sexta-feira, 29 de maio de 2020

EDUCAÇÃO III

Importante uma breve abordagem sobre o estado dos cursos de Economia nas universidades públicas brasileiras. Falarei das que eu mais conheço, ou estudei, mesmo que brevemente, UFRJ e UFF.
Minhas experiências nestas duas instituições foram breves, mas intensas. Importante destacar a excelência acadêmica em muitas áreas, mas não ignorando, ou deixar de comentar, o crescente aparelhamento na área de humanas.
Na UFF, onde fiz o mestrado acadêmico, me chamou atenção na Economia Política, o predomínio de abordagens marxistas, ou "marxianas", aqueles que lêem os "grundises" (do original alemão).
Tantos e tão diversos pensadores, formuladores teóricos de uma ciência nascente e cheio de energia e vieses, e nós apenas lendo Karl Marx (um clássico meio decadente?)!!
Seria tolerável uma aberração destas?
A impressão que eu tinha é que ali eu não estava para estudar, mas fazer militância, ou sofrer uma "lavagem cerebral", como tantos tolos alunos que se guiaram pelo professor Doutor da época, um filósofo formado em Berlim. Nada contra ele. Contra, eu tinha sim a esta imposição de uma agenda esquerdista, tola e desatualizada, num mestrado acadêmico de Economia.
Durante este mestrado eu acabei conseguindo um emprego, que se tornou o da minha vida inteira. Na LOPES FILHO & ASSOCIADOS, a partir de 1993, e na área que mais me interessava, desenvolvi variadas análise MACRO, de indicadores econômicos e financeiros de mercado, debates variados, etc.
Por lá, me firmei como Economista-Chefe e conheci bem o mercado financeiro, embora pouco acesso às casas de investimento que começavam a pintar, aqui e acolá, conhecidas também como gestoras ou assets. Para estas, apenas os yuppies da PUC e da EPGE.
Fiz todos os créditos deste mestrado acadêmico na UFF. Depois resolvi fazer um Mestrado Profissionalizante e defender a dissertação sobre "Crises Cambiais nos anos 90". Lembrando que tese é só no Doutoramento. Fiz na UCAM, num dos primeiros Mestrados Profissionalizantes do País, na qual era possível conciliar uma "pegada acadêmica", sem perder o foco no mercado de trabalho, necessidade de se atualizar e também ganhar um salário decente.
Interessante que eu sempre achei uma "bobagem" esta tola dicotomia entre economistas de mercado e acadêmicos. Todos são um só, profissionais nas suas áreas respectivas de atuação.
Comenta-se que isso é muito mais presente entre os economistas heterodoxos, todos cheios de desdém para falar dos economistas que trabalham no mercado financeiro ou tinha uma linhagem mais ortodoxa, estes mais aderentes ao uso de modelos macrométricos, matemáticos, para explicar parte da realidade.
Já os primeiros gostavam mais de análises descritivas, "historicistas". Nada contra. Acho que uma complementa a outra.
Aliás, não acho saudável esta dicotomia de heterodoxos não respeitarem os ortodoxos (e vice-versa).
Em poucas palavras, os primeiros, heterodoxos, acham saudável expandir os gastos do governo, pelos seus efeitos multiplicadores sobre investimentos, renda e emprego, mesmo que o déficit aumentasse muito. Na leitura deles, a demanda estimulada empurraria o PIB para frente e geraria ganhos de arrecadação, o que depois compensaria qualquer "desbalanceamento" fiscal. Neste contexto, suas leituras, bem keynesianas e anti-cícilicas, era de que o governo era o principal endutor da economia. Claro, Keynes não é só isso, é mto mais.
Inclusive, foi um avanço, uma evolução, ver um destes heterodoxos, o João Sicsú, da UFRJ, conversando nesta semana, com o André Perfeito, economista da NECTON. O João é considerado um dos maiores pós-keynesianos da atualidade, numa leitura mais alternativa da Teoria Geral, por colocar mais pimenta na discussão sobre a incerteza numa Economia Monetária de Produção.
Aliás, perfeita a leitura dos economistas keynesianos sobre este tema. Nada a discordar. Assim como eu acho importante no "cabedal" de conhecimentos dos economistas haver uma agregação de ferramentas quantitativas, até para ser melhor aceito pelo outro lado. Na comunidade científica internacional, é por este caminho que devemos transitar. A dos modelos quantitativos como alternativa à leitura acadêmica.
Este mesmo lado que tem uma leitura mais voltada para a produtividade, ganhos de eficiência, aumento da oferta. Sendo assim, os heteros olham mais para a demanda e os ortos mais pelos lado da oferta.
Acho que ambas as leituras devem se complementar. Os primeiros acham que a economia será impulsionada pelos estímulos à demanda e a arrecadação crescerá como resposta. Acham estes que ajustes necessários devem ocorrer pelo lado das receitas, sempre batendo sob a tecla da taxação sobre fortunas e heranças. O problema é que eles não se atentam muito para as necessidades de melhoria na eficiência dos gastos públicos, na sua qualidade. Não observam que para uma "sociedade do bem-estar" ("welfare state"), é importante focar na qualidade dos serviços públicos prestados.
Já os ortodoxos possuem uma série de nuances. Atuam mais pelo lado da oferta, pelo debate em torno da necessidade de elevar a produtividade. Areditam no ato salutar, para a economia como um todo, de um ajuste fiscal que readeque as despesas à capacidade de arrecadação federal, enchergam ser importante reduzir a carga de impostos sobre a produção, no objetivo de estimular as empresas, acham que inflação é um fenômeno monetário, muito mais decorrente de remarcações das empresas, dentre outras.
Acho que ambas as leituras são válidas. O que deve predominar, depois de uma boa análise, é um filtro e muito equilíbrio e bom senso.
Em crises, como a pandemia de agora, não resta dúvida sobre o providencial papel do Estado como agente indutor e atuando nos "vazios sociais". Concordo plenamente. Aahh, então todos somos keynesianos? Não. Somos o que devemos ser, de acordo com as circunstâncias do momento. Acho terrível estes rótulos forçados.
Sou contrário à rótulos, assim como à demonização pura e simples.
Importante é sermos plurais, abertos à novas correntes e sermos sempre curiosos, absorvendo conhecimentos novos.
Vamos conversando.

Meritocracia é bom, mas cuidado!

EDUCAÇÃO II

Aqui em PORTUGAL (estou numa pequena cidade de 50 mil habitantes, chamada Évora, mas muito tranquila) as experências vêm sendo bem marcantes.

Cheguei aqui ao fim de 2018 para o início do Doutoramento. Estou em tema de tese sobre SUSTENTABILIDADE DE DÍVIDA PÚBLICA NO LONGO PRAZO, versando sobre a experiência de dez países menos desenvolvidos nesta área. Quero dizer que estava meio à meia bomba, mas deu uma boa retomada por estes dias de pandemia. Meu interesse? Meu enriquecimento intelectual e a arte de iniciar um pouco na área de pesquisa científica de verdade.

Em paralelo, venho acompanhando, discretamente, a evolução do meu jovem filhote de 17 anos, Bruno, no seu objetivo de integrar na universidade. E muito venho me emocionando com a dedicação dele (é claro) e dos professores (formadores) pelos objetivos do seu aluno. Que diferença para a primeira escola onde meu filho estudou parte da sua formação em JACAREPAGUÁ, RJ!!
Meu filho estuda numa escola pública aqui em Évora. Sua estrutura FÍSICA, porém, nada deve aos melhores padrões das "medalhadas" escolas privadas do Brasil. Faço questão de falar o nome da escola, Escola Pública Gabriel Pereira.
O menino ingressou nesta escola entre o segundo e o terceiro ano, em fins de 2018, início de 2019. Ingressou na verdade no segundo trimestre do segundo, e foi atropelando...Impressionante!

Aqui em Portugal o período letivo vai de setembro/X0 a setembro/X1. Ele chegou em dez e começou as aulas em jan19, na verdade tendo perdido set a dez. Se recuperou e terminou entre os melhores alunos da turma. E olha que a escola é pública, mas é boa! Está bem ranqueada no sistema de ensino de PTG. São ótimos os professores, mas, claro. Aqui, como em todos os lugares, existem bons professores e razoáveis, assim como existem os bons e os desinteressados alunos.

Para o terceiro ano, ele logo foi alocado na turma focada em Exatas, pois seu objetivo é fazer ENGENHARIA AEROESPACIAL. Aqui as notas variam até 20, e a sua média oscila entre 18 e 20. Só que esta engenharia é mais "hardcore" do que Medicina, é barra pesada! Tenho o prescentimento que ele passa. Sua universidade é a "POLITÉCNICA DE LISBOA". Ou seja, em setembro estaremos todos morando na capital.

O que mais me emociona, no entanto, é a dedicação dos professores em elevar o nível do meu filho, fortalecê-lo para ele ingressar na Polítécnica de Lisboa. Parece-me meio um sistema meio de mutirão. Interessante. São todos mtos mobilizados em dar o melhor aos alunos. É meio que uma postura de idealismo, de despreendimento, de meta educacional. E isso não tem preço.

Eu que sou meio emocional, meio "velho chorão", só tenho me emocionado por aqui.

E vamos em frente!





EDUCAÇÃO I

Soube hje que a UCAM está em "recuperação judicial". Surpresa nenhuma diante das péssimas administrações do passado.

Até houve algum esforço de recuperação nos últimos três anos, mas aí a "porta já estava arrombada". Triste porque era uma instituição centenária, que merecia melhor trato no seu patrimônio e na sua filosofia de ensino, e onde eu fiz, qdo respeitável, parte da minha formação.

No entanto, sempre foi gerida de forma personalista e familiar. Não poderia mesmo dar certo.

Apenas recordando que lá voce assina a carteira de trabalho, mas nunca recebe o que a legislação trabalhista define como obrigação do empregador.

Nos ultimos anos, vinham tentando "arrumar a casa", mas a torpeza de algumas diretorias anteriores deteriorou de tal foram a gestão da casa, que se tornava impossível esta recuperação. Estavam quase descredenciados pelo MEC como universidade.
E isso não acontece só lá. Dentre as universidades privadas, só posso considerar realmente a PUC e a FGV como "padrões de qualidade".

O resto, pelo menos no meu estado (RJ), corre atrás, mas deixa mto a desejar. Ser respeitado como profissional sério em algumas instituições privadas de ensino é um desafio. Predomina o improviso, o amadorismo, a "corda no pescoço", a acomodação e o desrespeito aos professores.
E isso acontece muito também nas escolas privadas de segundo grau, de ensino médio.
Meu filho, melhor aluno de sala, estudou numa escola, cheio de tradições, mas que mais queria era grana e não premiar o mérito ou a excelência acadêmcia no método de ensino. Literalmente, para o meu choque e desalento, era uma escola do "pagou e passou". Uma vergonha. Percebemos isso e o tiramos de lá. Achávamos antes que o meu filho, sendo ótimo aluno, poderia pleitear uma bolsa, parcial que fosse. Doce ilusão. O negócio deles era grana, grana, grana. A classe média alienada, aquela que pouco sabe dos filhos que acabam maconheiros, muito mais interessada que está nos seus umbigos, nem estaria preocupada com a qualidade e honestidade do ensino. O negócio desta gente é manter o "status quo".
Antes desta experiência em Portugal, meu filho acabou indo para uma "escola de verdade", o PENSI, esta sim,um exemplo de seriedade e foco. Este sistema de ensino, o ELEVA, deve ser louvado sempre. Dizem que seu maior sócio e o PAULO LEHMANN.

Meu filho estudava na escola da Barão de Mesquita. Lá não HAVIA moleza. Era só garotada de Biomédica, Exatas, ITA, IME, um exemplo, a ser destacado e elogiado sempre. Aliás, como boa parte dos jovens "bem nascidos", "filhinhos de papai", estão perdidos por aí hein? Isso me impressiona muito. Na escola anterior só se via garotada querendo fazer arte, ir pelo atalho dos ensinos fáceis e pueris.

Tijuca II - Pensi

Enfim, o que é bom, deve ser louvado e lembrado sempre. É o q eu me proponho a fazer neste espaço.

Dogmatismo e fanatismo ??

Estou out!!

terça-feira, 19 de maio de 2020

NOTAS DO ALENTEJO

Parece-me claro que o presidente Jair Bolsonaro possui um ministério com algumas excelências (talvez, as que sobraram, depois da saída do super ministro Moro), mas cisma em se guiar pela esquizofrênia de alguns filhos, creio com o maior de acendência, o tal Carlos Bolsonaro, vereador no RJ, na minha opiniçao, com traços de alguma patologia emocional. Completa o time, na coadjuvância, Eduardo e Flavio, este último, com o presidente muito cioso de defendê-lo das "rachadinhas". Dizem que por trás dos filhos predomina o tal “gabinete do ódio, não sei de quem esta denominação.

Enfim, esta me parece ser a estrutura de poder do País, uma família, alguns assessores, e não um competente ministério. Já se começa a observar até algum desconforto por parte de alguns destes ministros. Sim, porque eles se desdobram, se viram e sempre pintam crises, tensões, instabilidades.

E o que dizer do Ministério da Economia? A agenda está posta na mesa e a equipe, com algumas exceções, é de alto nível. Começamos com a reforma da Previdência, que acabou meio pela metade pela não implantação do regime de capitalização, substituição ao regime de acumulação. Algumas coisas saíram, como a Lei de Liberdade Econômica, assim como o esforço do tal “Pacto Federativo”, com “mais Brasil e menos Brasília”, uma brilhante "sacação" do ministro Guedes. O problema é que quando o carismático Guedes chegava às comissões, era atacado por todos os lados, praticamente massacrado, sendo os membros bolsominions das comissões, tímidos, omissos, pouco guerreando. E o que dizer do pobre Sergio Moro? Uma das "jóias da coroa" deste governo, o herói da Lava Jato, totalmente esvaziado nas suas atribuições eq medidas? Sem dúvida. Moro tinha um pacote para acabar com o crime organizado, nem que isso atacasse também os filhos do presidente. Fez bobagem, cana! Só que o presidente foi o primeiro a se posionar dubiamente, indo ao encontro do ministro Toffoli, quando a segunda instância estava sob ataque, assim como o “foro privilegiado”, dentre outras medidas cirúrgicas, para acabar com a impunidade.

Moro foi “fritado” desde o primeiro dia em q assumiu o governo (Coaf, desnomeação de Diretora de Direitos Humanos, retirada de várias medidas do pacote “Combate contra o crime”). Por que?

Simplesmente, porque o presidente se incomodou com o destaque pessoal dado ao juiz. E o mesmo aconteceu com o ministro Mandetta, uma covardia sem tamanho. O ministro era um destaque a mais neste governo. Que bom! Que belo trabalho do Ministro da Saúde, mantendo a população informada, recomendando cautela, isolamento horizontal, claro, até porqque a infra dos SUS é caótica. Mas não...Segundo o presidente, só para ir contra a corrente, “tem q liberar a boaiada”.

E me vem o velho (e bota velho nisso!!) debate sobre sermos (ou não) keynesianos. Parece-me claro que todos somos um pouco keynesianos sim, mas estabelece-se o bom senso de que é importante fazer a “engrenagem econômica” funcionar, sem excesso de areia, ou poeira, não permitindo que as pessoas possam enxergar além. Sim, o keynesianismo, ou mesmo o amadurecimento da social democracia, é uma conquista das sociedades mais democráticas, mas atenção para os excessos, sob o risco de torná-los pesados e pouco geradores de renda e de emprego, resultando num crescimento anêmico. Na europa, há muitos países tentando “dosar” no uso dos instrumentos de políticas públicas, pois em excesso acabam gerando distorções, como a dificuldade na geração de empregos e salários mínimos baixos, pelo risco de inviabilizar a solvência dos Regimes Previdenciários. Importante reforçar também que são tantos direitos trabalhistas, tanto subsídios, que os empregadores acabam não contratando, o que acaba por resultar sim num desemprego crônico, ainda mais no Alentejo.

Por outro lado, deve ser saudado o direcionamento das universidades públicas, todas vivendo em boa parte de doações privadas, recursos públicos e, mesmo na sua auto-sustentação, por matrículas e mensalidades pagas. Já no ensino fundamental ou básico, nada se paga, sendo emocionante observar o zelo e a dedicação dos professores, alunos, administradores, diretores, com a instituição.

Um ótimo exemplo, um case de sucesso.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Boletim de Expectativas 30 de abril de 2020


Boletim de Expectativas


Este boletim apresenta uma compilação de expectativas para diversas variáveis econômicas, coletadas de diferentes fontes. Em resumo, há bastante incerteza quanto à magnitude dos efeitos da pandemia e das medidas de sua contenção sobre o PIB e as contas públicas, mas não há dúvida de que as consequências em 2020 serão severas. Outra característica que parece comum é a permanência da ancoragem das expectativas no médio e logo prazos: a inflação continua igual ou abaixo das metas anuais, o PIB volta a crescer como era esperado anteriormente, a taxa de câmbio muda de patamar, mas permanece estável, a Selic continua baixa e o deficit em transações correntes se mantém constante. Como síntese dessas expectativas, a dívida pública como proporção do PIB se eleva em cerca de 10 pontos de porcentagem (p.p.) em 2020, mas depois se estabiliza no novo patamar de 86%, representando a confiança na disciplina fiscal e no caráter transitório dos gastos contra a pandemia. A estrutura a termo da taxa de juros nominal inclinou-se bastante após o início da crise da pandemia, especialmente em março, mas esse movimento foi parcialmente revertido em abril. Mesmo após essa reversão, porém, os juros atuais nos vértices acima de cinco anos estão em níveis comparáveis aos de antes da reforma da Previdência.
Ver no site www.ipea.gov.br

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Do Estadão: “Quantas crises (ao mesmo tempo) o Ibovespa aguenta?”


No momento em que parecia haver estabilização do mercado com o coronavírus, a instabilidade política trouxe novas incertezas. O aumento de casos de Covid-19 já tinha sido digerido; agora, investidor terá de interpretar os passos do ministro da Economia, Paulo Guedes, que pode ser o próximo a deixar o governo. “Estamos numa pandemia e numa crise política bastante ruidosa. A economia já teria dificuldade por si só. Agora, com a instabilidade política associada, vai gerar mais e mais incerteza, trazendo volatilidade aos mercados”, diz Alexandre Aoude, sócio-fundador da gestora Vectis Partners. “A minha visão é negativa porque um presidente tresloucado no meio de uma pandemia e de uma crise econômica sem precedentes corre o risco de perder mais ministros de alta qualidade.” A principal preocupação é com a saída de Guedes. Assim como Moro, o titular da pasta da Economia tem convicções caras para o mercado financeiro. Se o superministro Moro trazia os selos de combate à corrupção e de transparência, o superministro Guedes é o guardião do ajuste macroeconômico. “Com a saída de  Moro, o dólar para o consumidor final bateu em R$ 7. Isso não teve nada a ver com Guedes, que continua no ministério”, afirma Guto Ferreira, sócio da casa de análise Solomon’s Brain. “O que está sendo precificado hoje pelo mercado é a política, não é a economia.”

Flavio Ataliba e Marcos LISBOA

domingo, 26 de abril de 2020

Notas do Alentejo, por Julio Hegedus

Passei por estes dias tentando absorver os desastres políticos ocorridos no coração do governo Jair Bolsonaro. 

Tivemos a saída espalhafatosa do excelente ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e, depois, para mim, uma hectacombe, a saída, por iniciativa própria, do grande homem público, para muitos, um herói nacional, Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública. Que desastre! 

Praticamente, Jair Bolsonaro ficou nu nestes dois episódios. Para mim, foi totalmente desmoralizado. Ficou sem ter o que dizer, sem argumentos, sem defesa. 

Seus discursos, em resposta, foram totalmente desconexos, inócuos, meio que tentando se eximir de maiores responsabilidades, mais parecendo terem nascido do tal "gabinete do ódio", se é que isso existe ou tem tanta importância. Pelo que eu ando escutando por aí, parece q sim. Mas seja feita a devida ressalva: só tem importância para o presidente, para o resto da sociedade é um desastre. 

Vamos aos fatos. 

Na verdade, ao que esta crônica se presta, fazer considerações sobre Brasília, sobre o presidente, seus atos e acontecimentos diversos.  

Movimentos do presidente. Chama atenção como ele se movimenta de forma desastrada, mais se parecendo por impulso, expontaneamente, e não de forma programada, calculada e prudente, como deve atuar um presidente da República. 

Seus "pinga fogos", pela manhã no Alvorada, com jornalistas e apoiadores, são um desastre completo, apenas atos populistas. Para quê? Não bastaria ele cumprimentar as pessoas do carro e seguir viagem, ir trabalhar, ir para o Planalto? Que é o que interessa?

Não, ele gosta mesmo é de falar bobagem, gerar polêmicas, bater boca com jornalistas...Ser notícia. Encher as pautas dos jornais. 

Demissão do Mandetta. Outro desastre, como foi o do gen Santos Cruz, Gustavo Bebianno, e tantos outros. 

O ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, todos os dias, meio que como num "hospital de campanha", numa guerra, aparecia nos "breafings" do ministério para esclarecer, dar satisfação sobre os atos da sua equipe, suas decisões, atualizar os números da infectados pela Covid 19, etc. Era uma atuação IRREPREENSÍVEL ! 

Lembremos. Estamos envoltos na maior crise global da história moderna, uma pandemia de um virus altamente transmissível, que causa mortes e paralisa tudo, a economia, as relações HUMANAS, as rotinas, os sistemas de saúde, em colapso. Nada se compara ao que estamos vivendo atualmente. NADA !

Diante do ineditismo da situação e da incerteza no seu desfecho, o ministro da Saúde atuava com a devida prudência. Pela sua boa capacidade de comunicação e carisma junto à sociedade, conquistava a todos.

Aí que a "cobra começou a torcer o rabo". Bolsonaro e sua turma, sempre pensando em 2022, vendo em Mandetta seu potencial eleitoral, resolveram miná-lo, desmoralizá-lo. E muito contribuiu para isso o tal "gabinete do ódio", soltando diversas fakenews, no esforço de desconstruir a imagem do ex-deputado do DEM. Paranóias pelo fato de Mandetta ser do DEM, ligado a Ronaldo Caiado e do mesmo partido do Rodrigo Maia? Como certeza. 

Parece-nos que Jair Bolsonaro tem algumas patologias perceptíveis. Uma é a de se incomodar com os holofotes não estarem virados para ele. 

Já começou na sua escalada eleitoral para 2022. Aliás, em que momento ele saiu dela? Muito se comentava no ciclo petista das tentações do então presidente Lula em sempre querer um palanque para bem aparecer na mídia. Bolsonaro faz diferente? Não. É a mesma conduta picaresca e populista. Governar que é bom? Nada, e o pior é que ele nem deixa os ministros governarem, terem a devida tranquilidade para tocar seus programas de políticas públicas. 

Agora o Sergio Moro. Bom, agora o buraco é bem mais fundo, bem mais embaixo. Bolsonaro ultrapassou o limite do racional e do bom senso. Ao assumir, em 2019, disse a Sergio Moro que teria carta branca para nomear quem quizesse. E assim o fez o ministro. Colocou (ou manteve) o excelente Valeixo na Polícia Federal, no intuito de tentar preservar a Lava Jato. O problema é que com as traquinagens dos filhos e do próprio presidente, a PF começou a investigar certos atos ilícitos ou anti-éticos (nada comparado ao que fez o PT, bom que se diga). As rachadinhas estouraram, assim como as sucessivas fakenews. Claro, todos fazem isso. O PSOL é useiro e fazeiro de encher seus gabinetes de vereadores e deputados, e depois exigir um percentual para o partido, o mesmo acontecendo com o PT, o PC do B, e outros partidos famigerados. O problema é que este ato oportunista e anti-ético, partiu de um dos filhos do presidente, o 01, Flavio Bolsonaro. 

E  o que dizer da atuação truculenta e fanatizada do tal Carlos Bolsonaro, o 02? São constantes os comentários de que ele influencia o presidente, enche o saco dele, nestas redes sociais, alimentando uma sucessão de fofocas e disse-me-disse. Bolsonaro parece que já tentou se livrar, afastar o filho, mais foi demovido, diante da reação do mesmo, tentando até o suicídio. Comenta-se nas rodas que ele tem alguma patologia, alguma sociopatia em que não tolera ser colocado de lado e não ser o "predileto". 

A verdade é que o Moro vinha notando a mão pesada do presidente, tentando afastar a PF da família. Seu discurso, sua retórica anti-corrupção, seria, então, fortemente afetada. Importante que se diga. A PF tem autonomia, só presta contas ao Ministro da JUSTIÇA e tem total liberdade de investigar quem quer se seja, inclusive os filhos do presidente. Ele, claro, não pensa assim. Pediu para o ministro tutelar a PF, exigindo receber relatórios pessoais da PF. Recebeu uma negativa. Por isso, o ministro MORO ter saído. Importante recordar também que o ministro já havia levado várias bolas nas costas. A principal foi o "fogo amigo" diário contra o "PACOTE CONTRA O CRIME", com o presidente mostrando muito pouco empenho em defendê-lo. Nos casos do crime em segunda instância e no foro privilegiado isso foi notório. 

Bom, a bem do serviço público e numa biografia irrepreensível, que ninguém conseguiu desmoralizar, nem mesmo aquela figura escrota do Greenwald, Sergio Moro anunciou sua demissão. 

Anunciou sem se furtar de explicar os motivos. Seu discurso de despedida foi de tal modo irrepreensível, direto e honesto, que só restou ao capitão balbuciar queixas, destilar ódios e ilações. SERGIO MORO acabou com o presidente, literalmente, confirmado como "pato manco". E assim ele deve se arrastar até o fim, não se sabendo qual seja. 

SUA RESPOSTA FOI PATÉTICA, NUM DISCURSO SEM PÉ NEM CABEÇA. 

Apenas para observação. No episódio da facada, não foi a PF que fez corpo mole, mas sim o nefasto e corrupto STF, ao proibir que os policiais tivessem acesso a gravações telefônicas do Adélio e dos advogados de defesa, e tivesse acesso a saber quem estava bancando estes advogados, caros, oriundos de BH. 

Portanto, a falta de condições de trabalho acabou decisiva para o desfecho frustrante e insonso das investigações. O STF praticamente selou o destino do tal Adélio e deste caso da facada do capitão. 

Claro que este desfecho não me convenceu, nem a ninguém, mas por estranho que pareça, o presidente recolheu-se de forma muito surpreendente. Afinal, que poderes tem esta instância do Judiciário? Por que o presidente não se mobilizou mais ? Não foi mais a fundo nos pedidos ao Sergio Moro? O que há de nebuloso neste estranho caso?

Vamos conversando...


Bolsonaro: do nonsense ao escatológico | A Gazeta 

sexta-feira, 24 de abril de 2020

A BEM DA VERDADE...

Pediu demissão o Ministro Sergio Moro. 

Num discurso contundente, narrando toda sua trajetória no Ministério de Justiça e Segurança, Moro, de forma retilínea, direta, honesta e digna, praticamente colocou a nu o presidente Bolsonaro e seu gabinete do ódio. Foi devastador. 

Lembremos que Moro não era aderente ao Bolsonarismo antes das eleições. Ele estava ajudando o MP a pegar "bandido", no q fazia mto bem. 

Foi depois, entre out e nov de 2018, pensando em capitalizar este convite, q o candidato Bolsonaro resolveu convidar o Moro. 

E seja feito uma ressalva, o Bolso nunca teve livre transito junto ao Moro. Nunca foi amigo, homem de confiança. 

A verdade é q o Sergio Moro era uma bomba de alta octanagem para o Congresso, tal a qde de deputados envolvidos em ilícitos. E o Bolso nunca o defendeu. O abandonou, na sua paranóia de sempre, vendo nele uma ameaça para 2022. O lançamento do Pacote contra o Crime foi muito chato, pois o presidente nunca assumiu defendê-lo. Moro sempre lutou só. 

O mesmo aconteceu com o Guedes e Mandetta. Achamos, inclusive, q o Guedes é o próximo a sair. 

Na boa, dependendo do cenário para 2022, o João Dória, o Luciano Hulck, ou mesmo o Sergio Moro, qqr um, minimamente articulado e inteligente, colocam este capitão no bolso. Sem duplo sentido. (E sem falar nos candidatos mais à esquerda). 

Marcelo Passos

CENÁRIO MACRO BEM DIFÍCIL
Estávamos em um cenário de tendência de recuperação no início do ano (previsão de crescimento de cerca de 2%). Depois, antes mesmo do COVID 19 chegar ao Brasil, a previsão de crescimento era de cerca de 1%. Agora, a expectativa é que o PIB caia 5% ou até mais.
No melhor cenário pós-COVID 19, vai levar uns cinco anos para nós reduzirmos o déficit e a razão dívida/PIB. Isso significa que vai levar no mínimo uns três ou quatro para começarmos a ver uma reação minimamente significativa no investimento privado, no crescimento e na geração de empregos.
Situação difícil.

NAS ENTRANHAS DO PODER

Diversos amigos já FALARAM aqui q se o Moro e o Guedes saírem este governo acaba. Incrível a inabilidade do capitão e a visão viesada, fanatizada dele. Assessorado por Carlos Bolsonaro e diversos olavetes, como a coisa pode fluir? Um querido amigo, assessor parlamentar em Brasília, me deu uns toques interessantes.
  1. Antes das eleições, em 2017/18, parte da cúpula militar não engolia o capitão. O achava simplesmente um desagregador e porra louca. Comentavam entre si q o gen Hamilton Mourão poderia ser uma boa opção, mas ele, por púridos não aceitava a missão de se candidatar. Seria, realmente, um belo candidato.
  2. O problema é q o capitão não iria abrir mão da sua candidatura. Então, naturalmente, a centro direita, acabaria rachando abrindo espaço para o Ciro e o candidato do PT, na época, o próprio Lula.
  3. Meio a contragosto, acabaram fechando com o capitão. Mas recordemos como foi difícil para ele formar chapa. Ninguém queria. Claro todos conheciam a porra louquice dele. Os atos por compulsão e totalmente descabeçados.
  4. O bom gen Hamilton Mourão acabou aceitando, mas me parece meio a contragosto. Sua trajetória nestes 16 meses bem reflete isso. Ele não conseguiu se enquadrar às porra louquices do presidente. Está meio de lado.
  5. Em quase todos os conflitos e mudanças de ministério (excessão para o desastre da Educação), Bolsonaro agiu de forma precipitada e açodada. Gustavo Bebbiano foi um desastre (isso é fato, o pobre homem nunca mais se recuperou, vindo a falacer de infarto. Era total desgosto); Santos Cruz (um dos oficiais mais brilhantes da caserna. Foi demitido por fofocas do gabinete do ódio). Para mim, uma perda irreparável; Onyx Lorenzoni foi deslocado para o Min da Cidadania, pq sua capacidade de articulação política foi zero); Osmar Terra foi a mesma coisa. Saiu do Min do Interior por incompetência, mas passou a minar o Mandetta, numas teses esdruxulas de liberar a boiada já. Mandetta, que na minha opinião, vinha fazendo um bom trabalho, foi o último cair. Tinha o carinho de todo o Ministério, q trabalhava com ele com afinco. Valorizou os quadros deste ministério, algo mto meritório. E estes quadros são de alto nível !
  6. E o que falar das articulações políticas? Tinha uma maioria folgada na Câmara e mais apertada no Senado. Seu partido, o PSL, era cabeça de ponte. Conseguiu brigar com todos para fundar um partido obscuro e sem expressão. Partido este que pela legislação eleitoral atual, não conseguiu ser legalizado. Ou seja, não terá representantes nas eleições municipais deste ano (se ocorrerem!). Bons cabos eleitorais, como Frota, Joice, e outros viraram inimigos. Como não ter base política no Congresso qdo se tem uma agenda tão pesada de reformas?
  7. Sobre esta agenda de reformas ele sempre foi displiscente, relaxado, irresponsável. No pacote do Moro foi um horros sua postura. Costurou acordos com o Toffoli para tirar a prisão em segunda instância e o foro privilegiado, entre tantas medidas abandonadas, que "afetassem a classe política". Como o Congresso iria legislar contra si, sabendo-se que pelo menos 60% tem pendências judiciais, criminais, de corrupção? O capitão foi desleal sempre com o Moro, cogitando outro nome para o STF, chantageando-o. A verdade é q o Moro foi inábil ao aceitar este pepino. Não devia ter aceitado o Ministério. Nestes 16 meses só tivemos o esvaziamento do seu ministério, q era bem robusto.
  8. O combate à corrupção? Não rola, pq os filhos, no caso o 01, estão mais do que envolvidos. Rachadinha é prática comum em todas as casas legislativas do País, mas é um ilícito, é algo anti-ético. A PF, na diretoria do Valeixo, estava com várias pendências juidiciais contra os filhos, por isso, sua demissão ou pressão contra. Moro resolveu segurá-lo, enfrentando o capitão. Por isso, sua quase demissão nesta quinta-feira.
  9. Vamos para a Economia. Guedes está de saco cheio. Tem um pavio curto, não tem paciência com a mediocridade. Diversas vezes tentou justificar sua ainda permanência no governo e sua tolerância às cagadas do capitão, descrevendo-o. Muitos estão criticando-o, inclusive minha esposa, mas a verdade é que ele não consegue avançar se não tiver uma boa base parlamentar para aprovar suas medidas, a agenda de reformas. A reforma da Previdência veio a meia bomba, meio que um remendo, por isso. Diversas MP já caducaram. Claro q para o Rodrigo "Botafogo" Maia e o Alcolumbre, depois de tantos desentendimentos, não interessa a aprovação de medidas enviadas pelo governo Bolsonaro. Cada um, pelos seus interesses inconfessáveis, está atuando para atrasar tudo.
  10. Concluo que o Bolsonaro se isolou pelo seu péssimo temperamento e a profusão de tiradas de mau gosto. Apenas os evangélicos mais fanáticos, ligados a estas seitas (Malafaia, IURD, etc) e alguns reaças de carteirinha, continuam com ele. Alguns generais, à bem da governabilidade, resolveram instituir uma junta informal, para aconselha-lo, mas pelo outro lado, existe sim este tal "gabinete do ódio", a orientá-lo com estultices e maluquices. No comando disso, Carlos Bolsonaro. Tudo é lamentável.
  11. Amigos, tudo isso é lamentável. Muitos dizem q só continuam com este governo se o Guedes e o Moro continuarem. Eu apoiava algumas políticas públicas, mas sempre me enervando com as cagadas do pres, tentando entender, mas desde sempre eu me comportei como observador da cena. Gosto destes dois personagens, do Tarcísio Delgado, da Thereza Cristina, do Beto Albuquerque, mas vai rareando os apoios. Uma última observação, a Regina Duarte, por onde anda? Embarcou numa tremenda canoa furada. Se demitiu da Globo para esta aventura? Sim pq este governo é uma aventura ao desconhecido.
  12. Bom dia a todos!
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