terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

DEBATES INTERMINÁVEIS

Continuamos açodados. Somos um país dividido ao meio e brigando entre extremos. É complicado o uso de uma régua para medirmos estas divergências, totalmente descalibradas.

 Será que não acharemos nunca a "medida certa dos fatos"? É por aí que vivemos um pandemonio de versões e opiniões contrárias. 

Um dos debates mais infindáveis é o entre economistas heterodoxos, ou keynesiano, e mais "liberais", ou neo-clássicos no Brasil. Estes últimos, mais à favor do livre mercado, os primeiros, defensores do papel mais ativo do Estado numa economia de mercado.

Historicamente, o "keynesianismo" surge nos anos 30 para 40, pela necessidade do aumento das despesas fiscais, a impulsionar, via multiplicador fiscal, os investimentos públicos, muitas vezes em grandes obras, gerar emprego e renda, para as pessoas consumirem a fazerem a “roda da economia” girar outra vez. Em poucas palavras, atuaria nas duas pontas, mexer com a carga de impostos, elevando-a ou reduizindo-a, e com as despesas, mas elevando-as, para gerar aumento de consumo agregado, ou demanda (efetiva). Foi John Maynard Keynes, na publicação da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), que começou a pensar o sistema capitalista, como sendo este o mais eficiente e justo possível. O Estado, a partir daí, passava a desempenhar um papel mais ativo, com políticas anti-cíclicas em momentos de flutuação de demanda. 

Não cabia ao Estado se sobrepor ao setor privado, mas estimulá-lo nas decisões cruciais de investimento. Políticas macro-estratégicas teriam que ser pensadas, mas sem os excessos do setor público. Pelo sucesso das políticas públicas anti-cíclicas dos anos 30, pós depressão, a ingerência do setor público passou a ser um norteador, a ponto de uma lei anacrônica ser criada na época, em 1946, a Lei do Emprego, na qual o setor público tudo faria para preservá-lo, como se fosse este seu papel. Não há como negar, no entanto, que os anos 50 e 60 na Europa e no mundo livre, foram permeados de prosperidade, no que muitos denominaram de "anos dourados". 

Muitos argumentam, inclusive, que já havia alguns traços de "keynesianismo" nas politicas do nacional socialismo alemão, o que deu origem ao nazismo de Adolf Hitler, a partir dos anos 30. Várias obras públicas, abrindo espaço para novos investimentos privados, nas chamadas "externalidades positivas", ocorreram na Alemanha dos anos 30. 

Nos anos 70, no entanto, com os choques de petróleo, estas políticas acabam meio de lado, pois tivemos o que os economistas negavam então, desemprego com inflação, no conhecida "estagflação". Os keynesianos não conseguem responder a este fenômeno. 

Em paralelo, haviam os que defendiam o mercado como soberano na alocação eficiente de recursos. Parece-me claro, sim, que o setor privado, pelo viés do lucro, da iniciativa privada, do interesse próprio, do individualismo, tende a ser mais eficiente na busca de resultados favoráveis. 

No entanto, desregulamentar totalmente determinados mercados tende a ser desastroso para os que pensam desta forma. Lembremos da crise do subprime quando esta desregulamentação do mercado financeiro tomou curso o que resultou numa brital securização das operações de financiamento imobiliário. Por isso, o debate sobre o meio do caminho, uma alternativa intermediária. 

Deixando q o mercado decida, perde-se quando um fenômeno como o desta pandemia acontece. O que fazer? 

A ação do governo passa a ser a primeira decisão, o que precisa ser feito é atuação ativa do Estado suprindo carências de quem é acometido de um vírus mortal como este. 

O grande passivo social existente, deriva de décadas de passividade e permissividade no trato dos problemas econômicos que acabam por se espalhar pelo social. A carga fiscal absurda do País, em torno de 36% do PIB com zero retorno, foi criada para sustentar um sistema de gastos públicos ineficiente e perdulário, fruto da Constituição Federal de 1988. Fruto também de um sistema de castas no serviço público, na qual não se pode mexer nos privilégios dos servidores públicos, numa máquina inchada e "alienada", em q todos se acham no direito, mas ninguém parece disposto a abrir mão de algo. 

Nos dias atuais, com a pandemia os keynesianos voltou a moda, sendo apregoado por todos. Isso também aconteceu na crise de 2008 o que nos leva a concluir que, sim, existe um toldo debate sobre se o Estado deve intervir em crises e como. Claro que deve intervir sempre! Como alternativa ao aumento necessário de despesas públicas para atender ao grande número de infecções e pela necessidade de infraestruturas de saúde adicionais, já se começa a pensar na alternativa de taxar grandes fortunas, sempre uma solução aventada por um certo vício pelos que enriqueceram em país tão cheio de contrastes e pobres. 

Se esquecem estes, no entanto, de reconhecer que muitas das desigualdades no País acontecem também pela baixa qualidade dos serviços públicos prestados, por "aspones" que ganham mais de 40 mil reais por mês, pelos inúmeros desvios recorrentes, muitos em empresas públicas. Sobre isso, o silêncio. 

Muitas das categorias de servidores públicos, os militares, por exemplo, são também uma tremenda fábrica de desigualdades. Sobre os militares, é tabu falar algo, até porque o capitão foi meio que um lobista no Congresso em torno deste estamento público. 

O problema é que a economia precisa estar azeitada e o setor público atuar, onde o setor privado não tiver interesse, em políticas inclusivas aos pobres, mas temporárias, gerando oportunidades, via treinamento, para que eles saiam da sua condição de fragilidade econômica e social. 

O ESTADO precisa criar mecanismos de controle ao setor privado e a atuação das  esferas de governo, mas não deve obstruir quem queira empreender, quem queira se lançar ao risco. 

Portanto, o PAPEL CRUCIAL do Estado é gerar condições favoráveis para q o  privado deslanche. Como diria o assessor do Clinton, "é a economia estúpido". É ela sim a gerar oportunidades de renda e emprego à sociedade, lutando por um serviço de saúde de primeiro mundo. Não faz sentido o ESTADO atuar como atua no Brasil, a sustentar castas de privilegiados, muitos, amigos do rei, com subsídios fiscais. Estes precisam passar por conselhos fiscais para aprovados. 

Enfim, eu acho mto temerário falar de liberalismo ou de keynesianismo num país tóxico como o  Brasil. São tantas distorções que se torna uma piada qualquer consideração em favor ou contra algo. 

Já foram feitos levantamentos, e chegou-se à conclusão que são bilhões, trilhões recebidos de governantes, para um carro com carga fiscal de quase metade do seu preço final. 

O sistema fiscal brasileiro é tão distópico que a carga de impostos acaba por ser uma indecência. Nada compensa nada nesta terra. 

E ficamos acompanhando estreitamente um governo inépto, não que outros não o tenham sido. Mas Jair Bolsonaro usou e abusou de bons ministros nomeados. Mas depois os descartou. Mesmo assim, chegou até aqui. Será que conseguirá terminar o mandato?? 

São tantas decisões desastradas, tantas bobagens ditas, que não dá para dizer....aaahhh é a imprensa a culpada ! NÃO! Para nosso desassossego, não é APENAS a imprensa, e o presidente também!

 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

2021 na pressão

A "biruta" dos mercados deu uma endoidada por estes dias. Tanto os ativos globais, como os domésticos volatilizaram fortes, por variadas razões. 

No Brasil, o mercado de ações ingressou numa espiral de realizações (seis pregões seguidos de queda do B3) e o dólar deu uma "esticada" a R$ 5,41. Por outro lado, no mercado de juro a curva curta deu uma estabilizada e a longa declinou um pouco. A justificar isso uma leitura mais "dovish" do Banco Central, devendo antecipar o processo de aperto monetário, depois de comunicado da ata do Copom e da retirada do termo "foward guindance" na reunião. Isso reforça a tese de que o juro Selic nominal a 2% ao ano não representa o momento econômico que vivemos. Está claramente fora do equilíbrio. Há, inclusive, no mercado os que consideram a taxa mais apropriada para o momento, com pressões inflacionárias derivadas do câmbio esticada, em algo próximo a 4,5% ao ano.  

Neste contexto de ajuste, provocado por essa mudança de leitura, ainda existe alguma expectativa em saber como o governo deve financiar a extensão do auxilio emergencial, pensando na neutralidade sobre o teto de gastos. Será possível? Paulo Guedes já levanta esta possibilidade da volta do auxílio pelo período de dois a três meses, até completar o ciclo de vacinação em massa da população. Mas será que o ciclo completo de vacinação em massa só deve durar três meses. E qual a sustentabilidade da dívida pública e do déficit, em trajetória explosiva?

O fato é que esta segunda onda (ou vaga, como dizem em Portugal) da pandemia vem se mostrando mais rigorosa do que a primeira, entre março e abril do ano passado. O mundo passa por uma prova de resistência ainda mais pesada, com o vírus se espalhando mais rapidamente e sofrendo estranhas mutações, da Amazônia, do Reino Unido, da África do Sul, entre outros lugares.

Soma-se a isso, por aqui no Brasil ruídos causados pela total falta de governabilidade do presidente Bolsonaro. A todo momento são declarações intempestivas dadas, tensionando ainda mais as relações em sociedade. O que é fato é que ele não consegue pacificar os vários extratos sociais, sua relação com a imprensa, sempre em confrontação e bate-bocas. Em plena pandemia, quando as várias esferas de governo, os representantes da sociedade, deveriam estar unidos e fortes, o que se observa é o contrário, dissipação e acusações mútuas.

Para piorar, na ausência deste apoio emergencial, a popularidade de Bolsonaro só cai. Pesquisas de opinião indicavam que a avaliação "regular a bom" recuou ainda mais, de 32% para 26% e a "ruim a péssimo" aumentou, assim como o indicador de rejeição. Várias carreatas aconteceram nas capitais por estes dias, além de panelaços.

No mundo político, às vésperas das eleições no Congresso dos seus presidentes, muito se comenta sobre a possibilidade de colocar em plenário os pedidos de "impeachment" (os pedidos já passam de 61!). A "fratura exposta ideológica" na sociedade, por variadas razões, se mantem ou só piora. Não parece haver sinal de consolidação. Em leitura figurativa, cresce, isso sim, o receio da perda do membro!

Pela leitura de muitos, para que o processo de “impeachment” avance, o presidente precisa estar na lona em termos de popularidade, sem apoio parlamentar, com mobilização popular contrária, ou então envolvido em algum caso de corrupção. Na verdade, é o conjunto destes fatores, da obra, a definir seu destino. Não nos parece que tenha chegando a tanto, mas pelo “andar da carruagem”, mantidas as condições de temperatura e pressão atuais...Não será surpresa se ele não completar seu mandato.  

No plano global, alguns fatores devem ser lembrados. Temos o avanço da Covid e o processo de vacinação muito lento em diversos países, movimentos especulativos de “hedge funds” ocorreram por estes dias, o que fizeram o índice de volatilidade VIX disparar e há incertezas sobre a dimensão do pacote fiscal norte-americano anunciado. Por lá, as declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, não agradaram o mercado. Apesar do banco central americano ter feito o que se esperava nesta semana, mantendo o juro e os programas de suporte, o chairman do Fed disse que ainda há "um longo caminho a ser percorrido" para alcançar as metas de inflação e emprego.

Enfim, neste momento não existem motivos para estarmos otimistas ou confiantes. Ainda vivemos um período crítico, de transição e incertezas sobre o futuro. Pairam dúvidas sobre o ritmo de vacinação, disponibilidade de insumos, e normalização da economia global e daí, dos mercados. Difícil saber para que direção se guiar.

O momento é de espera. 

Vamos conversando.

Julio Hegedus Netto, Economista, Doutorando UÉvora

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

TENTANDO ENXERGAR O FUTURO


O que pensar do futuro num país conflagrado em que todos têm opinião sobre tudo, mas certeza sobre nada? 

Não dá para levar a sério negacionistas, se sustentando por "placebos", "mata-piolhos" e quetais, no combate a um vírus devastador, que já levou a vida de mais de 205 mil pessoas no Brasil. Se fosse isso, não teríamos mais o problema do virus, bastava o tal "tratamento precoce" e tudo estaria resolvido. A OMS teria chancelado este "tratamento", este coquetel e a crise estaria superada. "Aaahhh, isso não avança pois existe um complô comunista!"...

Por favor, menos delírios. E o pior é que quando se pensa nestas "articulações" malucas, os delírios partem de ambos os lados ou espectros ideológicos, da extrema direita, governando este País, até a extrema esquerda. 

Bom, mas o tema deste artigo não versa sobre esta "salada ideológica", esta polarização inútil, que se espalha pelo País. 

Nosso objetivo aqui é achar um "norte" para tentar navegar por este "ano da vacina" (que bom!), do recém eleito Joe Biden no governo norte-americano (tirando Donald Trump e colocando em cheque o populismo de direita no mundo), e no Brasil, essencial, da discussão das reformas, para mim, algo inadiável para pavimentar o caminho dos próximos tempos. 

A vacina saindo, mesmo com tantos ruídos e imbecilidades pelo caminho, já será um bom avanço, algo "libertador", por abrir caminhos para a "normalização" na vida em sociedade. Claro que não será tomar a primeira dose da vacina e pronto, tudo resolvido. Vamos voltar a viver sem máscaras, sem alcool gel, abraçando a beijando a todos. Não! Nada disso! Ainda virá a segunda dose, várias etapas de grupo de pessoas a serem vacinadas, e toda cautela será necessária. 

Calcula-se que pelo este ano de 2021 será percorrido neste processo. A imunização total, talvez apenas lá para o início de 2022. Assim esperamos.   

Outro ponto a destacar é o retorno do pragmatismo e do bom senso político na maior potência do mundo, os Estados Unidos. Donald Trump pode ser afastado em defintivo do mundo político ("impeachment" agora no Senado norte-americano) e a trilha liberada para as políticas mais responsáveis, muitas vezes, mais social democratas. Claro que, neste contexto, a trajetória da dívida pública norte-americana se tornará uma preocupação a mais, a o risco de lockout presente a cada final de ano fiscal.

Retornando ao Brasil, a agenda econômica, de reformas estruturais, nos parece o maior desafio para este ano. Sim, porque continuamos ladeira abaixo nos indicadores Doing Business no Banco Mundial. Nosso ambiente de negócios é altmente tóxico e a desindustrilização segue como mantra. Por isso, a urgência desta agenda de reformas. 

A começar pela reforma da Previdência, muito mais ambiciosa quando formulada pela equipe econômica, com regime de capitalização, dando a cada um a responsabilidade pela sua poupança acumulada, passando por "ajustes pesados" nos servidores públicos e nos militares, estes sempre poupados pelos diligentes lobbies, fechando em reformas pesadas nos estados e municípios, focos centrais dos desequilíbrios estruturais hoje existentes no setor público. Ou seja, a reforma do regime de Previdência do Paulo Guedes não acabou. Foi deixada pelo caminho, era aquilo nas condições políticas dadas, e me parece óbvio o pouco empenho do presidente Jair Bolsonaro. 

A reforma Tributária, outro arremedo, com a unificação de uns poucos e uma tímida rearrumação da carga fiscal sobre o sistema econômico. Acabar com o ICMS, "promotor" de tantas "guerras fiscais" no passado? Criar um imposto único, o IVA? Debater, de fato, a adoção de um "pacto federativo"? Não. Claro que o desgaste político em torno das reformas é inevitável, e o presidente não parece muito disposto a passar por isso. 

Por fim, a reforma do Estado, uma reforma essencial e urgente quando se observa que boa parte das despesas obrigatórias, que só crescem e comprometem o orçamento e a gestão do governo, estão "escondidas" na rubrica Pessoal e Encargos, incluindo aqui inativos que recebem salário integral. Então vamos combinar o seguinte. Ou cortamos este benefício e limitamos a 5,4 mil reais o salário dos aposentados, como todos que recebem INSS, ou nos locupletamos todos e acabamos com o regime previdenciário. Não dá para sustentar esta "fábrica de privilégios" (segundo Paulo Guedes). 

Não dá é para um cidadão ser privilegiado, por ter um sindicato específico de servidores públicos, sempre fazendo lobby no Congresso, contra a situação "pulverizada" de milhares de brasileiros, sem esta representatividade aguerrida e focalizada. 

Isso não me parece razoável! 

E eu me estendo a algumas áreas das empresas públicas, verdadeiros "cabides de empregos" e de privilégios, desde a Petrobras, passando pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica e BNDES. Este último, aliás, vive do repasse do FAT e "turbina" seus lucros em operações de mercado. Assim se torna fácil ser uma empresa lucrativa. Funcionários do BNDES, acumulando vários penduricalhos, se aposentando com mais de 40 mil reais, acima do teto, se refletindo na inviabilidade do fundo de pensão Fapes. É mole?? 

Quando citadas as empresas, me esqueci de comentar outro desafio do ministro Guedes, o pacote das privatizações. Por onde andam? Por que não avançam? Correios, Eletrobras, parte do BB, subsidiárias da Petrobras, estradas diversas, aeroportos, tudo já deveria ter ido para fora. 

Será que este governo, será que o Bolsonaro teria coragem para tanto? Será que ele dará o necessário apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para tocar esta agenda em 2022? 

Eu não acredito...

Vamos conversando...

 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

UM PUXADINHO

O Brasil precisa sim ser revirado de trás para frente, de cabeça para baixo, ao avesso. Uma revolução nos costumes, na forma de pensar, na seriedade no trato dos diversos temas, na gestão, nos modelos de gerenciamento, precisam sim passar pela mente dos brasileiros. 

Uma pessoa lúcida, equilibrada, que busque o entendimento, mas assertiva e determinada, agindo de forma corajosa, realmente, para enfrentar os interesses, precisa surgir para as eleições de 2022. Uma pessoa com a razão ao seu lado, sabedora do que deve ser feito, com bom senso e uma disposição para enfrentar abusos e interesses escusos. 

No setor público não dá para manter uma "casta de servidores privilegiados", mobilizados por sindicatos aguerridos, mas de costas para a sociedade e a verdadeira dimensão da "coisa pública". Não faz sentido a maior aspiração de um jovem ser fazer concurso e ir para as mamatas e estabilidades do serviço púiblico. Este deve ser vocação, sacrifício, não um "nicho de privilegiados".  

Não podemos fortalecer o setor público, às custas do definhar do setor privado, até porque este mesmo setor público precisa de arrecadação federal, obtida pelo sistema econômico, pelas empresas, pelas famílias, para assim manter seus fluxos de despesa. 

Daí a indagação: mais de privilégios e sinecura e do aumento de arrecadação, da carga de impostos sobre a iniciativa privada? 

Há um cansaço perceptível. 

A mídia se aproveita e o "presidente" atual vive a gerar tensões, bate bocas, que não levam a nada. 

A última foi a sua surpreendete grita sobre as decisões do presidente do Banco do Brasil, André Beltrão, de saneá-lo, defendendo seis mil bancários no PDV e a redução do número de agências bancárias. Em resposta, Bolsonaro, disse que iria demitir o prisidente e que o momento era inadequado. Se Jair acha q o setor bancário não precisa passar por um "enxugamento pesado", pensar o quê? 

Isso é, aliás, um fenômeno global. Os grandes bancos, no Brasil e no mundo, vão passando por transformações, dada a emergência da internet, das operações virtuais. O pobre presidente do Banco do Brasil fez o certo. É preciso passar sim por um "profundo saneamento do banco". A verdade é que o BB, como tantos "elefantes brancos", é pesado, ineficiente e vem perdendo share de mercado para a concorrência. 

Aí chega o presidente e diz que não vai fazer nada disso e que o pobre presidente do BB está demitido. 

Como fica o PAULO GUEDES numa hora destas? Sim, porque a agenda liberal do ministro, o programa de privatização e de liberalização da economia vem sendo ignorado! Desde sempre. 

Se eu fosse o Guedes, pegava o boné e um abraço, ia embora. Mas não. 

Ele se cala, engole em seco e entuba mais esta loucura do "capitão". Na nossa opinião, mais um enigma a ser decifrado neste comportamento do "chicagoboy". Um doutor por Chicago se sujeitando a humilhação por um cidadão sentado na cadeira, mas sem a mínima qualificação!!!  

Guedes entubou uma reforma da Previdência, totalmente descaracterizada, não consegue avançar na sua agenda de reforma, a Administrativa e a Tributária se resumem a poucas medidas! Isso torna sua gestão na Economia, na Fazenda, um "arremedo", um puxadinho. 

Faz o possível diante das circunstâncias políticas? Sim, mas quem gerou estas circunstâncias altamente tóxicas para o avanço da gestão econômica? 

Vamos conversando. 


quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Papo de Economista: 2022 É LOGO ALI

Papo de Economista: 2022 É LOGO ALI: Muito se comenta que a eleição de 2022 acabou, precipitadamente, antecipada. Isso é o que acha, por exemplo, o vice-presidente general Hamil...

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

2022 É LOGO ALI

Muito se comenta que a eleição de 2022 está sendo, precipitadamente, antecipada. Isso é o que acha, por exemplo, o vice-presidente general Hamilton Mourão. Uma voz lúcida, porém dissidente neste governo. Acha ele que não seria o momento para já começarem as disputas e ataques visando 2022. 

Claro que não dá para esperar nada diferente de Jair Bolsonaro e João Dória, protagonistas desta "contenta". E logo na proximidade do calendário de vacinação, ou com a tal da "vacina chinesa" Coronavac na berlinda, além de várias outras, como a russa, a americana, a inglesa... 

Achamos ser, absolutamente, injustificada a postura de ambos os atores da cena, Bolsonaro, ideologizando tudo, se sentind perseguido, e contrário à vacina chinesa, e João Dória, querendo aprová-la à "toque de caixa", mesmo sem a "terceira etapa de testagem". Achamos que tanto o capitão, como Dória, estão tendo uma conduta temerária neste episódio. Algo totalmente arriscado. 

Há inclusive o debate dos que acham que antecipar campanha é se queimar na largada e chegar ao fim muito mais desgastado.  

Na verdade, se analisarmos as eleições de 2022,- embora estes eventos sejam iguais a nuvens, a cada momento de um jeito - chegamos a conclusão de que esta tem que passar pela alterntativa de uma "terceira via", um candidato de centro ou de consenso, mais equilibrado. A dúvida é saber se este conseguirá "capitalizar" e mobilizar a sociedade como um todo, ainda muito polarizada. 

Uma única certeza que se tem neste momento é que uma solução alternativa deve ganhar espaço diante do fracasso de 20 anos de populismo no Brasil. Com certeza, que o possível candidato de centro precisa de alguns predicados. 

  • Tem que ser um líder de verdade, um presidente que mobilize a opinião pública, pelos seus predicados e não defeitos. Por exemplo, tem que "demonstrar a dor do povo" com esta pandemia, sendo solidário, condoído até. Não dá para se comportar de forma irresponsável, relativizando as 180 mil mortes. Ou então proferir frases lapidares como "todos vamos morrer um dia", "é uma gripezinha", "lamento pelas mortes". 
  • O verdadeiro líder de uma nação deve trazer conforto aos cidadãos que perderam seus entes queridos. É intolerável o comportamento do presidente Bolsonaro, por exemplo, e estes atos deveriam sim, ensejar "crime de responsabilidade".
  • Um presidente, um verdadeiro estadista, deve ser o "farol da nação". Seus exemplos devem ser seguidos, suas atitudes, suas decisões, respeitadas!! Isso! Ele tem que ser respeitado e as pessoas atraídas pela sua simpatia e presença de espírito. Podem até discordar, mas a manter a educação e a elegância no trato interpessoal. 
  • Cito como exemplo o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, um professor aposentado, que se mostra ser uma pessoa afável, compreensiva, presente nos momentos mais importantes. E é candidato à releição agora em janeiro de 2021, contra a candidata do PS, Ana Gomes. Deve se reeleger. 


Vamos conversando. 




sábado, 12 de dezembro de 2020

O QUE NOS RESTA

 Por estes dias tentei transitar por um grupo na Internet, liderado por um economista heterodoxo famoso. Para quê! Tentei questionar certos mantras desta turma. Sim, porque me parece que todos se guiam por alguns pilares do pensamento "mais a gauche".

Um deles é de que o Estado é "Deus Pai", todo poderoso, todo protetor, nos seus vários tentáculos. Quem pensa diferente, é logo taxado. Você é ortodoxo, é liberal...

Para eles, o Estado é empreendedor, promove o crescimento, protege os mais pobres, tem mil e uma utilidades e serve também para dar nacos de poder para a classe política. Estatais, então, são o alvo preferido, sendo evidência, que todos os desvios nascem nestes locus. Serve também para a concessão de linhas de pesquisa, e várias vantagens ou sinecuras, aos servidores, que lá ingressam, ou por indicação política, ou, muito meritório, por concurso.

Nada contra. Muitos atravessam meses estudando para alguns concursos, todos, em sua maioria, correndo atrás da estabilidade na vida, da previsibilidade aos próximos anos. E talvez seja este o maior pecado dos empregos públicos, a tal da estabilidade. Comenta-se que esta foi criada para se evitar "perseguição política", o tal do "assédio moral".

O fato é que muitos são os grupos a pensarem dentro dos seus quadrados, dos seus mundinhos de conforto, muitos criados nas universidades públicas deste País. E estes vão, cada vez mais, se tornando ambientes em que o patrulhamento e o "pensar diferente" se torna algo difícil, uma tarefa de coragem. E o que mais me choca é que fala-se em "gado" sobre o eleitorado do presidente Bolsonaro. E aquilo é o quê?? É tão gado quanto.

Até discussão de Marx, na veia mesmo, observamos como fato. Quando num Mestrado da UFF, no início dos anos 90, fiz um curso de Economia Política na UFF em que a grade era ler os "grundises" de Karl Marx, os "tomos" do "Das Capital" no seminal em alemão. Tudo bem. Isso aconteceu em 1990. Mas e agora???

Naquela época, o curso de Economia Política só se dava isso...Karl Marx nos originais.

Se isto não era lavagem cerebral...Num curso de Economia Política ou História do Pensamento Econômico, parte-se do pressuposto que iremos ler os Clássicos até o século XIX...Adam Smith, David Ricardo, Malthus e também o bardo alemão Karl Marx.. Depois, ao florescer o séc XX, ensina-se neo-classicos, marginalistas, Leon Walras, Jevons, Alfred Marshall...ingressando finalmente em John Maynard Keynes, o mais marcante economista do século passado.

Normal, tinha-se que ler todos os clássicos, marxistas, neoclássicos, Keynes, etc, mas dentro de um contexto histórico. "O pensador tal viveu na Inglaterra vitoriana, no século XIX, pós Revolução Industrial, no avanço da produção em massa, da economia de escala, mas deixou de fora os trabalhadores. Pouco a pouco, estes foram conquistando seus direitos....E Marx surgiu nesta época para responder as perguntas dos "socialistas utópicos"....Dos que defendiam os interesses dos trabalhadores.,...coisa e tal".

Claro q tem q ser assim!

E o processo ia num acúmulo sobreposto de conhecimento...Pensadores mais novos se aperfeiçoando ao que se pensava antes...O contexto histórico seria então essencial.

É importante se mostrar as diversa linhas de pensamento economico, informando o que é mainstream, o que é ortodoxo ou heterodoxo.



Vamos conversando...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

QUEIMANDO PONTES

Prestes a completar dois anos de mandato, é importante que traçemos um painel sobre o que foi o governo Bolsonaro até o momento. Primeiro, faremos uma análise dos movimentos do presidente na política, depois, tentaremos encontrar elos da gestão Paulo Guedes na área econômica.

Na política, são váriados os "fios desencapados". A começar pelas várias movimentações erráticas do presidente em busca de apoio, sua saída intempetiva do PSL, seu esforço fracassado de fundar um novo partido, o "Aliança pelo Brasil",  enfim, sua total inapetência para a construção de pontes, para uma maioria "folgada" e poder tocar sua agenda de reformas ou projetos. Acabou ele totalmente refém do deputado Rodrigo Maia, do DEM, presidente então da Câmara dos Deputados. Muito se comenta que se trava aqui uma "luta surda", visando 2022, já que são correntes as opiniões dos que acham que Maia também tem pretensões para 22.

Vários foram os embates e desencontros, com boa parte da agenda do Paulo Guedes, meio que obstruída por Maia. Claro que com a pandemia as prioridades se tornaram outras, mas hje estão paradas nos escaninhos do Parlamento, as Reformas Tributária e a Administrativa do ministro Guedes, já sabendo que acabarão descaracterizadas pelos deputados, assim como tudo enviado pelo ministro ao Congresso. 

Isso, aliás, causa desconforto. Ao longo destes dois anos, tanto Guedes, como Sergio Moro, ex-ministro da Segurança e Justiça, em pesadas agendas, antes com pretensão, medidas essenciais, acabaram frustrados, pelo caminho. 

Eram "constantes" as batalhas nas Comissões do Senado e da Câmara, e estes dois ministros (Guedes, teimosamente, continua), acabavam pelo caminho, "massacrados" por Deputados e Senadores de esquerda (ou nem tanto, dada a timidez dos situacionistas). 

Afinal, onde estava o PSL, então partido do governo, nestes momentos cruciais?Por que os deputados se omitiam em situações tão cruciais? Em temas tão delicados?

Lembremos que Jair Bolsonaro foi eleito e obteve ampla maioria na Câmara, onde o PSL obteve maior número de deputados, e boa margem no Senado. Tanto o "Pacote contra o Crime", de Sergio Moro, como a extensa agenda de reformas do ministro Guedes, acabaram praticamente desidratados, ora pelo comportamento errático do Bolsonaro, ora pelo baixo apoio da troupe, ora pela sanha destruidora dos oposicionistas.

A reforma da Previdência, por exemplo, foi muito descaracterizada, se tornando uma "caricatura" do que se pretendia. O regime de capitalização acabou abandonado, assim como variadas medidas, como a transição e mudanças nos regimes previdenciários dos servidores públicos e dos militares.

E o que dizer da Reforma Tributária, não saindo do lugar, embora já nas gavetas do Congresso? 

Claro que aqui observamos um embate entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cioso dos seus interesses, pouco claros, e o Executivo, do capitão. 

Todas as reformas, ou acabaram aprovadas numa "meia bomba", ou foram ficando pelo caminho. 

Claro que a Pandemia representou uma ruptura com o que precisava avançar, mas o fiasco no avanço destas nos parece fato. Guedes vem se renovando em paciência e temperânça. Moro não aguentou.

E não poderíamos esquecer dos "ataques" do presidente ao "teto dos gastos", já pensando neste ano de Pandemia e sua resistência ao terminar com o subsídio emergencial. Será que em 2021 ainda teremos este subsídio e o teto "rompido"?

Poderíamos ainda enumerar a atuação do presidente, em confrontação à esta pandemia. 

Por que negar o que o mundo observa como fato científico? A prevenção terá que vir pela vacina e esta não tem nacionalidade. Pode ser chinesa, inglesa, russa, americana. Será aceita a mais eficaz e imediata. E ponto final.

Além disso, num primeiro momento, diante da falta de vacinas, do desconhecido sobre o virus, não restava aos governos outra saída a não ser o isolamento social.

Em Portugal, por exemplo, chamava atenção a coordenação do primeiro ministro, Antonio Costa, junto ao presidente, Marcelo Rabelo e o Parlamento da República, no combate ao Covid19. Há, de fato, uma simbiose entre estes atores pelo interesse nacional, de preservar vidas e combater o virus. Não havia outra alternativa, a não ser a higiene e o uso de máscaras. assim como o evitar de conglomerações, e os recolhimentos depois de certo horário. Não podemos brigar com os fatos e negar o risco aí embutido. Bolsonaro, no seu delírio permanente, nunca deu maiores atenções a isso. Sempre considerou este vírus a ser enfrentado, uma "gripezinha", segundo o próprio.

Importante destacar seu comportamento temerário, até porque ele é uma espécie de "farol da República". Seus atos e decisões reverberam, ganham destaque, positiva ou negativa. É inegável o alcance das suas palavras, considerações, decisões. Nada passa incólume. Mas não. 

Bolsonaro sempre tratou de testar os limites e "esticar as cordas". Deu no que deu. 

Seus dois anos foram uma sucessão de "pontes queimadas", perdas de oportunidade. Por mais que outros ministros tenham feito um belo trabalho, suas declarações intempestivas logo tratavam de anular estes avanços. 

Na Pandemia, já chegamos a 170 mil mortos pelo Covid19 e acreditem, ainda não acabou!

Vamos conversando...



segunda-feira, 30 de novembro de 2020

NOTAS DO ALENTEJO: ELEIÇÃO MUNICIPAL


Definido o quadro eleitoral dos municípios, depois da eleição de domingo, algumas conclusões devem ser feitas. 

  • esta eleição municipal foi um "duro" aviso ao presidente Jair Bolsonaro e seus assessores. Conquistaram espaço mais os partidos de centro, como o DEM, PSDB, MDB e PP. Candidatos mais experientes e ligados ao centro, superaram os candidatos de esquerda, muitos, meio aventureiros, outros, bem inexperientes. Bolsonaro foi um dos derrotados, assim como as esquerdas e o PT, em particular, personalizado por Lula da Silva; 
  • Bolsonaro, nas sua paranóia, parece-nos ser um capítulo à parte. Sim, porque ele não aceita ninguém q o contrarie e diga certas verdades. E parte do problema está nesta arrogância, neste papo furado de "ungido". Parte disto, talvez, devido a este picaresco "gabinete do ódio", coordenado pelo filho Carlos Bolsonaro. Nossa opinião é de que isto é um desastre em termos de estratégia política, assessoria de comunicação ou relação com a sociedade. Se não fosse a distribuição bolsas emergenciais, pela pandemia, ele já estaria "enterrado politicamente". Parte da classe média, os mais lúcidos, que gostam do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro e da Lava Jato, não o apoiam mais; 
  • Temos dúvidas, inclusive, depois do resultado desta eleição, se o atual presidente Bolsonaro tem viabilidade eleitoral para 2022. Tudo bem, cada eleição é uma história. Mas esta, nos parece, foi um claro aviso de que o extremismo já não cabe mais na cena política nacional. O eleitorado, lentamente, vem migrando para o centro. Este extremismos, tanto de esquerda, como de direita, está colocado de lado. 
  • Basta observamos o resultado das urnas. Os partidos de centro direita (MDB, 10,9 milhões; PSDB, 10,3 milhões; PSD, 10,6 milhões e DEM, 8,3 milhões), alguns mais fisiológicos, outros nem tanto, mais programáticos, conseguiram cerca de 40 milhões e tantos votos (de 70 milhões). A esquerda, mais personalista, como por exemplo do PT, foi "varrida do mapa". O PT, com a derrota de Marília Arraes, no Recife, e João Coser, em Vitória, registrou seu pior resultado nas eleições municipais, desde sua fundação. Pela primeira vez, não elegeu nenhum prefeito em capitais.
  • Destaque nesta "caminhada para o centro", no eixo Rio São Paulo, para Eduardo Paes e Bruno Covas. Foram vitórias "folgadas", contra, respectivamente, Marcelo Crivella e Guilherme Boullos. Destes dois derrotados, o mais impactado foi Crivella, numa resposta à demagogia e charlatanismo. Não creio que este cidadão possa voltar ao jogo eleitoral majoritário no futuro. Sua caminhada como prefeito da cidade do RJ foi um claro demonstrativo da sua derrrota contundente ontem. Foi despachado com 64,07% contra 35,93%;  
  • Em São Paulo, a derrota do Psol foi também um demonstrativo de que o discurso voluntarista, sem propostas concretas, parece fadado a ir ficando para trás (69,2% para Covas contra 30,8%). Na verdade, chamou atenção, na sua campanha, a baixa assertividade, "meio sem bandeiras de luta", dado o elevado nível imposto pelo líder Bruno Covas. A falta de um flanco de fragilidade, acabou por ser o impeditivo para que Boullos "paz e amor", avançasse. Sem ter o que criticar acabou presa fácil; 
  • O número de abstenções foi um sinalizador de desilusão do eleitorado em relação à cena política do País. Foram 29,5% que não votaram, contra 70,5% que votaram. Foram 12,7%, que anularam seus votos, contra 87,3% que votaram num candidato. Juntando tudo, os que não votaram, anularam ou votaram em branco, chegamos a 38,4%. Muita gente ! Isso reflete uma completa desilusão com a cena política do País. 
  • Concluindo, esta eleição muncipal pode ser encarada como um "aperitivo" para 2022. Algumas lições. 
    1. Houve um "caminhar" do eleitorado para o centro, em busca do equilíbrio e do bom senso, mesmo havendo alguma simbiose com  partidos do Centrão. O eleitorado preferiu o meio do caminho, a assertividade. Se cansou da "polarização" e do radicalismo. Tanto a esquerda, mais fisiológica, como direita, mais reacionária, terá que repensar sua forma de atuação para 2022;
    2. Pelo menos, por enquanto, a esquerda não tem muitos candidatos para 2022, só Ciro Gomes. Sem dúvida, levou uma "surra" nesta eleição municipal. Seu discurso desgastado, cheio de clichês e de "resgate ao social", como se gasto público tudo justificasse, assim como sua carga de alianças entre PT, PSol, PC do B, e outras agremiações satélites, cobra seu preço;
    3. O Bolsonarismo também teve elevada rejeição e desgaste nesta eleição. A sociedade mostra não aceitar mais as leituras do capitão, e do seu filho Carluxo, sobre a cena política atual, os costumes, a sociedade como um todo. Achamos que terão que rever, em muito, sua atuação, menos raivosa e reativa, mais propositiva. Mas não será tão simples;  
    4. Grandes vitoriosos foram o Eduardo Paes, indo para o terceiro mandato no RJ, e Bruno Covas, resgatando o legado do avô Mario Covas. Segundo a crônica, é a predominância dos "políticos raiz".  
    5. Para o mercado, a busca de uma "terceira via", de uma agenda mais propositiva, mais assertiva, mais concensual, é visto como algo promissor. Achamos que Paulo Guedes deve tentar continuando a aprovação da agenda de reformas estruturais, como a reforma tributária e a administrativa do Estado. 











 




segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Nacional desenvolvimentismo ou a agenda de reformas?

Este debate acadêmico sobre o "nacional desenvolvimentismo", ou "neo-desenvolvimentismo", dos campineiros (Beluzzo e Bresser) e economistas da UFRJ, nos remete sim aos descaminhos das políticas PÚBLICAS, ao populismo demagógico e à busca de saídas "rápidas" para as crises que nos acometem, de tempos em tempos, pelas mais variadas razões.

Muitos, nestas correntes, acham que o principal motivador para os nossos problemas é a chamado câmbio real "fora do lugar", o que nos tira competitividade e capacidade de "penetrar" em certos mercados. Na leitura deles, basta uma forte puxada na taxa, uma desvalorização nominal cambial mesmo, para nos tornarmos mais competititivos.

Seria este, então, o caminho mais rápido para o aumento "artificial" da competitividade externa, sem passar pelo penoso politicamente e longo processo de ajustes necessários, com ganhos de produtividade, pelo aumento da eficiência no setor produtivo e redução do Custo Brasil.

Isso nos leva a acreditar que a superação dos nossos gargalos e ignorâncias na área econômica, deve passa, em primeiro lugar, por colocar a agenda de reformas na mesa.
Só com a reforma tributária, melhorando o ambiente de negócios, a reforma do Estado, acabando com a fábrica de privilégios, e uma reforma da Previdência mais profunda, atacando as distorções do setor público e no meio militar, será possível evoluir.
Uma ref política definitiva e uma nova constituinte, contra esta CF 88 demagógica e irreal, também cairiam bem.
Em suma, é só fazer o que deve ser feito.

É só fazer o "dever de casa".



Como a desvalorização do real empobrece o País, por Fabio Pina e André Saccanato

 



Quase todos conhecem o lado positivo da desvalorização cambial. As empresas, a agricultura e os produtos nacionais ficam mais competitivos lá fora, porque os preços em reais ficam excepcionalmente mais baratos em dólar. Em que pese a inflação brasileira ser maior do que a americana, esta diferença não é suficiente para reverter todo o efeito da valorização nominal do dólar frente ao real de quase 200% desde 2007, por exemplo.

Entretanto, também há um lado sombrio deste processo. Isso é facilmente perceptível naquela famosa frase: “Antes, quando ia para os Estados Unidos, conseguia comprar coisas muito baratas e, hoje, não vale mais a pena”. Você pode responder: “Mas isso atinge apenas quem pode viajar, classe média alta e classe alta”. Não é bem assim. Como os importados sofrem aumento de preços para todos nas prateleiras, o consumo de produtos nacionais cresce, e estes também têm a mesma variação no preço e atingem, indiscriminadamente, todas as classes, mesmo muitas vezes não sendo produtos importados.

Isso também ocorre com as empresas nacionais, mas que têm insumos (matérias-primas, partes, peças e/ou serviços) importados e são obrigadas a aumentar o preço dos produtos finais. Como os salários nominais não têm relação com o câmbio, as pessoas ficam mais pobres.

Há um jeito de se identificar, em números, o quanto estamos mais pobres com a desvalorização? Sim! Uma forma é analisar o comportamento de produtos que tenham preços fixados em dólar no exterior e um histórico de lançamentos. Talvez um dos melhores e mais conhecidos exemplos seja o iPhone, da Apple. O primeiro modelo foi lançado em junho de 2007 e custava U$ 499, com 4GB, e U$ 599, com 8GB. Naquele mês, o valor do dólar em reais fechou em R$ 1,93, o que faria com que o aparelho de 4GB custasse R$ 963,62, e o de 8GB, R$ 1.156,73.

Apesar de o câmbio ter fechado, em setembro de 2020, em R$ 5,40, a conta não é tão simples; isso porque a inflação nos preços no Brasil é maior do que nos Estados Unidos, e a diferença deve ser descontada. Fazendo as contas, é possível mensurar o preço atualizado deste mesmo celular: tirando os efeitos do diferencial de inflação, os preços chegariam a R$ 1.550,12 pelo primeiro aparelho e R$ 1.860,76 pelo segundo, ou seja, a desvalorização do câmbio pressionou um aumento de preços de 60,86% no período.

Os números mostram o empobrecimento relativo do brasileiro por causa do câmbio. Se partirmos do princípio de que o salário foi reajustado no período por um índice que apenas cobriu a inflação, um brasileiro médio empobreceu mais de 37% em relação aos produtos importados – ou terá que gastar 60% a mais na sua aquisição.

O câmbio de equilíbrio não se constrói artificialmente por ações do Banco Central (BC) no mercado cambial ou por decreto: é apenas reflexo das condições macroeconômicas de momento, se o fluxo de moedas for livre, como é hoje no Brasil. Neste caso, o equilíbrio é sempre atingido de uma forma automática diante das expectativas de quem traz e de quem leva dólares do País. De qualquer forma, é importante ressaltar que tanto a valorização como a desvalorização cambial trazem benefícios e custos para a economia, mas as mudanças muito drásticas provocam problemas sérios de planejamento de produção, o que dá respaldo para entradas pontuais do BC no mercado. Em um ambiente estável, desvalorizações e valorizações são fatos normais. Em um mercado nervoso e sem perspectiva, são fatores que envenenam o crescimento de longo prazo.

Para reduzir a volatilidade exagerada que cria muitas incertezas, e também para que se evite um ciclo longo e continuado de valorização e desvalorização cambial (com seus efeitos deletérios), o governo tem apenas um caminho que não lance mão de medidas exóticas, como controle cambial ou ancoragem da moeda ao dólar: o ajuste fiscal e a melhoria das regras para investimentos nos setores de infraestrutura que podem aumentar o fluxo de recursos estrangeiros, contribuindo para que o valor do dólar se estabilize em patamares compatíveis com o novo cenário.

É imperioso recuperar a confiança do investidor estrangeiro no Brasil e aumentar o crescimento potencial da economia nacional, atraindo mais recursos para investimentos diretos e na Bolsa. Esse parece ser o momento ideal para isto, dada a elevada liquidez de recursos no mundo, resultado de políticas monetárias expansionistas como resposta à crise de covid-19. O momento para reformas e ajustes é agora, e não se deve perder a chance.

*Fábio Pina e André Sacconato são consultores econômicos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

RUMOS DO DEBATE

 Me causa um profundo desconforto os rumos que o debate econômico vem tomando no Brasil nos dias de hoje. Muitos se aproveitam por desferir pesados petardos sobre o ministro Paulo Guedes, não considerando suas dificuldades políticas em transitar num ambiente pantanoso e cercado de maledicências. Isso porque sabemos como o capitão atrapalha nas suas variadas intervenções retóricas, o que gera ruídos e certa má vontade da mídia. Soma-se a isso os inconfenssáveis interesses dos congressistas, nem sempre mto claros sobre a boa governança do País. 

Para esclarecer, não me considero nem um liberal ortodoxo, um cara que defende o mercado totalmente desregulado, sem intervenção do Estado, como também não acho necessária esta defesa tola por um "keynesianismo irresponsável", que se espalha pelas universidades públicas e tem como "mantra" elevar, de forma ilimitada, os gastos públicos, a estimular a demanda, mas não se atenta para a reversão de expectativas.

Na opinião destes, basta aumentar os gastos públicos, via multiplicador fiscal, para estimular o consumo, a produção e os investimentos, mover a "roda da economia", com tudo se resolvendo pelo aumento da arrecadação federal a posteriori (a compensar este avanço dos gastos). Simples assim. O problema é que as coisas, nem sempre, acontecem de forma tão automática. Por este raciocínio de manual, por exemplo, no primeiro governo Dilma as ações de política econômica do ministro Mantega, liberando meio trilhão de crédito pelo BNDES, aos bancos públicos e privados, teriam impulsionado a economia, nos idos dos ano de 2014 a 2016, o que teria resolvido o incremento abrupto do crédito publico.  sem deixar de elevar a dívida pública à quase 70% do PIB.

Ou seja, pelo ambiente deteriorado de então, não tivemos o multiplicador keynesiano a estimular a demanda, aumentando a arrecadação. A atividade e o consumo não reagiram na devida intensidade, o que resultou na forte elevação do déficit primário e da dívida pública. Caímos então no nó expectacional e nos desatinos da má gestão pública, citados acima.

Pelo lado do front liberal não há como negar a importância do redimensionamento no tamanho e no papel do Estado. Por outro lado, é de se considerar os extremismos e isso eu acho haver em ambos os lados do espectro ideológico. Achar que o mercado resolve tudo, sem o Estado na vida econômica, para mim, é um erro de avaliação, assim como achar que ele deve atuar ativamente, de forma excessiva, nas políticas públicas. 

Na verdade, a saída, o segredo, é achar o "timing" exato, o equilíbrio, o "meio termo", nem demais, nem de menos.

Inclusive, acho de uma desonestidade intelectual à toda prova, muitos já começarem a "rotular" quem pensa desta forma como sendo um neoliberal...

Afinal, de onde nasceu esta denominação? Ao fim da década de 80, início da de 90, quando vários economistas de Washington DC se reuniram para diagnosticar a crise da dívida que assolou os países em desenvolvimento nos anos 80, no que ficou conhecido como "década perdida".

Daí várias decisões passaram a fazer parte dos pré-requisitos a uma gestão pública razoável ou tolerável. Dentre estas, podemos incluir a criação de um arcabouço de regras para os regimes monetário e fiscal, o sistema de metas de inflação, a adoção de câmbio flutuante, a independência do Bacen, a abertura das contas de capital e comercial, privatizações de estatais improdutivas ou "cabides de emprego", concessões de infraestrutura obsoleta e PPP na mesma toada, reformas estruturais, como a tributária, a da Previdência e a do Estado, só para ficarmos nas mais urgentes. Deu-se a este conjunto de medidas "saneadoras" o Consenso de Washington, até hoje em discussões infindáveis.

Este consenso, portanto, deveria ser a conclusão na decisão de medidas sensatas de política econômica. O que todos os governos deveriam fazer.

Por isso, achar estes debates estéreis e improdutivo. Me parece com o único propósito de demarcar território, marcar posição, algo totalmente infantil. Vaidade intelectual, manjam?

Ambas as correntes precisam pisar em solo firme e pararem de delirar.

O que é crucial é que as despesas e as receitas públicas precisam caber no Orçamento.

Fim de papo. Apenas isso. Simples assim. O resto é magia.



Editorial do Estadão (17/02)

LULA PROMETE O ATRASO: A razia bolsonarista demanda a eleição de um presidente disposto a trabalhar dobrado na reconstrução do País. A bem d...