terça-feira, 20 de abril de 2021

MACRO MERCADOS ESPECIAL 21/04/21 - ORÇAMENTO: FIM DO IMPASSE

Hoje é feriado no Brasil, Dia de Tiradentes, não havendo mercado, o que nos dá alguma “folga” para discorrer sobre determinado tema, sem se preocupar com o tempo exíguo do início da manhã. Falemos então hoje sobre o que que se decidiu nas negociações em torno do Orçamento de 2021, atrasado em quase cinco meses.

Lembremos que este foi decidido nesta semana, depois de três debates, atropelando o do ano que vem, o PLDO de 2022, enviado desde o dia 15 de abril.

Ao fim, chegou-se a um acordo, na qual, mais de R$ 125 bilhões ficaram de fora do “teto de gastos”, permitindo ao governo mais liberdade para remanejar suas despesas. Pelo PLN2, o governo poderá ajustar algumas das despesas emergenciais, com a pandemia, sem se preocupar com as regras. 

Deve incluir despesas com o Pronampe, programa de crédito para pequenas empresas, R$ 10 bilhões, com o programa do BEm, na qual é possível reduzir salários e licenciar trabalhadores, sem ter que demití-los, R$ 10 bilhões, e despesas emergenciais variadas de saúde, como compras de vacinas, equipamentos variados, já definido em 2020 e contabilizados como "crédito extraordinário" no total de R$ 31 bilhões, além de despesas de custeio e investimento, usadas nestes tempos de pandemia.

Lembremos que o governo ainda tem o limite de R$ 44 bilhões para gastar em auxílios emergenciais e mais três linhas de créditos extraordinários, para auxílios emergenciais, no total de R$ 10,9 bilhões em favor do Ministério da Saúde.

Soma-se a isso, conseguiu-se “costurar” um acordo retirando R$ 10,5 bilhões das emendas dos parlamentares, preservando R$ 16 bilhões, e as despesas obrigatórias redimensionadas.

A meta fiscal deste ano, de R$ 247,9 bilhões em déficit primário, foi mantida. Uma interpretação corrente é de que a programação de despesas, pela inflação prevista, acabou errada, já que esta deve ficar em torno de 7% neste ano e não o antes programado em 2,1%. Paulo Guedes errou nas previsões. Achava, inclusive, que em 2021 a pandemia já seria superada e o crescimento da economia, sob a forma de “V”, retornando de forma mais forte. 

Por enquanto, não foi isso que aconteceu. A economia até esboçou alguma reação entre o final do ano passado e este primeiro trimestre mas, com esta terceira onda da pandemia, perdeu força, dado o atraso das vacinas.

Lembremos que o relator Marcio Bittar, ao devolver o Orçamento ao Executivo em março passado, sugeriu várias emendas, no total de R$ 26,6 bilhões. O problema é que para estas “caberem no Orçamento”, sugeriu também um volume aquém do esperado de Despesas Obrigatórias, como Previdência, seguro desemprego, auxílio doença, dentre outras.

Pela “lei do teto”, sempre que se negocia onde mexer nas contas púbicas, um aumento de despesas tem que ter como contrapartida algum corte compensatório em outra rúbrica. No caso do ocorrido agora fez-se o errado, as previsões de despesas obrigatórias vieram subdimensionadas, para tornar possível a acomodação das emendas. Foi daí que nasceu o impasse entre governo e Congresso (representado pelo Centrão).

Na leitura dos pareceres técnicos do Congresso, este Orçamento, cheio de emendas e sem a contrapartida de recursos, não teria maiores problemas. Bastaria que as despesas obrigatórias fossem depois ser recompostas, via “Projeto de Lei”. 

Já pela leitura da equipe econômica pairavam riscos de se incorrer em crime de responsabilidade fiscal. Paulo Guedes defendia o corte integral das emendas, algo inconveniente politicamente, mas  seguro juridicamente. Lira e Pacheco defendiam o caminho da conveniência política, mas lançando “sombras jurídicas” sobre o presidente.

Na opinião de Marcos Mendes, assessor Legislativo e um dos maiores conhecedores da  Lei Orçamentária, é preciso respeitar o Artigo 166, da “Lei de Teto dos Gastos”, na qual “emendas só podem ser colocadas se indicar qual despesas serão anuladas. No caso das obrigatórias, não é isso que acontece, pois estas devem ser executadas. Só se pode criar despesas se já se tiver em mãos o que será cortado. O risco que se corre aqui é “destas desrespeitarem os limites e as condições legais”.

Criam-se despesas que inviabilizam o teto dos gastos, levam o governo a ter que cortar outras, que podem até paralisar a máquina pública, incorrendo no shutdown, algo acontecido recentemente nos EUA.

Pela Lei das Diretrizes Orçamentária (LDO), 14116/2020, no Artigo 6, no seu artigo 4, define-se que as primeiras despesas a serem atendidas devem ser as OBRIGATÓRIAS, junto com a necessidade de funcionamento dos órgãos. Sendo assim, são as despesas da Previdência, encargos sociais, despesas com pessoal, que devem ser priorizadas, e não emendas de parlamentares. 

Soma-se a isso, o Legislativo não deve “avançar” sobre o Orçamento. Pelo artigo 2, está escrito que o Legislativo não pode interferir no Executivo, inviabilizando seu funcionamento.

Enfim. O impasse do Orçamento de 2021 caminha para ser resolvido, depois da aprovação, nesta segunda-feira, 19, do projeto de lei do Congresso (PLN 2), que muda a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e permite que o presidente Jair Bolsonaro remaneje recursos por decreto, sem necessidade de autorização do Congresso.

O texto, agora, vai para sanção presidencial (nesta quinta-feira, dia 22), para a aprovação do Orçamento de 2021. Depois ingressamos no Orçamento de 2022, com déficit previsto de R$ 170, 5 bilhões, mas muito mais margem de manobra do governo, pois as despesas devem vir maiores do que neste ano, dada a inflação prevista mais elevada (em torno de 7%). Um adicional de despesas em torno de R$ 111 bilhões é previsto. Em ano eleitoral é uma bela bolada.

MACRO MERCADOS DIÁRIO 19/04/2021 - MAIS UMA SEMANA DE INSTABILIDADE

Depois de mais uma semana de muita instabilidade, mais uma, agora mais curta, pelo feriado de Tiradentes, se inicia. No foco das atenções o sancionar do Orçamento de 2021, pelo presidente Bolsonaro, havendo dúvidas se será bem sucedido, e, claro, a pandemia, ainda causando estragos. Sobre o Orçamento, não sabemos para onde o presidente deve correr, ou agindo como um populista, agradando ao Centrão, ou com a “mão pesada do Tesouro”, não cedendo às tentações, como quer Paulo Guedes. Dia 22 saberemos.

Sobre a pademia, São Paulo, em fase vermelha, deve começar a flexibilizar as restrições nesta segunda-feira, muito mais por pressões externas, havendo alguma quedas nas internações pela Covid 19. São quase 14 milhões de casos desde o início, com 373.335 óbitos acumulados, 1.657 em 24 horas no domingo passado, e 42.980 novos casos. Duas boas novidades são a de que a Astrazeneca está produzindo uma vacina para combater as variantes do virus e de que a Jansen deve retomar a produção de doses nos próximos dias. Num momento de gargalo de produção, não deixa de ser uma boa notícia.

Voltando ao debate do Orçamento, a equipe econômica quer o veto total das emendas, quase R$ 31 bilhões, algo totalmente insustentável diante da “proposta” dos deputados, de aprovação integral destas e subestimação das despesas obrigatórias. Devemos destacar que estas não podem ser “reduzidas”, para acomodar as emendas. Pela “lei do teto”, a cada despesa criada, algo tem que ser readequado ou ajustado. A idéia do Congresso era ir “empurrando com a barriga” a cada mês, mas mantendo todas as emendas. O problema é que o TCU não aceita esta “contabilidade criativa”. Pela leitura da equipe econômica, neste caso, estaríamos incorrendo em crime de responsabilidade, já que pela ”lei do teto”, despesas obrigatórias são prioritárias e não podem ser reduzidas, muito menos, para acomodar emendas de deputados.

No meio estas duas visões que o presidente terá que se posicionar. Se aceitar a tese do Centrão, estará incorrendo em crime de responsabilidade, se ir pela tese da equipe do ministro Paulo Guedes, correrá o risco de perder apoio do Centrão e se expor a diversos pedidos de impeachment, engavetados nas gavetas do presidente do Congresso, Arthur Lira. Como já dito, é um verdadeira dilema, uma “escolha de Sofia” (para quem viu o filme). Para onde correr, será uma decisão complicada.
Em paralelo, acreditem, pelo estouro de prazo foi apresentado no Congresso no dia 15 o PLDO de 2022. O Orçamento deste ano ainda não foi sancionado, mas já começam a discutir, por imposição de prazoa, a proposta do Orçamento para 2022. Nem orçamos este ano e já temos que pensar no próximo. Sobre este PLDO 22, o que se tem é a meta fiscal de déficit de R$ 170,4 bilhões, 1,9% do PIB, o crescimento de 2,5%, a inflação de 3,5% e o salário mínimo, de R$ 1.100 a R$ 1.147 (+4,3%).

No Congresso, o presidente da casa, Arthur Lira, em entrevista coletiva, tentou “quebrar o clima”, dizendo acreditar num bom desfecho para este imbróglio do Orçamento, “descartando rupturas” e reafirmou seu otimismo sobre a agenda de reformas, a ser retomada nos próximos dias.

Portanto, nesta semana que se inicia, como grande novidade o fim prazo (dia 22) para o presidente sancionar o Orçamento de 2021. A quem deve agradar? Por sobrevivência, achamos que deveria ficar no “meio do caminho”, com um veto parcial das emendas, em torno de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões, de um total de R$ 30 bilhões pedidos pelos deputados.
Neste final de semana o mercado de cripto moedas voltou a oscilar forte, diante do IPO da Coinbase Global Inc. na semana passada, com as bitcoins caindo 20,3% até domingo. Lembremos que existem mais de 1,5 mil cripto moedas no mundo, e a bitcoin é a mais visada ou famosa. Lembremos também que não existem grandes motivações, ou explicações para o que acontece neste mercado. Este é o retrato do sistema cripto-financeiro, ele se move pela aceitação dos investidores, oferta e demanda, mesmo não havendo nada que o justifique ou lhe dê lastro.

Como se comportaram os ativos de mercado

Bolsa de valores. Fechamos sexta-feira (dia 16) com o Ibovespa em “suave” alta de 0,34%, a 121.113 pontos, na semana avançando 2,9%, depois de ganhos de 2,1% e de 0,4% nas duas anteriores. Isso ocorre num clima de quase euforia nos mercados globais, pontuados pelos EUA, bolsas de valores em recordes diários, e de indicadores favoráveis na China, embora um pouco aquém do esperado. Por outro lado, no ambiente doméstico, o que se vê é açodamento, confrontos e ameaças. No mês, a bolsa doméstica acumula ganhos de 3,84% e no ano de +1,76%. Há de considerar alguma “briga do índice nos 120 mil pontos”, diante de um cenário externo favorável e um interno ainda muito complicado.

Mercado cambial. Com a queda do dólar no mercado global, o real deu mais uma “respirada” nesta semana, a terceira seguida, com o dólar recuando a R$ 5,5848 (-1,6%). No ano, a perda do real ainda é elevada (-7,6%), mas vai se desacelerando.

Mercado de juro. O impasse do Orçamento segue “estressando” o mercado de juro, mas uma boa notícia é o cenário externo mais tranquilo e as sinalizações do presidente da Câmara, Arthur Lira, de que não teremos “ruptura”. Na semana passada, a curva de juro cedeu um pouco, devolvendo os prêmios e recuando 20 pontos. No entanto, há outras tensões no ar como a conduta do STF, a CPI da Covid, os bate bocas do presidente, as tensões na Rússia. No front inflacionário, estejamos atentos aos repiques dos IGPs com as commodities e a depreciação. Por enquanto, trabalhamos com a Selic a 5,25% ao fim deste ano e 6,0% em 2022.

Agenda Semanal

Na agenda da semana, no Brasil, nesta segunda-feira, temos a pesquisa Focus e o IBC-Br de março, com este devendo perder força diante da indefinição das vacinas e dos lockdowns em vários estados. Estejamos atentos também à inflação, numa semana que se aproxima da reunião do Copom dia 5/5. Parece haver consenso sobre um ajuste da SELIC entre 0,75 e 1,00 ponto percentual. Como já dito, teremos a decisão do presidente sobre o Orçamento de 2021 e também como deve transcorrer a CPI da Covid 19. No exterior, temos que ter um olhar atento sobre o que Christine Lagarde, CEO do BCE, deve dizer na quinta-feira (na reunião do BCE). Estejamos atentos também aos vários PMIs, a serem divulgados na sexta-feira.

domingo, 18 de abril de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO: BALANÇO SEMANAL 16/04/21 - INSTABILIDADE DOMÉSTICA E CRESCIMENTO FORTE LÁ FORA

Mais uma semana intensa. No Brasil, alguns temas nortearam os mercados: crise política permanente, impasse no Orçamento e pandemia; nos EUA, a economia segue mostrando bom dinamismo, mesmo com algum risco inflacionário no “meio do caminho”. O presidente do Fed, Jerome Powell, meio que “apostando”, acha que a inflação só deve preocupar mesmo entre meados de 2022 e 2024. Isso nos parece uma leitura por demais otimista. Na Europa, também há novidades, com a economia esboçando reação, depois de superado o problema da oferta de vacinas.

Retornando ao Brasil, o desenrolar do Orçamento de 2021 segue complicado. A equipe econômica quer o veto total das emendas “elaboradas” no Congresso, quase R$ 31 bilhões, e uma insustentável redução das despesas obrigatórias. O problema é que estas não podem ser “cortados”, para acomodar as emendas. Pela “lei do teto”, a cada despesa criada, algo tem que ser readequado ou cortado. A idéia do Congresso era ir “administrando” estas despesas obrigatórias e mantendo as emendas. O problema é o TCU aceitar esta "contabilidade criativa". Na leitura da equipe econômica, neste caso, estaríamos incorrendo em crime de responsabilidade, já que pela ”lei do teto”, despesas obrigatórias são prioritárias, não podem ser mexidas e muito menos remanejadas para entrar emenda de deputado.

No meio destas duas visões antagônicas o presidente terá que se posicionar. Se cair no “colo” do Centrão, corre o risco de incorrer em crime de responsabilidade, se optar pela tese do Paulo Guedes, corre o risco de perder o apoio do Centrão e se expor a diversos pedidos de impeachment, por enquanto, engavetados pelo presidente do Congresso Arthur Lira. É uma verdadeira “escolha de sofia” (para quem viu o filme).

Em paralelo a isso, acreditem, foi apresentado no Congresso o PLDO de 2022. O Orçamento deste ano ainda não foi sancionado, mas já começamos a discutir, por imposição de prazo (até o dia 15), a proposta para 2022. Nem orçamos este ano e já temos que pensar no próximo! Sobre este PLDO 22, enviado à CAE, a meta fiscal é de déficit de R$ 170,4 bilhões, 1,9% do PIB, crescimento de 2,5%, inflação de 3,5% e salário mínimo, passando de R$ 1.100 a R$ 1.147 (+4,3%).

No Congresso, o presidente da casa, Arthur Lira, tentando “quebrar o clima”, disse acreditar num bom desfecho para este imbróglio do Orçamento, “descartando rupturas”. Reafirmou também seu otimismo com a agenda de reformas, a ser retomada nos próximos dias.

Nesta semana que se inicia, como grande novidade termina o prazo (dia 22) para o presidente sancionar o Orçamento. A quem deve agradar ou ceder? Por sobrevivência, deve ficar no meio do caminho, com veto parcial das emendas. Esta é a nossa leitura. 

No STF, a agenda também foi pesada. Os “doutos” ministros “trabalharam bastante” para deliberar sobre a anulação dos processos contra o ex-presisente Lula da Silva, virando este “ficha limpa”. Isso se justificou por “injunções territoriais”, anulando todo o processo da Lava Jato com placar de 8 a 3.

O processo está lá, todas as provas documentadas, não faltam acusações, muita delação premiada, três desembargadores do RTF da 4ª região já deliberaram, mas Lula acabou com a sua “pena anulada”, porque estes processos tramitavam na “zona” errada, numa comarca errada do Judiciário.

Ou seja, ele deixou de ser réu por injunções administrativas! Os processos tinham que tramitar em Brasília e não Curitiba! Agora estes vão para a capital federal e, naturalmente, pelo fato de Lula ser idoso, acabarão em prescrição. Nesta semana o STF deve avaliar se mantém, ou não, a suspeição contra o ministro Sergio Moro.

Na economia, uma boa notícia foi o bom ritmo de crescimento do setor de Serviços em fevereiro. Por outro lado, olhando pelo retrovisor (mais uma vez) verificamos que toda a instabilidade, desencontros e atraso nas vacinas, deve "cobrar seu preço", impactando no ritmo de retomada do setor,não se sustentando entre março e abril. 

Temos o primeiro trimestre perdido, muito fraco, o segundo, “vacilante e arrático”, pelas tantas crises políticas e desencontros, e, com otimismo, alguma retomada no segundo semestre, desde que a população adulta seja vacinada. A torcida é para que isso aconteça até setembro.

Sobre a pandemia, neste sábado (dia 17) “andamos meio de lado”, diante de um ligeiro aumento na média de óbitos (2.906) e queda na média de novos casos (65.012). Daqui para frente, os números são para valer, ou seja, não há mais o “fator feriado”. Portanto, hoje e nos próximos dias teremos um retrado mais claro sobre o que está acontecendo. Neste dia 17, em 24 horas, foram 2,9 mil óbitos, mais de 372 mil mortos no acumulado e 67,6 mil novos casos.

Falando da Política Monetária do BACEN, nesta semana Roberto Campos Neto reforçou mais uma vez um ajuste na taxa Selic, se 0,75 ponto percentual ou 1,0 p.p., para a próxima reunião do Copom, dia 05/05. Depois teremos uma “parada técnica para observar a paisagem”, ver como evolui o cenário da pandemia e da economia real. Sobre esta, parece haver a expectativa de que a vacinação, ainda baixa, em torno de 12% do total, consiga englobar toda a população adulta até setembro. A partir daí, a economia deve começar a “decolar”, o que nos levaria a um segundo semestre de retomada, bem melhor do que o primeiro, já perdido.

Nos EUA, Jerome Powell voltou a mostrar otimismo em relação ao início do ciclo de aperto monetário, afirmando estar num “ponto de inflexão”, ainda distante do pleno emprego. Para ele, o início do ciclo de elevação de juro deve acontecer entre 2022 e 2024, “antes pouco provável”. Na sua leitura, o Fed ainda tem condições para tolerar uma inflação anualizada acima de 2% por alguns meses, reforçando achar esta “temporária”. Em paralelo, saíram os dados do Livro Bege, mais otimistas, sinalizando “um ritmo moderado entre fevereiro e abril deste ano”.

Nos indicadores, as vendas de varejo nos EUA vieram robustas, crescendo 9,8% em março contra fevereiro, contra estimativa de 6,1%, e o seguro desemprego recuou a 576 mil, contra previsão de 710 mil, o que reforça esta retomada, ainda mais com quase US$ 5 trilhões em estímulos fiscais e uma política monetária “acomodatícia”. O risco aqui é uma inflação excessiva de ativos e a formação de bolhas, a estourarem a qualquer movimento em falso do Fed.

Como resultado, o dólar perdeu espaço entre os emergentes, e um considerável fluxo de recursos segue para estes mercados, com destaque para aqueles com maior liquidez e oportunidade, como o Brasil.

Nosso mercado segue muito interessante para os investidores estrangeiros, mas o ambiente político institucional e o “empacamento fiscal”, são uma barreira. Com a queda do dólar no mercado global, o real deu mais uma respirada nesta semana, a terceira seguida, com o dólar recuando a R$ 5,5848 (-1,6%). No ano, a perda do real ainda é elevada (-7,6%), mas vai se desacelerando.

Nos EUA, a curva de juro vai perdendo inclinação neste cenário, tendo fechado sexta-feira passada em 1,57%, depois de recuar a 1,53% no meio da tarde, bem abaixo do registrado em março (1,73%). Já no Brasil, a curva de juro perdeu um pouco da inclinação, devolvendo prêmios, sobretudo os mais longos. No mercado, as projeções de taxa Selic seguem se formando, variando entre 4,75% e 6,00%. Já o dólar varia entre 5,0% e 5,75%, com esta consultoria trabalhando com 6,0%.

Na bolsa de valores, na sexta-feira chegou a mais de 121 mil pontos ao longo do dia, se firmar neste patamar e fechar o dia a 121.113, avançando 0,34%, mesmo com as incertezas permanentes no front fiscal. Na semana a valorização foi de 2,9%, a terceira seguida, com quinto ganho diário seguido, na sua mais longa série positiva desde 23/27 de novembro de 2020. No mês, a alta é de 3,84% e no ano 1,76%. O giro financeiro foi a R$ 35,3 bilhões.

A corroborar para este bom fechamento, o que disse Arthur Lira para o mercado, a eocnomia norte-americana em bom ritmo e os indicadores chineses favoráveis, mas um pouco aquém do esperado.

Na China, o PIB/1TRI veio crescente em 18,3% na comparação com o 1TRI/2020 (previsão de 19,2%), ligeiramente abaixo das expectativas. O número acabou fortemente afetado por uma base fraca pelo auge da pandemia em 2020; as vendas no varejo dispararam 34,2% em março, na base anual, contra março de 2021, superando as expectativas de crescimento de 28%; e a produção industrial cresceu 14,1% em março. 

O cenário para o país ainda é de um crescimento bem saudável, em “velocidade de cruzeiro”. Isso nos ajuda a explicar, ou entender, o “super ciclo de commodities em curso”.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO 15/04/2021- NO BRASIL, INCERTEZAS FISCAIS; NOS EUA, ECONOMIA CRESCENDO

Os mercados resolveram “embarcar” na retórica do Fed, acreditando que o juro, por lá, deve ser elevado, entre 2022 e 2024, “pouco provável antes”. No Brasil, ainda continuamos cercados de incertezas, tanto no Orçamento, ainda em discussão e sob impasse, como pela lentidão no ritmo das vacinações e o clima de açodamento político em Brasília.

Nesta quarta-feira (dia 14), o presidente Bolsonaro tratou de jogar “mais gasolina na fogueira”, aguardando a “sinalização do povo para poder tomar providências”. Mais enigmático impossível. O que quis dizer com isso? Seria mais um blefe? Ou ameaças concretas, mostrando ter espaço para uma manobra mais abrupta e apoio dos militares? Neste dia, saiu uma pesquisa mostrando que ele perderia, num segundo turno, para o ex-presidente Lula da Silva.

Sobre o Orçamento, vem causando desconforto o “vazamento” de uma PEC “fura teto”, do ministro Paulo Guedes, que aceitaria depesas com Saúde fora do teto, e R$ 18 bilhões em emendas. Nada certo ainda. Em paralelo, vence hoje o prazo para o governo enviar o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2022, dando início aos debates sobre como iremos gastar e arrecadar em 2022, ano de eleição e tão aguardado por alguns. Ainda nem temos o orçado para este ano, quanto mais para o ano que vem.

Na dicussão sobre a CPI da Covid, foram definidos os participantes, chamando atenção a maioria independente e da oposição. Agora estes dois grupos devem definir quem deve comandar o espetáculo.

Uma boa notícia nesta quarta-feira foi a antecipação da entrega de 2 milhões de doses em vacinas da Pfizer, algo essencial num momento em que a média de morte, dos últimos cinco dias, se mantém acima de 3 mil (3.012). Ontem, ao fim de 24 horas, foram mais 3.462 mortes, acumulando desde março do ano passado 362.180, com 75.998 novos casos.

Falando da Política Monetária do BACEN, Roberto Campos Neto reforçou mais um ajuste de 0,75 ponto percentual na reunião do Copom dia 05/05, com uma “parada” em 3,5% e o “observar da cena” para ver como evolui o cenário da pandemia e da economia real. Sobre esta, parece haver a expectativa de que a vacinação, ainda baixa, em torno de 12% do total, envolva toda a população adulta até setembro. A partir daí, a economia deve começar a “decolar”, o que nos levaria a um segundo semestre de retomada, bem melhor do que o primeiro, já perdido.

Nos EUA, Jerome Powell voltou a mostrar otimismo em relaação ao início do ciclo de aperto monetário, afirmando estar num “ponto de inflexão”, ainda distante do pleno emprego. Para ele, o início do ciclo de elevação de juro deve acontecer entre 2022 e 2024, antes “pouco provável”. Na sua leitura, o Fed ainda tem condições para tolerar uma inflação anualizada acima de 2% por alguns meses, reforçando achar esta “temporária”. Saíram os dados do Livro Bege, mais otimistas, sinalizando “um ritmo moderado entre fevereiro e abril deste ano”.

Nos mercados de ativos, a bolsa de valores doméstica registrou o maior índice desde fevereiro, no terceiro pregão seguido de alta, mesmo com giro financeiro fraco (R$ 64,4 bilhões), dadas as incertezas fiscais e políticas em Brasília, além de um olhar mais preocupado sobre a pandemia e o ciclo de vacinações.

O Ibovespa foi a 120.294 pontos, avançando 0,84%, impulsionado pelas commododities, com o petróleo avançando mais de 4,0%. Contribuiu o relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), mais otimistas sobre a demanda em crescimento. O Brent para maio subiu 4,57% (a US$ 66,58) e o WTI +4,9% (a US$ 63,15). No ano, a B3 acumula ganho de 1,07%, depois de recuar em janeiro e fevereiro, respectivos 4,0% e 3,0%, subindo 6% em março e 12 3,14% até agora, em abril.
Neste contexto, o dólar recuou bem, -0,82%, a R$ 5,6705, beneficiado pelo fluxo cambial positivo neste mês, de US$ 1,06 bilhão até o dia 9/4 e devido à perda do dólar no mercado global, tais as sinalizações mais “dovish”, mais otimistas, do Fed de Jerome Powell.

Como já dito acima, para ele a economia norte-americana segue crescendo em equilíbrio e a Política Monetária segue frouxa por um bom tempo. Decorrente disso, os juros futuros domésticos deram uma recuada no mercado de futuro, embora nos EUA pressionados, com os T Bonds de 10 anos a 1,62%, diante de certo ceticismo com os comunicados de Jerome Powell. Neste clima, as bolsas de NY operaram em alta, impulsionadas pelos resultados dos bancos, mas com as empresa de tecnologia em recuo.

Nesta quinta-feira, os futuros de petróleo operavam em mais um dia de alta, impulsionando as empresas exportadoras de commodities ao redor do mundo, no Brasil, destaque para a Petrobras e a Vale.

JOHN WILLIAMSON (1938 - 2021)

Morreu no dia 11 de abril, aos 83 anos, o economista John Williamson, pesquisador emérito da Peterson Institute for International Economic (PIIE), think tank de grande relevância no debate econômico internacional, com grande contribuição na pesquisa aplicada, em especial, em áreas de desenvolvimento econômico, regimes monetários e cambiais nas economias emergentes, reformas monetárias internacionais de instituições multilaterais, dentre tantas.

Aliás, justiça seja feita, conheci Williamson, muito a partir de um tema, que chegou a ser embrião para a minha tese de Doutorado, o debate em torno do "Consenso de Washington". Depois, ao pesquisar um pouco mais, descobri que a sua produção intelectual era bem mais extensa, interessante, de centro, nada de neoliberal ou quetais.

Inevitável dizer que o surgimento deste Consenso começou, depois das recomendações, dadas aos países latino americanos, depois de perdida uma década inteira de decisões erradas de políticas públicas e estrangulamentos externos surgidos.

Aferrados ao modelo ultrapassado dos anos 50/60, baseado no pensamento cepalino da Política de Substituição de Importações (PSI), sustentando um nacional desenvolvimentismo protecionista, estatizante, e inflacionista, os latino americanos foram até o limite, chegando ao fim daquela década "esgotados". Era preciso um "repensar sobre as práticas de governança". 

Lembremos que foi na virada desta década, entre os 80 e os 90, que o Tesouro Norte-Americano, através de Nicholas Brady, formulou uma acertada estratégia de reestruturação das dívidas públicas externas latino americanas, visando sair dos impasses que se encontravam. Era a ídéia do Plano Brady, na  troca, com deságio, dos títulos das dívidas dos países. Isso acabou se mostrando um considerável desafogo para muitos, como o Brasil, então no limite para o pagamento dos serviços da dívida externa.

Em paralelo à isso, Williamson reuniu uma série de economistas no Instituto de Economia Internacional de Washington, em 1989, a realizar um Seminário para tratar das alternativas, das políticas públicas, a serem adotadas, à estes países. Nasceram uma série de princípios, respeitados por estes países, a saírem do atoleiro da dívida externa. 

Dentre estes, podemos destacar (1) aberturas comercial e da conta de capital; (2) flexibilização dos regimes cambiais; (3) controle de déficits fiscais; (4) reformas estruturais, até hoje em debate,  como a do sistema tributário, expandindo a base de arrecadação e simplificando a "teia fiscal",  evitando "efeito cumulativo", reforma da Previdência e do Estado; (5) amplo programa de privatizações de empresas públicas ineficientes; e (6) abolição de regulamentações contra a livre concorrência, etc, etc. 

Foi na formulação destes princípios, a que deram o nome “Consenso de Washington”. Importante que se diga que Williamson não gostava muito deste debate, por achar que acabava por rotulá-lo "neoliberal" ou "fundamentalista de mercado", o que ele não era. No máximo, em "atitude britânica", um "liberal democrata", entre ingleses do Labour Party e do Conservative Party. 

Segundo Luiz Alberto Machado, "a expressão adquiriu dois significados além do original: passou a ser adotada nos programas de estabilização, preconizados pelas instituições multilaterais, em destaque, FMI e Banco Mundial; e passou a ser vista como proposta neoliberal".

Segundo Luiz Alberto, Williamson mencionava outros quatro temas: (i) uma política fiscal anticíclica, ou seja, cortar impostos e expandir gastos públicos numa fase recessiva, fazendo o contrário quando o crescimento se acelerava; (ii)  manter o câmbio competitivo e aumentar a poupança interna; (iii)  apoio do governo a um sistema nacional de inovação, direcionado a todos os interessados e não à empresa A ou B; e (iv) finalmente, preocupação com a distribuição de renda, que não entrou na lista de 1989 por não haver ainda um consenso em Washington em torno de sua relevância.

Ainda segundo Luiz Alberto, "a par dos aspectos incluídos nessa nova agenda, Williamson referiu-se à necessidade de uma melhora efetiva na educação, a uma reforma agrária (sem prejuízo dos direitos de propriedade), ao microcrédito e à redução do custo de criar empresas novas, tudo com a preocupação de tornar os pobres detentores de mais recursos com que possam trabalhar para sair da pobreza."

A bem da verdade, Williamsom era um entusiasta defensor da economia de mercado, da disciplina fiscal e do comércio internacional. Eram estes os alicerces do seu "pensar". Foi dele, aliás, o evoluir no refletir de regimes monetários e cambiais entre os países emergentes. 

Pensou como obter uma taxa de câmbio de equilíbrio fundamental. John era contrário dos extremos nesta "seara", os regimes de câmbio fixo e os totalmente flexíveis, favorável a um meio de caminho, uma "taxa de regime de bandas", segundo um amigo, BBC (Bands, com flutuações limitadas; Bask, baseado numa cesta de moedas; e Crawl, devagar e sempre). Era contrário a estes extremos cambiais colocados,

 John argumentava que os regimes fixos eram contraproducentes por exigirem taxas de juros muito elevadas ("asfixiantes"), mas que acabavam por gerar uma sobrevalorização da moeda, a partir do momento que geravam um grande influxo de recursos externos (hotmoney). 

Já nos regimes totalmente flexíveis, o risco maior era o aumento da volatilidade cambial, dada a livre mobilidade de capitais. É da sua autoria a criação de regime cambial "crawlling peg". 

De certa forma, Gustavo Franco foi aprendendo nestes pontos de vista. Depois de 1994, adotou algo semelhante no seu binômio na âncora de regime cambiais com bandas flutuantes e juro elevado, para manter a valorização cambial e o "choque de competitividade". 

Outro ponto também é que Williamson se preocupava com a "livre mobilidade de capitais", geradora de excessiva volatilidade dos regimes cambiais dos Países na época. Para ele, era necessário alguma coordenação entre os países, talvez alguma instituição supranacional.  

Enfim, fiquemos com esta declaração de John Williamson, no PIEE. 

“O primeiro uso escrito [do termo 'Consenso de Washington'] foi em meu artigo de base para uma conferência que o Institute for International Economics 1, convocada para examinar até que ponto as velhas ideias da economia do desenvolvimento que governaram a política econômica latino-americana desde a década de 1950 estavam sendo varridas pelo conjunto de ideias que há muito haviam sido aceitas como apropriadas dentro da OCDE [Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento]. A fim de tentar garantir que os documentos de fundo para aquela conferência lidassem com um conjunto comum de questões, fiz uma lista de dez políticas que pensei que mais ou menos todos em Washington concordariam que eram necessárias mais ou menos em toda a América Latina, e rotulou isso de 'Consenso de Washington'."

1. Peterson Institute for International Economic. 
Como se vê, 18 anos depois, suas sugestões permanecem incrivelmente atuais.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO 14/04/2021 - CPI DA COVID, ORÇAMENTO E INFLAÇÃO AMERICANA

Seguem os mercados de olho nos imbróglios domésticos da CPI da Covid e do Orçamento. Nos EUA, a inflação veio acima do esperado, mas dentro do “raio de controle” do Fed, ainda achando-a temporária e mantendo a “política acomodatícia”.

Retornando, foi aprovada a CPI da Covid nesta tarde-noite de terça-feira (dia 13), depois da leitura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, recomendando a investigação da conduta do presidente Bolsonaro durante a pandemia, destinando recursos para estados e municípios. Estes não serão investigados diretamente, cabendo isso às Assembléias estaduais e municipais. Agora, os líderes devem indicar seus representantes, sendo 11 titulares e 7 suplentes.

O que achamos. Claro que a conduta do presidente, negacionista, rejeitando as vacinas num momento inicial, atrasando inclusive, a encomenda delas, deve sim passar por uma avaliação, mas discordamos com o momento, já que as energias deveriam estar “transferidas” para o combate à pandemia. O problema é que como tudo no Brasil, quanto mais se adiam as decisões mais chances existem de não dar em nada. Aqui o “ganhar tempo” tem sua serventia.

Sobre o imbróglio do Orçamento, seguem as batalhas de pareceres, com os assessores do Legislativo “defendendo” a aprovação integral da peça orçamentária, cheia de emendas (R$ 31,3 bilhões) e com a esdrúxula tese de corte de despesas obrigatórias”. Na leitura dos parlamentares, “depois, ao longo do ano, vamos ajustando”. Já os técnicos da equipe econômica, sabedores dos riscos aí embutidos, cheia de ilegalidades e acomodações contra a “Lei do teto de gastos”, já recomendam o veto integral, sob o risco do governo incorrer em crime de responsabilidade. Uma solução intermediária é a criação de uma PEC alternativa para “destravar os programas emergenciais fora do teto”, no total de R$ 18 bilhões em emendas.

Como sabemos, o presidente tem até o dia 22 para sancionar este Orçamento e até recomendação de se ausentar neste dia, para que o ônus da assinatura recaia sobre o terceiro da sucessão, Arthur Lira, já foi aventada. O especialista em Finanças Públicas, Felipe Salto, inclusive, se espanta com a situação, dada a profusão de contabilidade criativa, criada nesta “peça orçamentária”.

O que achamos. Dá para se tentar um consenso no veto parcial das emendas e a retirada do corte das despesas obrigatórias. Não dá para criar moeda. Se as emendas não cabem no Orçamento, a solução não é acabar com a lei do teto, como querem os parlamentares, mas tentar uma negociação emenda por emenda. Aliás, seria de bom grado sabermos isso. Para onde irá cada emenda?
Neste clima, e ainda influenciados pela forte queda dos treasuries longos nos EUA, desvalorizando o dólar frente às moedas dos emergentes, os mercados fecharam o dia desta terça-feira (dia 13) “meio de lado”.

No mercado. O Ibovespa avançou 0,41%, a 119.297 pontos, recorde desde fevereiro, acumulando 2,28% no mês e 0,24% no ano. O giro financeiro seguiu fraco, em torno de R$ 29,3 bilhões. A impressão é que o mercado continua na expectativa do desenlace destes eventos citados acima, não querendo assumir nenhuma posição. Momento é de espera. Isso se refletiu na curva de juros, “imbicada para cima”, com os futuros para janeiro de 2027 a 9,0%. Já o dólar fechou a R$ 5,7176, quase estável, recuando apenas 0,08%%, pesando o cenário interno conturbado e de olho nos EUA, depois do CPI de março.

Este veio um pouco acima das expectativas, mas dentro do esperado pelo Fed, que considera não haver sustentação para novos picos inflacionários nos próximos meses. Para o presidente Jerome Powell nada muda na estratégia atual acomodatícia, já que os “efeitos dos choques de preço são considerados temporários”. Decorrente disso, os Treasuries registraram a menor taxa em três semanas, ainda mais depois do Tesouro americano oferecer US$ 24 bi no mercado em Treasuries de 30 anos, derrubando os rendimentos no mercado. Com isso, os Treasuries de 10 anos recuaram a 1,619%.

Nos EUA. Em resposta, os mercados de ações em NY fecharam sem “sinal único, mistos”, indicando um momento ainda cheio de armadilhas e desafios, na pandemia e na retomada da economia e da inflação. A Nasdaq avançou 1,0%, a 13.996 pontos, impulsionada pela Tesla (+8,6%), a S&P +0,3%, a 4.141 pontos, e o DJ recuando 0,2%, derrubado pelas incertezas com a vacina da Jansen, Johnson & Johnson (-1,29%), suspendida a produção depois da FDA descobrir que pessoas que tomaram tiveram trombose.

No mercado de commodities, seguimos atentos ao super ciclo de alta, dada a retomada do crescimento da alguns países, como EUA e China. No petróleo, a Opep revisou sua demanda, o que elevou as cotações do Brent a US$ 63,67 e do WTI a US$ 60,18. No mercado de minério o dia também foi de alta, ainda mais depois da China aumentar a importação de minério de ferro em 19%.

Aguardemos nesta quarta-feira o início da temporada de balanços corporativos nos EUA, com destaque para os grandes bancos, devendo registrar resultados sólidos, com projeções de mercado indicando avanço de 24,5% nos lucros. Devemos estar atentos também ao ritmo de vacinação na Europa, devendo se acelerar, e também os novos capítulos no debate americano sobre os riscos inflacionários no horizonte.

No Brasil, aguardemos a “montagem” da CPI da Covid e como o presidente deve responder a isso. No Orçamento seguimos com a batalha de pareceres. Achamos por cautela, como já dito, o veto parcial do que o Congresso enviou ao presidente. Nem tão radical, como os técnicos do governo, nem tão frouxo, como os assessores do Parlamento

terça-feira, 13 de abril de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO 13/04/2021 CPI DA COVID, ORÇAMENTO E CPI DOS EUA NO RADAR

Iniciamos esta semana "gestando" novas crises e tentando solucionar as existentes. Algumas novidades devem ser destacadas. A “gravação” de uma conversa “pouco republicana” entre o Senador Jorge Kajuru e o presidente Jair Bolsonaro; a alternativa de considerar “despesas com Saúde” como “crédito extraordinário”, sem entrar no “teto de gastos”; e, por fim, a idéia de tirar o presidente e o vice do País no dia do sancioamento do Orçamento (dia 22), assinado pelo terceiro da linha sucessória, o presidente do Congresso Arthur Lira, a fim de poupar estes de qualquer crime de responsabilidade. 

Todos sabemos que este debate sobre como encarar as despesas com saúde vem evoluindo, já que num momento como este, totalmente excepcional, decisões excepcionais precisam ser tomadas e pensadas. Não dá, realmente, para pensarmos a pandemia como algo “normal”. O problema aqui é que esta idéia de excepcionalidade abre espaço para o oportunista, os "caroneiros de sempre". 

Emendas parlamentares “paroquiais”, nem sempre relacionadas com a crise sanitária atual, devem ser observadas. Tirando as despesas adicionais com saúde do Orçamento, estamos aceitando uma reacomodação destas emendas, em discussão entre os fiscalistas do governo e os políticos. 

Este é o grande perigo que ronda. Devemos considerar também o Orçamento de 2021 uma sucessão de equivocos. Estamos totalmente atrasados em relação à sua execução. Normalmente, este começa a ser formulado em abril do ano anterior, enviado ao Parlamento no transcorrer e aprovado até dezembro. Desta vez, este só foi devolvido ao governo, depois de avaliado pelos parlamentares, agora em 2021, entre março e abril, quatro meses depois do prazo! Ou seja, estamos navegando à quatro meses sem uma bússola a nos guiar. 

Muitos vão considerar o Orçamento uma “peça de ficção” de difícil execução, ainda mais em momentos de crise como o atual, na qual não sabemos o que vai acontecer no mês que vem, quanto mais no ano que vem. No entanto, não podemos nos furtar de “elaborar” um mínimo de planejamento, a saber o que poderemos gastar e como deve vir a arrecadação. 

Este cenário, aliás, é importante, pois norteia qual visão se tem sobre a economia neste ano de 2021. Sobre isso, inclusive, foram diversos os erros de formulação, de leitura. 

Paulo Guedes achava que ao fim de dezembro passado a crise sanitária já estaria “mais ou menos” controlada ou superada. Sua projeção de inflação para este ano era bem otimista (2,16% para o IPCA),  o que guiaria o reajuste do salário mínimo e o comportamento das receitas. 

Em 12 meses, pelo IPCA de março, não é isso que se viu. Foi a 6,1% e por este patamar deve ficar até o meados do ano. Ao final, acreditamos em algo próximo a 5%. Há de considerar também as várias despesas que foram "desbastadas", diante do anúncio destes R$ 26 bilhões a R$ 29 bilhões em emendas parlamentares, um absurdo, por não sabermos nem ao certo ao que serão usados. Aliás. Bem sabemos que 2022 é ano eleitoral e muitos deputados já começam a “montar” as suas estruturas de campanha. 

Pela "lei do teto dos gastos", a todas as despesas adicionais colocadas, há de se considerar em que rubrica teremos que retirar, ou realocar recursos. São vários absurdos neste front. O BACEN não tem mais os recursos para “tocar” o projeto do PIX; as bolsas de estudo da Capes, na área de Ciência e Tecnologia, “minguaram”, o Plano Safra foi reduzido à metade, recursos da agricultura familiar, do Pronaf, foram  puverizados, dentre tantos. Estamos nos confrontando com um shutdown nos próximos meses. Ou seja, a máquina pública terá que parar de funcionar e isso num ambiente de pandemia! Soma-se a este imbróglio, também, o "bate-boca" entre governo e STF, além do Parlamento, para a instalação de uma CPI da Covid. Claro! Vivemos uma crise institucional de imprevisíveis desdobramentos. Só não vê quem não quer. 

O presidente Bolsonaro, em telefonema "vazado" pelo Senador Jorge Kajuru, foi muito claro em “ameaças” contra senadores que trabalham a favor deste desfecho. É fato que uma CPI teria que ser reunida, tal a quantidade de descalabros do presidente, negando a vacina, brigando contra os fatos, contrário ao isolamento e o lockdwn, etc. Não dá para apagar disso. No entanto, uma outra CPI também precisa avançar, a dos governadores e prefeitos, que se aproveitaram da comoção da pandemia para desviar recursos. E, ao que consta, não foi nada isolado. Foram vários a cometerem estes delitos. 

Diante desta confusão, os mercados estão “estressando” nesta manhã de terça-feira. O EZW, principal fundo de ativos brasileiros na bolsa de NY, caiu 1,7%; o dólar se firma acima de R$ 5,70, o Ibovespa deve recuar forte e a curva de juro futuro sinalizar considerável elevação, dado este risco fiscal maior. 

Outro indicador a piorar é o risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS) de 5 anos. Na segunda-feira, era negociado em 221 pontos, se mantendo nesse nível de 220 nos últimos dias, patamar mais elevado desde outubro do ano passado. 

Nos EUA, esta terça-feira é dia de CPI de março, havendo a possibilidade de chegar a 3,8% nos próximos meses. Projeção de mercado aponta 0,5% no mês e 2,5% na taxa anualizada. 

Uma nota. 

Morreu nesta segunda-feira um dos economistas mais brilhantes da sua geração, John Williamson. 

Pensou como ninuém os problemas estruturais dos países em desenvolvimento. Tentou resolvê-los, com evidências, fatos. Não foi um omisso, a não enxergar a realidade e manter uma narrativa preguiçosa, mas um schollar que teve a devida coragem de colocar o "dedo na ferida", no início da década de 90, ao expor o desastre das "políticas nacional desenvolvimentistas" dos emergentes nas décadas de 70 e 80.

 Tivemos a “crise da dívida externa”, a “década perdida”, vários países quebrados. Em resposta, Williamson reuniu vários economistas na Brooking Institution, em Washington DC, e traçou um irretocável diagnóstico sobre o que fazer, que caminho seguir, para superar estes gargalos estruturais nos vários países da América Latina. 

Nasceu o "Consenso de Washinton". Nada contra, muito pelo contrário. O que devemos criticar é a incompetência de muitos que não souberam extrair o que o “Consenso” tinha de urgente e positivo. Não terem visto as especificidades de cada país, este, talvez, o maior erro. 

Vamos conversando. Escreverei sobre este tema nesta semana.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

FORMAÇÃO DE CAPITAL HUMANO

 


MACRO MERCADOS SEMANAL 12/04/2021 - CPI DA COVID, DESGASTE ENTRE PODERES, ORÇAMENTO

Iniciamos mais uma semana intensa, caótica, em que o açodamento político predomina. Numa leitura retrospectiva, é isso que temos enfrentado, pelo menos, desde os protestos de 2013 (mas isso fica para um outro dia).

A retratar esta que se inicia o trâmite da CPI do Covid no Senado na terça-feira e, no dia seguinte, o julgamento da liminar do ministro Barroso no plenário do STF. Alguns ministros defendiam o adiamento deste julgamento presencial, mas, diante do áudio vazado neste final de semana, com Bolsonaro e o Senador Kajuru “tramando contra alguns ministros”, tudo pode mudar. Os 11 ministros da alta corte devem se posicionar, fortemente, contrários a este áudio.

No seu conteúdo, o esforço de ambos de colocar vários ministros sob suspeição, no risco de impeachment. Nestes, o mais visado seria o ministro Alexandre de Moraes, desafeto de muitos apoiadores do presidente. Só que Bolsonaro piora ainda mais o cenário depois de ter acusado Luiz Roberto Barroso de agir com “politicalha”, “ativismo judicial” e “falta de coragem moral”.

Bolsonaro acha que nesta CPI da Covid também devem ser incluídos os governadores, não ficando tudo centrado nas suas ações e do seu então ministro da Saúde, Antônio Pazuello.

E olha que no meio disso tudo ainda temos uma plenária do STF a julgar a decisão do ministro Edson Fachin de anular todas as condenações de Lula da Silva, e outra, a confirmar, colocando o juiz Sergio Moro sob suspeição. Ambas, ao que parece, devem ser confirmadas.

E reparem bem. O mesmo aconteceu em Portugal, na 6ª feira passada, onde o ex-ministro José Sócrates acabou “inocentado” de diversas acusações por falta de provas. En reação já há uma movimentação forte de cidadãos tentando anular esta decisão do então juiz Ivo Rosa. Um baixo assinado com 150 mil assinaturas circula na internet. É a operação Marquês em julgamento, uma espécie de LAVA JATO portuguesa.

Ainda sobre o evento CPI da Covid 19, Bolsonaro precisa do apoio dos Senadores e Deputados nesta empreitada de esvaziá-la. As emendas do Orçamento, inclusive, podem virar “moeda de troca”. Objetivo primeiro do presidente Bolsonaro será enchê-la de integranfes dos seus grupos de apoio.

Contra ele a péssima repercussão pública pela sua postura diante da pandemia, andando sem máscara e querendo “desafiar o bom senso”. Neste final de semana, em Brasília, isso voltou a acontecer. O presidente, sem máscara, de moto, desfilando na periferia da Capital Federal, falando que lockdown era estado de sítio e tolhia a liberdade das pessoas de ir e vir. Quanto negacionismo....!

Enquanto isso, seguem ocorrendo mortes decorrentes da pandemia. No domingo foram 1.803 em 24 horas, elevando o número acumulado, desde o início, a 353 mil.

Em São Paulo, por determinação do governador João Doria, retorna hoje a fase vermelha, apesar de o centro de contingência, que reúne especialistas da saúde, ter recomendado que o Estado continuasse na fase emergencial. Na prática, a principal mudança será a liberação de escolas públicas e particulares, limitadas a 35% de ocupação. Embora médicos alertem que a ocupação de leitos de UTI segue bastante elevada (próxima de 90%), a nova etapa do Plano São Paulo vai até a próxima 2ªF, quando, em tese, o Estado pode relaxar para a fase laranja.

AGENDA DA SEMANA

Na agenda da semana, no Brasil destaque para as Vendas do Varejo na 3ª feira e a Pesquisa do Setor de Serviços na 5ªfeira, de fevereiro, ambos dados do IBGE. Devem ser encarados, no entanto, como algo passado, não captando o endurecimento das medidas de restrição em março. Hoje, saem a pesquisa Focus do Bacen (8h25), a primeira prévia de abril do IPC-Fipe (5h), e à tarde (15h), a balança comercial semanal. Na 5ª feira, temos o IGP-10 de abril e na 6ª feira, a parcial do IPC-S.

Nos EUA, o presidente Biden recebe hoje um grupo bipartidário para negociar seu pacote trilionário para a infraestrutura e tentar vencer as resistências. A esperança de apoio republicano garantiu novos recordes em NY na 6ª feira.

Entre os indicadores, amanhã, nos EUA, os preços ao consumidor (CPI) em março testam a percepção do Fed sobre as pressões inflacionárias ‘temporárias”, projetando política monetária acomodatícia até 2023. Na 4ª feira temos a ata do Fed. No mesmo dia, Jerome Powell participa de evento no Clube Econômico de Washington. Ainda na 4ª feira a presidente do BCE, Christine Lagarde fala à Reuters. Em entrevista, neste fim de semana, Powell disse que a economia dos EUA parece estar num “ponto de inflexão”, sinalizando “crescimento mais acelerado”. “Sentimos que estamos em um lugar onde a economia está prestes a começar a crescer muito mais rapidamente, com a criação de empregos chegando mais rápido”.

O dia forte de indicadores nos EUA acontece na 5ª feira, com a produção industrial e vendas no varejo em março, além do Índice Empire State, de atividade industrial em NY. Na zona do euro, saem hoje as vendas no varejo em fevereiro (6h).

Na China, temos uma rodada de indicadores importantes: balança comercial de março, amanhã à noite, além do PIB/1TRI, produção industrial e vendas no varejo em março, que sairão no final da noite de 4ª feira.

MERCADOS DE ATIVO

Fechamos sexta-feira (dia 9) com o Ibovespa em queda “suave” de 0,54%, a 117.669 pontos, na semana avançando 2,1%. Mesmo com a pressão cambial, o ajuste do índice foi bem moderado, assegurando ganho de 2,1% na semana, depois de avançar 0,41% na quinta-feira. No mês acumula 0,89% e no ano registra perda de 1,1%. Esta semana será de mais volatilidade, que pode se espraiar também no mercado cambial. A semana passada teve os investidores se refugiando no dólar, frente ao complicado cenário para a aprovação do Orçamento e as nuvens de CPI da Covid. Na sexta-feira (dia 9), a moeda norte-americana fechou a R$ 5,6749, alta de 1,81%, acumulando queda de 0,71% na semana, influenciada mais pelo cenário externo, e valorização no ano. Por fim, no mercado de juro, a CPI da COVID 19 e o impasse do Orçamento devem seguir estressando este mercado

Boa semana a todos !

sábado, 10 de abril de 2021

UMA SEMANA (IN)TENSA

Sem trocadilho, foi uma semana tensa e intensa. Tivemos novos desencontros sobre os rumos do Orçamento de 2021; a pandemia seguiu fazendo estragos, com mortes acumuladas passando de 330 mil, em 24 horas beirando as quatro mil, e as vacinas chegando, mesmo insuficientes e em atraso.

Para piorar, o presidente seguiu na sua pregação alucinada contra o lockdown, já demonstrado em vários países do mundo, como Nova Zelândia, Austrália, Portugal, ser a solução mais imediata e eficaz contra o virus.

Com isso, ele vai se isolando cada vez mais e perdendo apoio. Um episódio a confirmar este isolacionismo, foi o STF, no papel do ministro Luiz Roberto Barroso, defender, depois de “baixo assinado” dos senadores, a CPI da Covid 19.

Bolsonaro, muito irritado, partiu para ataques pessoais ao ministro Barroso, o que tensionou ainda mais o ambiente e gerou um apoio de todo o STF, antes com alguns ainda reticentes em colocar este tema em pauta como prioridade, dado o momento delicado da pandemia. Bolsonaro foi tão grosseiro e inábil, que conseguiu reunir todos os 11 ministros contra ele.

Em outra derrota, estes mesmos ministros, por 9 a 2 (apenas Toffoli e Kassio Marques foram contrários) permitiram que governadores e prefeitos possam fechar templos e igrejas, proibindo pregações e assim, evitando aglomerações. Acreditem? Bolsonaro era contrário, na retórica torta de que estávamos aceitando “estado de sítio”. Nada mais errôneo e equivocado. O que se defende aqui são vidas, e estas só podem ser preservadas, se os canais de transmissão do virus, pelo ar, em aglomerações, puderem ser “estancados”.

Sobre os trâmites para que tenhamos mais vacinas, na quinta-feira (dia 8) o Instituto Butantan anunciou a liberação de insumos para a continuação da produção de vacinas. Uma boa notícia, pois no dia anterior o instituto havia anunciado a suspensão da produçaõ pela falta de insumos. Neste dia o Brasil bateu mais um recorde diário de mortes em 24 horas, 4.290, na sexta foram mais 3.647. Chegamos, no acumulado, na sexta-feira a 349 mil. Novos casos foram elevados a 89 mil. Ainda estamos no caos e descontrole.

Na economia, tivemos o IPCA de março, em linha com as projeções (0,93%), acumulando 6,1% em 12 meses. Já o IGP-M, na primeira prévia de abril, registrou 0,5%, contra 1,9% na mesma do mês anterior.

Isso posto, abrem-se as janelas de oportunidade para o Copom, dia 05/05, sancionar mais uma elevação do juro Selic, em 0,75 ponto percentual, a 3,5% e depois dar uma “parada”.

O comportamento do IPCA foi influenciado diretamente pelo choque de combustíveis mais caros e de alimentos. Achamos que a inflação de curto-prazo deve seguir pressionada até, pelo menos, meados do ano, com um “nível de espalhamento” maior nos núcleos e pelos índices de difusão. No entanto, achamos ser esta temporária, pelos efeitos da pandemia na economia. Ao fim deste ano, trabalhamos com o IPCA a 5,1%; para 2022 4,5%.
Mercado de Ativos


Bolsa de Valores

Fechamos sexta-feira (dia 9) com o Ibovespa em queda “suave” de 0,54%, a 117.669 pontos, na semana avançando 2,1%. Mesmo com a pressão cambial, o ajuste do índice foi bem moderado, assegurando ganho de 2,1% na semana, depois de avançar 0,41% na quinta-feira. No mês acumula 0,89% e no ano registra perdas de 1,13%. A atratividade da bolsa, porém, segue na ordem do dia. Segundo a B3 o número de investidores ativos chegou a 3,59 milhões em março (+58% no ano). Já o mercado de ações movimentou R$ 36,8 bi, +12,2% contra mar20.

Mercado cambial.

Foi uma semana em que os investidores se refugiaram no dólar, frente ao complicado cenário para a aprovação do Orçamento. Na sexta-feira (dia 9) a moeda norte-americana fechou a R$ 5,6749, alta de 1,81%, acumulando queda de 0,71% na semana, influenciada mais pelo cenário externo, e valorização no ano. Os investidores estão na defensiva por causa da questão do Orçamento. Já nos EUA o PPI veio mais forte (1,0%), o que deve pressionar os Treasuries americanos, depreciando ainda mais a nossa moeda. Ao fim deste ano estimamos o dólar R$ 5,40, a R$ 5,20 nos anos seguintes.

Mercado de juro

O impasse do Orçamento seguiu estressando o mercado de juro. Os pareceres da Câmara e do Senado contrários aos cortes, preocupam. Interessante que a curva de juro vinha cedendo desde quinta-feira, pela sinalização do Copom mostrando ter “controle” sobre o juro e a inflação. Há outras tensões no ar, como o STF ter dado parecer favorável a CPI da Covid. No front inflacionário, o IPCA até veio dentro da meta, mas nos EUA, o PPI surpreendeu, com 1% em março, bem acima das previsões. Por enquanto, trabalhamos com a Selic a 5,25% ao fim deste ano e 6,0% em 2022.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

MACRO MERCADOS DIÁRIO 09/04/2021 - BALANÇO SEMANAL

Foi mais uma semana em que os investidores operaram com os “nervos à flor da pele”. Tivemos desencontros na “base de apoio” do governo no Congresso, com a equipe econômica, sobre a execução do Orçamento; polêmicas desnecessárias sobre a necessidade (ou não) de eventos religiosos presenciais, em pleno caos pandêmico; o ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, autorizou a abertura de uma CPI da Covid (ruim para o presidente); a aproximação do governo com os empresários, etc. Nos EUA, o governo Biden avançou na sua ambiciosa agenda de estímulos, com mais um mega pacote, de US$ 2,9 trilhões, e no Brasil, o sucesso da mega temporada de leilões de ativos. Foram concedidos 22 aeroportos, uma estrada de ferro e prevista uma rodovia e vários lotes dos portos de Pelotas e Itaqui.

Em decorrência disso, algum desafogo se fez presente, com o futuro de juro recuando, o dólar cedendo ainda mais e a bolsa de valores em alta.

Na quinta-feira (dia 8), alguns eventos foram decisivos para isso. Tivemos alguns avanços nas negociações em torno do Orçamento, o STF decidiu por suspender os cultos e missas, em função da necessidade de isolamento nesta fase mais aguda da pandemia (mortes passando de 4 mil), e o Butantan anunciou a liberação de insumos para a continuação da produção de vacinas. Neste dia o Brasil bateu mais um recorde diário de mortes pela Covid19 em 24 horas, 4.290, com os novos casos, elevados a 86.652. Isso prognostica um mês de abril ainda mais dramático do que o anterior.

Sucesso nos leilões. Tivemos também mais um leilão, da ferrovia Oeste Leste (Fiol) na região cacaueira da Bahia (sudeste baiano), depois dos bens sucedidos leilões de 22 aeroportos, acontecidos quarta-feira. Isso, aliás, deve ser dito. Os leilões do ministro Tarcísio Freitas são (ou foram) um sucesso, com um volume de investimentos previsto para os próximos anos acima de R$ 20 bilhões. Isso reforça, na central de boatos, que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, ex-capitão do Exército e engenheiro do IME, pode se apresentar como nome interessante a fazer chapa com o já candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Se acontecerá, ou não, é outra história. Como dizem, “política é como as nuvens no céu, a cada momento numa posição”.

Nos EUA,
Jerome Powell, presidente do Fed, em ata do Fomc, reforçou sua política acomodatícia. Por enquanto, ele não vê preocupação com a inflação, considerada ainda temporária, o que é demonstrável pelos dados. Os pedidos de seguro desemprego, por exemplo, subiram 16 mil na semana (a 744 mil), a segunda seguida, se deslocando dos mais otimistas dados do “payroll” (+916 mil). Isso acabou derrubando, nesta quinta-feira, as taxas dos vários treasuries, negociados no mercado.

Em paralelo, o mega pacote de US$ 2,9 trilhões continuava repercutindo, embora alguma reação dos republicanos o colocava em suspense. A carga adicional de impostos, sobre as empresas, é o “nó da questão”. Algo deve ser alterado, não mais prevalecendo os 28% definidos.

No Brasil, a discussão também recai sobre o tema fiscal, mas por outras razões. O Orçamento segue em negociação no Congresso. O Tesouro defende os ajustes necessários, já que, como apresentado, dificulta na execução. Há sim riscos, na visão do TCU, na incorrência de “crime de responsabilidade fiscal”. A movimentação dos presidentes das casas (Rodrigo Pacheco no Senado e Arthur Lira na Câmara) indicam serem contrários aos vetos do presidente Bolsonaro em relação às emendas dos deputados.

Como todos sabemos, na proposta orçamentária, apresentada para este ano, foi definido um corte de R$ 26,4 bilhões nas despesas obrigatórias, concentradas na Previdência, abono salarial, seguros desempregos, e forte expansão, de R$ 29 bilhões, nas emendas impositivas.

O problema é que com estas a conta não fecha, o que coloca em dúvida o cumprimento do teto dos gastos. Há, claramente, nesta proposta, um viés “populista fiscal” no uso de mais recursos, visando as eleições de 2022. Se o debate perdurar neste impasse, o risco será a demissão de toda a equipe econômica, incluindo Paulo Guedes, além do governo Bolsonaro incorrer em ilegalidade e risco de paralisia da máquina pública (“shutdown”). Segundo sondagens, as negociações caminham para preservar parte das emendas adicionadas no Orçamento, entre R$ 16 e R$ 18 bilhões. Outra parte seria vetada pelo relator. O problema é que os presidentes das casas não aceitam isso.

Temos o prazo até o dia 22 para este imbróglio se resolver. Apenas um detalhe. Ao Centrão, e seus representates, os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, o que interessa é a obtenção de “nacos de poder”. Se comenta sobre o Ministério da Economia ser partilhado, Planejamento ser criado, ou Indústria e Comércio, com novos cargos disponibilizados. Comenta-se também sobre os ministérios da Educação, do Turismo e do Meio Ambiente. A fome não para. É a velha governança de coalizão, ou de cooptação, à plena carga.

Nesta sexta-feira
é divulgado o IPCA de março e, com certeza, algum “stress” deve se formar na curva de juro futuro, já que o índice do IBGE deve vir mais elevado.

Estimativas variam entre 0,9% e 1,0%, o que o deve jogar a mais de 6,2% em 12 meses. A corroborar o fato dos núcleos, considerando o curto prazo, já estarem “rodando acima da meta”. Isso deve reforçar a necessidade da “normalização da taxa Selic”, havendo consenso uma elevação de 0,75 ponto percentual, na reunião do Copom de maio (dia 5). Dentre os fatores, continua a depreciação cambial, em repasse aos preços finais, as “commodities” elevadas, pela retomada da China, pressionando os alimentos, mesmo que arrefecendo, mas ainda elevados, e o combustível. Lembremos que o gás natural sofrerá um forte reajuste ao fim deste mês (39%).

Bom fim de semana a todos !

quinta-feira, 8 de abril de 2021

MACRO MERCADO DIÁRIO 08/04/21 - LEILÕES, BOLHAS E ORÇAMENTO

Iniciamos esta quinta-feira (08/04) saudando os bens sucedidos leilões nos 22 aeroportos, listados pelo ministro Tarcísio Freitas, concedidos" à iniciativa privada, mas ainda repercutindo o imbróglio das negociações do Orçamento e novas declarações intempestivas do presidente Bolsonaro, aos reajustes do gás, definidos para o final deste mês (+39%).

Este acabou sendo o fator a azedar um pouco o humor dos mercados nesta quarta. Todos os ativos "viraram". A bolsa de valores, que vinha sustentando alguma alta, perdeu vigor ao fim do dia, o dólar acelerou a valorização e as curvas de juros acumularam novos prêmios. Isso porque disse Bolsonaro achar um absurdo o reajuste autorizado do gás natural para o fim deste mês (+39%), criticando a gestão de CEO que sai, Castello Branco, e "afirmando" que mudanças na política de preços serão necessárias. Uma decisão aventada pode ser a mudança na cobrança de ICMS sobre combustíveis. Outra pode ser criar um fundo de compensação a amortecer possíveis oscilações nos preços dos derivados (gasolina, diesel e gás de cozinha). Tudo está em discussão e o novo CEO General Luna parece atento a isso.

Em paralelo, tivemos um bem sucedido leilão da concessão de 22 aeroportos. O valor de outorgas passou de R$ 3,3 bilhões e os ágios foram bem elevados. Foram três blocos concedidos - Sul, Norte I e Centro -, devem estes receberem algo em torno de R$ 6,1 bilhões em investimentos nos próximos 30 anos. O lance mais surpreendente foi o do lote Central, com a oferta do grupo CCR de R$ 754 milhões, valor 9.156% maior que o lance mínimo previsto pelo governo.

Interessante observar que antes todos estes aeroportos eram "administrados" pela empresa pública aeroportuária, Infraero. Alguns eram considerados os "patinhos feios" neste mercado, pois operavam em cidades com baixa atratividade econômica ou turística.Mas eram importantes, por exemplo, na Amazônia, por "conectar" certas regiões ao restante do Brasil.

Segundo opinões de mercado, os ágios praticados nas propostas não impressionaram. "Os valores colocados nos leilões foram resultados de uma "precificação conservadora", do governo, combinada com percepções diferentes das empresas sobre o risco envolvido na operação neste momento."
Nesta quinta-feira (8), o governo federal irá leiloar a concessão de um trecho da Fiol, ferrovia de 537 quilômetros na Bahia, para a qual é esperado investimento de R$ 3,3 bilhões em um prazo de 35 anos.

Em paralelo a esta boa notícia, Paulo Guedes, em encontro com o G-20 e o grupo dos Brics, tratou de saudar o que o governo conseguiu avançar neste início de 2021. Falou da autonomia do Banco Central, da aprovação da PEC, da liberalização dos mercados de saneamento básico e de gás e por fim, deste bem sucedido leilão de aeroportos. Em paralelo, em jantar promovido por alguns empresários, foi ovacionado. Não se sabe se este representou em peso o PIB nacional, mas não deixa de ser um alento. Eram crescentes os comentários de que os empresários haviam desembarcado deste governo e já buscavam alternativas de centro ao que se aproxima nas eleições de 2022.

Sobre o imbróglio do Orçamento, o TCU está querendo esclarecimentos do governo sobre este papo de subavaliar os cortes de despesas, incluir as obrigatórias, e considerar R$ 31 bilhões em emendas paroquiais. Por que tirar de onde não pode ser tirado, para bancar estas emendas?

Por fim, nos Estados Unidos, o professor Nouriel Roubini, da Stern School of Business da Universidade de Nova York, o Dr Doom, afirmou que há sinais fortes de que uma nova bolha no mercado. Para ele, uma combinação de taxas de juros próximas a zero, ou até negativas, e estímulos fiscais sem precedentes "estão levando os investidores a assumirem riscos excessivos". Lembremos que foi este senhor a "cantar a pedra" sobre a crise de 2008.

Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...