 

Uma pessoa lúcida, equilibrada, que busque o entendimento, mas assertiva e determinada, agindo de forma corajosa, realmente, para enfrentar os interesses, precisa surgir para as eleições de 2022. Uma pessoa com a razão ao seu lado, sabedora do que deve ser feito, com bom senso e uma disposição para enfrentar abusos e interesses escusos. 

No setor público não dá para manter uma "casta de servidores privilegiados", mobilizados por sindicatos aguerridos, mas de costas para a sociedade e a verdadeira dimensão da "coisa pública". Não faz sentido a maior aspiração de um jovem ser fazer concurso e ir para as mamatas e estabilidades do serviço púiblico. Este deve ser vocação, sacrifício, não um "nicho de privilegiados".  

Não podemos fortalecer o setor público, às custas do definhar do setor privado, até porque este mesmo setor público precisa de arrecadação federal, obtida pelo sistema econômico, pelas empresas, pelas famílias, para assim manter seus fluxos de despesa. 

Daí a indagação: mais de privilégios e sinecura e do aumento de arrecadação, da carga de impostos sobre a iniciativa privada? 

Há um cansaço perceptível. 

A mídia se aproveita e o "presidente" atual vive a gerar tensões, bate bocas, que não levam a nada. 

A última foi a sua surpreendete grita sobre as decisões do presidente do Banco do Brasil, André Beltrão, de saneá-lo, defendendo seis mil bancários no PDV e a redução do número de agências bancárias. Em resposta, Bolsonaro, disse que iria demitir o prisidente e que o momento era inadequado. Se Jair acha q o setor bancário não precisa passar por um "enxugamento pesado", pensar o quê? 

Isso é, aliás, um fenômeno global. Os grandes bancos, no Brasil e no mundo, vão passando por transformações, dada a emergência da internet, das operações virtuais. O pobre presidente do Banco do Brasil fez o certo. É preciso passar sim por um "profundo saneamento do banco". A verdade é que o BB, como tantos "elefantes brancos", é pesado, ineficiente e vem perdendo share de mercado para a concorrência. 

Aí chega o presidente e diz que não vai fazer nada disso e que o pobre presidente do BB está demitido. 

Como fica o PAULO GUEDES numa hora destas? Sim, porque a agenda liberal do ministro, o programa de privatização e de liberalização da economia vem sendo ignorado! Desde sempre. 

Se eu fosse o Guedes, pegava o boné e um abraço, ia embora. Mas não. 

Ele se cala, engole em seco e entuba mais esta loucura do "capitão". Na nossa opinião, mais um enigma a ser decifrado neste comportamento do "chicagoboy". Um doutor por Chicago se sujeitando a humilhação por um cidadão sentado na cadeira, mas sem a mínima qualificação!!!  

Guedes entubou uma reforma da Previdência, totalmente descaracterizada, não consegue avançar na sua agenda de reforma, a Administrativa e a Tributária se resumem a poucas medidas! Isso torna sua gestão na Economia, na Fazenda, um "arremedo", um puxadinho. 

Faz o possível diante das circunstâncias políticas? Sim, mas quem gerou estas circunstâncias altamente tóxicas para o avanço da gestão econômica? 

Vamos conversando. 


quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Papo de Economista: 2022 É LOGO ALI

Papo de Economista: 2022 É LOGO ALI: Muito se comenta que a eleição de 2022 acabou, precipitadamente, antecipada. Isso é o que acha, por exemplo, o vice-presidente general Hamil...

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

2022 É LOGO ALI

Muito se comenta que a eleição de 2022 está sendo, precipitadamente, antecipada. Isso é o que acha, por exemplo, o vice-presidente general Hamilton Mourão. Uma voz lúcida, porém dissidente neste governo. Acha ele que não seria o momento para já começarem as disputas e ataques visando 2022. 

Claro que não dá para esperar nada diferente de Jair Bolsonaro e João Dória, protagonistas desta "contenta". E logo na proximidade do calendário de vacinação, ou com a tal da "vacina chinesa" Coronavac na berlinda, além de várias outras, como a russa, a americana, a inglesa... 

Achamos ser, absolutamente, injustificada a postura de ambos os atores da cena, Bolsonaro, ideologizando tudo, se sentind perseguido, e contrário à vacina chinesa, e João Dória, querendo aprová-la à "toque de caixa", mesmo sem a "terceira etapa de testagem". Achamos que tanto o capitão, como Dória, estão tendo uma conduta temerária neste episódio. Algo totalmente arriscado. 

Há inclusive o debate dos que acham que antecipar campanha é se queimar na largada e chegar ao fim muito mais desgastado.  

Na verdade, se analisarmos as eleições de 2022,- embora estes eventos sejam iguais a nuvens, a cada momento de um jeito - chegamos a conclusão de que esta tem que passar pela alterntativa de uma "terceira via", um candidato de centro ou de consenso, mais equilibrado. A dúvida é saber se este conseguirá "capitalizar" e mobilizar a sociedade como um todo, ainda muito polarizada. 

Uma única certeza que se tem neste momento é que uma solução alternativa deve ganhar espaço diante do fracasso de 20 anos de populismo no Brasil. Com certeza, que o possível candidato de centro precisa de alguns predicados. 

  • Tem que ser um líder de verdade, um presidente que mobilize a opinião pública, pelos seus predicados e não defeitos. Por exemplo, tem que "demonstrar a dor do povo" com esta pandemia, sendo solidário, condoído até. Não dá para se comportar de forma irresponsável, relativizando as 180 mil mortes. Ou então proferir frases lapidares como "todos vamos morrer um dia", "é uma gripezinha", "lamento pelas mortes". 
  • O verdadeiro líder de uma nação deve trazer conforto aos cidadãos que perderam seus entes queridos. É intolerável o comportamento do presidente Bolsonaro, por exemplo, e estes atos deveriam sim, ensejar "crime de responsabilidade".
  • Um presidente, um verdadeiro estadista, deve ser o "farol da nação". Seus exemplos devem ser seguidos, suas atitudes, suas decisões, respeitadas!! Isso! Ele tem que ser respeitado e as pessoas atraídas pela sua simpatia e presença de espírito. Podem até discordar, mas a manter a educação e a elegância no trato interpessoal. 
  • Cito como exemplo o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, um professor aposentado, que se mostra ser uma pessoa afável, compreensiva, presente nos momentos mais importantes. E é candidato à releição agora em janeiro de 2021, contra a candidata do PS, Ana Gomes. Deve se reeleger. 


Vamos conversando. 




sábado, 12 de dezembro de 2020

O QUE NOS RESTA

 Por estes dias tentei transitar por um grupo na Internet, liderado por um economista heterodoxo famoso. Para quê! Tentei questionar certos mantras desta turma. Sim, porque me parece que todos se guiam por alguns pilares do pensamento "mais a gauche".

Um deles é de que o Estado é "Deus Pai", todo poderoso, todo protetor, nos seus vários tentáculos. Quem pensa diferente, é logo taxado. Você é ortodoxo, é liberal...

Para eles, o Estado é empreendedor, promove o crescimento, protege os mais pobres, tem mil e uma utilidades e serve também para dar nacos de poder para a classe política. Estatais, então, são o alvo preferido, sendo evidência, que todos os desvios nascem nestes locus. Serve também para a concessão de linhas de pesquisa, e várias vantagens ou sinecuras, aos servidores, que lá ingressam, ou por indicação política, ou, muito meritório, por concurso.

Nada contra. Muitos atravessam meses estudando para alguns concursos, todos, em sua maioria, correndo atrás da estabilidade na vida, da previsibilidade aos próximos anos. E talvez seja este o maior pecado dos empregos públicos, a tal da estabilidade. Comenta-se que esta foi criada para se evitar "perseguição política", o tal do "assédio moral".

O fato é que muitos são os grupos a pensarem dentro dos seus quadrados, dos seus mundinhos de conforto, muitos criados nas universidades públicas deste País. E estes vão, cada vez mais, se tornando ambientes em que o patrulhamento e o "pensar diferente" se torna algo difícil, uma tarefa de coragem. E o que mais me choca é que fala-se em "gado" sobre o eleitorado do presidente Bolsonaro. E aquilo é o quê?? É tão gado quanto.

Até discussão de Marx, na veia mesmo, observamos como fato. Quando num Mestrado da UFF, no início dos anos 90, fiz um curso de Economia Política na UFF em que a grade era ler os "grundises" de Karl Marx, os "tomos" do "Das Capital" no seminal em alemão. Tudo bem. Isso aconteceu em 1990. Mas e agora???

Naquela época, o curso de Economia Política só se dava isso...Karl Marx nos originais.

Se isto não era lavagem cerebral...Num curso de Economia Política ou História do Pensamento Econômico, parte-se do pressuposto que iremos ler os Clássicos até o século XIX...Adam Smith, David Ricardo, Malthus e também o bardo alemão Karl Marx.. Depois, ao florescer o séc XX, ensina-se neo-classicos, marginalistas, Leon Walras, Jevons, Alfred Marshall...ingressando finalmente em John Maynard Keynes, o mais marcante economista do século passado.

Normal, tinha-se que ler todos os clássicos, marxistas, neoclássicos, Keynes, etc, mas dentro de um contexto histórico. "O pensador tal viveu na Inglaterra vitoriana, no século XIX, pós Revolução Industrial, no avanço da produção em massa, da economia de escala, mas deixou de fora os trabalhadores. Pouco a pouco, estes foram conquistando seus direitos....E Marx surgiu nesta época para responder as perguntas dos "socialistas utópicos"....Dos que defendiam os interesses dos trabalhadores.,...coisa e tal".

Claro q tem q ser assim!

E o processo ia num acúmulo sobreposto de conhecimento...Pensadores mais novos se aperfeiçoando ao que se pensava antes...O contexto histórico seria então essencial.

É importante se mostrar as diversa linhas de pensamento economico, informando o que é mainstream, o que é ortodoxo ou heterodoxo.



Vamos conversando...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

QUEIMANDO PONTES

Prestes a completar dois anos de mandato, é importante que traçemos um painel sobre o que foi o governo Bolsonaro até o momento. Primeiro, faremos uma análise dos movimentos do presidente na política, depois, tentaremos encontrar elos da gestão Paulo Guedes na área econômica.

Na política, são váriados os "fios desencapados". A começar pelas várias movimentações erráticas do presidente em busca de apoio, sua saída intempetiva do PSL, seu esforço fracassado de fundar um novo partido, o "Aliança pelo Brasil",  enfim, sua total inapetência para a construção de pontes, para uma maioria "folgada" e poder tocar sua agenda de reformas ou projetos. Acabou ele totalmente refém do deputado Rodrigo Maia, do DEM, presidente então da Câmara dos Deputados. Muito se comenta que se trava aqui uma "luta surda", visando 2022, já que são correntes as opiniões dos que acham que Maia também tem pretensões para 22.

Vários foram os embates e desencontros, com boa parte da agenda do Paulo Guedes, meio que obstruída por Maia. Claro que com a pandemia as prioridades se tornaram outras, mas hje estão paradas nos escaninhos do Parlamento, as Reformas Tributária e a Administrativa do ministro Guedes, já sabendo que acabarão descaracterizadas pelos deputados, assim como tudo enviado pelo ministro ao Congresso. 

Isso, aliás, causa desconforto. Ao longo destes dois anos, tanto Guedes, como Sergio Moro, ex-ministro da Segurança e Justiça, em pesadas agendas, antes com pretensão, medidas essenciais, acabaram frustrados, pelo caminho. 

Eram "constantes" as batalhas nas Comissões do Senado e da Câmara, e estes dois ministros (Guedes, teimosamente, continua), acabavam pelo caminho, "massacrados" por Deputados e Senadores de esquerda (ou nem tanto, dada a timidez dos situacionistas). 

Afinal, onde estava o PSL, então partido do governo, nestes momentos cruciais?Por que os deputados se omitiam em situações tão cruciais? Em temas tão delicados?

Lembremos que Jair Bolsonaro foi eleito e obteve ampla maioria na Câmara, onde o PSL obteve maior número de deputados, e boa margem no Senado. Tanto o "Pacote contra o Crime", de Sergio Moro, como a extensa agenda de reformas do ministro Guedes, acabaram praticamente desidratados, ora pelo comportamento errático do Bolsonaro, ora pelo baixo apoio da troupe, ora pela sanha destruidora dos oposicionistas.

A reforma da Previdência, por exemplo, foi muito descaracterizada, se tornando uma "caricatura" do que se pretendia. O regime de capitalização acabou abandonado, assim como variadas medidas, como a transição e mudanças nos regimes previdenciários dos servidores públicos e dos militares.

E o que dizer da Reforma Tributária, não saindo do lugar, embora já nas gavetas do Congresso? 

Claro que aqui observamos um embate entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cioso dos seus interesses, pouco claros, e o Executivo, do capitão. 

Todas as reformas, ou acabaram aprovadas numa "meia bomba", ou foram ficando pelo caminho. 

Claro que a Pandemia representou uma ruptura com o que precisava avançar, mas o fiasco no avanço destas nos parece fato. Guedes vem se renovando em paciência e temperânça. Moro não aguentou.

E não poderíamos esquecer dos "ataques" do presidente ao "teto dos gastos", já pensando neste ano de Pandemia e sua resistência ao terminar com o subsídio emergencial. Será que em 2021 ainda teremos este subsídio e o teto "rompido"?

Poderíamos ainda enumerar a atuação do presidente, em confrontação à esta pandemia. 

Por que negar o que o mundo observa como fato científico? A prevenção terá que vir pela vacina e esta não tem nacionalidade. Pode ser chinesa, inglesa, russa, americana. Será aceita a mais eficaz e imediata. E ponto final.

Além disso, num primeiro momento, diante da falta de vacinas, do desconhecido sobre o virus, não restava aos governos outra saída a não ser o isolamento social.

Em Portugal, por exemplo, chamava atenção a coordenação do primeiro ministro, Antonio Costa, junto ao presidente, Marcelo Rabelo e o Parlamento da República, no combate ao Covid19. Há, de fato, uma simbiose entre estes atores pelo interesse nacional, de preservar vidas e combater o virus. Não havia outra alternativa, a não ser a higiene e o uso de máscaras. assim como o evitar de conglomerações, e os recolhimentos depois de certo horário. Não podemos brigar com os fatos e negar o risco aí embutido. Bolsonaro, no seu delírio permanente, nunca deu maiores atenções a isso. Sempre considerou este vírus a ser enfrentado, uma "gripezinha", segundo o próprio.

Importante destacar seu comportamento temerário, até porque ele é uma espécie de "farol da República". Seus atos e decisões reverberam, ganham destaque, positiva ou negativa. É inegável o alcance das suas palavras, considerações, decisões. Nada passa incólume. Mas não. 

Bolsonaro sempre tratou de testar os limites e "esticar as cordas". Deu no que deu. 

Seus dois anos foram uma sucessão de "pontes queimadas", perdas de oportunidade. Por mais que outros ministros tenham feito um belo trabalho, suas declarações intempestivas logo tratavam de anular estes avanços. 

Na Pandemia, já chegamos a 170 mil mortos pelo Covid19 e acreditem, ainda não acabou!

Vamos conversando...



Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...